Quando eu era pequena, tinha fascínio por um livro. Ele era grande, com umas figuras douradas na capa, cheias de curvas.
Um dia perguntei ao meu pai o que significavam aqueles desenhos e ele disse, para o meu espanto, que eram letrinhas. Não eram, não. Eu sabia algumas letrinhas e aquilo não tinha nenhuma correspondência.
- Fabiana, isso é árabe. Essas letrinhas são árabes.
Imagine... letrinhas lindas que eu não conseguia ler. Esse foi um mistério que ficou na minha cabeça. Anos depois, tive a oportunidade de estudar essas letrinhas com um professor muito interessante, que é o tema deste post.
Mabruk vagou pelas minhas memórias nessa semana.
É um senhor idoso, muçulmano e muito sério, que ensinava árabe para estudantes brasileiros em uma mesquita na minha cidade. Tive a oportunidade de aprender todas aquelas letrinhas lindas e, finalmente, entendi o título do livro: As mil e uma noites.
As minhas lembranças das aulas são preciosas. Foi um tempo em que eu e dois dos meus irmãos estudamos juntos na mesma classe, o que por si só já era motivo de muita diversão. Depois, entramos em contato com uma cultura e uma religião desconhecidas, mas da maneira correta, com informação de qualidade e sem preconceitos.
E tivemos a oportunidade de conhecer uma das pessoas mais interessantes. "Mabruk", em árabe, significa Felicidade, ou felicitações. "Barabéns", como explicou um dia o mestre. A lição mais importante que ele me deu foi exatamente de felicidade, e de uma serenidade que só é alcançada por aqueles que têm a convicção de trilhar o caminho correto. Um dos muitos caminhos corretos que podem existir.
Estudei árabe e cultura árabe durante alguns anos, o que evidentemente não foi suficiente para alcançar a proficiência na língua. Considero-me semi-alfabetizada, e, com certeza, muito menos ignorante.
E, falando em língua árabe, lembrei que muitos escravos trazidos para a minha região falavam árabe, sendo notável o episódio denominado " A Revolta dos Malês".
ResponderExcluirMabruk, lembrei do senhor de novo agora. Lembro da primeira vez que o professor presenciou um bloco de carnaval, que passou em frente à casa dele.
ResponderExcluirO bloco dos cornos.
Na aula seguinte, depois de passadas as festividades, ele veio me falar, com ar de escândalo, que alguns homens passaram em frente à casa dele, rindo e festejando porque haviam sido traídos pelas esposas. A-D-U-L-T-É-R-I-O. Eles estavam festejando o adultério.
Aí eu expliquei: não, mestre, veja bem não é o adultério de verdade, é só uma brincadeira...ele não se convenceu.
Em janeiro de 2015, lembrei do meu mestre e das aulas de cultura e religião árabe. Imagino que deve ser difícil para os muçulmanos ver tantos crimes serem praticados em nome do profeta.
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