O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Cajuína (2)

A cajuína é patrimônio imaterial do Brasil: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/07/cajuina-patrimonio-imaterial-do-brasil.html.

Qual não foi a minha surpresa quando, no almoço do domingo com mamãe (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2015/05/mamae.html), ela nos recebeu com uma garrafa de cajuína geladinha, presente de um amigo do Piauí.


Cajuína 

Essa cajuína é mágica mesmo, consegue até fazer com que a hospitalidade seja contagiosa!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Cartões natalinos

O Natal é um evento que merece ser comemorado aqui no blog!  Já refletimos sobre alguns elementos que compõem o mosaico dessa comemoração, tais como o presépio (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/11/presepio.htmlhttp://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/11/presepio-2.html), a ceia natalina (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/12/ceia-de-natal.html), a trilha sonora bimbalhante (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/12/musicas-natalinas.html), o costume de dar presentes (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/12/dadivas-natalinas.html) e algumas dúvidas que ainda tenho (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/12/feliz-natal-e-algumas-questoes.html).

Gostaria de refletir agora sobre os cartões de Natal.  Não sei se em todos os lugares há esse costume, mas aqui no Brasil é uma tradição enviar cartões com os votos de boas festas e que, quando recebidos, são colocados próximos à árvore de natal, e às vezes até compõem a sua decoração.

Nesses tempos virtuais, houve uma mudança na forma de envio dos cartões natalinos. A tradição apenas mudou de forma pois, se antes eram enviados fisicamente pelos Correios, agora há uma preferência pelo envio através de correio eletrônico.  Se bem, que nesse ano de 2015, houve no Brasil a reabilitação da carta como meio de comunicação (http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/12/leia-integra-da-carta-enviada-pelo-vice-michel-temer-dilma.html) e talvez isso tenha algum reflexo na comemoração desse ano.

Enfim, tudo isso para dizer que pedi ajuda à minha irmã (que tem uma bela letra)  para elaborar um cartão natalino para vocês:

Cartão Natalino do Blog Direito à Memória - Caligrafia Flávia Braga

sábado, 19 de dezembro de 2015

Micos inesquecíveis (4)

A verdadeira superação se dá quando conseguimos lembrar sem sofrer.  E para isso, não adianta esconder, escamotear ou criar eufemismos:  é preciso enfrentar os fatos de maneira mais honesta, íntegra e completa para dar-lhes a dimensão e o significado que realmente devem ter.

Foi com essa intenção de superação que criei a série "Micos inesquecíveis", onde exponho e analiso, explico mas não justifico, atos meus que parecem incompreensíveis (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/06/micos-inesqueciveis-1.htmlhttp://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/09/micos-inesqueciveis-2.htmlhttp://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/09/micos-inesqueciveis-3.html).  Faz parte da minha personalidade ser um pouco distraída e desajeitada, e esses traços só vão se aprofundar com o passar dos anos então, em um esforço de memória, tento aprender alguma lição dessas situações constrangedoras, à moda dos pitagóricos.

No post "Lembrar Xangô" (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/11/lembrar-xango.html), e enquanto eu escrevia, lembrei que participei de uma cerimônia religiosa, sobre a qual sou profundamente ignorante, e em relação à qual não tive a benção da boa informação.  Para sintetizar, eu deveria cumprir uma função que ainda permanece um mistério para mim, e essa profunda ignorância me fez cometer atos indesculpáveis.

Além disso, a cerimônia era muito colorida, esfuziante, cheia de música e pessoas dançando, o que foi suficiente para me distrair totalmente.  De vez em quando me cutucavam para fazer alguma coisa, mas na verdade eu estava mais interessada na apreciação estética da performance maravilhosa, o que provavelmente fez de mim a pior participante da História.

No final, eu sabia que haveria distribuição de comidas afro-brasileiras, que são deliciosas e complexas, o que sempre é um bom motivo para continuar participando de qualquer evento.  Mas, o tiro de misericórdia na minha honra aconteceu quando eu vi as pessoas "estragando" pipocas, que caíam no chão e eram varridas para fora do salão.

Eu adoro pipoca,e o cheiro estava uma delícia, e o que fiz?  Acho que o que qualquer um faria:  tentei aparar o máximo de pipocas com a minha saia, e tentei convencer a pessoa que estava desperdiçando a parar com aquilo.  E fazia isso enquanto tentava pegar as pipocas no ar com a boca e com a saia.

Isso demorou uns bons minutos, até que uma boa alma me ensinou que devemos nos desapegar das pipocas porque, naquela religião, o banho de pipoca é uma forma de limpeza espiritual, e se eu ficasse retendo as pipocas e tentando comê-las antes de cair no chão, eu não teria o benefício de liberar as energias negativas.

"Tem certeza disso?", eu perguntei retoricamente, e a moça respondeu que sim, depois de dar um suspiro profundo.  É claro que depois dessa explicação, e com muita dor no coração, eu me desfiz da pipoca que havia acumulado na saia, nas mãos, um pouco na minha cadeira, com a certeza que estava fazendo isso por um bem maior.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Considerações sobre os nomes das Operações da Polícia Federal

Nos últimos tempos,a Polícia Federal saiu do papel de instrumento coadjuvante para se transformar em personagem (quase) principal do drama e tragicomédia que se tornou a vida pública brasileira.

Hoje, ao acordar, me deparei com a notícia de que a Polícia Federal está realizando buscas e apreensões na residência oficial do Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, no âmbito da operação Catilinárias.

Sempre achei interessante essa tradição de nomear operações policiais, como forma de identificação de um conjunto de ações e/ou objetivos, mas a Polícia Federal do Brasil levou essa prática a uma nova forma de arte e, interessante, com forte apelo histórico e cultural. Esses nomes grudam na nossa memória coletiva como se fossem chicletes.

Arca de Noé, Cavalo de Tróia I e II, Setembro Negro, Medusa, Pandora, Midas, Faraó, Perseu, Caronte, Tarantela, Esfinge, Zelotes.  Sem dúvida, podemos apontar como critérios a pertinência do nome ao objeto ou objetivo da investigação, e, se eu não fosse uma pessoa muito ocupada, poderia fazer uma classificação da evolução desses critérios e categorias.

Percebo que há fases na nomeação da operação, o que pode indicar que o responsável ou método de escolhas mudou.  Segundo alguns sítios que consultei, essa prática de nomear operações se consolidou em 2002 com a Operação Arca de Noé (Cf. http://super.abril.com.br/comportamento/quem-inventa-os-nomes-das-operacoes-da-policia-federal), e talvez por causa disso em um primeiro momento houve tantas operações relativas à fauna (Águia, Sucuri, Lince, Garça).

Depois percebe-se uma diversificação de categorias: eventos históricos, mitologia grega, folclore brasileiro (Curupira, Matinta Pereira, ou Mati-Taperê ou Matita Perê), palavras e conceitos estrangeiros e filosóficos, como Satiagraha, e a categoria "outros" para incluir tudo aquilo que a gente ainda não entendeu.

Enfim, esse post tem por finalidade registrar os nomes das operações da Polícia Federal e, se possível, também o seu resultado.  O que farei com a informação?  Absolutamente nada, é só curiosidade mesmo, e um medo profundo de que falte nomenclatura para tanta coisa errada.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Verba volant, scripta manent

Nesta semana, assistimos ao resgate de uma (agora) antiga forma de comunicação:  a carta.  O Sr. Vice-Presidente da República Federativa do Brasil enviou uma missiva à Sra. Presidente (para ler: http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/12/leia-integra-da-carta-enviada-pelo-vice-michel-temer-dilma.html).
Não vou refletir sobre o fato agora, pois estou observando e meditando para escrever um post específico sobre a barafunda institucional em que o Brasil se meteu em 2015.
Gostaria mesmo de falar sobre a epígrafe da carta, que trouxe a expressão em Latim "Verba volant, scripta manent" (as palavras voam, os escritos permanecem).  Em primeiro lugar, gostaria de destacar o grande prazer de ver o Latim (ainda que seja dessa forma) aparecendo na mídia, já que há tanto tempo é confinado ao uso das peças jurídicas,  e, em segundo lugar, destacar a criatividade dos brasileiros nas  redes sociais, que logo criaram inúmeras obras de arte derivadas dessa carta.
Infelizmente (apesar das boas risadas) as pessoas associaram o Latim no início da carta aos feitiços de Harry Potter, e depois disso nada pode ser encarado com a mesma seriedade.
Enfim, esse post é para discutir os modos de fixação da memória. Lembremos que a arte da memória sempre foi vinculada à oratória e aos grandes oradores (como já destacamos nos posts http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/01/deusa-memoria.htmlhttp://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/07/lembrar-simonides-de-ceos.htmlhttp://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/07/lembrar-hipias-de-elis.html), mas a  escrita permitiu o registro mais perene das informações pois, afinal, verba volant.
Escrever permitiu desenvolver o registro da memória  duas vertentes: a) a comemoração, que significa a celebração de eventos memoráveis através de monumentos celebrativos, com o predomínio das inscrições (epigrafia). Esses monumentos eram arquivos de pedra cuja finalidade era dar publicidade, ostentatória e durável, a uma informação memorável; b) a segunda vertente foi o documento, tomado em sua acepção restrita como o texto escrito que armazena informações, permitindo a comunicação entre gerações, bem como o reexame, a retificação e reordenamento dos registros (LE GOFF, 2000, p. 18; DANTAS, 2010).
A difusão da escrita através da invenção da imprensa  trouxe o predomínio da escrita sobre a oralidade. Até então havia equilíbrio ou predomínio da oralidade, pois os textos eram escritos para serem decorados, e dessa época até o século XVI valia o adágio “tantum scimus, quanto memoria tenemus (só sabemos tanto quanto temos na memória) (WEINRICH, 2001, p. 69). Os efeitos da Imprensa foram sentidos plenamente a partir do século XVIII, não só porque grande quantidade de informações passou a circular, mas também porque puderam ser traduzidas e compartilhadas com outros povos: surgem então os arquivos e museus nacionais. Além disso, a função memorial dos monumentos entrou em decadência, com a gradual substituição dos “livros de pedra” por tecnologias mais modernas (CHOAY, 2001, p. 21; DANTAS, 2010).
Depois da escrita e da imprensa, a terceira revolução da memória foi o surgimento de técnicas de registro e reprodução de áudio e vídeo tais como o disco, a fotografia, o cinema e o computador. A apreensão e o resgate das informações agora são feitos quase ao vivo: há imagem e som vindos do passado. Entretanto, tais avanços são relativos pois a acelerada obsolescência e a rápida substituição de tecnologias são capazes de determinar a amnésia na sociedade.
Pelos últimos acontecimentos que vimos, parece que são o áudio e o vídeo, mais que a escrita, o grande problema para quem quer ocultar fatos. Mas não se enganem: palavras, escritas, vídeos, áudios são apenas formas e se a informação que veiculam não é autêntica, ética e verdadeira, pouco importa a sua permanência.



REFERÊNCIAS

CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade: Editora UNESP, 2001.

DANTAS, Fabiana Santos.  O direito fundamental à memória.  Curitiba: Juruá, 2010.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Lisboa: Edições 70, 2000.

WEINRICH, Harald. Lete – Arte e crítica do esquecimento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
  

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Livro de Aço (2) - Visita ao Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves

Brasília, 26 de novembro de 2015.

O sol do meio dia queimava os meus olhos, e o calor ardente envolvia o meu corpo enquanto tentava, em vão, atravessar o deserto em direção à memória dos heróis brasileiros.  A sede, a fome e a exaustão não me impediram de encontrar o meu destino e, então, pude compreender o verdadeiro significado do sacrifício pela Pátria.

Ou, sendo menos dramática:  fui a uma reunião de trabalho em Brasília, e troquei o meu horário de almoço por uma visita ao Panteão dos Heróis e Heroínas do Brasil (Panteão Trancredo Neves) porque estava curiosíssima para ver o Livro de Aço (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/04/o-livro-de-aco-livro-dos-herois-da.html).  A dispensa para o almoço ocorreu mais ou menos ao meio dia, e eu tive que atravessar a Praça dos Três Poderes sob o inclemente sol do Cerrado.  Não é um percurso desprezível para quem está com muita sede, um pé inchado (souvenir de Belo Horizonte), vestida com um terno preto e sempre com fome.  Tudo isso para cumprir uma promessa que fiz no post anterior sobre o assunto porque, como diz Nietzsche, "devemos ter uma boa memória para sermos capazes de cumprir as promessas que fazemos".

Mas valeu a pena, cumpri a promessa feita a mim mesma, satisfiz a minha curiosidade e folheei o Livro de Aço. Ele fica depositado em um monumento após a Praça dos Três Poderes, do lado oposto ao Congresso Nacional (fato geográfico, sem nenhuma intenção irônica), ao lado da Pira da Pátria e da Bandeira Nacional.  O monumento foi projetado por Oscar Niemeyer, é denominado "Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves" (cf. http://www.brasil.gov.br/governo/2009/09/panteao-da-patria):

Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves - Brasília, DF.  Foto de Fabiana Dantas

Na entrada do prédio há um busto de Tiradentes - Herói Nacional - cujo nome é o primeiro inscrito (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/03/herois-brasileiros-tiradentes.html), recebendo os visitantes:
Foto:  Fabiana Dantas


 Entrando no edifício, há sala com uma exposição permanente sobre Tancredo Neves, e uma frase escrita na parede:


Foto:  Fabiana Dantas

Subindo as escadas, há uma sala muito escura, lúgubre e dramática, onde está o Livro de Aço em um pedestal, com luzes sobre ele.  A sensação ao chegar lá é estranha porque vinha de um ambiente com muita, muita luz e de repente tudo fica escuro.  Confesso que fiquei com medo porque, há muitos anos, fui visitar o Memorial Juscelino Kubitschek, mausoléu do ex-presidente, bem no final do expediente, acabei me distraindo e fiquei presa lá dentro.  Demorou uns bons minutos para que alguém percebesse que a turista desorientada tinha ficado para trás, e a essa altura eu já estava, digamos, meio apavorada mas ainda tentando manter a compostura.

Enfim, superada essa memória traumática, pude apreciar a ambiência do Livro.  Atrás há um belo mural e um busto, mas o foco está nele.  Há inscrição do nome do herói ou da heroína, com datas celebrativas e um pequeno resumo do motivo que levou à inscrição.



Livro de Aço.  Foto: Fabiana Dantas

Perguntei rapidamente aos cuidadores do monumento se havia solenidades periódicas para honrar a memória dos heróis e heroínas, e foi dito que não.  A solenidade acontece no ato da inscrição, mas posteriormente não é prevista nenhuma comemoração sistemática.  Se acontecem, imagino, devem ter um caráter acidental.

No edifício funciona um órgão público, hoje gerido pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal.

Achei interessante a vinculação do nome de Tancredo Neves ao monumento, já que ele não é herói, mas aparentemente deve-se ao fato de que a comoção pela sua inesperada morte oportunizou a criação desse monumento em sua memória (também), ocorrida em 21 de abril de 1985 (observem a coincidência com a data da execução de Tiradentes).  O monumento foi inaugurado no ano seguinte ao seu falecimento, em 07 de setembro de 1986.

Em memória do segundo ano do falecimento de Tancredo Neves,  em 21 de abril de 1987, foi inaugurada a Pira da Pátria, que fica em frente ao Panteão, onde está perenemente acesa a chama simbólica da Nação.

Não há dúvida de que é um lugar de memória, mas a impressão que tive é que ela está meio adormecida, já que não há muita promoção da biografia e do significado dos heróis e heroínas junto aos cidadãos brasileiros.




segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

San José - Galeão encontrado

Arqueologia fascinante... Encontrado o Galeão San José: http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/bbc/2015/12/05/colombia-diz-ter-localizado-navio-san-jose-tesouro-submerso-mais-procurado-do-mundo.htm.


Evidentemente, se o galeão estiver no mar territorial colombiano, pertence à Colombia, a despeito da origem espanhola.  A localização do bem não foi divulgada (evidentemente por razões de segurança), mas a informação de que se encontra "perto de Cartagena" leva à conclusão de que está em território colombiano.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Repercutindo: "No más venganza"? e repúdio

O Editorial do periódico argentino "La Nación" comemorou a eleição de novo governante, fazendo uma curiosa associação do novo governo com a necessidade de modificar os procedimentos apuratórios sobre as violações de Direitos Humanos na Argentina, durante a última ditadura militar e durante o último governo: http://www.lanacion.com.ar/1847930-no-mas-venganza.

Considerar a apuração de violações como forma de vingança é um dos mais infelizes argumentos daqueles que não querem garantir o direito à verdade e à memória dos mortos, desaparecidos, sequestrados e seus familiares.  A memória que se quer recompor, revelar ou construir, é a memória PÚBLICA e não privada dos indivíduos (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/12/revanchismo-memoria-e-comissao-da.html).

Todos têm o direito de saber como o Estado e seus agentes agiram, porque a todos interesssa combater e prevenir a manutenção das práticas e estruturas autoritárias e violadoras de direitos humanos.  A cidadania verdadeira não pode ser construída sobre silêncios, apurações e esquecimentos seletivos.

Por essa razão, os trabalhadores do periódico, que antes de tudo são cidadãos do Estado, fizeram um importante gesto de repúdio: http://www.politicargentina.com/notas/201511/9935-el-repudio-de-los-trabajadores-de-la-nacion-por-el-polemico-editorial.html.

Parece que o patrimônio democrático do povo argentino será posto à prova.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Parabéns, Maria Clara!





Maria Clara, a menina, rindo como se visse caracóis cantando uma opereta no deserto

"Era clara a menina, longe ou perto,
mesmo entre os seus alvíssimos lençóis.
Ria, como se visse caracóis
cantando uma opereta no deserto.

Logo piscou um olho para o coelho
que- diziam - não era bom da bola
e mágicos tirava da cartola
pois vivia ao contrário, atrás do espelho.

Depois ficou olhando uns elefantes
que mantinham conversa acalorada
sobre a lista dos dez mais elegantes.

Mas, depressa fechou seus olhos pretos
e adormeceu, para não ser trancada
com a chave de ouro de fechar sonetos.

(Carlos Pena Filho.  "Sonetinho infantil", dedicado à filhinha dele Clara Maria)

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Dever de memória: não esquecer Mariana, MG.

Lembrar às vezes é um dever, um imperativo ético.  Lembrar para que não aconteça de novo, lembrar para prevenir e não ter que remediar, especialmente quando a reparação verdadeira é impossível.

Mesmo que seja adotada a teoria do risco integral, em que a empresa deve ser responsabilizada civilmente até mesmo por fatos naturais (e esse não foi o caso de Mariana, deixando claro), a degradação ambiental está além da possibilidade de reparação.

Os instrumentos jurídicos - responsabilidade civil, administrativa e eventualmente penal - são cumulativos.  Como há muita desinformação, aqui vale explicar que a empresa em tese poderá ser obrigada a:

a) Civilmente, indenizar danos ambientais, danos materiais individuais (por exemplo, as pessoas que perderam seus bens), danos morais individuais e coletivos e, dependendo da situação, indenizar os familiares dos falecidos e o INSS pelas pensões por morte (em ação regressiva, estudar).

b) A multa administrativa (250 milhões de reais) aplicada pelo IBAMA evidentemente não está incluída e é independente da responsabilidade civil.  Então além de indenizar civilmente, também deverá pagar multa administrativa, sem prejuízo para outras sanções administrativas, que podem chegar até a interdição das atividades.

Observem o disposto no Decreto nº 6514/2008:

Art. 3o  As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções:
I - advertência;
II - multa simples;
III - multa diária;
IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora e demais produtos e subprodutos objeto da infração, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração; (Redação dada pelo Decreto nº 6.686, de 2008).
V - destruição ou inutilização do produto;
VI - suspensão de venda e fabricação do produto;
VII - embargo de obra ou atividade e suas respectivas áreas;
VIII - demolição de obra;
IX - suspensão parcial ou total das atividades; e
X - restritiva de direitos. 
§ 1o  Os valores estabelecidos na Seção III deste Capítulo, quando não disposto de forma diferente, referem-se à multa simples e não impedem a aplicação cumulativa das demais sanções previstas neste Decreto. 

c) Finalmente, poderá haver responsabilidade penal por crime ambiental contra a flora, a fauna, o patrimônio cultural, entre outros.  Caberá ao inquérito policial analisar os elementos objetivos e subjetivos do tipo para verificar se houve crime, e em caso positivo, qual.

Só uma observação: O artigo 33 da Lei 9605/98 não prevê modalidade culposa:

Art. 33. Provocar, pela emissão de efluentes ou carreamento de materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baías ou águas jurisdicionais brasileiras:
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas cumulativamente.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas:
I - quem causa degradação em viveiros, açudes ou estações de aqüicultura de domínio público;
II - quem explora campos naturais de invertebrados aquáticos e algas, sem licença, permissão ou autorização da autoridade competente;
III - quem fundeia embarcações ou lança detritos de qualquer natureza sobre bancos de moluscos ou corais, devidamente demarcados em carta náutica.

É isso mesmo?

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Boas lembranças...Belo Horizonte

Belo Horizonte, capital do Estado de Minas Gerais, merece o nome que tem.  É tão bonita e tão interessante, tão cheia de vida e cultura, emoldurada pela belíssima Serra do Curral, que é um patrimônio nacional tombado.  Uma imagem dela, ao acordar:


Belo Horizonte de manhã - Fabiana Santos Dantas


Há mais ou menos sete anos estive em Minas Gerais com o meu irmão, e pudemos visitar várias cidades e apreciar o seu patrimônio cultural incrível.  Naquela ocasião conquistei um souvenir que hoje está em exposição permanente na minha sala (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/09/souvenir-6-congonhas-minas-gerais.html).

As lembranças daquela viagem sempre voltam à minha consciência, e eu revivo, relembro, rememoro lugares (da memória) queridos.  Então, quando tive a chance de voltar aqui para um congresso fiquei duplamente feliz: primeiro por voltar a Minas e, segundo, por poder falar sobre a proteção legal do patrimônio cultural que é a temática que domina os meus dias e noites.

A memória é composta de camadas, profundas e superficiais (na falta de explicação melhor), e pude agregar novos registros à minha reminiscência "Belo Horizonte".  O Congresso (XXIV CONPEDI) foi muito interessante, e sendo a minha área de estudo o Direito Ambiental, não poderia haver melhor e pior circunstâncias para falar desse tema em novembro de 2015, em Minas Gerais, em razão do gravíssimo dano ambiental ocorrido pelo colapso de uma barragem da Vale/Samarco em Mariana, que ocasionou a perda irreparável de vidas humanas, bens naturais, bens culturais, e que está comprometendo a vida dos sobreviventes, especialmente em razão da falta de água.

Eu morei em Mariana quando era bebê, então não lembro dela nessa época, mas em 2008 visitei o centro histórico e não pude deixar de lamentar não ter morado lá por mais tempo.

Dessa vez, acrescentei novas memórias, e uma delas foi bem dolorosa.  Cheguei no dia 11/11/2015 e, após o credenciamento no Congresso, resolvi arruar, passear pela cidade.  Não foi uma boa idéia.  Eu caí na rua, pois tropecei em uma das inúmeras grelhas que nas calçadas e machuquei o pé direito:






Pé de Fabiana



Depois, fui empurrada ao atravessar uma rua e caí novamente.  Dessa vez machuquei os dois joelhos e a mão direita, em que me apoiei durante a queda.  E enquanto voltava ao hotel, mancando e quase à beira das lágrimas, um milho gigante que decorava um quiosque caiu em cima de  mim, e aí eu machuquei a cabeça.

Não foi nada grave, e eu aprendi que os mineiros são muito solidários com quem cai na rua.  O socorro é imediato, levantam você tão rápido que nem dá tempo de realizar a queda, e todos seguem normalmente a sua vida ao ver que nada de grave aconteceu.  Também aprendi uma nova coisa sobre os mineiros: eles são a resistência à tendência da multifuncionalidade, essa forma terrível de "otimização do tempo" que impõe a fragmentação da nossa atenção. Os mineiros só passam para a tarefa seguinte quando completam a anterior, e fazem isso no seu próprio tempo.

Também tive uma experiência boa com a famosa culinária mineira.  Dessa vez resolvi procurar a fonte, o princípio, a comida mineira arquetípica, e perguntei aos nativos onde encontrá-la. Indicaram um restaurante chamado "Dona Lucinha", que pratica a culinária mineira com requintes de crueldade. Didaticamente, dividem os pratos em cozinha da fazenda e tropeira, e a pessoa pode escolher qual universo deseja experimentar.

Eu experimentei os dois universos, e reguei tudo com um molho de rapadura, que até hoje eu nem sabia que existia, mas já passou a fazer parte da minha vida.  E tive um encontro inesperado com a origem, o autêntico doce de leite.  Não aquele embuste feito com leite condensado, cozido em panela de pressão onde se faz feijão.  O doce de leite que eu comi era totalmente diferente, tinha gosto de leite bom e consistência de nuvem.

Enfim, dessa vez só fiquei chateada porque não consegui andar tanto quanto desejava, em razão do meu pé inchado. Além disso, tive sérios prejuízos na minha leitura porque o pé latejava e tirava a minha concentração: se-mi-ó-ti-ca.  O ritmo acabou sendo ditado pela pulsação no inchaço, e confesso, é uma péssima maneira de ler.

Be-lo Ho-ri-zon-te, vou voltar.




segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Memórias extraviadas

Olha que interessante: http://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2015/11/cartas-nunca-entregues-mostram-como-era-sociedade-do-seculo-17.html

A história das pessoas comuns, do seu dia a dia há tanto esquecido, guardadas em por trezentos anos em um baú. A nossa história, de indivíduos comuns, ajuda a compor o mosaico de um tempo.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Direito à memória dos mortos: lembrança celebrativa do advogado Luiz Gama

Ontem, dia 03/11/2015, Luís da Gama recebeu postumamente o título honorário de advogado, em razão da sua luta pela abolição.  O colega atuou como rábula em diversas ações judiciais que resultaram na libertação de inúmeras pessoas da escravidão.

Negro, escravo, liberto e autodidata, o título da Ordem dos Advogados do Brasil a Luiz Gonzaga Pinto da Gama é um ótimo exemplo de efetivação do direito à memória dos mortos, na forma de lembrança celebrativa.  Cf. http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/negro-que-libertou-500-escravos-sera-reconhecido-pela-oab

Parabéns a todos nós, advogados, e à Ordem dos Advogados do Brasil pelo gesto.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Tradições, traduções e traições: o estranho caso da Feira do Grelo

Na Galícia, "grelo" é uma espécie de nabo (http://www.gastronomiadegalicia.com/v_portal/apartados/apartado.asp?te=68), e é tão importante que é protegido por uma indicação geográfica e há um festival para promover a sua utilização.

Mas na opinião do Google tradutor, na verdade é o festival do clitóris (http://www.lavozdegalicia.es/noticia/galicia/2015/10/31/grelo-convierte-clitoris/0003_201510H31P12991.htm).

A tradução traidora, neste caso, ocorreu porque a palavra "grelo" tem significados distintos em Galego e em Português. Significados bem distintos.  Muito distintos mesmo.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Monumentalização como impulso

A memória é uma necessidade pós-material, espiritual, dos indivíduos e grupos e nem por isso é menos importante.

Existe uma vontade de preservar, que faz o ser humano desenvolver tecnologias de registro, como áudio, vídeo, a escrita,  e um dos seus efeitos mais interessantes é o ato de criar monumentos intencionais. Há um impulso de monumentalização, de marcar tempos e lugares com vestígios materiais capazes de comunicar idéias e valores, para que sejam transmitidos às gerações futuras.

Quem cria e por que são criados monumentos? São perguntas básicas quando queremos entender o (s) significado (s) de um marco dessa natureza.

Percebo que o Estado, como organização política, sempre teve um grande impulso monumentalizador.  Geralmente, os governantes da ocasião criavam monumentos para perpetuar a própria memória ou daqueles que lhe deram apoio.  Por essa razão o instituto da damnatio memoriae foi frequentemente utilizado para apagar vestígios políticos.

De toda sorte, percebo que no Brasil o impulso monumentalizador público e intencional não é muito notável.  Entre nós a prática mais comum é de nomear logradouros ou revestir monumentos privados de interesse público.  Mas também é possível ver outras espécies de monumentos públicos como edifícios, bustos e esculturas, de personagens importantes para a Política, Arte, Religião, e até mesmo em homenagem àqueles cuja duvidosa biografia não indicam o merecimento, como ocorre com Lampião.

Por que Lampião merece uma estátua, e por que Getúlio Vargas é herói nacional?  Certamente para algum grupo social esses personagens possuem significados que os torna merecedores de marcos memoriais.

Entretanto, há também monumentos privados, que podem nascer ou não com a finalidade explícita memorial.  As lápides e mausoléus são monumentos privados à memória individual ou familiar, além do que é possível transformar edifícios em museus e criar memorabilia.

A forma dessa monumentalização também muda, cada época expressa ao seu jeito.

domingo, 1 de novembro de 2015

Memória, ditadura no Brasil e verdade: Volkswagen busca a reparação possível

Notícia muito importante: http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2015/11/01/volks-busca-reparar-apoio-a-repressao-na-ditadura.htm

Há informação de uma ativa participação do setor industrial na violação de direitos humanos no Brasil, no período da Ditadura Civil-Militar (1961-1988), e também no financiamento do aparato da repressão e favorecimento indevido, inclusive com a falência artificial de concorrentes.

Lembrar e reparar:  essa história precisa ser contada.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Nomes de logradouros públicos: alterar ou não alterar, eis a questão.

O Brasil vive um momento de desconstrução do legado ditatorial, e um dos efeitos mais visíveis desse processo é a desmonumentalização dos marcos do período que consagravam determinada versão histórica.

Dentre essas iniciativas, a substituição de nomes de ruas e prédios públicos que homenageiam personagens agora ingratos, e talvez infames, vem ganhando ares de tendência.  Observem:

http://www.dm.com.br/cidades/centro-oeste/2015/02/comissao-da-verdade-quer-apagaros-vestigios-da-ditadura-em-goias.html

http://m.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/08/1668186-haddad-quer-mudar-nome-de-vias-que-homenageiam-a-ditadura-veja-lista.shtml?mobile.  O projeto da Prefeitura de São Paulo que pretende a substituição dos nomes das ruas chama-se "Ruas da Memória".

Em alguns Estados, como a Ucrânia e a Lituânia, a desconstrução do legado é um ato político que possui diretrizes e contornos legais, podendo ser citados respectivamente a substituição de monumentos soviéticos (Lenin virou Darth Vader http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2015/10/monumento-darth-vader.html), ou simplesmente o seu recolhimento a local específico (http://www.grutoparkas.lt/).

Enfim, sabemos o por que da demanda da substituição.  A questão é saber o como e o quando, pois corremos o risco de esquecer esses personagens e sua relevância para a história do Brasil, como já discutimos aqui no blog anteriormente (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/08/versoes-aversoes-e-monumentos.html).

Mas se vamos discutir e questionar, sejamos radicais (no bom sentido, de chegar à raiz das coisas).  Por que não questionar as homenagens a Lampião, Getúlio Vargas, ruas, praças, heróis, lembranças.
Por que não discutir critérios?

Por que não pensar em criar monumentos ou homenagear pessoas cuja biografia comunica valores democráticos?  Quem, como, por que?

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Publicação do livro "Patrimônio Cultural, Direito e Meio Ambiente: um debate sobre a globalização, cidadania e sustentabilidade"

Contribuí com um dos capítulos do livro, intitulado "O patrimônio cultural protegido pelo Estado brasileiro", cujo objetivo é fazer uma reflexão abrangente sobre os tipos de bens culturais protegidos, os respectivos instrumentos e sobre as finalidades de uma política oficial de preservação.

Olha a referência:

Patrimônio cultural, direito e meio ambiente: um debate sobre a globalização, cidadania e sustentabilidade [recurso eletrônico] / Juliano Bitencourt Campos, Daniel Ribeiro Preve, Ismael Francisco de Souza, organizadores - Curitiba: Multideia, 2015. 256p.; v. I, 23cm ISBN 978-85-8443-049-9 1. Patrimônio cultural - Preservação. 2. Meio ambiente. 3. Direito. 4. Sustentabilidade. I. Campos, Juliano Bitencourt (org.). II. Preve, Daniel Ribeiro (org.). III. Souza, Ismael Francisco de (org.). IV. Título.


segunda-feira, 26 de outubro de 2015

domingo, 25 de outubro de 2015

Síria - Memória subterrânea

Notícia emocionante: http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/10/para-salvar-livros-da-guerra-jovens-sirios-criam-biblioteca-subterranea/

Os sírios (ou os vários povos que denominamos assim) são um povo antigo e, como tal, dão valor ao patrimônio cultural, ao passado e ao futuro.  A iniciativa de salvar livros de escombros para disponibilizá-los em um abrigo subterrâneo mostra o grande valor de sobreviver com cultura.

Lembro que no Egito, em 2011, a população se uniu para proteger o Museu do Cairo (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/02/revolucao-e-vandalismo-no-egito.html), e ele hoje está de pé, e contiua como uma testemunha da História.

O patrimônio cultural sírio (e da Humanidade) foi vandalizado de uma maneira irreparável, indescritível e inaceitável pelos jovens do Estado Islâmico, que explodiram o que era importante simbolicamente, ou pesado demais para carregar.

Não há mal que sempre dure.

E quando isso tudo passar, faço votos de que os sírios consigam recompor a fragmentada Nação (que ainda estava em um processo embrionário de construção, se considerarmos toda a questão da região a partir da 1ª Guerra Mundial), fundando-a ou refundando-a, fortalecendo-a, e criando os anticorpos necessários para impedir no futuro situações como a que assistimos.

sábado, 24 de outubro de 2015

Direito à memória dos mortos: Sokushinbutsu

Ritual de auto-mumificação dos monges budistas no Japão.  É um longo procedimento que começa com uma dieta debilitante, seguida de um lento envenenamento com chá de urushi como preparação do corpo para a iluminação, que permite ao monge tornar-se um Buda.

Para mim, é um dos rituais fúnebres mais impressionantes porque começa com a pessoa viva. E, observe, entendo que não pode ser considerada uma forma de suicídio, já que a pessoa considera que vai continuar viva.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Monumento a Darth Vader

Uma antiga estátua de Lenin foi remodelada para homenagear Darth Vader: http://www.theguardian.com/film/2015/oct/23/darth-vader-statue-erected-ukraine.

Vou refletir bastante sobre o significado dessa monumentalização.  O autor seria apenas um fã talentoso?  Ou seria a maneira de representar a metamorfose de um vilão? Ou seria um lembrete/ameaça aos ucranianos, de que o mal pode triunfar?  Ou seria uma forma de meter medo nos inimigos, dizendo que o lado negro da força está do lado de cá da fronteira?

Estou confusa.

Mas tenho certeza que mais confusos ficarão os arqueólogos do futuro.  Imaginem a cena:  em um futuro distante, em meio de uma escavação, surge lentamente um capacete negro, e um deus com feições assustadoras.  Alguns até vão dizer que teria origem alienígena.

Será que essa notícia é verdadeira?

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Memória e responsabilidade

O premiê israelense Benjamin Netanyahu fez uma declaração intrigante sobre a "responsabilidade" de um líder palestino no holocausto em outubro de 2015.  Para ele, Hitler foi fortemente influenciado por uma liderança palestina, culminando no processo de extermínio de milhões de pessoas, judeus ou não: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/10/netanyahu-e-criticado-por-dizer-que-palestino-deu-ideia-do-holocausto.html.

A Alemanha lidou com o seu passado da 2ª Guerra de forma reflexiva, transparente e responsável (e algum dia vamos discutir essa política pública da memória aqui).  Por isso, rapidamente, a chanceler Angela Merkel afirmou a "nossa responsabilidade como Alemanha pelo Holocausto".  Cf. http://www.jerusalemonline.com/news/world-news/the-israeli-connection/germany-we-are-responsible-for-the-holocaust-16579

A memória é o quadro de referências das pessoas, grupos e dos Estados, que contextualiza e dá sentido aos gestos, às opiniões.  É também a matéria-prima da reflexão ética que tem como objeto o passado.  Ao assumir a responsabilidade da Alemanha, a chanceler honrou a memória das vítimas e também garante que os alemães não vão sofrer no futuro os efeitos de ideologias nefastas como ocorreu no passado.

A Alemanha, parece, tenta aprender com os seus erros, assumindo a responsabilidade sem que isso signifique se enclausurar na culpa e nem esquecê-los.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Plantas e memória

Interessante: http://www.segundo-sol.com/2015/03/plantas-tem-memoria-sentem-dor-e-sao-inteligentes.html.

Parece que as plantas, a água, os minerais também têm memória, embora ainda não se possa reconhecer-lhes um direito respectivo.  Mas, quem sabe no futuro?

Saímos do mundo animal. Mais um tema para a "Memória fora da caixa":  http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/03/memoria-fora-da-caixa.html

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Rio de Janeiro - 1565

Olha que interessante:  uma reconstituição do que se imagina ser o Rio de Janeiro em 1565 a.D: https://www.youtube.com/watch?v=WAylzcgmmPI

Ainda continua lindo, e imaginem como era deslumbrante no passado.  Que belo cenário, mas a "civilização" que o ocupou parece não ter entendido isso.

Poluição, violência, desigualdade, e essa lembrança de paisagem que as cerca.

domingo, 18 de outubro de 2015

sábado, 17 de outubro de 2015

Censura, censura e mais censura

O Brasil é formalmente uma democracia desde a Constituição Federal de 1988.  Faz pouco tempo, e ainda estamos desconstruindo a herança ditadorial, memória presente no nosso cotidiano através da manutenção de práticas violentas e intransparentes (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/09/censura-memoria-coletiva-e-direito.html).

Há 27 anos o Brasil tenta a construir a sua incipiente democracia.  E isso não é nada fácil pois os padrões antidemocráticos estão profundamente enraizados na nossa mentalidade pública e privada. Entretanto, se há algo me causa profundo espanto é a naturalidade como essas práticas são reproduzidas.

Ver o sigilo tornar-se prática corriqueira da Administração Pública é muito preocupante.  Nessa semana, o governo do Estado de São Paulo decidiu lacrar documentos relativos a transporte público (metrô), segurança (Polícia Militar) e saneamento (que compreende abastecimento e saneamento em sentido estrito), violando nesse último caso o princípio da informação ambiental, e em todos o princípio democrático.

Confira a notícia: http://noticias.r7.com/sao-paulo/alem-de-metro-e-sabesp-alckmin-impoe-sigilo-a-dados-da-policia-militar-15102015

Além de garantir o acesso à informação pública - que é um direito - o interesse público deve poder ser escrutinado pelos cidadãos.  Como será possível fiscalizar a eficiência, a moralidade e a legalidade de atos governamentais se eles estão protegidos pelo silêncio e pelo esquecimento?

E não é demais lembrar que, no caso específico de São Paulo, há sérias denúncias envolvendo os temas sigilosos.

Estamos em uma fase da construção da democracia em que precisamos afirmar o óbvio: o cidadão tem o direito de saber, de fiscalizar, e de questionar o governo, qualquer governo, e suas práticas. Democracia não é só o direito de votar e ser votado, mas também o dever de participar ativamente nas escolhas relativas ao interesse público.

Infelizmente  ainda existe uma grande confusão sobre o que é o "interesse público" (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2015/04/confusao-publico-privada-no-brasil.html), que permite a apropriação do público pelos particulares, mas também a contaminação do público por temas que só dizem respeito à esfera privada, inclusive em prejuízo da liberdade dos cidadãos.

Há mais um ponto que me preocupa nessa estória de abuso de sigilo.  Lacrar documentos pode ser um ato de proteção ou de atentado à democracia, a depender dos motivos.  Mas no Brasil também há uma prática, e essa é verdadeiramente prejudicial, de ocultar e destruir intencionalmente documentos.

Por causa da destruição intencional de documentos temos uma menor possibilidade de conhecer e enfrentar temas como a escravidão (e a queima de documentos por Ruy Barbosa, sempre encarada de forma bipolar http://www.revistaafro.com.br/mundo-afro/rui-barbosa-e-a-queima-de-arquivos-gesto-nobre-ou-condenavel/), tortura, ainda buscamos os desaparecidos, e todo dia vemos cidadãos vitimizados pela permanência dos padrões antidemocráticos.

Chega dessa interdição que prejudica a nossa democracia e a memória coletiva.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

PARABÉNS, ULISSES!

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Biblioteca Humana - Divulgação

Olha que interessante: http://www.prima.com.br/institucional/imprensa/noticias/439/biblioteca+humana+permite+aprender+de+pessoas+e+nao+de+livros.

Compartilhar experiências é uma forma de transmitir e reforçar a memória individual, e também ajudar pessoas que passam por situações parecidas.  O poder do testemunho já foi compreendido por grupos como os Alcoólicos Anônimos, e outros anônimos, igrejas, e outras comunidades que têm os seus guardiões da memória individual e coletiva.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Direito à memória coletiva - canções inéditas censuradas na Ditadura (1961-1988)

A censura afeta profundamente a memória coletiva porque impede ou dificulta a formação de registros, comprometendo o acervo cultural de um povo, como já comentamos no post http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/09/censura-memoria-coletiva-e-direito.html.

Além disso, a própria censura passa a integrar  a nossa memória, legitimando um comportamento estatal que viola a liberdade de criação e expressão, deformando a nossa maneira de ser e viver.  Eu tenho lembranças da censura na Ditadura militar que até hoje são marcantes: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/09/ainda-censura.html.

Hoje me deparei com uma notícia maravilhosa de que muitas canções que foram rejeitadas pela Ditadura foram localizadas e serão publicadas: http://oglobo.globo.com/cultura/musica/digitalizacao-de-documentos-da-ditadura-revela-cancoes-ineditas-17747347.

Boa notícia para a liberdade de criação e expressão dos artistas censurados, mas também para nós que teremos a oportunidade de conhecê-las.

Boa notícia também para a nossa memória coletiva e democracia em construção, para aprendermos os motivos (ou a falta deles) e mecanismos que levam o Estado a criminalizar a opinião dos cidadãos.

domingo, 11 de outubro de 2015

Memória Poética - Don't worry child - Swedish House Mafia

"There was a time, I used to look into my father's eyes
In a happy home, I was a king I had a golden throne
Those days are gone, now the memories are on the wall
I hear the sounds from the places where I was born

Up on the hill across the blue lake,
That's where I had my first heart break
I still remember how it all changed
My father said
Don't you worry, don't you worry child
See heaven's got a plan for you
Don't you worry, don't you worry now
Yeah!

Don't you worry, don't you worry now
Yeah!

There was a time, I met a girl of a different kind
We ruled the world,
Thought I'll never lose her out of sight, 
We were so young
I think of her now and then
I still hear the songs, reminding me of a friend

Up on the hill across the blue lake,
That's where I had my first heart break
I still remember how it all changed
My father said
Don't you worry, don't you worry child
See heaven's got a plan for you
Don't you worry, don't you worry now
Yeah!"

________________

Contrariando os boatos, eu não tenho 100 anos de idade e estou sempre observando o que a gente jovem faz, com admiração e respeito, embora não consiga entender muito bem o que está acontecendo com o mundo, especialmente no Japão.

Não, eu não vou para discoteques ouvir música eletrônica, mas tive a oportunidade de ouvir essa canção e me identifiquei com a sensação de nostalgia.

Já estou sentindo os efeitos do choque entre gerações e há coisas e comportamentos que eu simplesmente não consigo entender, especialmente a estética colorida e veloz do universo anime, rock kawaii (https://www.youtube.com/watch?v=M8-vje-bq9c&list=PL5szotZvwIhEukbuaWYkFAHzwCFbiNuzc, https://www.youtube.com/watch?v=WIKqgE4BwAY), et coetera.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Louvor do esquecimento - Bertolt Brecht

"Bom é o esquecimento. 
Senão como é que 
O filho deixaria a mãe que o amamentou? 
Que lhe deu a força dos membros e 
O retém para os experimentar. 

Ou como havia o discípulo de abandonar o mestre
Que lhe deu o saber?
Quando o saber está dado 
O discípulo tem de se pôr a caminho.

Na velha casa 
Entram os novos moradores. 
Se os que a construíram ainda lá estivessem
A casa seria pequena demais. 

O fogão aquece. O oleiro que o fez 
Já ninguém o conhece. 
O lavrador não reconhece a broa de pão. 

Como se levantaria, sem o esquecimento
Da noite que apaga os rastos, o homem de manhã? 

Como é que o que foi espancado seis vezes 
Se ergueria do chão à sétima 
Pra lavrar o pedregal, pra voar oo céu perigoso? 

A fraqueza da memória dá fortaleza aos homens".


_____________

Se me permite, prezado Brecht, vou discordar.  A memória não exige que o mundo pare.  A criança vai crescer, o aluno vai caminhar, e talvez superar o mestre, mas a experiência torna o indivíduo único.  
Não é por esquecer que o espancado seis vezes se ergue do chão à sétima.É por lembrar que viver é mais do que só infortúnios.
O esquecimento não é o contrário da memória, é o seu limite, contorno e destaque.

Mas apesar de discordar, prezado Brecht, entendo que a bênção do esquecimento é fundamental, especialmente para quem presenciou a tragédia da guerra e do exílio.

domingo, 4 de outubro de 2015

Trilhas de sonho - primeiros australianos

Acho fascinante a maneira como os primeiros australianos descrevem e se apropriam (no sentido cultural) do seu território.  Eles cantam o território, construindo mapas musicais que o descrevem, inclusive quanto aos recursos que possui, que são chamados de Songlines ou Trilhas de Sonho.

Os mapas cantados  são uma forma de orientação no espaço  e no  tempo, uma vez que esses cantos são repassados através das gerações e permitem aos indivíduos reconhecer a origem do seu clã e o território ocupado. Esses caminhos também são chamados de “rastros de cantos”, “pegadas dos antepassados” ou “caminhos da Lei” (CHATWIN, 1996, p.9) e constituem-se em um excelente exemplo de prática memorial associada à paisagem.

Hoje, domingo, é dia de ouvir song lines:  
https://www.youtube.com/watch?v=3igXR7oL8FU

Há um documentário interessante: https://www.youtube.com/watch?v=C1h9NKrn17w

Fascinante.

Referência

CHATWIN, Bruce. O rastro dos cantos. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Curso para aprender o modo de vida viking - Divulgação

Se eu pudesse, faria: http://deles.ig.com.br/estilo/2015-10-01/esta-cansado-da-sua-vida-atual-entao-transforme-se-em-um-viking-de-verdade.html

Interessante forma de transmissão de modos de viver tradicionais.  Evidentemente, as pessoas não vão virar "vikings", ou pelo menos não o modelo de "vikings" de determinada época, e cujo esteriótipo povoa nossa memória, mas vão ter um vislumbre do patrimônio imaterial.

Esse é o tipo de curso que enriquece o currículo de qualquer pessoa.  Aprender coisas novas, mesmo que sejam antigas, é sempre bom, desde que sejam construtivas (lícitas e não prejudiciais a si mesmo ou a terceiros).

Na minha família temos como princípio que aprender é válido (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2015/08/patrimonio-cultural-familiar.html), e não perguntamos por que nem para quê, nem fazemos recortes de gênero.

- Mãe, quero estudar árabe?
- Qual o dia e horário?  Já sabe o quanto custa?

- Pai, quero aprender a tomar água de cabeça para baixo?
- Isso é perigoso? Qual o dia e horário?  Já sabe o quanto custa?

Aprender para expandir em qualquer direção.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Viajantes do tempo

A verdadeira máquina do tempo é a memória. Mas não seria fascinante poder viajar e fazer turismo no passado ou no futuro?

Sei que é difícil viver o presente, e só os budistas que meditam e se dedicam verdadeiramente conseguem a façanha da consciência integral do momento.  Eu sou fascinada pelo passado e seu registro (na memória individual e coletiva), e em certos momentos as ansiedades da vida me fazem antecipar o futuro, mas tudo seria melhor se pudéssemos viajar e voltar.

Há quem diga que há evidências de viajantes do tempo, como o homem nessa foto de 1941, que destoa em vestimentas dos demais: http://www.virtualmuseum.ca/sgc-cms/histoires_de_chez_nous-community_memories/pm_v2.php?id=record_detail&fl=0&lg=English&ex=00000470&hs=0&rd=117666.

Há alguns (muitos mesmo) anos, li um livro intitulado "Os Mestres secretos do tempo" que especulava sobre a possibilidade da existência de viajantes do tempo.  É certo que hoje os físicos (sempre eles) já aceitam como possibilidade teórica, e vão além para discutir temas como a existência da alma, de outros mundos e outros tempos, mas seria aplicável?

Se eu pudesse viajar no tempo, para quando e onde iria?  Ver a construção das pirâmides, o nascimento do Homo Sapiens, o ano 4732 d.C?  Com certeza eu não gostaria de assistir como mera espectadora, como promete o Chronovisor (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2015/08/chronovisor.html), mas de interagir de alguma forma, evitando conseqüências catastróficas, como vimos nos filmes "De volta para o futuro".

domingo, 27 de setembro de 2015

Memória de vidas passadas

Será que podemos lembrar além da nossa vida?  Será que existem outras vidas e as memórias são depositadas na alma?  Será que a memória dos vivos e dos mortos são a mesma coisa?

Confiram o vídeo interessante: https://www.youtube.com/watch?v=9w2MCpzE8u0

Algumas crenças indicam que além das lembranças também é possível trazer marcas físicas de vidas anteriores: cicatrizes, sinais, doenças que indicam como viveram e morreram anteriormente.

Será possível? https://www.epochtimes.com.br/menino-3-anos-recorda-vida-passada-identifica-assassino-localiza-corpo-enterrado/#.VgbZ6stVikq

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Boas lembranças...Gostoso

São Miguel do Gostoso é um pequeno município no litoral do Estado do Rio Grande do Norte, que visitamos por indicação de amigos em agosto de 2015.

Em primeiro lugar, fiquei extremamente curiosa por causa do nome do lugar.  Então, como é meu costume e vício, procedi ao interrogatório sistemático dos nativos, cacei idosos para também interrogá-los, até satisfazer a minha curiosidade.

Eis o que aprendi:  nasceu como um vilarejo na praia do Maceió, em 1864, no dia dedicado a São Miguel. Mas antes (ou durante ou depois, a cronologia não é clara), já era conhecido como "Gostoso" em lembrança a um morador (da vizinha praia da Xepa) que era muito querido e tinha esse apelido (cf. http://prefeituradogostoso.blogspot.com.br/p/historia_28.html).

A junção do nome oficial - São Miguel - e a persistência do nome afetivo e da lembrança celebrativa ao habitante- Gostoso - criou esse peculiar "São Miguel do Gostoso".

Não há vestígios materiais que apoiem a história oral, por exemplo, a casa do Seu Gostoso na praia da Xepa, e nem tive tempo o suficiente para buscar túmulos, documentos, vestígios da residência porque eu estava muito ocupada vivendo.

"Vivendo", neste caso, significa visitar praias lindas durante o dia, tentar praticar esportes aquáticos sem sucesso, degustar a gastronomia local em grandes quantidades, interrogar pessoas e assistir shows de jazz à noite, porque na ocaisão em que estávamos lá ocorria o interessante "Fest Bossa & Jazz" (http://www.festbossajazz.com.br).

 O local fazia parte do vizinho Município de Touros e emancipou-se em 1993 através da lei nº 6452/93 (Obrigada, IBGE! http://ibge.gov.br/cidadesat/painel/historico.php?codmun=241255&search=rio-grande-do-norte|sao-miguel-do-gostoso|infograficos:-historico&lang=). Através de um plebiscito, a população escolheu o atual nome.

Quem nasce em São Miguel do Gostoso adota o gentílico de "são micaelense do gostoso", mas a população local apenas se autodenomina "de gostoso", "daqui mesmo", ou simplesmente "sou gostoso/a".

Algumas imagens para lembrar:


São Miguel do Gostoso - RN - Foto de Marcelo Müller

Foto de Marcelo Müller

Nessa viagem três coisas me marcaram profundamente:

1) O marco de Touros não está em Touros porque o local onde ficava agora é o Município de São Miguel do Gostoso e o original está em um terceiro município (Natal), o que levou à necessidade de construir duas réplicas.  Para algumas pessoas de Touros deve ter sido doloroso perdê-lo porque, até hoje, é assumido como um dos símbolos da cidade, e achei toda essa situação bem melancólica.

2) A Praça dos Anjos, situada em Gostoso, fica na praia do Maceió, onde supostamente a vila foi fundada.  Portanto, é um dos marcos mais antigos do lugar, e tem esse nome porque era um cemitério de recém-nascidos.  Lá existe uma placa explicando essa circunstância, mas não há qualquer informação sobre se houve a remoção dos corpos enterrados para a construção da praça, e eu não podia deixar de pensar nisso toda vez que passava por lá.

Quando voltar, vou atrás dessa história.

3) E o pôr do sol deslumbrante:

São Miguel do Gostoso - RN - Foto de Marcelo Müller



quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Superstições

As superstições são um importante elemento do patrimônio imaterial, e podem ser definidas como rituais da sociedade obsessiva compulsiva para afastar o azar (não devia ter escrito isso, bate na madeira).

O brasileiro é profundamente supersticioso e, embora a maioria da população professe credos que abominam magias simpáticas, todo mundo aqui "faz uma fezinha", tem seus talismãs, dá sete pulinhos no Ano Novo e usa arruda e sal grosso.

Tentei fazer uma lista das superstições mais legais:

a) Se alguém varrer o seu pé, você não consegue casar.  Já vi pessoas (do gênero feminino) desesperadas atrás de uma solução para desvarrer, e a tristeza profunda de quem não conseguiu.

b) Deixar o chinelo virado pode causar a morte de entes queridos.

c) Colocar a bolsa no chão significa que o dinheiro vai embora. Entretanto, se sua mão coçar, isso é um bom sinal pois o dinheiro está chegando.

d) Cruzar com gato preto é mau sinal.

e) Quebrar espelho, sete anos de az...digo, má sorte.

f) Passar em baixo de escada, idem.

g) Orelha vermelha é sinal de que estão falando de você.

i) Colocar vassoura atrás da porta para espantar visitas indesejáveis.

j) Levar sereno: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/07/levar-sereno.html

l) O dedo médio do pé maior que o dedão significa viuvez.

m) Abrir um guarda chuva dentro de casa "faz mal".

n) Jogar sal por cima do ombro, para afastar entidades maléficas.

o) Bater na madeira três vezes, com igual finalidade.

Chega.  Se acreditarmos em tudo o que dizem, vamos passar o dia todo só nos benzendo e espiando o lado oculto da vida.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Refugiados e a memória

Nas últimas semanas a migração no Mediterrâneo tem produzido fatos marcantes para a memória coletiva da Humanidade.  O desespero de fugir à guerra, o risco, a morte, a violência, a acolhida, a solidariedade, parecem ser o exemplo extremo do melhor e do pior.

É importante ver como os cidadãos europeus estão empenhados em acolher essas pessoas, e antes que os governos paralisados tomassem uma providência, foram os indivíduos que resolveram abrir os braços.  Acredito firmemente que a memória da Segunda Guerra Mundial, com seus deportados abandonados, contribuiu para esse sentimento de dever humanitário.

São circunstâncias que marcarão definitivamente a memória coletiva e individual, e redefinem a visão de pessoas como cidadãos de um Estado em particular, ou do mundo inteiro.  Acredito que um dos principais desdobramentos será o necessário enfrentamento das soluções institucionais internacionais que podem ser adotadas em casos similares.

As migrações humanas são uma realidade do nosso tempo e, se efetivada a mudança climática anunciada há tanto tempo, vão aumentar exponencialmente.  Seja por razões políticas, sociais, religiosas, ambientais, o fato é a humanidade está cada vez mais móvel.

Como não poderia deixar de ser, o aspecto memorial dessas migrações em massa me preocupa, já que pode representar uma quebra da transmissão de parte dos bens culturais que compõem o patrimônio cultural desses grupos, contribuindo para o desenraizamento dos sobreviventes.

A migração forçada implica a perda do território, que é o espaço referencial de construção das identidades, e no caso da Síria, o território ainda está sendo devastado por ações de vandalismo que atingem, especificamente, os monumentos.

O trauma também é uma experiência marcante, que moldará a memória coletiva desses grupos.

Vamos registrar aqui no post os desdobramentos da migração síria e continuar refletindo sobre o tema.