O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









quarta-feira, 27 de abril de 2016

Sotaque, patrimônio imaterial

Olha só: http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,sotaque-caipira-pode-virar-patrimonio-imaterial-de-piracicaba,10000027976.

Se o modo de falar, o sotaque, pode ser patrimônio imaterial? Claro que sim.  E por que não? http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2010/12/patrimonio-imaterial-e-democracia.html

Se é necessário um reconhecimento oficial para isso?  Claro que não. Basta que as pessoas tenham orgulho de se expressarem como sabem, do seu jeito.  A preservação do patrimônio começa nos indivíduos.

Acho fascinante os diversos sotaques do Brasil.  Fico encantada com o modo como os gaúchos falam, e as suas palavras diferentes que denunciam um flerte com o outro lado da fronteira.  Acho incrível o modo como os manauaras falam, e também os goianos, catarinenenses, os brasileiros que dominam mais de uma língua brasileira, cariocas e todo mundo que contribui com a melodia diversificada do nosso jeito de falar.

O meu sotaque é bem característico da minha região.  Mas só me apercebo dele quando escuto a minha voz gravada, ou quando a minha sogra (que veio do outro lado do país e tem um sotaque interessante) tenta falar a minha língua.

É natural para mim falar como os meus ancestrais, e fonte de tanto orgulho, apesar de que em determinados meios "profissionais" o sotaque marcado seja indesejável, porque denuncia a sua procedência.  Ora, saber a origem, de onde viemos ( no tempo e no espaço), devia ser uma das grandes ambições do ser humano, não é?  Melhor isso a adotar um jeito de falar que remete a lugar nenhum,

Por isso, forrrça Piracicaba!

domingo, 24 de abril de 2016

O primeiro livro a gente nunca esquece

Meus Deus, onde é que eu me meti agora?  Não consigo lembrar o título nem o autor, mas a capa de um livrinho parece gravada a fogo em minha memória.  Fecho os olhos e vejo: um bando de sapinhos brincando em uma lagoa, alguns sentados em folhas de vitória régia.

Não foi o meu primeiro livrinho. Na verdade, lá em casa havia uma boa biblioteca, muitos livros mesmo, pois meus pais achavam importante deixá-los à nossa disposição para que a curiosidade orientasse na nossa leitura e nosso gosto.  Não lembro de jamais a minha mãe ou meu pai dizerem "leia isso" ou "não leia aquilo", e agradeço por isso, pois essa liberdade me permitiu explorar muitos assuntos diferentes (o que faço até hoje), embora tenha me deparado com muitas pedras ruins no caminho.

Mas os livros ruins também nos ensinam muito.  Ensinam a não fazer e o que evitar, e já não é pouca coisa.  Raras vezes não terminei um livro, por pior que ele fosse.  Para mim, saber a hora de abandonar um livro foi uma conquista da maturidade, pois quando era mais jovem achava que tinha o dever moral de concluir qualquer leitura, a despeito do tédio, do nojo, ou do descontentamento.

Hoje não.  Quando tomo a decisão de largar um livro, ou outra coisa, é definitivo e não olho para trás. Sem arrependimentos.  E tendo a evitar outras obras do mesmo autor.  

Certo, e o meu primeiro livro?

Lembro de um livro verde de História, que eu usava antes de saber ler para colorir os deuses do Olimpo e as figuras de Alexandre e Hípias (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/07/lembrar-hipias-de-elis.html).  Mas esse também não foi o primeiro livro.

Lembro do primeiro livro do meu irmão mais novo: "O menino do dedo verde", de Maurice Druon.  Lembro que ele mal aprendera a ler, e nós demos o livro para que ele treinasse.  Todo dia ele lia um pouquinho, e o dedo passava em cima das palavras, e soletrava com dificuldade. Ele era tão pequeninho...

Parece que não consigo lembrar do meu primeiro livro, mas não vou desistir.  Vou continuar tentando lembrar e volto aqui para dizer qual foi.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

O impedimento de Dilma Rousseff - 2016

Em 2016, a Constituição da República Federativa do Brasil está passando por um teste de efetividade. Ontem foi instaurado o processo de impedimento (impeachment) da Presidente Dilma Rousseff, e esse vai ser o primeiro da nossa jovem democracia.

Como todos lembram (espero) o ex-Presidente Fernando Collor não sofreu impedimento porque renunciou antes. Por isso, não havia procedimentos estabelecidos e foi necessário que o Supremo Tribunal Federal o construísse jurisprudencialmente.

No Brasil, para haver impedimento é necessário que esteja configurado "crime de responsabilidade". Os motivos pelos quais a Presidente Dilma Rousseff está sofrendo impedimento são dois: a abertura de créditos suplementares sem a autorização do Congresso e a realização de operações de crédito junto a bancos públicos, cuja legalidade está sendo questionada, e que foram denominadas de "pedaladas fiscais".

O objeto do impedimento foi delimitado por julgamento do Supremo Tribunal Federal , que restringiu o voto do relator da Câmara, para garantir o direito de defesa.  

Ontem, a Câmara dos Deputados aprovou a instauração do procedimento. O "sim" ou "não" dão início ao processo, que será efetivamente julgado no Senado Federal, caso seja por ele autorizado.  Então, haverá uma nova decisão de admissibilidade (maioria simples), a abertura de instrução, defesa, e só depois julgamento.

No Senado será discutido se as "pedaladas" são crime de responsabilidade. Em caso negativo, o processo deve ser arquivado por falta de justa causa.  Em caso positivo, o impedimento será aprovado.

Resta saber se, nesse último caso, serão multiplicados os impedimentos de governadores e prefeitos que tenham praticado atos similares.

Esse post continua.  Aqui, vamos destacar as impressões mais marcantes e notáveis, do procedimento, para lembrar posteriormente:

1) A minha primeira impressão da votação de ontem (17/04/2016) é que o "sim" justificou os meios.  Os motivos alegados pelos deputados para votar o "sim" foram de natureza pessoal (pela família, pelo aniversário de familiares, religiosos) e poucos foram ideologicamente orientados, como o do Deputado Bolsonaro, que fez uma homenagem à memória do Coronel Brilhante Ustra. Cf: http://cultura.estadao.com.br/blogs/direto-da-fonte/as-1001-razoes-dos-parlamentares-ao-votar-o-impeachment/.

Para ler a ata da votação, e todas as razões apontadas para o sim ou não, basta acessar: http://www.camara.leg.br/internet/plenario/notas/extraord/2016/4/EV1704161400.pdf

2) Notável é a sensação de que as pessoas entraram para a História.  Todos destacaram o fato de que a votação é "histórica", e é mesmo.  A questão vai ser como a história será percebida, escrita e reescrita.

3) Ontem tive a impressão de que alguns deputados não entendem como funciona o Presidencialismo, que é o sistema político do Brasil. No Parlamentarismo, quando o chefe de governo perde a maioria dos votos do Parlamento pode vir a ser substituído, porque nesse sistema há separação das funções de Chefe de Estado e Chefe de Governo.  No Presidencialismo, isso não acontece, diferentemente do que justificou um deputado.

No momento, há uma proposta de emenda constitucional para mudar o sistema político do Brasil para o parlamentarismo, onde o chefe de governo (primeiro-ministro) é escolhido pelo Parlamento, cuja constitucionalidade está sendo analisada pelo Supremo Tribunal Federal.

4) Em 22 de abril de 2016, data convencional do suposto descobrimento do Brasil, a Presidente Dilma Rousseff discursou na ONU.  Não comemoramos o descobrimento, mas talvez passemos a comemorar o "autodescobrimento".

Curiosamente, dois deputados que não foram convidados compareceram ao evento.

5) A polarização maniqueísta desse momento político no Brasil é notável.  De toda forma, houve um exercício mais consistente do direito à liberdade de expressão de qualquer dos lados e, até o momento, geralmente dentro dos limites da legalidade.  Evidentemente, há pessoas que confundem liberdade de expressão com liberdade de agressão, ou falta de educação doméstica, independentemente da classe econômica a quem façam parte.

A polidez no trato social não é uma frivolidade, é uma condição básica para a convivência.

Brasileiros e estrangeiros, especialmente através da imprensa, estão se posicionando sobre o processo de impeachment.  Sem dúvida, a imagem pública é um termômetro interessante da legitimidade política de qualquer governo.

6) O impedimento de um presidente, ou outra autoridade, deve ser fundado em um ato praticado pessoalmente, e não pelo "conjunto da obra".  Mas além da questão óbvia, até agora não definida, se a presidente praticou crime de responsabilidade ou não, outras questões compõem o quadro do impeachment.

Uma das mais interessantes para a discussão na posteridade, com o devido distanciamento que o tempo nos proporciona, é a legitimidade do procedimento. Observe-se, que nem discuto ainda a legalidade (formal e material) do impedimento, mas a sua legitimação.

Hoje (05/05), o Presidente da Câmara que aceitou o pedido impeachment, foi afastado do cargo por liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal.  O procedimento foi instaurado por voto dos deputados (o sim/não sem justificação legal, mas pessoal), e a relatoria no Senado por quem praticou atos similares aos imputados como crime, procedida por um partido de oposição que, por definição, não é neutro.

Como esse é o primeiro impeachment efetivo do Brasil, temos muito a aprender com essa experiência pioneira. É um precedente construído passo a passo, e não sabemos quais serão os demais.

7) Hoje (09/05/2016), o Presidente da Câmara dos Deputados em exercício anulou os atos do dia 15/04/2016 a 17/04/2016. Nesse momento, a admssibilidade do pedido de impeachment foi anulada, e teoricamente o processo deveria retornar àquele ponto.

Não sou uma pitonisa e infelizmente não dispomos de oráculos (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/08/resgatando-instituicoes-antigasoraculos.html) , mas certamente será proposta ação judicial no Supremo Tribunal Federal para anular o ato do Presidente da Câmara dos Deputados, de forma que o processo de impedimento retome o devido curso.

E nessa mesma data, anulou o próprio ato de anulação.

8) Em 12/05/2016, a Presidente Dilma Rousseff foi afastada cautelarmente do cargo.  O Brasil tem agora dois presidentes, sendo um deles interino.

Situação parecida, mas não igual, ao Estado do Vaticano (Santa Sé), que tem atualmente dois papas.

9) Estamos vivendo um governo interino, mas como isso nunca havia acontecido, não há precisa definição dos seus limites e competências.  Em princípio, mudanças estruturais profundas e medidas de longo prazo não coadunam com a precariedade da situação interina.

A questão da legitimidade do governo interino criou diversos questionamentos:  desde a escolha de ministros (cujo perfil não contemplou a diversidade), até a instabilidade das decisões governamentais. Toda situação agravada por notíciais e gravações que comprometem o governo.

10) Todo esse prolongado procedimento de impeachment, a crise que o antecedeu e perdura, permite afirmar que o que ocorre agora é muito diferente do Golpe de 1961-1964 (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/09/memoria-brasileira-ditadura-de-1961-1988.html). Mas embora a História não se repita, sem dúvida rima neste caso. Vamos fazer uma rápida reflexão comparativa, que será desenvolvida no futuro de forma mais completa:

- Há diferenças notáveis entre o Golpe de 1964 e a situação de 2016 quanto ao modo, o contexto, embora os motivos possam ser semelhantes. Se for caracterizado como golpe (e essa resposta será dada pelo futuro), a situação de 2016 revelará o uso ilegítimo de um procedimento legal.  Isso significaria a redução da garantia do devido processo legal a um instrumento a serviço de fins ilegais e injustos. O modo, portanto, diferiria da ruptura pela força que ocorreu em 1964, que ficou patente com a edição de atos institucionais.

- O tempo, a era, é também muito diferente. O maior acesso à informação e a sua velocidade permitem questionamentos que não são compatíveis com a necessidade de estabelecer uma versão oficial sem fraturas.  Devido à necessidade de publicar rapidamente versões de fatos, manipulá-los (à direita, esquerda, acima ou abaixo), percebe-se que contrariando o modo brasileiro as pessoas estando expondo a sua posição e expondo-se à responsabilização por ela.

A forma e a legitimidade dos meios de comunicação, e a sua credibilidade no trato da informação, sem dúvida, são um ponto importante de toda a discussão.

- Sem dúvida, os brasileiros estão mais atentos à política.  Discute-se política diariamente agora, ainda que de forma precária, incipiente, infantil ou inconsequente.  O amadurecimento dos canais de discussão, espero, será uma consequência de toda a turbulência.

- Há também um questionamento generalizado quanto ao papel das instituições, dos Poderes da República, dos agentes.  Até mesmo o Poder Judiciário, sempre tão distante dessas questões (como deve ser) foi tragado para o meio do turbilhão e agora atua baixo o oculum populi.

- Definitivamente, há uma grande diferença entre 1964 e 2016 que reside no fato de que o Presidente está no cargo, ainda que afastado.  Essa circunstãncia levantou questionamentos muito importantes, e ainda não respondidos, sobre os limites de um governo interino, como tratar um presidente afastado (quais são suas prerrogativas).  Além disso, há a possibilidade de que o presidente afastado reassuma o seu lugar por meios institucionais, o que é totalmente diferente do que aconteceu com João Goulart.

Na verdade, só em 2013 o mandato foi devolvido simbolicamente a João Goulart (http://www2.planalto.gov.br/centrais-de-conteudos/imagens/devolucao-simbolica-do-mandato-presidencial-a-joao-goulart), em sessão solene do Congresso Nacional.

A análise comparativa continua.

11) E o que dizer da legitimidade dos julgadores?  Tantos senadores e deputados envolvidos em escândalos de corrupção eleitoral que nem dá para acreditar/contabilizar.  Se tudo o que se conta é verdade, e quero acreditar que não, a empresa mais lucrativa do Brasil foi aquela que se instalou paralelamente à máquina pública, desenvolvendo uma relação parasitária.

12) Parecer técnico do Senado, basicamente, esclarece que não houve ato da Presidência que motivou o atraso em repasses devidos pelo governo (pedaladas), mas houve a emissão de decretos de abertura de crédito suplementar.  Se isso configura crime de responsabilidade que implique em impedimento, agora é a grande questão.  Ou deveria ser.

13) Agosto (sempre agosto), começou o julgamento do impedimento no Senado.  A sensação que eu tenho, para usar uma metáfora esportiva, é que se trata de um campeonato de futebol cujas regras são construídas à medida em que os jogos se desenrolam.

14) Ontem, depois da instrução, a ainda Presidente Dilma fez o seu pronunciamento.  O mínimo que se poderia fazer em um processo é dar a oportunidade do acusado falar, se quiser.

15) No julgamento do Senado, em 31/08/2016, Dilma Rousseff foi impedida por 61 votos contra 20.

16) Agosto na vida dos brasileiros (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/08/memoria-e-apocalipse.html)

(continua...)

quarta-feira, 6 de abril de 2016

terça-feira, 5 de abril de 2016

Direito à memória dos mortos: forma inusitada de lembrança celebrativa

Esse mundo, vasto mundo, não para de tentar me surpreender e as pessoas são muito criativas.  Na hora de homenagear e lembrar os mortos parece que vale quase tudo, de colocar cinzas em vibradores (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2015/04/direito-memoria-dos-mortossera.html) até transformar um cadáver em bolo de festa.

O corpo de Lenin sendo velado constitui um marco importante da construção de sua memória individual e da memória coletiva sobre ele, só nunca imaginei que o evento  ia ser reproduzido assim: https://www.youtube.com/watch?v=dUQtw22du6A

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Transposição de bens imóveis

Notícia interessante: http://g1.globo.com/planeta-bizarro/noticia/2016/03/predio-historico-de-mais-de-100-anos-sera-movido-de-lugar-na-china.html

Segundo a notícia o prédio será integralmente movido a uma distância de 100 metros.  É possível? Sim. É recomendável, do ponto de vista da preservação?  Raramente.