Não estou falando do jeitinho brasileiro, essa forma estranha de levar vantagem e que é apontada como uma característica identitária nossa.
Não. A questão desse post refere-se ao fato de que nós, brasileiros, somos mestres do improviso. "Se virar", sim, parece ser uma característica, e uma necessidade dinâmica de continuar apesar das barreiras. Alguém já disse que os brasileiros são sobreviventes criativos, e isso deve ser bem verdade.
Mas não sei se isso é sempre positivo. Observem: tem sempre alguém que consegue dar um jeito. A máquina de lavar quebrou, então chama o primo, do amigo de vizinho que dá um jeito, e ele conserta. O senhor é pedreiro de profissão, mas se precisar, também é eletricista. Ele se vira e dá um jeito para gente.
Já deu para perceber que isso não vai levar a nada bom. Como resultado? A maioria dos serviços não é satisfatória, ninguém entrega nada no prazo, e nem sempre o consumidor consegue o que quer. Essa é mais uma faceta do "problema da Educação no Brasil", a falta qualificação técnica cria uma grande população de amadores e curiosos, que ficam tentando até acertar.
Quebrou, tem que consertar direito, com as peças certas. Outro dia, um equipamento nosso quebrou, levamos à empresa que supostamente seria especialista em consertar e, qual não foi a surpresa, quando descobrimos que ao invés de colocar a peça de reposição correta, e por preguiça de adquiri-la, alguém resolveu "dar um jeito", recondicionou uma peça diferente, e lixa daqui e lixa dali, forçou a até a peça caber.
A falta de conhecimento que cria curiosos e amadores traz grandes problemas para os consumidores. São orçamentos que não funcionam, após serem aprovados. Prazos que não são cumpridos, porque o número de tentativas até acertar exigiu mais tempo, o que faz com que perigosamente muitos tentem se tornar autodidatas.
Outro problema é a falta de padrões de qualidade efetivos, de atendimento e de serviço. Vou dar um exemplo: um restaurante tem um número X de mesas e sempre um número insuficiente de funcionários para atendê-las. O mesmo acontece em caixas de banco, supermercados, etc. Se algum funcionário faltar, o que era precário vai se tornar impossível de funcionar. O correto seria limitar o número de clientes ou, na situação extrema, contratar emergencialmente alguém ou fechar a bodega. O que vai acontecer? O serviço vai funcionar mais precariamente ainda, porque resolvem dar um jeito. E aí o rodízio não roda e você vai esperar o seu sushi por uma hora e meia.
Para finalizar, vou contar o meu problema pessoal de gestão da memória: toda vez que sou mal atendida em algum lugar eu juro, à maneira de Scarlet O'Hara, que jamais voltarei lá. Mas são tantos os lugares em que jurei não voltar e infelizmente não consigo lembrar de todos: às vezes estou bem pimpona e lembro que não devia estar ali. Tenho três possibilidades: reduzir minhas exigências e parar de jurar por qualquer da-cá-aquela palha; fazer uma lista positiva, e a partir de então jurar voltar, ou então arrumar meios de fixar melhorar os locais em que não posso voltar. Talvez georreferenciá-los e criar um mapa dos lugares proibidos...
Uma observação: respeito os autodidatas, desde que a atividade não envolva ferramentas pontudas e cortantes, e nem energia elétrica.
ResponderExcluirNão poderia deixar de citar "Seu" Elinaldo, meu marceneiro, a exceção à regra, que fez um ótimo trabalho, entregou no prazo e pelo preço justo e acordado.
ResponderExcluirContratei uma vez um certo marceneiro para fazer meu guarda-roupa e ele conseguiu a façanha de fazê-lo pelo avesso. A gente olhava o móvel e tinha a sensação de que, se desvirasse, estava tudo certo.
Tive que contratar um marceneiro profissional para corrigir o que o amador fez. Acreditem, não é uma sensação boa quando alguém quer ver o seu guarda-roupa e fica olhando enviesado para compensar os ângulos.
Pois bem, Elinaldo não só corrigiu o problema, como o fez rigorosamente dentro do prazo e dentro do orçamento.
Dando o seu jeito, todo mundo também é meio médico no Brasil. Acho que aqui é o país em que mais se consomem remédios sem prescrição médica.
ResponderExcluirO problema não é a pessoa se improvisar eletricista, marceneiro, pedreiro etc. O problema é se fazer passar por profissional sem que pra tanto tenha a recebido a formação técnica necessaria.
ResponderExcluirUma das principais fontes do problema é a falta de formação de técnicos. Ou melhor a falta de educação técnica de boa qualidade. A desvalorização social desses profissionais no Brasil vai junto pra aumentar o problema.
Se se acabasse com essa coisa de dizer que pra dar certo na vida tem que fazer faculdade, e se se oferecesse uma educação técnica de qualidade às pessoas que escolhem aquelas profissoes, provavelmente o sujeito que é somente amador, não se faria passar por profissional assim com tanta facilidade, e para os demais casos, bastaria exibir o diploma de formação em questão.
No Brasil existe uma visão deformada das formações técnicas em relação às universitarias. Como se esta ultima fosse melhor que a primeira, quando são em verdade duas coisas diferentes, complementares e necessarias à sociedade. Essa deformação se repete em muitos paises subdesenvolvidos.
Pra completar a zona, às vezes a gente se depara com profissionais sem nenhuma educação formal, mas que são melhores que muitos outros, pois aprenderam "tentado até dar certo", como você diz. Pode parecer exceção à regra, pois o cara é bom mesmo sem formação. Mas em verdade não se deve esquecer que o preço a pagar é alto ao longo do percurso, e no caminho ele fez muitas vitimas como você.
A melhor solução, segundo minha vo, é "arrumar um marido que sabe fazer as coisas em casa".
P.S. Em francês existe a palavra "bricoleur do domingo", pra esse caso do amador que faz tudo, sem ser profissional.
P.S. Eu vou acabar virando um desses amadores também. Jà tenho um cinto igual ao da loira do Extreme Make Over, e também algumas ferramentas so minhas, com propulsão pneumatica, pois meninas tem braços fraquinhos.
Tu não ia ter orgulho de mim.
Concordo totalmente com você. Realmente, há um preconceito com a formação técnica, que geralmente é vista como "inferior" ou preliminar em relação à "Educação Superior".
ResponderExcluirTem razão também ao dizer que não sinto orgulho de você portando essa ferramentas "só suas". Observe o primeiro comentário que fiz: respeito os autodidatas desde que não manipulem ferramentas cortantes e pontudas.
Em relação a arrumar um marido que sabe fazer coisas em casa, lembro no Brasil o limite é de um marido para cada pessoa. Então, fatalmente esse marido que sabe consertar encanamento será um amador da pior espécie em outras coisas. Casar não é a solução.
Vamos descobrir um algum pais onde a poligamia é direito também da mulher!!!
ExcluirEsse profissional de que você fala é o "mexe com".
ResponderExcluirA gente reconhece um deles quando perguntamos: "- Você faz o que da vida?"
E a resposta invariavelmente começa por: "- Eu mexo com..."
Eu mexo com madeira = marceneiro.
Eu mexo com encanamento = encanador.
Eu mexo com comércio = comerciante
Eu mexo com papel = despachante.
Eu mexo com carne = açougueiro ou prostituta
E por ai vai...