O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Bacurau 2: um pássaro me contou (contém spoilers)

Pássaro, porque o Bacurau não é um passarinho.  Não é bonzinho e bonitinho o suficiente para receber o diminutivo carinhoso, é bicho brabo, que merece respeito.

Enquanto não revejo o filme, exercito a memória lembrando de algumas cenas e tentando localizar referências:

1) A recepção de Domingas com cozido, suco de caju e trilha sonora americana.  É essa nossa hospitalidade estranha, de poucas palavras e bem-querer traduzido em comida, típica da região.

O suco de caju oferecido lembra a cajuína, simbolo de hospitalidade nordestina e patrimônio imaterial do Brasil (http://direitoamemoria.blogspot.com/2014/07/cajuina-patrimonio-imaterial-do-brasil.html).

O significado dessa cena, que pode parecer muito deslocada naquele lugar e naquela hora, faz sentido como medida desesperada.

2) A segunda observação é sobre Lunga. Existe um personagem folclórico no Nordeste - Seu Lunga - que é lembrado pela sua forma peculiar de encarar a vida. No nosso imaginário, ficou como um modelo de mau humor (https://tribunadoceara.com.br/diversao/humor/relembre-11-das-respostas-mais-brutas-do-seu-lunga/), mas não acredito que fosse esse o caso.

Talvez o Lunga de Bacurau seja uma homenagem merecida, porque também não é reconhecido como bem-humorado.

Ou, quem sabe, é uma referência a calunga, com as suas implicações espirituais. Acho que pode ser os dois.

3) E falando em Lunga, a estética do personagem, com o seu gosto explícito por anéis, remete aos cangaceiros mas a referência não é tão explícita para mim, pois faltou o couro, a chita nas roupas.  É algo que pretendo observar melhor da próxima vez.

4) A estranha posição de tiro da gente de Bacurau remete aos bacamarteiros, como se pode ver nesse vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=-DdKTc1XTms.

4) Bacurau é como a gente chama o último ônibus da nossa cidade.  Depois do Bacurau, não há nada.  Talvez essa a noção de apocalipse para quem é daqui.

Lembro que quando a gente perdia o bacurau a solução era dormir na rua ou se arriscar a ir a pé, mas isso foi a Era Pré-uber.

5) identidade e consequência.  O Museu como reflexo de valores comunitários.

Esse post continua, depois que eu assistir de novo.




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