O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









segunda-feira, 30 de março de 2015

Diálogo surreal (8): Déjà vu

No post anterior, estava refletindo sobre o déjà vu, essa estranha forma de lembrar o futuro no presente.  E aí, lembrei desse diálogo surreal:

Amigo:  Fabiana, ontem eu senti um eu já vi.
Eu:  hã?  Desculpa, não ouvi a última parte.
Amigo:  Eu já vi.
Eu:  Viu o que?
Amigo:  Um eu já vi.
Eu: Desculpe, eu ando meio distraída. O que foi que você já viu?
Amigo: um eu já vi, Fabiana.  Não sabe o que é, não?  Quando você tem certeza que uma coisa já aconteceu?
Balancei a cabeça afirmativamente, mas já estava longe dali, pensando como é interessante o processo de incorporação de palavras e expressões estrangeiras à Língua Portuguesa.

domingo, 29 de março de 2015

Déjà vu

Déjà vu é uma mistura de presente, passado e futuro.   Essa impressão estranha de que agora, lembramos de algo que ainda vai acontecer, à medida em que está acontecendo.

Os cientistas têm várias teorias para explicá-lo, mas para mim continua um mistério.  É interessante que as mesmas estruturas cerebrais utilizadas para lembrar o passado são as mesmas para imaginar o futuro (HERCULANO-HOUZEL, 2007, p.5) e talvez, como afirmam alguns, a sensação déjà vu seja uma espécie de falha nesse sistema.

Para mim, a memória percorre caminhos misteriosos e inextrincáveis labirintos. Então, já que não consigo compreender, tomo as minhas providências:  se sinto um déjà vu, tento fazer tudo diferente, só para ser do contra.

Nunca experimentei um déjà vu, antecipando a contrariedade de acontecimentos em razão de um déjà vu.

REFERÊNCIA

 HERCULANO-HOUZEL, Suzana. Saudade, memória do futuro. Folha de São Paulo, 1 fev., Caderno Equilíbrio, p. 5, 2007.

sábado, 28 de março de 2015

Memória Poética - Paulo Leminski Filho

Bem no fundo

"No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas".
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Comentário:  não existe jeito melhor, e nem mais bonito, de explicar a necessidade de realizar uma transição democrática suficiente.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Tecnologia obsoleta (3): Cálice lava-olho

Imaginem, um cálice para lavar olhos.


Cálice lava-olho - Museu Pomerano- Pomerode SC
Foto Marcelo Müller



Acho esse objeto tão fascinante quanto as xícaras "bigodeiras".

Diante de objetos assim paro e reflito:   Que necessidade tão específica foi essa capaz de gerar esses objetos, e que se perdeu ao longo dos anos? O que é realmente necessário à vida humana digna e feliz?

Segundo o ex-Presidente uruguaio Mujica, "pobre é quem precisa de muito para viver".  O raciocínio é bom, mas esbarra na miserabilidade, evidentemente. E como fico eu, que não precisava desses objetos - cálices lava-olhos, caixas de noivos e xícaras bigodeiras - até saber que eles existiam, e agora quero todos para mim?

terça-feira, 24 de março de 2015

Citações sobre a memória - Giorgio Armani

"Elegância não consiste em ser notado, mas em ser lembrado".


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Desde que seja lembrado de uma forma positiva.  Essa citação de Giorgio Armani lembrou-me outra sobre a elegância: "ser elegante é ser notado sem chamar atenção".

domingo, 22 de março de 2015

sábado, 21 de março de 2015

Memória Poética: Memória - Carlos Drummond de Andrade

"Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão."

quarta-feira, 18 de março de 2015

Trauma e memória coletiva (2): marcos

No post http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/05/trauma-e-memoria-coletiva-viva-o-caso.html, descrevi o caos que aconteceu em 2011 em razão da memória coletiva sobre uma enchente na minha cidade.

Essa lembrança, esse trauma, é repassado e ensinado de geração em geração, como forma de conhecimento sobre o fato (e suas várias versões). Já os moradores de Timbó (SC) optaram por outra maneira de lembrar:


Memória de enchentes - Foto: Marcelo Müller
As enchentes são frequentes no Estado de Santa Catarina, e encontrei essa espécie de marcos em várias cidades, o que prova ser importante para aquelas pessoas manter a memória desses fatos.

domingo, 15 de março de 2015

Brasil - 30 anos da eleição de Tancredo Neves

Hoje, 15 de março de 2015, faz 30 anos da eleição indireta de Tancredo Neves, primeiro presidente da suposta transição democrática, e avô de Aécio Neves, candidato derrotado no último pleito presidencial.

Juridicamente, o marco da volta da democracia é a promulgação da Constituição Federal de 1988, e não a eleição indireta, que nos legou José Sarney como presidente, já que Tancredo Neves faleceu antes de assumir o cargo.

A denominada "transição" brasileira é muitas vezes referida como um processo inconcluso, mas para mim na verdade ele é embrionário.  Como se pode facilmente perceber, o cenário mudou, mas os personagens e as práticas permaneceram.  Cf.  http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/03/150311_democracia_clicavel_lab?ocid=socialflow_facebook.

Os personagens são sempre os mesmos, ou seus herdeiros, o que contribui para a evidência de continuidade (ou ausência de mudanças) independentemente do governante ou partido que esteja no poder.  As estruturas profundas, arraigadas, permanecem e moldam o agir e o falar.

Exatamente hoje, considerado o marco inicial da transição, há manifestações nas ruas contra o governo, pedindo o impeachment da Presidenta.  Diferentemente das manifestações de junho de 2013, que eram pela efetivação de direitos e não necessariamente contra o governo, essa pretende a destituição do governo eleito democraticamente, sem explicitar como seria a regra de substituição, entre outras reivindicações.

sábado, 14 de março de 2015

Caixa de noivos - Hochzeitskiste

Estive de férias no belo Estado de Santa Catarina (março de 2015), conhecendo a(s) cultura(s) da família do meu marido, que possui origens germânicas.  Essa família de imigrantes, há tantas gerações, tem muitas histórias para contar e eu sou uma ótima ouvinte.

Resolvemos fazer um roteiro por pequenas cidades da região.  Para mim, tudo é novidade e cada cidade tem a sua singularidade.  Para a minha sogra e marido, tão acostumados a passar por todas elas, também foi uma oportunidade de conhecer e refletir com um novo olhar.

Nessas nossas andanças, encontramos coisas tão interessantes e nunca dantes vistas, que resolvi compartilhar aqui no blog.

A primeira delas, a enigmática Caixa de Segredos, também conhecida como "Caixa de noivos" (Hochzeitskiste), de origem germânica. Vejam algumas fotos:
Casa do Poeta Lindolf Bell - Timbó-SC (foto de Marcelo Müller)


Museu de Timbó-SC (foto de Marcelo Müller)

Museu Pomerano, Pomerode-SC (foto de Marcelo Müller)

Museu Pomerano, Pomerode-SC (foto de Marcelo Müller)



Esse objeto é parte importante do ritual de casamento de algumas vertentes germânicas, e consiste em uma caixa de madeira onde são guardadas a grinalda da noiva e a flor de lapela do noivo.  Em algumas versões dessa caixa há um fundo falso onde são depositadas cartas escritas pelos noivos, que podem ser de amor ou contar algum segredo.

Essa caixa é lacrada pelo padrinho na cerimônia de casamento e só pode ser aberta por ocasião do enviuvamento.  O cônjuge supérstite pode optar por abrir a caixa e ler a carta que lhe foi endereçada pelo esposo/esposa, ou optar por deixá-la lacrada, e nessa hipótese não poderá ser mais aberta.

Tradição fascinante, de uma época em que o matrimônio era efetivamente um contrato perpétuo, só resolúvel com a morte.  Nesses tempos de divórcio desburocratizado, a caixa de segredos parece tornou-se obsoleta, apesar de continuar sendo uma bela idéia.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Hoje lembrei de você.

domingo, 1 de março de 2015

Vandalismo no Museu de Mossul

O Estado Islâmico utiliza atos de barbárie como propaganda de sua ideologia.  Os vídeos de decapitação mostram um profundo desapreço pela vida humana, como se pessoas fossem objetos descartáveis.

Agora, vimos que bens culturais também são objetos descartáveis.  As imagens do vandalismo no Museu de Mossul são dolorosas para quem ama e preserva o patrimônio cultural, e mais uma vez assistimos bens culturais serem utilizados como símbolos e vítimas daqueles que querem afirmar a sua ideologia.

Uma ideologia que não consegue coexistir com bens milenares, com pessoas e crenças diferentes.

A associação do vandalismo em Mossul e os Budas de Bamiyan é imediata.  A cada dia a Humanidade fica um pouco mais pobre, perdem-se vidas, perdem-se bens culturais, informação e memórias.