Quarar roupas é um desses costumes antigos que estão se perdendo (confira outros http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/04/costumes-brasileiros-antigos-em-perigo.html).
Segundo me foi passado pela tradição (porque eu mesma nunca fiz e nunca vi), consiste em ensaboar bem as roupas com sabão de coco, e pendurá-las ao sol para "cozinhar as sujeirinhas". Dessa maneira, ao serem lavadas, as roupas ficam mais limpas e, quando brancas, ficam mais brancas.
Por que cargas d'água fui me lembrar de quarar roupas, se eu nunca fiz e nunca vi ninguém fazendo?
Porque essa semana estive refletindo sobre as profundas mudanças sociais envolvidas no simples ato de lavar roupas. Hoje em dia, quase todo mundo tem uma máquina de lavar roupas em casa, o que definitivamente está contribuindo para o desaparecimento de um dos mais icônicos ofícios tradicionais femininos na nossa sociedade: a lavadeira.
D.Edite era a lavadeira que prestava serviços para a minha mãe quando eu era pequena, antes do advento das máquinas de lavar domésticas. Era uma senhora muito idosa (na percepção dos meus seis anos), que trazia as roupas mais cheirosas que eu já vi na vida.
A roupa lavada por Dona Edite era bem limpinha, bem cheirosa, e perfeitamente dobrada, pois ela as passava com ferro a carvão (!), daqueles bem antigos, que têm uma portinhola para colocar o carvão em brasa e fica mais quente que a boca do inferno.
Ela empilhava todas as roupas perfeitamente lavadas e passadas em um trouxa, que carregava na cabeça. Eu achava (e ainda acho) que era o cúmulo do equilíbrio, pois eram grandes quantidades de roupa e elas chegavam impecáveis, apesar das probabilidades contrárias.
Para mim, o dia da visita de D.Edite era uma festa. Logo que ela chegava eu corria para pilha de roupas e me jogava em cima, para cheirá-las até passar mal. Depois, egoisticamente, pegava apenas as minhas roupas para guardar, deixando todo o resto espalhado.
Pensando bem, e agora pensando como adulta careta, acho que minha mãe e d. Edite não deviam gostar nada, nada dessa minha abordagem. Mas como ninguém nunca brigou comigo, guardo apenas as boas lembranças dessa grande lavadeira, mestra do seu ofício.
Essa profissão està ameaçada não so pelas maquinas de lavar domésticas, mas pelo fato de que as pessoas preferem roupas sintéticas que são faceis de lavar e não precisam ser repassadas no ferro.
ResponderExcluirNo q depender de mim, a memoria olfativa serà resguarda nos lençois e fronhas cheirosos e repassados. :p
O que dificulta também é que os quintais, onde ficavam pendurados os varais para pegar sol, estão desaparecendo.
ResponderExcluirComo é que alguém pode quarar roupas vivendo em um apartamento?
Tu jà ouviu falar na historia da barragem de Ilisu sobre o rio Tigre no sul da Turquia, cujo projeto durou uns dez anos pra começar a ser executado pq tinha uma galera tentando passar o reconhecimento da cidade de Hasankeyf como patrimônio historico,a fim de impedir q o tal projeto a inundasse?
ResponderExcluirDeve existir um lobby do cacete em processo de reconhecimento de patrimônio historico, esse ai é um bom exemplo. Né possivel que o reconhecimento foi negado nesse caso por ausência de interesse da cidade, é?
Falando em reconhecimento, tu sabes dizer em que pé anda aquele outro patrimonio onde querem construir estacionamento?
P.S.: Acabei de comer rucula e me lembrei de tu.... mas não tinha pizza...
Sei sim. O projeto foi aprovado pelas instâncias administrativas competentes.
ResponderExcluirA declaração de um bem como patrimônio é um ato simbólico, e esse processo de construção é eminentemente político. Então, prevalece quem tem o poder e consegue exercê-lo.
Ok, @ninja, mas a resposta que tu me deu é pra primeira ou pra segunda pergunta?
ResponderExcluirDeixa pra là...
O estacionamento.
ResponderExcluirDe Alceu para dona Edite:
ResponderExcluirNa bruma leve das paixões
Que vem de dentro
Tu vens chegando
Prá brincar no meu quintal
No teu cavalo
Peito nu, cabelo ao vento
E o sol quarando
Nossas roupas no varal...
http://www.youtube.com/watch?v=qyZsUKvN7u0
Boa, Dênis.
ResponderExcluirQualquer dia vou tentar quarar alguma roupa. A gente pega um sabão amarelo ou um sabão de coco, ensaboa bem direitinho, e deixa no sol um tempo.
Aprendi a quarar roupas com a minha sogra! O segredo é molhar periodicamente a roupa enquanto toma sol. O cheiro da roupa quarada é incrível!
ResponderExcluirMas só serve para roupas brancas.