O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

8 de janeiro de 2025 - dever de memória

 A missão deste blog é lembrar e mostrar a importância da memória individual e coletiva, bem como os direitos e os deveres que a ela correspondem.

Nesta data - 8 de janeiro - há dois anos, assistimos à violação física e simbólica dos Poderes da República Federativa do Brasil. Cidadãos comuns, como eu e você, radicalizados por uma falsa polarização política, que abraçaram uma ideologia violenta na ação e no discurso, e acabaram atentando contra a institucionalidade do Estado Brasileiro e contra a democracia.

O desejo era destruir material e imaterialmente as bases da nossa organização política que, claro, não é perfeita mas é o fruto do aperfeiçoamento do nosso modo de fazer e de viver ao longo de gerações.

O amadurecimento político e institucional não vem com rupturas, mas com o permanente e sistemático aperfeiçoamento. A disciplina de evoluir contraria a ideia de romper, de esquecer e de passar a borracha.

Rupturas são a tradição política brasileira, assim como o desejo por anistia daqueles que participaram dos eventos. Isso já aconteceu dezenas de vezes na nossa história política.

Só para fazer um resumo rápido, e para que fique bem entendido para os meus alunos e para aqueles com quem eu nunca tive a honra de dialogar em sala de aula, percebam:

- O Brasil nasceu de um golpe.  A nossa independência foi proclamada pelo herdeiro do trono português, que aqui ocupou as funções quando do retorno da Corte a Portugal. O Fico - quando ele disse à gente que ficava - foi um ato de desobediência e ruptura.

- O Brasil mudou de forma de governo - de monarquia para República - por meio de um golpe em 1889. No caso um golpe militar que nos levou a uma República Presidencialista, e também alterou a forma de Estado (de unitário para federação).

- O Brasil mudou de regime político na década de 1930 (1937-1945) por um golpe, que instalou a ditadura Vargas.

- Após a redemocratização desse período, o Brasil novamente mudou de sistema de governo e regime político no período de 1961 a 1988.  O sistema presidencialista que é tradicional desde 1889 passou a parlamentarista em 1961, e esse período de conturbação política levou à mudança de regime (de democracia para ditadura) em 1964.

- A nova redemocratização ocorreu a partir da década de 1980, culminando com a volta do regime democrático, e uma certa confusão entre o presidencialismo e o semiparlamentarismo, que borrou de forma estranha os limites de atuação entre os poderes Executivo e Legislativo.

Cada ruptura exigiu uma nova Constituição, que nos permite registrar e rastrear os fatores que historicamente nos levam a essas convulsões. As sequelas dessas rupturas são permanentes, como  assistimos agora nessa forma estranha de orçamentação que leva à discussão sobre emendas parlamentares e ao esvaziamento das funções de execução do Poder Executivo.

Nessa breve síntese já deu para perceber que o Brasil transitou por todos os modelos contemporâneos de forma de Estado, de governo, de sistema de governo e de regime político.  O início e o fim da instalação dessas tentativas são marcados por rupturas e, de fato, não houve tempo suficiente para amadurecer quaisquer modelos institucionais.

A novidade na nossa trajetória é exatamente a Constituição de 1988 e sua permanência por mais de uma geração. Talvez essa permanência tenha ajudado a criar os anticorpos que evitaram uma nova ruptura institucional tentada em 8 de janeiro de 2023.

Eu estava trabalhando quando a culminância do processo de golpe de Estado de 2022-2023 aconteceu. Assisti pela televisão enquanto continuava trabalhando, e essa ausência de ruptura da normalidade me tranquilizou porque ficou claro que um golpe no século XXI seria diferente dos golpes anteriores.

 A invasão e a depredação da sede dos Poderes da República foi a culminância de diversos atos prévios e outros preparatórios que levaram a essa tentativa  de tomada hostil do poder. Os cidadãos que participaram desse evento do 8 de janeiro de 2023 estavam conscientes de desempenhar um papel histórico, embora o enredo escrito tenha sido bem diferente daquele por eles sonhado.

E o desejo por anistia é tradição também por aqui, pois a concessão de anistias abusivas integra o conjunto das práticas que levam ao esquecimento.

A lição que fica é que rupturas políticas agora são mais imateriais e graduais. Elas agem como um cupim corroendo a institucionalidade, às vezes invisível superficialmente, mas de efeitos devastadores quando a estrutura desaba.

É preciso estar atento aos cupins institucionais e lembrar, a cada 8 de janeiro, o que deverá ser feito para evitar novas rupturas.  As mudanças são bem vindas, quando controladas e contextualizadas, e isso só a memória permite.

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Para ler outras reflexões sobre o 8 de janeiro no blog:

https://direitoamemoria.blogspot.com/2023/08/lembrar-o-8-de-janeiro-batalha-pela-data.html

https://direitoamemoria.blogspot.com/2024/01/8-de-janeiro-de-2024.html

https://direitoamemoria.blogspot.com/2023/09/8-de-janeiro-primeiras-condenacoes.html

https://direitoamemoria.blogspot.com/2024/01/comemoracao-do-8-de-janeiro-ato.html


Para aprofundar a leitura sobre essa questão da ruptura, sugiro a leitura de um trabalho que eu e Dra. Denise Teixeira publicamos sobre o Brésil: https://www.persee.fr/doc/aijc_0995-3817_2023_num_38_2022_3076

Recomendo também a leitura do livro Nação Enraizada, que publiquei em 2024.  Não é por ser meu, e por eu concordar com tudo que está escrito ali, mas pela abordagem cultural desses processos políticos, que ajuda a entender de uma forma diferente.

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Antes que eu me esqueça: sim, esse assunto vai cair na prova. Para o resto da vida.

domingo, 5 de janeiro de 2025

10 coisas para fazer em 2025

1 - Parar de assistir aos vídeos sobre como organizar a casa, e começar a organizar a casa.

2 - Aprender alguma coisa bem específica, absurda e desconhecida.  Aceito sugestões bizarras, desde que bem fundamentadas e dentro da legalidade.

3- Em 2025 vou finalizar alguns artigos pendentes, mas sem nenhuma pressa de publicar.

4- Mais praia;

5- Mais treino;

6- Mais silêncio;

7- Mais caminhadas e mais longas.

8- Continuar fazendo o que funciona e faz-me feliz, cuidando dos meus afetos.

9- Menos pressa, menos um monte de coisa, para ter mais praia, mais treino, mais silêncio e mais caminhadas longas.

10- Vou ser vegetariana de novo, lembrando os tempos de pandemia.

2025 vai ser muito interessante e vai ficar na memória.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Água de janeiro

As certezas e os mistérios da cultura brasileira apontam que dar água da primeira chuva de janeiro ajuda os bebezinhos a falar.

Tal prática, de reconhecida e indiscutida eficácia, não é isenta de efeitos colaterais.  Além de destravar a fala das criancinhas, pode exacerbar essa habilidade naquelas que, embora não precisassem, inadvertidamente tomaram e ficam a falar descontroladamente.

Os tagarelas certamente tomaram água de janeiro sem precisar, e não se conformam em apenas falar, mas agora expressam-se nas redes sociais por palavras e figurinhas, ainda que não solicitadas.

Água de janeiro é um perigo e deve ser bebida com moderação.


terça-feira, 31 de dezembro de 2024

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Queijo de Minas - novo patrimônio imaterial da Humanidade

O patrimônio cultural imaterial abrange os modos de fazer, viver e sentir que ilustram a experiência humana.  São manifestações da maravilhosa capacidade de adaptação e do aperfeiçoamento das conquistas civilizatórias da Humanidade.

E, às vezes, também pode ser uma delícia.  Nessa semana a UNESCO reconheceu o modo de fazer queijo mineiro como patrimônio imaterial:

https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2024/12/04/modo-de-fazer-queijo-minas-artesanal-se-torna-patrimonio-cultural-imaterial-da-humanidade.ghtml

Minas Gerais é um estado-membro da República Federativa do Brasil e repositório das nossas fantasias gastronômicas porque tudo lá é gostoso.  A famosa hospitalidade mineira teve que desenvolver formas de agradar, e a comida e o café ancoram toda essa relação.

Em Minas você será convidado a tomar um café e a comer qualquer coisa deliciosa, enquanto trava relações com outros seres humanos, porque conversar também é um patrimônio imaterial mineiro.

O Brasil já contribuiu com vários bens imateriais para a elevação do espírito coletivo, e essa nova contribuição certamente acrescentará mais um pedaço de informação para compor esse mosaico maravilhoso da nossa existência.

E se acrescentar goiabada, tudo ficará perfeito.


quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Número 1

Sempre fiquei fascinada com a obsessão de Tio Patinhas com a moedinha n. 1 dele (cf. https://direitoamemoria.blogspot.com/2015/05/fetiche-do-principio.html)

A origem de toda a fortuna. O talismã, o princípio, o refúgio para retornar. O início mágico que molda o acerto do destino, porque o que começa errado termina errado.

Então o que começa certo tem que, necessariamente, continuar certo nessa lógica ingênua e consoladora.

Tudo isso para dizer que, finalmente, estou tentando organizar a minha biblioteca e, depois de tanto tempo, encontrei a minha moedinha n. 1, que deu origem a esse acúmulo maravilhoso, mas um tanto preocupante, de livros.

Eis o livro que deu início a tudo:






Esse foi o primeiro livro que eu comprei, mas não o primeiro livro que eu ganhei, o qual ainda estou procurando e certamente vou encontrar. 

Esse livro foi o primeiro ato consciente de adquirir um produto cultural e dele me apropriar, colocando o meu nome. Infelizmente não coloquei a data, mas me lembro do ano: 1986.

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Voz

 Nesta data, há 16 anos, tive a oportunidade de ver e ouvir Mercedes Sosa cantar.



Inconfundível.

Inesquecível.