O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









sábado, 19 de dezembro de 2015

Micos inesquecíveis (4)

A verdadeira superação se dá quando conseguimos lembrar sem sofrer.  E para isso, não adianta esconder, escamotear ou criar eufemismos:  é preciso enfrentar os fatos de maneira mais honesta, íntegra e completa para dar-lhes a dimensão e o significado que realmente devem ter.

Foi com essa intenção de superação que criei a série "Micos inesquecíveis", onde exponho e analiso, explico mas não justifico, atos meus que parecem incompreensíveis (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/06/micos-inesqueciveis-1.htmlhttp://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/09/micos-inesqueciveis-2.htmlhttp://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/09/micos-inesqueciveis-3.html).  Faz parte da minha personalidade ser um pouco distraída e desajeitada, e esses traços só vão se aprofundar com o passar dos anos então, em um esforço de memória, tento aprender alguma lição dessas situações constrangedoras, à moda dos pitagóricos.

No post "Lembrar Xangô" (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/11/lembrar-xango.html), e enquanto eu escrevia, lembrei que participei de uma cerimônia religiosa, sobre a qual sou profundamente ignorante, e em relação à qual não tive a benção da boa informação.  Para sintetizar, eu deveria cumprir uma função que ainda permanece um mistério para mim, e essa profunda ignorância me fez cometer atos indesculpáveis.

Além disso, a cerimônia era muito colorida, esfuziante, cheia de música e pessoas dançando, o que foi suficiente para me distrair totalmente.  De vez em quando me cutucavam para fazer alguma coisa, mas na verdade eu estava mais interessada na apreciação estética da performance maravilhosa, o que provavelmente fez de mim a pior participante da História.

No final, eu sabia que haveria distribuição de comidas afro-brasileiras, que são deliciosas e complexas, o que sempre é um bom motivo para continuar participando de qualquer evento.  Mas, o tiro de misericórdia na minha honra aconteceu quando eu vi as pessoas "estragando" pipocas, que caíam no chão e eram varridas para fora do salão.

Eu adoro pipoca,e o cheiro estava uma delícia, e o que fiz?  Acho que o que qualquer um faria:  tentei aparar o máximo de pipocas com a minha saia, e tentei convencer a pessoa que estava desperdiçando a parar com aquilo.  E fazia isso enquanto tentava pegar as pipocas no ar com a boca e com a saia.

Isso demorou uns bons minutos, até que uma boa alma me ensinou que devemos nos desapegar das pipocas porque, naquela religião, o banho de pipoca é uma forma de limpeza espiritual, e se eu ficasse retendo as pipocas e tentando comê-las antes de cair no chão, eu não teria o benefício de liberar as energias negativas.

"Tem certeza disso?", eu perguntei retoricamente, e a moça respondeu que sim, depois de dar um suspiro profundo.  É claro que depois dessa explicação, e com muita dor no coração, eu me desfiz da pipoca que havia acumulado na saia, nas mãos, um pouco na minha cadeira, com a certeza que estava fazendo isso por um bem maior.

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