Essa nova série do blog foi criada para analisar as festividades/situações sociais em que nos metemos periodicamente. Não são necessariamente comemorações oficiais, mas servem para compor o mosaico do nosso modo de ser, viver e sentir. Iniciamos com uma reflexão sobre o Chá de Panela (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/02/cha-de-panela-reflexao-etnografica.html), para mim sempre motivo de mistério e questionamento, e depois refletimos sobre a particularíssima forma de comemorar formaturas, em festas que duram dias e noites (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/06/cerimonias-de-formatura-reflexao.html).
Hoje, gostaria de refletir sobre as festividades de "15 Anos", o début, a apresentação formal das jovens à sociedade.
É uma festa de aniversário especial para as meninas. É um marco alcançado na vida, pois quando as meninas completam 15 anos.... O que acontece mesmo? Por que essa data ainda é considerada especial? Por que nos ensinam que devemos desejar uma festa de quinze anos?
O baile de debutantes é rito de passagem. A menina, antes acanhada e escondida, é iniciada na sociedade e a partir de então poderá frequentar as ocasiões sociais. Poderá, também, travar relações sociais, como noivados e casamentos. Elas passam a ser alguém no grupo social e assumem novos papéis.
Do ponto de vista das necessidades femininas, que pessoas pouco sensíveis podem chamar de futilidades, a partir dos quinze anos as meninas eram autorizadas a usar maquiagem, salto alto, determinados tipos de vestido.
O mundo, evidentemente, não funciona mais nessa velocidade e nem dessa maneira. As festas de quinze anos não servem mais para debutar. São uma festa de aniversário incrementada, onde as pessoas podem realizar as suas fantasias, e eu as trato como reminiscências de uma sociedade que cambiou.
Eu não quis uma festa de quinze anos porque nunca me submeti a esse tipo de padrão de representação social. Mas como eu não era radical, até me submeteria. Eu realmente decidi que não queria esse tipo de festa quando a minha avó disse que a idade da mulher é contada a partir desse marco. Portanto, você fica com menos chance de mentir a idade, a menos que você deixe para comemorar os seus quinze anos aos vinte.
Enfim, não tive uma festa própria mas acabei sendo convidada para ser dama na festa de uma amiguinha da escola. As fotos que eu tenho com vestido e fita no cabelo são dessa participação especial e excepcionalíssima. Para aqueles que me disseram que eu me arrependeria por não fazer festa, posso afirmar que não me arrependi nem um só dia durante todos esses (poucos) anos.
E a piada, que não podia faltar:
ResponderExcluirUm homem foi convidar um amigo para a festa de 15 anos de sua filha. Muito contente, ele disse:
- Fulano, minha filha Flavinha vai fazer aniversário, e eu gostaria de convidá-lo para a festa de 15 anos.
O amigo olhou pensativamente por um instante, e respondeu:
- Ah, muito obrigado! Eu vou, mas só vou poder ficar os primeiros três anos...
Por que vc considera q essa reflexao é etnografica?
ExcluirFabi, esse negocio de festa de 15 anos não existe no BR todo não... eu ouvi falar disso de "debutar na sociedade" pela primeira vez, ai no nordeste. Acho q as coisas ganharam muita proporção depois da possibilidade de fazer a festa no Palacio do Campo das Princesas que o governador autorizava apenas às "moças da sociedade".
ResponderExcluirEu tb nunca me arrependi de não ter festão, realmente isso não tinha nada a ver comigo na época. Por outro lado, eu conheço gente que, vendo as proprias fotos na escadaria do Campo das Princesas, morre de vergonha do mico.... kkkkk.
Acho que agora não há mais festas no palácio do governo que, convenhamos, é um belo salão.
ResponderExcluirQuando você diz que não tinha nada a ver na época, isso significa que você está pensando em fazer uma festa de quinze anos agora? Sim, por que nada nos impediria, não é?
No way!! Vai tu sozinha!
ResponderExcluirFalando sério, o assunto é delicado e preocupante. Temos "conhecências" fazendo festa de 40 como a de 15, vestido bufunte, coroa de strass, bolo de andares e tudo isso no menu. O fenômeno cresce depois que inventaram aluguel de casa de festa à crédito. Brinque não!
Minha impressão é que tudo começou com a "foto de braço" e a "duck face". Agora temos que suportar que todas as princesas são da Disney.
Serà esse o cavaleiro do apocalipse, Nostra???
Denise, acho que é o apocalipse. Nunca ouvi falar dessas coisas que você disse - duck face e foto de braço. Eu consigo me manter longe dessas coisas. Eu só fico quietinha, esperando isso tudo passar, depois ponho a cabeça para fora da minha toca e volto a frequentar a sociedade.
ResponderExcluirSinto tirar você da sua caverna, mas não adianta se esconder, isso não vai passar. E aacho q conheces sim esses dois institutos da sociedade contemporânea. "Duck face" é isso: https://www.google.fr/search?q=duck+face&client=firefox-a&hs=mOR&rls=org.mozilla:fr:official&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=bRsjUujJLNOb0AWfuIDgDw&ved=0CAkQ_AUoAQ&biw=1024&bih=493
ResponderExcluirE "foto de braço", que ao meu ver é um fenomeno ainda mais problematico q "duck face", consiste a tirar foto de si mesmo, esticando o proprio braço pra entrar no foco. No inicio eu achava engraçado, pelo que de novo existia no gesto e pq eu sempre achei que maquina fotografica servia pra tirar fotos dos outros e não de si mesmo.
Mas depois eu fiquei com a impressão de que isso é um retrato (com o perdão do trocadilho barato) das gerações que surgiram depois do celular com câmera. Eles todos fazem isso. A criação do gesto em si é uma boa, porém esconde (ou nem esconde nada!) o problema do excessivo culto à imagem.
Vc vai me dizer que outras sociedades tb cultuavam bastante à imagem perfeita, como os gregos. Mas porra, nunca vi uma estatua esculpida com auto duck face! Enfim... e ainda bem!
Ah putz, agora pensando bem, o soldado da polêmica de Rodin... l'âge d'Airain... ele tinha duck face. Fudeu com minha teoria antropologica! Aahahaha
Faça conjuntamente à essa reflexão uma outra sobre essa "moda que pegou" de que todos (e qualquer um) têm hj um "book" feito por um fotografo profissional. Jà notou isso??
ResponderExcluirUma vez Simon me chamou a atenção para o fato de que se sentia meio forçada (digamos socialmente) a tirar foto dela gravida, porque senão Artuzinho seria a unica criança da sua geração a não ter um book de antes dele nascer. E ela està certa de fazer a foto, porque um dia ele poderia cobrar isso dela. Mas a situação cria um "choque de gerações" de um novo tipo: a mãe, que nunca ligou muito pra essa coisa de foto acaba tirando a foto "porque" o filho ainda não nascido, jà pertence à geração onde todo mundo tem foto em studio fotografico. O fato provoca uma ação na geração precedente, contra a vontade desta.
Agora vê so, Simon a gente conhece, é uma pessoa lucida, capaz de ver esses fenomenos com certa distância, e ela assume de forma consciente aquele ato, considerando essas implicações paralelas à vontade e tals, e isso tudo, explicando, eu entendo sem problema. Mas existem outras pessoas (no names, please) que são incompreensiveis (na minha cabecinha limitada) qdo o assunto é foto de si mesmo em studio, porque saem por ai fazendo coisas sem pensar que é dificil de entender...
Um exemplo o caso dos "books" que acrescentam frases sobre as fotos, como se as "pessoas comuns" fossem "alçadas" à "verdadeiras" imagens destinadas para publicidade de margarinha, de shopping, etc. Jà vistes o que tô falando?
Platão, com sua teoria do mundo do concreto versus mundo das idéias se revirou na tumba com tamanha doidice. O q eu chamo doidice é o fato de que o sujeito absorve a 'familia de margarina' da propaganda, que a priori so existe no mundo das idéias, e ao invés de transformar aquilo em concreto, que é o q ele no fundo deseja, ele simplesmente vive là dentro daquele mundo ideal, ou seja, ele transfere o concreto pro mundo das idéias, e não o contrario, como se poderia esperar, ou seja, transformar em concreto o que é ideal. Sim porque o sujeito "é" aquilo, mas "so" na fotografia... e "aquilo", que se vê na fotografia, não existe, mas a fotografia dele idealmente representado e o fenomeno social de se fazer fotografar daquela forma, sim, existem acabam tomando o todo da existência do sujeito.
Muito doido, doido! Né não?
Mas enfim, aluguel de casa de festa e book, a crédito ou à vista, permitem hoje q todo mundo seja um grande espetaculo, e são apenas mais um exemplo da "sociedade do espetaculo" de q fala o filme da década de 70 (eu acho, pq o texto é anterior) que identifica o problema e vai bem além. Se não viu veja, se jà viu, reveja, pq é muito foda e é a prova de que não adianta a senhora se esconder pq isso não vai passar... vai é piorar.
Isso, amiga, desabafe.
ResponderExcluirA solução para toda essa coisa doida é fazer o que a gente sempre fez, ser diferente. Não fazer o que todo mundo faz, especialmente quando todo mundo está fazendo besteira.
Esse negócio de "duck face" é posar com o bico duro. Só.
Esse negócio de "foto de braço", pode ser sintoma de solidão ou de promoção de auto-imagem. Ou ambos.
E esse negócio de espetacularização é sério mesmo, e isso nós precisamos discutir. Não assisti ao filme que você falou mas vou procurar, porque não suporto mais as supostas realities que assolam a nossa vida. Preciso ter uma posição, sem bico duro, sobre o tema.
Porra Fabiana!!!!! Tu achas q isso é desabafo?? Né não, pô, é so uma pessoa prolixa mesmo. Ahaahhaha
ExcluirQuanto ao filme, tu encontra no youtube em duas partes com legenda em português.
A proposito de filmes, tu viu "ruban blanc"?? não sei a tradução em português. Festival de Cannes de 2010 eu acho...
Então vê aqui: http://www.youtube.com/watch?v=A4FAJsFqHe0 pro primeiro caso.
ResponderExcluirDas weisse band é o titulo original, corrigindo: Cannes 2009, pro segundo caso.
A proposito de pseudo-realities shows, o eletricista que trabalhou aqui em casa participou de um programa da tv francesa que é equivalente ao Extreme Makeover dos EUA. Ele conta que abandonou o bonde andando de tão puto que ficou com o apresentador do programa, direção e câmeras. Pra tu ter uma idéia, um dia ele levou um esporro da diretora do programa pq fez muito rapido a instalação do painel eletrico, ou seja, muito rapido pra ela que ainda não tinha dado a ordem pro cameraman filmar o eletricista. Dai que o cameraman pediu "sera que não dava pra tu desmontar o painel e refazer.enquanto eu filmo?"
ResponderExcluirEu morri de rir com essa estoria, mas ele ficou puto de verdade e foi-se embora!
Ele tb contou que o apresentador pede aos voluntarios pra fazerem de conta que a obra tà atrasada, que é pra dar mais emoção.
O must foi uma vez que o cara que faz a parte isolação dos muros, e que é amigo do eletricista, foi apresentando como um idiota na versão editada do programa. Ele supostamente não teria esperado o eletricista passar os fios atras dos panéis de isolação, e que por isso, segundo se dizia na tv, o apresentador o obrigou a desmontar tudo e refazer tdo de novo, ocasionando um suposto atraso na obra.
O eletricista nos contou que viu isso na tv e telefonou pro amigo perguntando: "que estoria é essa, tu teve que refazer tudo depois que eu passei?". O cara disse, não porra, eu so fiz o trabalho uma vez, quando eles me filmaram os teus fios jà estavam todos dentro do muro, mas eles inventaram que não. E eu fiquei puto porque eu fiz tudo de graça, pensando que aparecer na tv ia ser uma boa publicidade pro meu trabalho, mas eu acabei passando por um idiota".
Pensando bem, pseudo-reality é redundância! Ahahaha
ExcluirNão acredito nisso. Para atrasar uma obra de verdade, todo mundo sabe, basta contratar por diárias.
ExcluirEsse é o problema: reforma de casa agora tem glamour. A gente sabe muito bem que reforma de casa é pura incomodação.
Então, para atrasar de verdade basta pagar antecipado... mas essa galera desses programas de tv prestam um trabalho voluntario. A eventual contrapartida é aparecer na tv.
ResponderExcluirQuanto à 'obra com glamour', concordo com você. Faz parte do "espetaculo" de que te falei.
O engraçado é que as pessas associam isso com riqueza. Tipo: tenho grana pra fazer reformas na minha casa e colocar tudo novo a cada x anos. O engraçado é ver aquele povo rico, rico que acha que ser rico é morar em um castelo do século não-sei-quanto e ter dentro tudo velho velho herdado pela familia durante x gerações. Kkkk
Hoje, comemoramos os quinze anos do meu sobrinho, Robinho. Nasceu no dia dos namorados de 2001. Embora entre nós a comemoração feminina seja bem diferente da masculina, na nossa família não realizamos a festa tradicional por razões ideológicas, mas nem por isso foi menos emocionante. Como acontece nessas datas, não pude evitar de pensar em mim mesma com aquela idade, e de como eu era quando ele nasceu.
ResponderExcluirHoje me perguntaram qual foi o melhor presente de "quinze anos" que recebi. Essa resposta é fácil: o cachorro quente especial de aniversário que a minha mãe faz.
ResponderExcluirPor que só era feito em aniversários é algo que tenho que questionar/reclamar a ela.
ExcluirFeliz aniversário, Maria Clara.
ResponderExcluirDo meu ponto de vista, festa de debutantes é uma comemoração absolutamente anacrônica. Mas vá lá, nem todo mundo tem que ser como eu ou pensar igual a mim.
ResponderExcluirMas, quando vejo a tentativa de reeditar a escravidão em uma festa de debutantes, o anacronismo aparece da pior maneira: https://oglobo.globo.com/sociedade/ensaio-de-debutante-com-tema-de-imperio-escravidao-gera-revolta-na-web-brincam-com-dor-22492656