Assistindo às notícias sobre os atentados em Las Vegas, novamente nos deparamos com a tristeza, o choque e a falta de sentido dessa violência que vitima inocentes.
Como sempre, sobra aos sobreviventes tentar entender a tragédia. É o momento de tentar paralelos impossíveis com outras tragédias - todas são únicas e incomparáveis- e tentar extrair lições para que tais fatos sejam evitados do futuro, que é uma das funções vitais da memória coletiva.
Percebo a perplexidade dos jornalistas pois este é um caso clássico da falência das teorias, onde estamos diante de "nenhuma das alternativas acima". O atirador era homem, branco, rico, não professava ideologias racistas e nem fundamentalismo religioso.
O que fazer quando as explicações tradicionais não são suficientes? Apelar para outro esquema tradicional de explicação que é a teoria do "lobo solitário".
Já que todos estão dando a sua opinião, vou também manifestar a minha. Não creio que a melhor maneira seja pensar em "lobos solitários", pois no mínimo é um lobo que se comunica com a matilha antes dele. Parece existir um grupo de pessoas que se ligam pelo desejo de ser imortais à custa das vidas alheias, marcando a memória coletiva com as indeléveis cicatrizes da dor.
A motivação pode ser individual, sim. Às vezes, apenas o sujeito chega em uma idade e percebe que a sua vida não foi o que esperava, apesar de ter tudo o que precisava e a possibilidade de realizar o que quisesse.
Se for materialista ao extremo, vai tentar suprir o vazio existencial com coisas. No caso, armas. Junte o desencanto com armas, e o desejo de se manifestar violentamente, e muitas pessoas vão sofrer.
As pessoas só expressam o que têm dentro de si. Um indígena vai querer ser Tupã, não Bonaparte. E às vezes as pessoas não se conformam em deixar o mundo sem uma marca, e não querem fazer isso sozinhas: http://www.diariodenavarra.es/noticias/navarra/2017/07/30/un-fallecido-heridos-tras-una-explosion-puente-reina-543943-300.html.
Talvez seja um acerto de contas com o passado familiar, como sugeriram alguns.
Mas evidentemente essa manifestação individual tem que ser contextualizada em uma sociedade e em um tempo específicos. E essa é a era dos extremos e dos extremistas, que produz as matilhas.
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