O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









domingo, 31 de maio de 2020

Diário do Coronavirus

20/03/2020:  Determinação do governo estadual para restrição de movimentos.  Estou trabalhando remotamente desde ontem. Por enquanto, o clima é de uma tranquilidade vigiada, mas acredito que as coisas vão piorar bastante.

23/03/2020: Início da segunda semana (no Brasil) da luta pela sobrevivência contra o coronavirus.  Há um mês eu nem pensava nesse assunto.  Estava planejando um ano de 2020 muito, muito diferente. Agora meu conceito de "normalidade" mudou para sempre.

Tenho um profundo temor do futuro.  Não acredito que será um apocalipse da raça humana mas com certeza vemos a morte de uma mentalidade.

25/03/2020 - Quinto dia de confinamento.  Hora de fazer mais e começar a me exercitar.

16/04 - Um mês de confinamento.  Tentei lembrar da minha primeira impressão sobre a situação e, sem dúvida, foi surpresa e preocupação.  Surpresa porque uma pandemia, nessas proporções, é inédito e preocupação pelos mesmos motivos.

26/04 - Quarenta dias.  A palavra "quarentena" acabou de se tornar uma experiência para mim.

19/05/2020 - O Congresso Nacional decreta luto oficial de 3 dias pelos 10.000 mortos em razão do coronavirus.

16/05/2020 - Lockdown na minha cidade.  É o confinamento dentro do isolamento.

20/05/2020 - Sessenta dias de isolamento, e a vida ganha uma estranha normalidade.  Lembro de alguns vídeos de italianos e italianas no início da pandemia, quando  a situação lá estava parecida com o que passamos hoje.  As pessoas imploravam para que ficássemos em casa e falavam, em retrospectiva para elas mesmas, o que deveriam ter feito.

Bem, aprendi com a experiência alheia e fiquei em casa desde o primeiro momento. Agradeço a todos aqueles que, antes de mim, compartilharam suas experiências e nos ajudaram a tomar decisões melhores.

31/05/2020 - A partir de amanhã vamos sair do lockdown aqui na minha cidade.  O isolamento continua mas haverá mais circulação de pessoas e serviços.

Até hoje, 28 mil mortos.

Esse post não tem uma conclusão. É um processo.





sábado, 30 de maio de 2020

Férias de junho de 2020

Adoro viajar nas férias.  Sempre as considerei uma oportunidade de aprender coisas diferentes, em lugares diferentes com pessoas muito interessantes.

Fechando os olhos consigo retornar na memória, rever lugares queridos e lembrar de experiências que me definem.  Revisitar é um ótimo exercício e, quando a memória é feliz, tento retornar fisicamente  e acrescentar outras camadas à lembrança.

Não em junho de 2020. 

Desta vez vou ficar em casa e ser grata por isso.

domingo, 24 de maio de 2020

Meu aniversário - 24 de maio

Em confinamento, resolvi me dar de presente o poema-canção de Violeta Parra:


"Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me dio dos luceros, que cuando los abro,
Perfecto distingo lo negro del blanco
Y en el alto cielo su fondo estrellado
Y en las multitudes el hombre que yo amo
Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado el oido que en todo su ancho
Graba noche y dia, grillos y canarios,
Martillos, turbinas, ladridos, chubascos,
Y la voz tan tierna de mi bien amado
Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado el sonido y el abecedario;
Con el las palabras que pienso y declaro:
Madre, amigo, hermano, y luz alumbrando
La ruta del alma del que estoy amando
Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado la marcha de mis pies cansados;
Con ellos anduve ciudades y charcos,
Playas y desiertos, montañas y llanos,
Y la casa tuya, tu calle y tu patio
Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me dio el corazon que agita su marco
Cuando miro el fruto del cerebro humano,
Cuando miro al bueno tan lejos del malo,
Cuando miro al fondo de tus ojos claros
Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto
Asi yo distingo dicha de quebranto,
Los dos materiales que forman mi canto,
Y el canto de ustedes que es mi mismo canto,
Y el canto de todos que es mi propio canto
Gracias a la vida que me ha dado tanto."

E para a gratidão ficar completa, ouvir hoje Mercedes Sosa cantando essa música o dia inteiro.

sábado, 23 de maio de 2020

Lugares a visitar pós-coronavirus

Enquanto estou aqui fico sonhando quando isso tudo for superado (mas não esquecido), especialmente nos lugares que desejo visitar e revisitar.

Fiz uma lista de tudo que me veio à cabeça, e esse post servirá de guia para as minhas futuras aventuras:

1) No Brasil (bater pernas de Norte a Sul)

Serra da Capivara
São Tomé das Letras e Santuário do Caraça (passar a régua em Minas Gerais).
Percorrer a Estrada Real a pé.
Lençóis Maranhenses
São Miguel das Missões

2) No mundo

Japão
China
Peru
Ecuador
Uruguay
Voltar à Colombia
Escócia/França e Alemanha, nessa ordem, porque tenho uma pesquisa para fazer.
Voltar ao Caminho (pelo menos mais umas duas vezes)
La Vall de Boí
Mongólia
Egito

3) Festas (celebrações que preciso ver)

Las Fallas (Les Falles)
Sanfermines (de novo!)
Dia de los muertos (Mexico)
Inty Raimi
Kanamara Matsuri (Japão)

Certamente há muito mais para ver e fazer, e vou ter que ser mais específica ao planejar as viagens. O Brasil já é imenso, imagina querer conhecer a "China".  A vantagem é que gosto de História e de Geografia, e meus irmãos são professores dessas matérias, então sempre tenho à disposição uma consultoria luxuosa e amorosa para as minhas viagens.

Depois que eu supero os "não vá", "mas, agora"?, "mas por que?", "mas, de novo?", passamos à análise dos mapas, dos aspectos sócio-culturais e históricos para delimitar períodos e locais de interesse imediato. Escolhidos os locais e as missões, passo a planejar a viagem.

E finalmente saio, saio em busca de novas experiências e memórias que enriquecem a minha vida.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Memorial virtual para as vítimas de coronavirus no Brasil- divulgação

A iniciativa singela tocou o meu coração: https://inumeraveis.com.br/

A biografia de cada uma, escrita de uma forma tão simples e delicada, para nos trazer a sua lembrança.

Aos que ficam, força e saúde.

domingo, 17 de maio de 2020

Aniversário de dez anos do blog

Parece que foi ontem, mas o blog iniciou em 17 de maio de 2010, com esta postagem: https://direitoamemoria.blogspot.com/2010/05/capitulo-1.html?showComment=1589718407187#c6364955283384718030

São dez anos de manifestação do pensamento sobre a memória, direito à memória e patrimônio cultural.

Para comemorar a data, vou rever cada um dos posts (até agora 1489), atualizando e ressignificando,  e sendo grata pelo que aprendi por meio desta ferramenta.

Agradeço também a todos os leitores e os comentários que enriquecem as postagens.

Esse blog me inspirou a escrever outro livro, que está em fase de finalização, o que não significa que será publicado brevemente. Veremos.


sábado, 16 de maio de 2020

Mamãezinha


Mamãe

Adoro esta foto da minha mãe, porque lembra um poema de Borges que está no post http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/05/elegia-da-lembranca-impossivel-jorge.html:

(...)

"O que não daria eu pela memória
Da minha mãe a olhar a manhã
Na fazenda de Santa Irene,
Sem saber que o seu nome ia ser Borges."


Eu olho essa foto e imagino o que passava pela cabeça dessa garotinha, que viria a ser minha mamãe. Gostaria de poder estar lá com ela, naquela tarde longínqua da fotografia, ou mais recentemente no dia das mães, mas fui impedida pela distância no tempo e agora no espaço.

Gosto dessa foto porque a minha mãe parece minha boneca.  Lembro da surpresa quando a vi pela primeira vez e descobri que ela também tinha sido criança, igual a mim.

Literalmente, igual a mim.  Temos algumas diferenças: ela tem cabelos louros e olhos verdes, e eu sou a versão morena dela, com cabelos e olhos castanhos.

Digo a vocês, essa garotinha é hoje uma mulher fascinante, cuja figura doce não condiz em nada com o esteriótipo. Essa mãe e avó é responsável pelo apego à liberdade que eu desenvolvi, e pelo estímulo à educação, da criatividade e do desejo de sempre aprender que fez dos seus quatro filhos professores.

Minha mãe nos ensinou a amar.  Amar de formas diferentes, e cada um do seu jeito e o que lhe aprouvesse. 

Minha mãe costurou faixas para os meus pés quando eu decidi, por um breve momento, que teria pés de lótus (https://direitoamemoria.blogspot.com/2015/07/dialogo-surreal-11-sobre-pes-de-lotus.html), e fez um bolo de aniversário para que eu pudesse jogar na minha cara, como se vê nos filmes de comédia pastelão. Depois de tantas décadas, são memórias que me fazem sorrir.

Minha mãe nos ensinou que pensar é uma coisa boa e a individualidade também.

Será que essa garotinha imaginava que se tornaria uma mãe tão incrível? 


quarta-feira, 13 de maio de 2020

Sobre el Camino de Santiago

O canal patrimonio traz uma série de textos sobre el Camino: https://www.canalpatrimonio.com/camino-de-santiago-arte-historia-xv-el-camino-frances-en-castilla-leon-palencia/

Nesses dias fiquei pensando se há alguém peregrinando nesses tempos tão difíceis.  Será que há alguém preso no Camino, sem conseguir voltar para casa?

Como estarão aquelas pessoas tão hospitaleiras que encontrei? 

Desejo a todos boa saúde e felicidade, e espero reencontrá-los bem em breve.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Luto oficial no Brasil

No sábado o Congresso Nacional decretou luto oficial por três dias em lembrança aos 10.000 mortos por Covid -19.

O luto oficial é mais do que uma lembrança celebrativa, é uma advertência.

domingo, 10 de maio de 2020

Arte tumular: Taking Lena Home

Lápides podem ser obras de arte e documentos históricos, mas sempre são vestígios da existência de alguém.  Portam memórias individuais, que também são importantes para registrar a história das comunidades.

Durante a quarentena tive mais tempo e oportunidade de fazer pesquisas e me deparei com esse maravilhoso documentário "Taking Lena Home", de Alexandra Grant, disponível no canal da artista no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=rHImeu7PHSI.

Essa é uma história de plena restituição de afetos, mais do que de um lápide, que motivou uma jornada muito comovente.

sábado, 9 de maio de 2020

Aparecedouros

Nessa notícia, sumidouros de água em Roma revelam descobertas arqueológicas: https://socientifica.com.br/sumidouros-de-roma-revelam-incrivel-descoberta-arqueologica/

Então, rigorosamente falando, são aparecedouros de artefatos.

sexta-feira, 8 de maio de 2020

O fim da estória

Desfechos são fundamentais para a memória e são um anseio humano legítimo.  Por que é tão doloroso pensar na situação dos desaparecidos e dos seus familiares? 

A situação inconclusa deixa vidas suspensas exatamente porque o desfecho é um passo necessário para a superação da dor e do luto.

Uma narrativa  tem um início, meio, e fim, o problema às vezes é identificar cada uma dessas partes, e no que nelas é essencial.  Muitas vezes nos equivocamos sobre o que e quando é um início, um fim, e buscar origens e destinos, causas e efeitos, parece ser uma missão sem fim.

Estórias inconclusas prejudicam a narrativa e a memória que é construída, além de deixar aquela sensação de falta que é tão angustiante.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Caixa de correio

No post https://direitoamemoria.blogspot.com/2020/04/carta.html, refletimos sobre a dramaticidade das cartas e a necessidade de continuar enviando-as e recebendo-as.

Mas elas não conseguem viajar sem as caixas de correio, esses portais mágicos que permitem  transportá-las para qualquer lugar.  Bem, era assim que eu pensava enquanto tentava alcançar uma para depositar as cartas da minha mãe.

Era uma caixa de correio cabeçuda e amarela, padrão dos correios brasileiros, que tinha uma abertura estreita para depositar documentos. Ela não era charmosa, como outras que encontrei ao longo da vida, mas sem dúvida marcou a minha memória.

Encontrei uma bem interessante em Astorga, que era uma cabeça de leão ameaçador.  Para depositar sua carta, tem que chegar perto da bocarra, superar o medo e fazer aquele leão engolir as suas palavras.  Muito emocionante!

Eu sempre estou olhando as caixas de correios e as considero fascinantes. E, antes que alguém me pergunte, eu não coleciono.  Ainda.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Imitações e memória


Dizem que toda imitação é uma forma de homenagem, e por vezes pode representar uma forma de lembrança celebrativa também.

Fico impressionada com a fidelidade e a semelhança que alguns imitadores alcançam, alguns com o desejo de falsificar e outros apenas de aproximar um objeto distante no tempo ou no espaço.

Também gosto das péssimas imitações porque elas são desconcertantemente honestas.  Aprecio o esforço mesmo que seja mal sucedido exceto quando, de tão ruim, a imitação passa a ser ofensiva.

terça-feira, 5 de maio de 2020

Bolo de bacia

Um bolinho pequeno de não sei o que, ancestral dos enfeitados cupcakes.

Bolo de bacia não tem cobertura e nem enfeites, é um doce primitivo, de raiz, e que exige um caldo de cana para acompanhar.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Dever de memória da pandemia

Como citado no post https://direitoamemoria.blogspot.com/2020/05/citacoes-sobre-memoria-leonardo.html, Leonardo (da Vinci) destacou a importância de lembrar ainda que fossem dias miseráveis.

Situações traumáticas, graves e tristes, deixam lições que acabam por se dissiparem ao longo das gerações.  Lembro que assisti a um documentário sobre a enchente em Paris de 1910, e o foco era como as gerações seguintes não lembravam desse fato, o que as levou a descuidar, minimizar e esquecer o perigo.

Esquecer o perigo permite que sejam criadas as condições para novas tragédias, e as novas gerações serão sempre pegas desprevenidas.  Essa incapacidade de aprender com o passado é muito frustrante:  não aprendemos nada com as chacinas, as tragédias ambientais, endemias e pandemias?

Por que desperdiçar esse valioso acervo de experiências contido na memória coletiva?  O esforço de lembrar também é uma forma de honrar os caídos nessa batalha, tanto as vítimas quanto os profissionais de saúde vitimados.

Cada povo vai lembrar do que fez, do que deixou de fazer e das consequências da pandemia COVID-19 de maneiras diferentes, mas a  lição de não esquecer, de defender a vida, de não permitir violações de direitos fundamentais, de não aceitar quebras da ordem jurídica considerada legítima e de defender as instituições responsáveis pela existência e continuidade da democracia e do Estado em situações dramáticas e excepcionais deve ser aprendida e cotidianamente praticada.

A superação do trauma coletivo e a prevenção de novas tragédias estão diretamente ligadas a uma obrigação de recordar. É nosso dever lembrar para que a recordação contínua possibilite o aperfeiçoamento das instituições e da vida social, e também para manter a sociedade e os indivíduos alertas para resistir e agir através da lembrança, deixando-nos menos vulneráveis.

domingo, 3 de maio de 2020

Citações sobre a memória - Leonardo


"Não nos faltam recursos para contar estes dias miseráveis, dos quais deveríamos apreciar o fato de eles não se dissiparem sem deixar para trás qualquer lembrança sobre a nossa existência na memória dos homens".

sábado, 2 de maio de 2020

Lembrar Leonardo (da Vinci) - 2 de maio de 2020

Lembro que faleceu em 2 de maio de 1519.

Para mim, ele é a definição de imortal porque é reiteradamente lembrado.  Acho que não há uma semana sequer em que não veja ou ouça algo sobre Leonardo:

O pintor
O engenheiro
O retrato
O abduzido (?)
Mestre secreto do tempo
Mestre de obscuras ordens secretas

Lembrado por tantas obras e de tantas formas.

Em seus cadernos sempre escrevia apelos a si mesmo - "diga-me", "diga-me", "diga-me se alguma coisa já feita" - e as suas impressões.   Disse uma vez que, embora achasse que estava aprendendo a viver, na verdade estava aprendendo a morrer.

Seus cadernos - preciosos scrapbooks (cf. https://direitoamemoria.blogspot.com/2019/01/scrapbook.html)- trazem todo tipo de invenções, descobertas, pensamentos.  Tantas formas de expressão de uma pessoa curiosa, angustiada, inteligente, trabalhadora.  Um ser humano normal, mas extraordinário.

Ele nasceu em 15 de abril (1452) e em 02 de maio, após aprender a viver e a morrer, virou História.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Lembrando uma tarde em San Telmo - Buenos Aires

Estava lembrando de lugares queridos, e San Telmo em Buenos Aires tem um espaço permanente e cativo em meu coração. Gosto de andar e olhar por ali, observando tudo.

Mas hoje a minha lembrança foi motivada por um imóvel e uma história específicos.  Andando por lá cheguei ao Pátio de los Ezeiza, uma casa interessante e histórica, construída no final do século XIX para abrigar essa aristocrática família, e é considerada patrimônio local.

A curiosidade pelo passado dos que ali habitaram me fez encontrar uma placa, ou um folder (não lembro mais), que dizia que muitos membros da família Ezeiza faleceram em razão da febre amarela. Os sobreviventes, e outros membros da aristocracia, acabaram por mudar de bairro em busca de melhores ares livres da peste.

Da próxima vez que visitá-lo a minha identificação será totalmente diferente, pois também estou passando pela minha própria epidemia.  Além de lamentar por todos aqueles que faleceram no surto de febre amarela que atingiu San Telmo, e tenho a impressão de que quase posso vê-los e encontrá-los, vou também rezar por eles e dizer que o seu bairro, apesar de muito diferente, continua lindo.

Uma tarde no Pátio de los Ezeiza - San Telmo