O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









sexta-feira, 29 de março de 2013

Paixão de Cristo 2013





Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas, Minas Gerais.  Fotografias tiradas em 2008, e as esculturas são atribuídas a Aleijadinho (ou à Oficina de Aleijadinho).

quarta-feira, 27 de março de 2013

Provérbios (1)

Hoje iniciamos mais uma série do blog "direito à memória", trazendo conhecimentos que passaram no teste do tempo e cristalizaram-se em frases cheias de sabedoria, chamadas de "provérbios" ou ditos populares.

São conhecimentos obtidos no cotidiano e que são repassados através das gerações de forma sintética, com explícito apelo mnemônico.

Lembro que quando era da 5ª série a professora de Português passou um trabalho interessantíssimo, em que nós tínhamos que colecionar e analisar ditos populares e frases de para-choque de caminhão. Adorei esse trabalho sem saber o porquê, pois naquela época não sabia que o meu amor tinha um nome: memória coletiva.

Ainda lembro de vários desses provérbios que aprendi na quinta série, mas um deles tem um especial significado, pois foi contribuição do meu pai.  Observem:

"O amor é como um pirulito, no começo é doce, e no final é palito".

Não acho que esse provérbio seja muito sábio, mas está no topo da lista por motivos afetivos.

De alguns, eu apenas discordo:

"Uma andorinha só não faz verão".  Nem mil andorinhas juntas o fariam.  Na época em que eu estava na quinta série o responsável pelas estações era o movimento de rotação e translação da Terra, mas como as coisas estão mudando, talvez o verão agora seja obra de duas ou mais andorinhas.

Enfim, a minha hipótese é que os provérbios não são tão sábios assim, e devem ser utilizados e transmitidos com cautela.  E é isso que nos propomos nessa nova série do blog, analisar e certificar a idoneidade de provérbios e ditos populares para os fins de transmissão.

Talvez disso resulte mais uma campanha desse blog engajado, contra a transmissão, o ensino e a promoção de ditos idiotas.

Recomendamos veementemente, por sua comprovada utilidade, sabedoria e caráter principiológico (no Direito Ambiental), o provérbio "é melhor prevenir do que remediar".

segunda-feira, 25 de março de 2013

Semana Santa 2013: análise cronológica da comemoração a partir do relato dos apóstolos

Vamos refletir sobre a cronologia dos eventos da chamada "Semana Santa", co-memoração cristã da maior relevância.  Nunca consegui entender direito a cronologia dos fatos, então resolvi estudar a Bíblia, em memória de Jesus (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/06/fazei-isso-em-memoria-de-mim.html).

Tentei encontrar no Novo Testamento alguma referência aos dias da semana (que certamente eram diferentes do que usamos hoje), mas não localizei.  Existe um período de viagem, em que Jesus está se dirigindo a Jerusalém.  Em João 12, afirma-se que "seis dias antes da Páscoa", ele chegou a Betânia, onde vivia Lázaro, ressuscitado.  Na casa de Lázaro, Jesus fôra ungido com nardo.

Aqui encontrei uma pequena diferença entre o relato de Mateus 26 e João 12.  Em Mateus, Jesus estava em Betânia, na casa de Simão, o leproso, sendo ungido com perfume de nardo puro por uma mulher. Segundo Jesus, e para conter a indignação dos que viam a cena (pelo desperdício de perfume), ele disse que a mulher apenas antecipou a unção do seu corpo para o sepultamento.

E aparentemente, segundo Mateus, essa unção foi depois que Jesus chegou em Jerusalém, e não antes, como consta em João.

Pela tradição, entendi que ele chegou em Jerusalém no domingo, pediu para pegarem o jumentinho, que seria o início da jornada espiritual comemorada na semana santa:

1º dia:  A "Semana Santa"  começa a ser contada do domingo (ontem), quando Jesus chegou a Jerusalém e foi recebido por pessoas que seguravam ramos de palmeira.  Por isso é chamado de "domingo de ramos" e por isso os peregrinos que vão a Jerusalém são chamados de palmeiros.

O ramo de palma também simboliza a vitória sobre o mundo, e é por isso que os mártires católicos são retratados segurando ramos de palmeiras.

Nesse dia ele foi ao Templo, e expulsou os mercadores (Marcos, 11:15).  Aparentemente esse ato foi o que causou indignação entre os escribas e os anciãos, que então decidiram matá-lo (Marcos 11:18). Há uma referência de descontentamento anterior do Sinédrio, quando Jesus ressuscitou Lázaro (cf. João 11:45).

Saíram da cidade à tarde.


2º dia:  Segunda-Feira

De manhã, passaram de novo pela figueira que no dia anterior Jesus tinha amaldiçoado, ao entrar em Jerusalém (Marcos, 11:14 e 20).

Voltaram nesta manhã ao Templo, onde foi questionado pela expulsão dos mercadores (com que autoridade o fizeste?) Marcos, 12:28. Para responder ao questionamento de sua autoridade, Jesus retrucou perguntando sobre o Batismo de João, o que causou constrangimento político aos anciãos e escribas.

Ele lhes contou uma parábola e foi embora.  Mais tarde, nesse mesmo dia, mandaram os fariseus  para questioná-lo sobre o dever de pagar tributos à César, quando Jesus respondeu que deviam pagar.  Dai a César o que é de César (a moeda, que tinha a efígie do Imperador), e a Deus o que lhe pertence.

(Parênteses para a minha opinião:  Essa foi uma manifestação política muito séria, de respeito ao poder colonial, pelo menos temporariamente, e de separação entre a religião e a política).

O segundo dia em Jerusalém parece que foi bem movimentado, pois Jesus recebeu diversas visitas enquanto ensinava no Templo:  dos fariseus, questionando sobre os tributos de César; depois dos saduceus, perguntando sobre ressurreição; depois um escriba, perguntando sobre qual era o principal mandamento, assistiu à oferta da viúva pobre.

3º dia:  Terça-Feira:   De acordo com o Evangelho de Mateus, 26:2, Jesus reuniu-se com sacerdotes e escribas e disse "Sabeis que daqui a dois dias é a páscoa; e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado".  Foi nesse dia que os sacerdotes, escribas e anciãos reuniram-se na sala de Caifás e decidiram prender  e matar Jesus, mas "não durante a festa, para não haver tumulto entre o povo".

Em Marcos 14, há uma referência de que dali a dois dias seria a festa dos pães asmos (ázimos), que foi quando aconteceu a última ceia, o que parece confirmar esta cronologia.

Foi nesta terça-feira fatídica, que Judas Iscariotes vendeu-se aos sacerdotes (Marcos, 14: 10).

4º dia:  Quarta-feira.  Não percebi nenhuma atividade relatada na quarta-feira.  Nesse dia é celebrado o ofício das Trevas.

5º dia:  Quinta-feira, quando aconteceu a Última Ceia, e Judas Iscariotes foi receber o pagamento de trinta dinheiros por entregar Jesus.  Nessa mesma noite, Pedro negou Jesus três vezes.

Nessa mesma noite Jesus foi ao Jardim das Oliveiras (Getsêmani) para rezar e temer por seu destino, e também foi preso.

Entre esse evento e o cantar do galo (ou seja, antes de amanhecer), Jesus foi conduzido à casa de Caifás (sinédrio) e Pedro negou conhecer Jesus, negou ser galileu, negou ter o sotaque da Galiléia, foi quando o galo cantou. (Mateus, 26:6-75).

6º: dia:  Sexta-feira da Paixão de Cristo. Cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/04/sexta-feira-da-paixao-de-cristo.html  

Começou o dia com o suicídio de Judas Iscariotes.

Jesus foi julgado pela multidão, já que Pilatos lavou as mãos (estou inocente do sangue deste homem.  A responsabilidade é vossa).

Nesse dia recebeu sanções físicas e morais, foi torturado e levado ao Gólgota para a crucificação.  Durante o caminho, ainda foi humilhado e provocado (cf. Mateus 27:32-49).

Desde a crucificação até a morte, aparentemente passaram três horas (da hora sexta à hora nona).  Quando Jesus morreu houve um terremoto, e os sepulcros se abriram  e os corpos dos santos que dormiam ressurgiram (Mateus, 27:52-53), e andaram pela cidade e foram vistos pela população.

Observação: nos Evangelhos de Marcos e João não encontrei nenhuma referência à ressurreição dos que estavam  sepultados.

Nesse dia o corpo de Jesus foi envolvido no Sudário, patrocinado por José de Arimatéia.

7º dia:  Sábado de Aleluia.  Não verificamos relatos no sábado.

8º dia:  Domingo de Páscoa, quando Jesus ressuscitou.

"Passado o sábado", Jesus ressurrecto apareceu de manhã cedo a Maria, da qual havia expulsado sete demônios (Marcos, 16).

Nesse mesmo dia apareceu aos discípulos e ascendeu aos céus.

Se por acaso a minha cronologia dos relatos não estiver correta, por favor, corrijam-me.  Agora acredito que vou conseguir lembrar melhor, porque a narrativa está  mais estruturada.

domingo, 24 de março de 2013

No woman no cry - Bob Marley


No woman no cry
No woman no cry
No woman no cry
No woman no cry

say, say,
Say I remember when we used to sit
In a government yard in Trenchtown
Observing the hypocrites
As they would mingle with the good people we meet
Good friends we have
Oh, good friends we've lost
Along the way
In this great future,
You can't forget your past
So dry your tears, I say

No woman no cry
No woman no cry
Little darling, don't shed no tears
No woman no cry

Said I remember when we use to sit
In the government yard in Trenchtown
And then Georgie would make the fire lights
As it was, log wood burnin' through the night
Then we would cook corn meal porridge
Of which I'll share with you

My feet is my only carriage
And so I've got to push on through,
Oh, while I'm gone

Everything's gonna be alright
Everything's gonna be alright

No woman no cry
No woman no cry

I say little darlin'
Don't shed no tears
No woman no cry

____________

Comentário:
In this great future,
You can't forget your past.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Beber o morto

Essa é uma tradição das mais antigas, que também está em vias de extinção.

O velório é um momento muito solene, de reunião e confraternização entre os vivos, para honrar o falecido e executar os preparativos para a destinação dos restos mortais.

Eram cerimônias longas, e por isso era costume oferecer comida e café para as pessoas que ficavam ao lado do morto, às vezes durante o dia e a noite.  Além do café, havia a tradição de oferecer bebidas alcoólicas, daí se dizer que "bebiam" o morto.

Portanto, beber o morto é tomar uma bebida alcoólica (geralmente cachaça, patrimônio imaterial http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/05/cachaca-patrimonio-imaterial-do-brasil.html) em homenagem ao falecido.  Algumas vezes, sob a influência do álcool ou da memória dos vivos sobre o falecido, o velório se torna até festivo, e recebe o nome de gurufim.

Antes de ingerir a bebida, havia o costume de "lavar o pé", lavar o próprio pé com um pouquinho da bebida, para afastar a morte do seu caminho.  Esse costume é parecido mas não se confunde com o ato de dar bebida ao "santo" (qual?), jogando um pouco da sua bebida (geralmente cachaça, patrimônio imaterial) no chão, que é uma forma geral de libação, para honrar a divindade.

 Nas grandes cidades os ritos funerários estão cada vez mais rápidos e impessoais.  Sendo praticamente instantâneos, não permitem mais a confraternização, o compartilhamento de memórias sobre o falecido, e não exigem mais que se ofereça comidas e bebidas.

Talvez em algumas cidades do interior e em alguns ritos religiosos essa tradição se mantenha. Mas, tal como as carpideiras (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/01/carpideiras.html), trata-se de um costume em vias de extinção.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Arco da Velha

Quando se diz que alguma coisa é muito antiga, afirma-se que é o "arco da velha".

Essa expressão sempre me intrigou -arco da velha.  O que seria isso?

Ao longo das minhas expedições para encontrar o dito arco, descobri que:

1) é um nome antigo usado para arco-íris;

2) Nesse sentido, seria uma forma reduzida de "arco da lei velha", fazendo referência à Lei do Antigo Testamento (Gênesis, 9:16);

3) pode ser uma referência às antigas arcas, baús, onde as senhoras guardavam objetos.

De toda maneira, gosto muito de falar do arco da velha e sempre tive fascinação por caixas em geral, e todo potencial que elas escondem.  Não é à toa que o meu personagem favorito do Sítio do PicaPau Amarelo sempre foi a canastra de Emília.

Canastra é também uma palavra em extinção, o que é uma pena.  Neste sábado vou percorrer algumas lojas na minha cidade perguntando se vendem canastras.  Provavelmente ninguém vai saber do que se trata, mas vou fazê-los anotar para procurar.  E ainda vou reclamar com aquela cara séria, de quem despreza aqueles que não vendem canastras.

Isso sim é tática de salvaguarda!

domingo, 17 de março de 2013

Admirável mundo nosso

Porque o mundo é muito melhor quando é diversificado.  Já pensou como seria chato se fosse tudo igual?

A diversidade cultural, tal como a diversidade biológica, incrementa a oferta de recursos e viabiliza maneiras diferentes de suprir nossas demandas.

É tão bom conhecer e degustar as novidades que a diversidade proporciona.  Olha que legal acontece pelo mundo;

1) TV Lenta, da Noruega.  Transmite programas, como eu poderia dizer, meditativos.  Doze horas de transmissão de uma fogueira queimando, com sucesso de público e crítica.

2) Necrofilia matrimonial:  projeto de lei pretende legalizar a denominada "relação de despedida" entre cônjuges, até seis horas após o falecimento. Cf: http://oglobo.globo.com/blogs/pagenotfound/posts/2012/04/26/egito-deve-legalizar-necrofilia-matrimonial-442139.asp.

Algum dia, se essa lei realmente for aprovada, vou ter que infelizmente pensar sobre isso em relação à memória dos mortos.

3) Pesquisas científicas inusitadas.  Adoro e acompanho com interesse o IgNobel Prize, confiram: http://www.improbable.com/ig/.

E assim caminha a humanidade.

terça-feira, 12 de março de 2013

Boas lembranças...Firenze

Firenze (Florença) é a cidade mais acachapante que eu já conheci.  A sensação que eu tive foi de um verdadeiro nocaute: fiquei desorientada, não sabia para onde olhar e nem para onde ir.

Aquele lugar já foi o centro de um mundo e de uma época.  Dá para sentir o peso do poder político e da riqueza ainda hoje.  Imaginem como era na época dei Medici, tanta opulência, tanta arte...

Andar pelo centro histórico e mítico de Florença é uma experiência inesquecível.  Eu sempre acreditei que para conhecer de verdade um lugar, tem que ser na perspectiva e na velocidade dos pedestres.  Então, resolvi andar, andar e andar em Florença.

Dormir não era preciso, caminhar sim.  Então nós vagávamos por Florença durante a madrugada, que por sinal é bem animadinha.  Muitas obras de arte estão expostas na rua, ao ar livre ou em espaços abertos, e mesmo de madrugada era possível visitá-los:

Foto - Fabiana Dantas

Foto - Fabiana Dantas

Essa cidade tem coisas únicas.  Olha só  Ponte Vecchio com as suas impossíveis lojas suspensas:
Foto - Fabiana Dantas


É claro, Il Duomo:

Foto - Fabiana Dantas

O sorvete de melão que tomamos durante as madrugadas em Florença também é inesquecível.

domingo, 10 de março de 2013

Pose para foto


Ei, galera, olha para cá!



Os habitantes de Florença são muito hospitaleiros,e  até ficam paradinhos para a gente tirar foto.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Parênteses para reclamação

Vou abrir um parênteses nos textos sobre a memória para fazer uma reclamação.  Que droga é essa que está acontecendo?

Parece que a tecnologia da comunicação está prejudicando essa habilidade humana.  Os meios de comunicação parece que viraram os fins.

Ontem eu estava andando pela rua, tentando caçar o meu almoço, e parei para olhar à minha volta.  A maioria das pessoas estava usando fones de ouvido ou falando aos celulares, arriscando-se em atravessar a rua distraidamente.

As pessoas ficam absortas com os seus aparelhos e não prestam atenção ao mundo em sua volta, e nem ao cliente à sua frente.  Eu tive que repetir três vezes o que eu queria à atendente, e depois ela ainda tentou confirmar o meu pedido.  E confirmou errado.

Essa distração generalizada prejudica a formação da memória e traz uma tremenda ineficiência aos processos comunicativos.

Não dá para assistir à aula e ao mesmo tempo ficar mandando mensagens para dizer que está assistindo.  Adverti um aluno para que desligasse um aparelho retangular, aparentemente muito importante para a sua vida, para que prestasse atenção à aula.  Olha o diálogo:

- Fulano, desligue esse aparelho retangular e preste atenção à aula.  O momento é de atenção e concentração.

- Professora, eu estou informando os colegas (que deviam estar na aula e não estavam) que estou assistindo à aula.

- Fulano, você não está assistindo à aula.  Você está na sala de aula enviando mensagens aos amigos, o que é muito diferente.

Do jeito que está, além do arco  e do fogo, vamos ter que resgatar também os modos tradicionais de comunicação, aquele em que as pessoas realmente dialogam e as mensagens conseguem ser enviadas e recebidas, sem o abuso da tecnologia.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Artes marciais e memória

As atividades físicas são muito importantes para a manutenção de uma memória saudável.  Dentre elas, as artes marciais são particularmente benéfícas pois, além de afastar o sedentarismo, exercitam  constantemente a memória.

Eu pratiquei algumas artes marciais durante a vida: joguei capoeira (voltei na semana passada), pratiquei Kung-fu durante alguns anos, e também uma modalidade chamada "kickboxing" durante poucos meses.

Todas elas exigem um intenso trabalho da memória e do autocontrole.  Aprender os katis do Kung-fu é um verdadeiro desafio, assim como os golpes e defesas de qualquer arte marcial.

A coisa mais importante a lembrar quando se pratica uma arte marcial é esquivar.  Há muitos anos, esqueci de esquivar de um golpe na capoeira (meia lua de compasso), e recebi o maior pezão bem no meio das fuças.  Fiquei com um olho roxo durante uma semana, mas depois foi bonito porque foi mudando de cor gradualmente, primeiro verde, depois um amarelinho.

As artes marciais também são uma importante parte da memória coletiva.  A capoeira é um patrimônio imaterial do Brasil, por exemplo.  Por serem manifestações complexas, as artes marciais levam séculos, e até milênios, para desenvolverem-se e portam valores e informações sobre o contexto (local e tempo) e seus praticantes.

Há uns dois anos escrevi um texto sobre o caráter patrimonial e memorial das artes marciais, em uma colaboração muito rica com Dra. Elaine Müller.  O título é "Cultura marcial: uma porta para o Oriente em tempos de globalização", é um dos capítulos do livro "O Japão não é longe daqui"(2011), e foi uma excelente oportunidade para refletir sobre o caráter patrimonial das artes marciais.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Cornucópia

Já viram uma cornucópia?

É um chife do qual saem frutas, bebidas, dinheiro, e que representa a fartura.  Não é um objeto real, mas foi muito representado na Arquitetura e na Literatura.

Eu adoro cornucópias.

Gosto delas porque são mágicas e capazes de prover tudo que alguém precisa, sem esforço, mas também porque fazem isso desordenadamente.  Observem as representações e verão que vem tudo misturado - frutas, verduras, dinheiro, sapato - o que transforma as cornucópias em alvos potenciais para a Vigilância Sanitária.

Eu gostaria de ter uma da qual fossem expelidos hamburgueres e livros mas, por respeito aos clássicos, também teria uma da qual saem uvas e pães.

Acho que neste ano de 2013 vou me dedicar ao estudo das cornucópias e vou começar a colecionar suas representações.

terça-feira, 5 de março de 2013

Nomes de logradouros públicos: alteração da Lei nº 6.454/77

A Lei 6454/77 estabelece parâmetros para o ato de nomear logradouros públicos.  Em um post anterior (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2010/09/os-nomes-das-ruas-da-minha-cidade.html), explicitamos que os nomes das ruas são patrimônio imaterial da cidade e contribuem  para a apropriação afetiva do espaço quando possuem significado, podendo ser estendido esse etendimento às praças, parques e edifícios.

Essa lei foi alterada no ano de 2013, através da Lei nº 12781/2013, que dispôs:

Art. 1o  É proibido, em todo o território nacional, atribuir nome de pessoa viva ou que tenha se notabilizado pela defesa ou exploração de mão de obra escrava, em qualquer modalidade, a bem público, de qualquer natureza, pertencente à União ou às pessoas jurídicas da administração indireta.”

É uma alteração muito interessante pois evidencia um valor público: de não homenagear aqueles que promoveram a escravidão (em qualquer época).  A alteração da lei, no entanto, tem duas omissões importantes, no nosso entender:  primeiro, deveria contemplar outras violações de direitos humanos, proibindo a homenagem também em relação àqueles que promoveram tortura, genocídio, entre outros.

A segunda omissão foi quanto ao dever de renomear os logradouros que não respeitassem os parâmetros novos.  Uma consequência lógica da proibição seria determinar a alteração dos nomes de logradouros que, eventualmente, fizessem homenagem àqueles que se notabilizaram pela defesa ou exploração de mão de obra escrava.
 
Para conhecer o texto da lei nº 6454/77:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6454.htm

O poder político de dar nome às coisas e pessoas é importantíssimo e é um indicador de quem detém o poder simbólico de uma comunidade. E muitas vezes é uma forma de perpetuar esse poder, especialmente quando é utilizado como forma de publicidade do sobrenome, a ser lembrado em períodos eleitorais.

Finalmente, não consegui lembrar do nome de ninguém que tenha se  "notabilizado pela defesa ou exploração de mão de obra escrava".  Hoje em dia dificilmente alguém defenderia publicamente essa idéia, embora na esfera privada a escravidão persista.  Deve existir também aqueles que foram condenados pela Justiça por crime de redução à condição análoga à de escravo, mas se não se notabilizaram por isso, teoricamente poderiam receber a homenagem de nomear logradouros públicos, o que é um evidente absurdo interpretativo.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Conhece-te a ti mesmo, Brasil (3): a questão da alegria de viver

Na série "conhece-te a ti mesmo, Brasil", tentamos refletir sobre algumas características do povo brasileiro, que integram o seu modo de ser e/ou de viver.  Em dois posts anteriores discutimos a "vontade de ganhar" (ou de levar vantagem, que é uma consequência) e a impontualidade, respectivamente: cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/11/conhece-te-ti-mesmo-brasil-1.html e http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/01/conhece-te-ti-mesmo-brasil-2.html.

Já vi muitos escritos destacando a "alegria" do povo brasileiro, mas nunca entendi muito bem o que isso significa.  Provavelmente quem fala disso pensa nas manifestações culturais coloridas e movidas a álcool (sim, a cachaça é patrimônio também), deixando de lado aquelas que são solenes e  sóbrias.

Refleti um pouco sobre essa questão.  Alguns povos têm até uma palavra para designar esse apetite pela vida em geral, não apenas em festas:  por exemplo, os gregos identificam um "kefi", os franceses falam em "joie de vivre", os americanos utilizam a palavra "mojo", por exemplo.

Trata-se de um espírito, ou de uma virtude, não sei dizer.

Entre nós parece que a expressão "alegria de viver" resulta mais de uma tradução do que propriamente de uma característica observada.  Não há, ou não observei, um apelo ao cultivo desse espírito como característica identitária.

Alguns podem dizer que eu não percebo porque perdi o meu kefi, já que renunciei ao carnaval, por exemplo. É bem possível, especialmente se a percepção se basear em uma questão de "inteligibilidade".

Ou talvez nós precisemos que os "outros" reconheçam em nós os traços identitários.  E os "outros" geralmente dizem que o povo brasileiro é alegre.

Uma coisa é absolutamente verdade: se houver alguma batida ritmada, o brasileiro vai se remexer.  O desejo de dançar parece que é, sim, uma característica identitária.

Por fim, é uma grande falácia a generalização de adjetivos.  Da mesma maneira que não se pode dizer que "todos os homens são safados", ainda que essa carapuça possa ser aplicada em diversas situações, também não se pode dizer que o brasileiro é "alegre", ou que a "alegria do brasileiro" é uma característica identitária.

domingo, 3 de março de 2013

Arqueologia e os Ricardos

No ano da graça de 2013, foram resgatados os restos mortais de dois Reis Ricardo:  o "Coração de Leão"(http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/2013-02-28/coracao-de-ricardo-coracao-de-leao-e-analisado-800-anos-apos-morte-do-rei.html) e Ricardo III.

São descobertas arqueológicas históricas importantíssimas.  Para ver a reconstituição do rosto de Ricardo III: http://www.publico.pt/ciencia/noticia/reconstituicao-facial-de-ricardo-iii-apresentada-em-londres-1583398#/8.

Quando eu ouvir a célebre pergunta: "Fabiana, é REALMENTE necessário realizar a pesquisa arqueológica e o resgate para fazer esse empreendimento?" Responderei: os restos mortais de Ricardo III foram encontrados na escavação de um estacionamento. Ponto.

sábado, 2 de março de 2013

RESGATANDO XINGAMENTOS ANTIGOS...Velhaco (18)

Velhaca é pessoa que não paga as próprias dívidas, caloteira enganadora.

A velhacaria é a arte dos velhacos. O mister ou hábito de ser embusteiro, patife, que acaba por moldar o seu modo de viver ou de ganhar a vida.

A etimologia aponta a origem da palavra no castelhano "bellaco", que indica ou pessoa de má índole, ou que "ludibria propositalmente". (CUNHA, A.G. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa.  RJ: Nova Fronteira, 1997, p. 813).

Modo de  usar o xingamento antigo, à moda da sabedoria popular:  "em terra de velhacos, até a própria sombra dá rasteira".

sexta-feira, 1 de março de 2013

Memória brasileira: o congelamento da poupança

Em março de 1990, as poupanças dos brasileiros foram bloqueadas, como parte de um conjunto de medidas para conter a inflação.  Aliás, essa memória da inflação deveria ser cultivada entre nós (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/05/memoria-brasileira-inflacao.html), e mobilizada em forma de atitudes da sociedade civil, se necessário, para evitar a sua volta.

A idéia de bloquear a poupança, uma amarga forma de intervenção administrativa, visava a diminuir o consumo e reduzir o ritmo da inflação. Na época, essa medida ficou conhecida como "confisco da poupança", o que é tecnicamente errado, pois não se tratou de um confisco.

Passados 23 anos, a questão da constitucionalidade dessa medida, de gravíssimas repercussões  para os brasileiros, ainda é discutida no âmbito do Poder Judiciário.

Sobre o dia em que os brasileiros acordaram e descobriram suas poupanças restritras, lembro das estórias de enfartes fulminantes e derrames em filas de banco, desespero e ranger de dentes.  Pensando bem, muitos pereceram na batalha contra a inflação, e o seu sacrifício deve ser honrado pela sociedade civil adotando, por si mesma, iniciativas para melhorar a qualidade do gasto e consumo privados.