O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Memória Brasileira: a procissão do crack

Em janeiro de 2012, assistimos a uma iniciativa do Estado de São Paulo para acabar com o problema da dependência do crack, focando em uma das variáveis da equação: os usuários.

A idéia era atacar o sintoma, o consumo público de drogas nas vias do centro da Capital. A solução encontrada?  Ocupar a área com a polícia e impedir  fixação dos usuários em um lugar específico: http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,governo-quer-acabar-com-cracolandia-pela-estrategia-de-dor-e-sofrimento,818643.

E assim, essa política pública criou uma das imagens mais marcantes para a minha memória brasileira:  a procissão do crack.  Dezenas de pessoas esquálidas, caminhando por entre as ruas da cidade, tangidas pela polícia, com destino, rumo e futuro incertos, trouxeram à minha lembrança outra procissão tristonha: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/09/memoria-brasileira-o-flagelo-da-seca.html.

O fato é que periodicamente os locais de reunião  dos usuários são visitados pela polícia causando novos desarranjos, sem que de fato o problema social e econômico seja abordado da forma complexa, contínua e coerente.  Se não há mais procissões do crack, sem dúvida há pequenas diásporas causadas pela repressão pontual do Estado, confira: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/04/1623025-apos-confronto-na-cracolandia-viciados-se-espalham-pelo-centro.shtml.

Gostaria muito de saber se há estudos quanto à eficiência dessas ações administrativas, uma vez que não só o consumo público de drogas continua, como evidentemente as políticas de enfrentamento continuam focadas na supressão do objeto (drogas) e na eventual prisão dos traficantes, mas os outros fatores não são considerados.

Como evitar o aumento do consumo de drogas, inclusive o álcool?  Tenho percebido que nos últimos anos houve um decréscimo significativo no consumo de tabaco. Em cada novo semestre, faço uma pesquisa informal com os meus alunos (jovens da graduação, de mais ou menos 20-22 anos) para saber se algum deles fuma cigarro e surpreendentemente, nos últimos três anos nenhum deles fumava.

Ou estão mentindo para a pobre e esperançosa professora, ou algo de muito certo foi feito para desestimular o consumo de cigarros. Mas sendo otimista e crédula, porque isso faz bem à alma, acredito estão inseridos na tendência de queda verificada pelo Instituto Nacional de Câncer (http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/observatorio_controle_tabaco/site/home/dados_numeros/consumo_per_capita)

Essa história de sucesso poderia ser utilizada para combater drogas lícitas e ilícitas, mas para isso às vezes é preciso ser ousado e inovador (e sair do quadrilátero vicioso da procrastinação, conservadorismo, falta de planejamento e deficiência na percepção e realização do interesse público).

Partindo do princípio, devemos questionar: e se tudo o que sabemos sobre o crack realmente está errado? (http://super.abril.com.br/comportamento/crack-tudo-o-que-sabiamos-sobre-ele-estava-errado?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super)

Pensar, aprender, projetar e evitar repetir fórmulas que não funcionam.  Se eu fosse participar de alguma procissão, pediria isso aos santos.

Um comentário:

  1. http://www.huffpostbrasil.com/2017/05/22/conselho-federal-de-psicologia-chama-acao-de-doria-na-cracolandi_a_22103998/

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