O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









domingo, 21 de setembro de 2014

La Difunta Correa - direito à memória dos mortos

Passando pela provincia de Misiones, na Argentina, percebi que ao longo da estrada havia muitos pequenos marcos memoriais.  Aqui no Brasil também existem, geralmente cruzes ou pequenas capelas que assinalam o local onde pessoas faleceram vitimadas por acidentes de trânsito.  Muitas vezes esse marcos estão decorados com flores e velas, em memória dos mortos.

Como havia muitos marcos ao longo da estrada, pensei imediatamente que deveria ser muito perigosa.  Tal pensamento me incomodou e causou estranheza porque as estradas de lá são bem conservadas, e os locais onde estavam os marcos não pareciam arriscados, e isso me levou a perguntar ao nosso motorista:

- Essa estrada é muito perigosa?

- Não, é tranquila.

- Então porque há tantos marcos e capelinhas ao longo dela?

- É por causa da defunta.

- Que defunta?

- La difunta Correa.  A população aqui constrói essas capelinhas para ela, e também coloca muitas garrafas de água, porque ela morreu de sede.

- Que estória é essa?  Morreu de sede como (?), se estamos perto do Paranazão, esse rio imenso e lindo. Então ela é uma espécie de santa popular?

- É sim, muito milagrosa.

- Certo ... (essa sou eu já pensando na Difunta e sua estória)...Mas olha lá, aquela ali não tem garrafas de água.

- É porque aquela capelinha não é para a Difunta, é para o Gauchito Gil.  Também é um santo, que roubava dos ricos para dar aos pobres.  É como Lampião.

- Não, não.  Lampião não virou santo.  No máximo, é considerado herói por alguns.  Mas vamos voltar ao caso da Difunta.

E passamos o resto da viagem conversando sobre a Difunta Correa e outros santos.Que interessante a crença popular e a maneira de homenageá-la!

Depois, fui pesquisar um pouco sobre a sua biografia, e vi que o personagem não tem corroboração documental, embora sua existência seja indiscutível no imaginário.  Trata-se de Maria Antonia Deolinda Correa, que aparentemente faleceu de sede enquanto acompanhava o marido, que era militar, na Provincia de San Juan, em Vallecito, proximo a Caucete (longe de onde estávamos), onde existe um santuário que é bastante visitado.  O motivo pelo qual virou santa popular é que, mesmo após a morte, deu de mamar ao seu filho recém-nascido, salvando-o.

Muito interessantes os santos populares argentinos...Além da Difunta Correa e do Gauchito Gil, lembro que também uma cantora chamada "Gilda" (https://www.youtube.com/watch?v=RhTnCE6TYk0) possui fãs que viraram devotos, e também recebe homenagens e demonstrações de fé.



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