O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









sábado, 28 de dezembro de 2013

Conhece-te a ti mesmo, Brasil (4): a questão do silêncio

Na série "conhece-te a ti mesmo, Brasil", tentamos refletir sobre algumas características do povo brasileiro, que integram o seu modo de ser e/ou de viver.  Em três posts anteriores discutimos a "vontade de ganhar" (ou de levar vantagem, que é uma consequência), a impontualidade, e a nossa suposta alegria de viver, respectivamente:  http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/11/conhece-te-ti-mesmo-brasil-1.html e http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/01/conhece-te-ti-mesmo-brasil-2.html, http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/03/conhece-te-ti-mesmo-brasil-3-questao-da.html.
Hoje gostaria de meditar sobre o significado do silêncio, que para nós brasileiros é uma "questão", um ponto de reflexão porque somos educados para ser barulhentos.

O barulho parece ser algo inerente à sociedade brasileira. Nas ruas, buzinas e motores. Nas casas, as pessoas falam aos gritos. Nas reuniões sociais, muita gritaria e música alta, geralmente identificadas como sinais de alegria.

Se ser barulhento é sinônimo de ser alegre, então o silêncio e ser silencioso evidentemente são sintomas de melancolia.  Se, por qualquer acaso do destino você estiver sozinho e contemplativo, apreciando o silêncio, alguém vai fatalmente perguntar se você está triste, pensando na morte da bezerra.

Ou, por outro lado, entre nós o silêncio pode ser sinônimo de tédio.  E para animar, é só lascar um aparelho de som em alto volume, que pode vir na versão gigantesca (trio elétrico), versão médio incômodo (som de automóvel) ou incômodo de pequeno porte (rádios). Até música boa, quando é estridente, irrita.

Há outras situações em que o silêncio é imposto, e determinados assuntos viram tabu.  Aqui somos ensinados que gosto, política, futebol e religião não se discutem.  Provavelmente porque as pessoas assemelham a "discussão" com "briga", o que evidentemente é um erro de quem não está acostumado com o esporte saudável do diálogo.

É também uma herança dos períodos autoritários que a sociedade experimentou, que nos legou esse medo de expressar (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/10/memoria-coletiva-e-autoritarismo-3-o.html).

Discutir sem brigar ajuda a construir um ambiente democrático, e a Democracia real só pode existir sem a imposição do silêncio.  A verdade às vezes dói, e sempre deve ser dita, especialmente para desfazer enganos e mentiras, porque o mal prevalece quando os bons se calam, como diz o ditado.

Portanto, é necessário começar a quebrar o silêncio em algumas questões que são importantes para a nossa vida  e memória coletiva, deixando-o para aqueles recônditos momentos íntimos e de meditação.

7 comentários:

  1. Em São Paulo, o Prefeito regulamentou a lei que proíbe o som de veículos automotivos acima do limite: http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/haddad-regulamenta-lei-que-proibe-som-alto-nas-ruas

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  2. Sim, e minha genitora que levou o carro novo dela pra revisão porque a buzina não estava funcionando direito??? Não sei o que foi pior, isso, ou a cara da recepcionista da autorizada que explicava pela milésima vez, a mais um cliente reclamão, que não seria possível colocar buzina mais forte no carro porque a nova lei.... patati-patata

    Agora voltando ao assunto da uniformização do aprendizado: Aqui por essas bandas, as crianças aprendem a "escutar o silêncio", sic p.?, da cartilha da escola.

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  3. hahahaha, a sua mãe sempre surpreende...Quando a gente pensa que já viu de tudo, ela sai com mais uma.

    Aprender a "escutar o silêncio" é coisa muito interessante. Acho que vou tentar treinar isso aqui também. Outro dia estava na praia, sentindo alguma coisa errada, incomodando, foi quando me dei conta que havia um completo silêncio, Até o mar estava calado naquele dia.

    Como é possível estranhar o silêncio? Que barulho geral e infernal é esse em que estamos metidos?

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  4. Sobre: "É também uma herança dos períodos autoritários que a sociedade experimentou, que nos legou esse medo de expressar", lembrei de: "inter arma silent leges".

    E sobre fazer as crianças escutarem o silêcio, tenho pra mim que é uma técnica de engambelamento dos pobres bambini pra que fiquem de boca fechada por alguns segundos.

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  5. Que bela expressão latina você tirou da manga existencial, Dra. Denise.

    E quanto a calar i bambini, pelo menos essa estória de "escutar o silêncio" é poética e filosoficamente justificada. Quando a gente era pequena tinha que se calar com medo da palmada física ou virtual.

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  6. Os atletas olímpicos descobriram essa nossa faceta: http://www.bbc.com/portuguese/geral-37099786

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  7. No Brasil, as leis do silêncio são interpretadas como permissões. É mais ou menos assim: se das 22h às 6 da manhã é proibido o som acima do limite, significa que fora desse período não há limites. Não há direito a incomodar.

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