Acabei de assistir a um programa do Discovery sobre a mumificação na comunidade Koke, em Papua-Nova Guiné. O documentário, apresentado por Josh Bernstein, mostra o processo de transmissão de técnicas de mumificação, para evitar que o conhecimento seja esquecido.
Gostei desse programa por vários motivos:
1) Pela preocupação e urgência do chefe da comunidade, último guardião do conhecimento, de morrer e não conseguir a mumificação, porque os membros não saberiam como.
2) Pela vontade de continuar pertencendo à comunidade depois de morto, agora como protetor. É interessante como os mortos da comunidade ainda fazem parte da vida cotidiana.
3) Achei interessante o conflito entre as técnicas tradicionais de disposição do cadáver e a maneira ensinada pelos missionários. Pelo que pude perceber, tradicionalmente eles adotavam a corrupção consentida mas ocultada, colocando o cadáver acima das árvores, e a corrupção proibida, através do processo de mumificação.
4) Não consegui perceber em que situações escolhiam por uma ou outra. Os missionários ensinaram a técnica da inumação, que permite a desintegração oculta dos corpos, que passou a ser adotada nas últimas décadas porque disseram ser ilegal a prática da mumificação.
5) Ocorre que dentro da cultura Koke a inumação é extremamente negativa, pois representaria uma oferenda de corpo humano à Terra, que depois ficaria sedenta por mais corpos.
6) Com a nova necessidade de prolongar a preservação das múmias, um especialista foi convidado para ensinar a realizar intervenções de restauro utilizando substâncias encontradas no próprio ambiente. Se essas técnicas forem incorporadas, haverá uma mudança no ritual que poderá ser repassado à memória coletiva, e às futuras gerações.
Depois que essa etapa do processo de transmissão foi concluída, mostraram o interesse das crianças pelo passado, e a intimidade da convivência com as múmias que ficam guardadas em um local especial. Essa intimidade, esse conforto, nada mais é do que a identidade cultural que garantirá a continuidade daquela comunidade (de vivos e de mortos).
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