Neste ano da Graça de 2025 cheguei à idade da razão. Supostamente um tempo em que o amadurecimento traz sabedoria, e a tranquilidade dela decorrente, e certezas de uma identidade construída ao longo das décadas.
É uma idade em que já sei quem sou, de onde vim, vou para onde eu quero ir, e já posso olhar o filme da minha vida como algo que tem um conteúdo.
Gosto de pensar na vida das pessoas como filmes biográficos, e toda pessoa tem uma história para contar sobre si mesma. Não o que ela pensa sobre si - sempre uma forma de auto-ilusão ou defesa - mas o que ela imprimiu no tecido da vida. Observo os fatos e deixo que falem.
No filme da minha vida, a trilha sonora é uma parte fundamental. Músicas que remetem à infância (https://direitoamemoria.blogspot.com/2014/01/lembras-disso-3-musicas-do-jardim-da.html); músicas que nos acompanham nos rituais familiares (https://direitoamemoria.blogspot.com/2019/08/patrimonio-cultural-familiar-5-as.html) e que constroem a sua memória sonora; e músicas que fazem parte da nossa vida ou conseguem traduzir a nossa personalidade (https://direitoamemoria.blogspot.com/2025/02/fragmentada.html, https://direitoamemoria.blogspot.com/2018/06/lembrar-cassia-eller.html, https://direitoamemoria.blogspot.com/2021/03/lembrar-astor-piazzolla.html), como se fossem feitas para mim.
Nesse momento da vida, e relembrando, tenho certeza que o tango traduz a intensidade e a dramaticidade e o percebo na minha forma de encarar o mundo.
Mas também é o momento de reconhecer que superei algumas músicas:
a) Não acredito mais em Djavan e no seu "Amor puro" (https://www.youtube.com/watch?v=hh9WgYHRuhU). Vivi o bastante para saber que esse sensação é efêmera, e o amor de verdade não tem essa leveza. É combate, consistência e permanência orientada pelo bem do outro.
b) Tenho saudade do tempo de "Lua e Estrela", de Vinicius Cantuária, na voz de Caetano Veloso (https://www.youtube.com/watch?v=YfTbodFOlIA. Saudade da minha adolescência na praia iluminada, onde um raio de sol poderia revelar a poesia em um simples anel com uma lua e uma estrela. Aquele sentimento, tão juvenil, também não existe mais.
c) O mundo não é mais tão simples como se fosse uma "Paisagem da Janela", de Lô Borges e Beto Guedes (https://www.youtube.com/watch?v=6GMSEiN-PJ0). Depois de décadas estudando o patrimônio cultural e a memória coletiva, a minha forma de ler o mundo e os sinais, de glória ou da falta dela, já não parte de um olhar inocente.
Canções como essa trazem emoções de um tempo que passou, mas eu as passo adiante. Apresento essas canções às novas gerações para que possam fazer parte da trilha sonora da vida delas.
É tempo de entender melhor algumas canções e saber que elas farão parte para sempre da minha vida, ainda que o seu significado mude comigo (https://direitoamemoria.blogspot.com/2014/07/dez-musicas-brasileiras-que-eu-adoro.html). Romaria, Construção e Reconvexo vão comigo para todos os lugares na memória.
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