O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









domingo, 25 de novembro de 2012

Citações sobre a memória - Robinson Dantas

Um poema visual de Robinson Dantas, artista que é também meu irmão, da sua série "Sonetos Coloridos":


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Conhece-te a ti mesmo, Brasil (1)

Essa nova série do blog tem como finalidade destacar e analisar algumas características do povo brasileiro que consegui identificar(-me).  É uma tentativa de compreensão e posicionamento quanto à minha identidade cultural, o que não quer dizer que sejam necessariamente verdadeiras as minhas conclusões, mas apenas que essa é a minha percepção.

A primeira característica que gostaria de destacar é a necessidade que o brasileiro sente de "ganhar".  Acho que gostar de ganhar é bem humano - todo mundo gosta - mas entre nós essa característica torna-se uma peculiaridade:

1) O brasileiro gosta tanto de ganhar que não dá valor ao segundo e terceiro lugares.  Se não for primeiro, medalha de ouro, etc.., praticamente não tem valor.

2) O brasileiro gosta tanto de ganhar que suas afinidades eletivas variam de acordo com quem está ganhando.  Pensando em esportes, pergunto: para onde foi aquela paixão que o brasileiro sentia pela Fórmula 1?  Domingo era dia de assistir aos grandes prêmios de Fórmula 1, religiosamente, mas depois que o nosso campeão Ayrton Senna faleceu (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/05/memoria-brasileira-funerais-de-ayrton.html), o esporte perdeu a graça.

Por que?  Porque não temos mais um campeão, paramos de ganhar, então perdeu a graça. Isso também pode ser estendido a outros esportes, como o futebol.  Já ouvi de várias pessoas que a 'seleção perdeu a graça', por que? Porque não ganha como antigamente.

Durante algum tempo percebi um esfriamento do entusiasmo dos brasileiros pela seleção, não pelo futebol em si, que é patrimônio cultural imaterial por essas bandas.

O raciocínio também se estende às novas paixões nacionais. Por que o MMA está tão em evidência agora? Porque temos brasileiros ganhando.

3) A vitória de um brasileiro realmente enche de orgulho a todos nós. Nós nos apropriamos das vitórias de outros brasileiros, mesmo quando eles não estão competindo a nada, e portanto não estão tecnicamente "ganhando".  Quer ver um exemplo?  Os brasileiros se orgulham de "ter" as modelos mais bem pagas do mundo, e isso já foi tema até de comercial de TV.

4) O brasileiro gosta de ganhar, mas não de qualquer jeito.  Tem que ganhar bonito, porque do contrário não vale.  Ganhar jogo com gol de mão é absolutamente azedo.  Será amargo se perdermos com um gol de mão.

5) A lei de Gérson -o desejo de levar vantagem em tudo - pode ser uma manifestação dessa vontade visceral de ganhar.  Para ver o nascedouro da "Lei de Gérson": http://www.youtube.com/watch?v=J6brObB-3Ow&noredirect=1.

Se essa é uma característica positiva?  Como quase tudo em cultura pode ser positivo, negativo ou ambos simultaneamente, depende de como é aplicado.  Entre nós, percebo-a mais como um traço negativo porque não induz a uma competitividade saudável, mas a práticas não louváveis: por exemplo, não é raro encontrar produtos com preços diferenciados - mais barato para nativos e exorbitantemente mais caros para quem é de fora; pouco reconhecimento pelo competidor correto que não vence e um certo "esquecimento contra" quem não está ganhando ou na crista da onda.

Para alguém ganhar sempre, alguém deve perder sempre.  Quem perde sempre? O que perdemos sempre?

Acredito também que a necessidade de "ganhar" é um modo de auto-afirmação imatura, porque percebo uma certa baixa auto-estima entre nós, revelada pela necessidade de ser/ter "o maior do mundo", mas esse será tema de outro post.

domingo, 18 de novembro de 2012

Direito à memória dos mortos: mumificação em Papua-Nova Guine (Koke)

Acabei de assistir a um programa do Discovery sobre a mumificação na comunidade Koke, em Papua-Nova Guiné.  O documentário, apresentado por Josh Bernstein, mostra o processo de transmissão de técnicas de mumificação, para evitar que o conhecimento seja esquecido.

Gostei desse programa por vários motivos:

1) Pela preocupação e urgência do chefe da comunidade, último guardião do conhecimento, de morrer e não conseguir a mumificação, porque os membros não saberiam como.

2) Pela vontade de continuar pertencendo à comunidade depois de morto, agora como protetor.  É interessante como os mortos da comunidade ainda fazem parte da vida cotidiana.

3) Achei interessante o conflito entre as técnicas tradicionais de disposição do cadáver e a maneira ensinada pelos missionários.  Pelo que pude perceber, tradicionalmente eles adotavam a corrupção consentida mas ocultada, colocando o cadáver acima das árvores, e a corrupção proibida, através do processo de mumificação.

4) Não consegui perceber em que situações escolhiam por uma ou outra.  Os missionários ensinaram a técnica da inumação, que permite a desintegração oculta dos corpos, que passou a ser adotada nas últimas décadas porque disseram ser ilegal a prática da mumificação.

5) Ocorre que dentro da cultura Koke a inumação é extremamente negativa, pois representaria uma oferenda de corpo humano à Terra, que depois ficaria sedenta por mais corpos.

6) Com a nova necessidade de prolongar a preservação das múmias, um especialista foi convidado para ensinar a realizar intervenções de restauro utilizando substâncias encontradas no próprio ambiente.  Se essas técnicas forem incorporadas, haverá uma mudança no ritual que poderá ser repassado à memória coletiva, e às futuras gerações.


Depois que essa etapa do processo de transmissão foi concluída, mostraram o interesse das crianças pelo passado, e a intimidade da convivência com as múmias que ficam guardadas em um local especial. Essa intimidade,  esse conforto, nada mais é do que a identidade cultural que garantirá a continuidade daquela comunidade (de vivos e de mortos).


sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Um sol para cada um

Hoje (16/11/2012) será lembrado como o dia mais quente na minha estada sobre esta Terra.  Parece ser verdade, como dizem por aqui, que existe "um sol para cada um", mas a sensação térmica é de pelo menos dois por vivente.

Que calorrrrrrrr!

Não sei se existe um aquecimento global, já que há quem o conteste.  Mas pelo menos o aquecimento local é fácil de verificar.  Na minha região não existem quatro estações, há apenas calor e calor com chuva.  Nós estamos no período do calor sem chuva, e já começou o racionamento de água.

Essa situação periclitante (ou piriquitante, como dizem alguns) me fez lembrar de "Les Luthiers", um grupo musical argentino que, com muita sabedoria, escreveu estes versos sobre o sol brasileiro:

" ¡Oh sol, oh sol, oh sol, oh sol, oh sol!
Oh sol queimante e ardente,
oh sol cozinheiro da gente,
oh sol tan firme e bruñido,
oh sol de fogo encendido
que queima hasta o apelido,
oh sol, oh sol sostenido,
oh sol, oh sol bemol".


Para ouvir a música "La bossa nostra", que contém esse precioso e sábio refrão: http://www.youtube.com/watch?v=ZDPqZJkDqLM

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

15 de novembro de 2013


Neste blog analisamos o comemograma nacional - conjunto das comemorações públicas - porque são importantes veículos de transmissão dos valores que integram a memória coletiva.

No ano passado, refletimos sobre o 15 de novembro:http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/11/15-de-novembro-proclamacao-da-republica.html.  A República, como forma de governo, foi proclamada através do Decreto nº 01, de 15 de novembro de 1889: http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=91696&tipoDocumento=DEC&tipoTexto=PUB

Sobre o Hino Nacional e a letra do Hino da Proclamação da República, é indispensável ler o Decreto nº 1171/1890: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/d171.htm.

Observem que não há qualquer disposição de "como" (qual a performance) da comemoração, diferentemente do dia 7 de setembro.  Mas não importa: sendo feriado, com um possível "imprensado" na sexta-feira, a comemoração da Proclamação da República na verdade será um dia de lazer.  Mais uma vez.

sábado, 10 de novembro de 2012

Carlos Marighella e a bi-anistia?

Carlos Marighella é um daqueles personagens históricos mais que controvertidos: a depender do lado do argumento em que estamos, pode ser herói, mártir, terrorista, vítima, culpado, inocente, ou tudo isso ao mesmo tempo.

Morreu em 4 de novembro de 1969, assassinado por agentes que representavam o governo brasileiro.  Ontem, Carlos Marighella foi declarado "anistiado político": http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,carlos-marighella-recebe-anistia-post-mortem,958116,0.htm.

Tecnicamente, a anistia é um ato através do qual o poder legislativo descriminaliza determinada conduta, cuja principal função é permitir a aplicação da lei penal de forma coerente com as circunstâncias históricas e com o anseio público.  Pode ocorrer antes ou depois da sentença condenatória.

O histórico desse instituto me fez refletir sobre essa notícia pois, pelo que entendo, a anistia promovida através da Lei 6683/79 já  alcançara Carlos Marighella. Observem o teor da Portaria nº 2780/2012, publicada no Seção ', do DOU de 9/11/2012, fls. 49 (http://www.in.gov.br/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=49&data=09/11/2012):


"PORTARIA No. 2.780, DE 8 DE NOVEMBRO DE 2012
O MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA, no uso de suas
atribuições legais, com fulcro no artigo 10 da Lei nº 10.559, de 13 de
novembro de 2002, publicada no Diário Oficial de 14 de novembro
de 2002 e considerando o resultado do julgamento proferido pela
Comissão de Anistia na 6ª Sessão de Julgamento da Caravana de
Anistia, na cidade de Salvador / BA, realizada no dia 05 de dezembro
de 2011, no Requerimento de Anistia nº 2011.01.70225, resolve:
Declarar CARLOS MARIGHELLA filho de MARIA RITA
DO NASCIMENTO MARIGHELLA, anistiado político "post mortem", nos termos do artigo 1º, inciso I, da Lei nº 10.559, de 13 de
novembro de 2002

Parece-nos que, ao reconhecer a condição de "anistiado post mortem", em verdade o ato supratranscrito pretende constituir o regime previsto na Lei 10.559/2002 para os sucessores, já que do ponto de vista punitivo os falecidos não podem ser beneficiados pela anistia, e ainda se admitida post mortem, seria forçoso considerar que já estava abrangido pela Lei 6683/79.

Nas rápidas pesquisas que realizei, não identifiquei a condenação de Carlos Marighella por " terrorismo, assalto, seqüestro e atentado pessoal", que seriam as hipóteses de exceção à anistia, então é forçoso concluir que ele já se encontrava anistiado diretamente por força de lei.


Realmente, o tema anistia é muito interessante no Brasil, e é sempre merecedor de um aprofundamento das reflexões.  Estudemos.



sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Citações sobre a memória - Cesare Pavese


"Uma obra não resolve nada, assim como o trabalho de uma geração inteira não resolve nada.  Os filhos - o amanhã  - recomeçam sempre e ignoram alegremente os  pais, o já feito.  É mais aceitável o ódio, a revolta contra o passado do que esta beata ignorância.  O que havia de bom nas épocas antigas era a sua constituição graças à qual se olhava sempre para o passado.  Este é o segredo de sua inesgotável plenitude. Porque a riqueza de uma obra - de uma geração - é sempre determinada pela quantidade de passado que contém".