O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









domingo, 30 de setembro de 2018

Manifestações de setembro de 2018

Ontem, dia 29/09/2018,  houve diversas manifestações pelo Brasil contra propostas de raiz fascista que dominam o discurso eleitoral.  Mais do que uma manifestação contra determinado candidato, parece que os cidadãos foram se manifestar contra certas idéias que vulneram minorias e estimulam a permanência das estruturas autoritárias e violentas na sociedade brasileira, das quais pudemos ter alguns vislumbres nos posts da série "Memória Coletiva e Autoritarismo": http://direitoamemoria.blogspot.com/2012/05/memoria-coletiva-e-autoritarismo.html; http://direitoamemoria.blogspot.com/2012/06/memoria-coletiva-e-autoritarismo-2.htmlhttp://direitoamemoria.blogspot.com/2012/10/memoria-coletiva-e-autoritarismo-3-o.html; http://direitoamemoria.blogspot.com/2015/06/memoria-coletiva-e-autoritarismo-4.html http://direitoamemoria.blogspot.com/2016/06/memoria-coletiva-e-autoritarismo-5.html.

Medo, naturalização da violência, uma visão deturpada de ordem pública, recorrente desrespeito aos direitos fundamentais e a negação da diversidade que impede o reconhecimento dos grupos vulneráveis são legados de um autoritarismo não superado.  Cicatrizes na nossa memória coletiva, cujos vestígios embasam essa identificação com o discurso violento apresentado como solução e projeto.

É evidente que, por haver um clima democrático, também há aqueles que se manifestam favoráveis a esse tipo de projeto e solução, pela identificação já citada.

Fazendo um recorte breve, desde 2013 assistimos a uma consistente prática de manifestações políticas (http://direitoamemoria.blogspot.com/2013/06/manifestacoes-sobre-direitos.html), não necessariamente partidárias, que demonstram a necessidade de dar maior eficácia aos direitos individuais, sociais, econômicos e políticos, em meio a uma crise de legitimação de instituições e de recessão.  Alguns desses direitos históricos estão sendo modificados, suprimidos, acrescidos e ressignificados, mostrando que estamos em meio a uma fase transicional.

Porém, é uma transição sem metas claras.

Ainda é cedo para definir uma narrativa que explique esse nosso tempo, porém acredito que já há alguns aspectos interessantes que deixo aqui registrados, para acompanhar seus desdobramentos:

a) Independentemente do resultado da eleição, o próximo presidente eleito deverá travar uma relação com o Poder Legislativo em novas bases.  O sistema de governo do Brasil é Presidencialista, mas comporta-se na prática como parlamentarista:  há uma grande interferência do Legislativo na Administração Pública, realizada através da negociação de cargos para acomodar e garantir aliados.

A governabilidade vem sendo garantida por essa capacidade de acomodação o que é de fato muito ruim para a democracia, já que se baseia no loteamento dos cargos.  Essa interferência faz com que alguns afirmem o Brasil como semi-presidencialista, mas isso é a cultura política falando, não o texto constitucional.

É preciso delinear melhor os Poderes, aplicando o princípio da separação de forma mais clara.

b) A sociedade civil e os cidadãos parecem começar a se organizar melhor para defender os seus interesses.  Destaco a aqui, especialmente, o papel das torcidas organizadas de futebol, que são formas de agremiação multiníveis e apartidárias. A novidade não é misturar política e futebol no Brasil, porque isso sempre ocorreu, mas agora isso ocorre de uma maneira diferente: os times de futebol são algumas das mais antigas agremiações brasileiras, e congregam gerações diversas com um objetivo comum.

Torcer pelo mesmo time, neste ano de 2018, parece que ganhou um novo significado que é, literalmente, compartilhar valores éticos da sua agremiação. Essa é uma novidade interessante.

c) A narrativa democrática vem sendo construída no Brasil.  São muitas décadas de autoritarismo e a definição do que a democracia significa para os brasileiros é uma missão inconclusa.  Mais do que isso, é uma tarefa cotidiana até ser criado um legado democrático que possa ser repassado às futuras gerações (cf. https://www.conpedi.org.br/publicacoes/66fsl345/8g6821fe/f4ahS97zqGIsp2yR.pdf).

d) A polarização continua, e é sempre entre "extremos", reais ou não: "Direita e Esquerda", "Ele sim/Ele não", "coxinhas e mortadelas".  Esse tipo de categorização preliminar, evidentemente, vai perder força e definhar porque não consegue acomodar as diversas variantes do pensar e do querer humanos.  É uma simplificação grosseira e deve ser tratada enquanto tal.

e) Há dúvidas sobre a aceitação do resultado das eleições.  No ano de 2014, o candidato derrotado não aceitou o resultado, mas dificilmente haveria uma repetição dos procedimentos e consequências que levaram ao impedimento da então presidente.

Como a História não se repete, mas rima, talvez haja desdobramentos não institucionais.

Passadas as eleições, será interessante acompanhar essa nova fase do cenário político brasileiro.  Vamos observar e registrar para lembrar e aprender.

Boa sorte a todos nós nas próximas eleições.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Memória Poética: Pablo Neruda

SI TÚ ME OLVIDAS
QUIERO que sepas
una cosa.
Tú sabes cómo es esto:
si miro
la luna de cristal, la rama roja
del lento otoño en mi ventana,
si toco
junto al fuego
la impalpable ceniza
o el arrugado cuerpo de la leña,
todo me lleva a ti,
como si todo lo que existe,
aromas, luz, metales,
fueran pequeños barcos que navegan
hacia las islas tuyas que me aguardan.
Ahora bien,
si poco a poco dejas de quererme
dejaré de quererte poco a poco.
Si de pronto
me olvidas
no me busques,
que ya te habré olvidado.
Si consideras largo y loco
el viento de banderas
que pasa por mi vida
y te decides
a dejarme a la orilla
del corazón en que tengo raíces,
piensa
que en ese día,
a esa hora
levantaré los brazos
y saldrán mis raíces
a buscar otra tierra.
Pero
si cada día,
cada hora
sientes que a mí estás destinada
con dulzura implacable.
Si cada día sube
una flor a tus labios a buscarme,
ay amor mío, ay mía,
en mí todo ese fuego se repite,
en mí nada se apaga ni se olvida,
mi amor se nutre de tu amor, amada,
y mientras vivas estará en tus brazos
sin salir de los míos.


____________

Comentário: Pode parecer um poema sobre o esquecimento mas na verdade é um compromisso de lembrar do amor recíproco, e de como até mesmo as pequenas coisas podem ser os suportes da lembrança de um grande amor.

Obrigada, Flávia, pelo poema, mas nós não caímos mais nesse tipo de conversa, ¿
verdad?

domingo, 23 de setembro de 2018

Direito à memória dos mortos: veracidade e integridade do passado de José Jobim

O Embaixador José Jobim foi uma testemunha importante da construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu e, segundo afirma-se, iria denunciar o seu superfaturamento, sendo assassinado por isso:
https://epoca.globo.com/diplomata-foi-morto-pela-ditadura-antes-de-denunciar-corrupcao-no-regime-confirma-nova-certidao-23089585

Em 2018, o Estado Brasileiro reconhece o homicídio, retificando o atestado de óbito de suicídio para homicídio.  Dificilmente saberemos quem o matou e mandou matar, e provavelmente nunca saberemos se a obra de Itaipu foi superfaturada, quem roubou e mandou roubar.

O Erário Público, mais uma vez, também será uma vítima indefesa.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Lugar inesquecível (2): o quintal da sogra

"Casa da sogra" é uma expressão utilizada para indicar um lugar desordenado, onde reina a confusão.  Deve ser da mesma circunscrição da "Casa da Mãe Joana" que, inclusive, deve ser sogra de alguém.

Evidentemente, quem cunhou essa expressão não conheceu a minha, cuja casa é tão bonita e arrumadinha.  Tudo no devido lugar, cheirando a limpeza e sol, e enfeitada com muitas, muitas flores, de todos os tipos e cores, cultivadas com disciplina, amor e muito trabalho diário.

Tudo isso para dizer que ela, como o meu irmão (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/10/lugar-inesquecivel-o-quintal-do-meu.html), também possui um quintal mágico, com árvores frutíferas, plantas medicinais, e as tais lindas flores.

Olha só:
Casa da Sogra.

Pequena visão entre as folhas e  flores.  

Uma entre tantas lindas flores de Karen.


Espaço cheio de vida, e toda vida vale: o passarinho, o gato, a menina, o alecrim, a sogra, os vizinhos, os espíritos, todos convivendo, cada um com seu adubo especial. 

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Lidar com o passado (1): Alemanha e Nazismo


A Embaixada da Alemanha no Brasil publicou um vídeo para mostrar como é o ensino de História lá, e que não temem abordar assuntos difíceis, como o nazismo: https://twitter.com/Alemanha_BR/status/1037303279724781568.

É breve mas vale a pena para explicar que aprender História não ocorre só na escola, mas através da própria leitura da cidade e dos seus monumentos, através das memórias familiares, e também que História não é só o passado, mas o presente e, no caso do Nazismo, a necessidade de combater os ideais remanescentes diariamente.

(Aqui faço um breve parêntese para dizer que o vídeo não explica, mas para nós brasileiros seria uma grande lição a ser aprendida, que lidar com o passado é uma política pública.  A forma como se constrói a narrativa histórica, que tipo de valores essa narrativa vai legar aos futuros cidadãos, e a sua eficácia, serão determinantes para a compreensão dos fatos históricos.)

É por isso que negar o Holocausto é crime, e é por isso que lá, como aqui, os símbolos nazistas são proibidos.

Lá na Alemanha, a herança desse passado é encarada de frente, com responsabilidade e constitui uma política pública, que tem até nome próprio: Vergangenheitsbewältigung.  A idéia é garantir que esse tipo de ideologia racista e destrutiva não volte a matar pessoas.

A idéia saudável é fomentar a discussão e a reflexão, mas não foi isso que aconteceu no Brasil.  Alguns brasileiros acham que podem, sem nenhum embasamento, discordar da forma como a Alemanha representa e apresenta o seu passado: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/13/politica/1536853605_958656.html?%3Fid_externo_rsoc=FB_BR_CM.

A polarização "direita-esquerda-volver" apareceu de uma forma bem estranha nessa polêmica porque a suposta extrema direita brasileira quer afirmar que o Nazismo é uma ideologia de esquerda (?) e que Hitler possui características que o aproximam de ditadores de esquerda. Como se isso fosse o suficiente e o necessário para legitimar a sua própria ideologia.

Enfim, e independentemente de entrar no mérito dessa discussão, novamente pecamos pelo princípio e pela forma: de não saber discutir idéias, e reduzir as discussões à polarização infrutífera que por vezes nega a realidade e tenta desfigurar arbitrariamente o passado.

E nega a dor das pessoas.

O vídeo deveria suscitar a discussão de como é importante lidar com o passado, e não fingir que ele não aconteceu, ou que pode "desacontecer" ou ser "desacontecido". A reflexão poderia ser: como podemos aprender a lidar com os nossos traumas históricos, a partir do exemplo alemão?

Com esse vídeo, oficialmente agora é 8 x 1 para a Alemanha.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Bolinho de chuva

Quando era pequena lia os livros de Monteiro Lobato, especialmente a coleção do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Já falei do autor e dos seus personagens em outras postagens (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/01/o-dia-do-saci.html, http://direitoamemoria.blogspot.com/2013/07/memoria-brasileira-o-petroleo-e-nosso.html), a quem atribuo minha preocupação com o Saci e agradeço por haver aprendido a palavra sinclinal.

Mas três coisas nunca me saíram da cabeça: o vestido do casamento de Narizinho, feito por Dona Aranha, que tinha a cor do mar e os peixinhos nadavam nele (!), a canastra de Emília (http://direitoamemoria.blogspot.com/2013/03/arco-da-velha.html), e o bolinho de chuva de Tia Nastácia.

Sem dúvida, esse último passou a ser o objeto do meu desejo simplesmente porque é comestível.

Infelizmente, esse doce não é da minha região e eu nunca o vi, até hoje. Demorou, mas a minha vez chegou.  O meu marido sabe fazer bolinhos de chuva.

Vou dizer de novo, mas de outro jeito: o meu marido sabe fazer os bolinhos de chuva de Tia Nastácia.

Na semana passada, do nada e depois de tantos anos casados, ele disse que estava com vontade de fazer bolinhos de chuva. E eu fiquei parada, sem saber o que dizer, boquiaberta.

E hoje ele fez:


Bolinhos de chuva segundos antes da devastação


E eu comi, muitos, muitos, bolinhos de chuva. Finalmente.

sábado, 8 de setembro de 2018

domingo, 2 de setembro de 2018

Exumando a História: a batalha dos restos mortais de Franco

Observem: https://elpais.com/politica/2018/08/24/actualidad/1535068644_179548.html

O governo espanhol pretende exumar o restos mortais de Franco, por discordar da forma e do local onde jazem.  É uma questão simbólica de qual valor - e qual memória - vai ser atribuído ao personagem.

É um personagem histórico? Sem dúvida.  Como entrará para a História?  Essa é a questão.