Em outras cidades e outros tempos também vi outros poemas publicados em paredes alheias, ruas. Há alguéns que querem publicar Leminiski em todo lugar, talvez para que leitores como eu se encontrem com a poesia nas esquinas.
Embora prefira ler os poemas dele assim, deixar o acaso mostrá-los de forma inesperada, acabei me tornando possessiva e exigi um livro de presente, toda poesia. E essa é a minha rotina diária: um Leminiski ao acordar e outro antes de dormir, como se fosse um remédio para a alma.
Às vezes fico pensando como era o seu cotidiano. Imagino que não via o mundo do mesmo jeito que eu, porque tudo era pretexto para versejar. Imagino as noites insones do poeta, naquela batalha entre os versos bons e maus que virou a sua vida.
E que vida...O poeta era um caldeirão efervescente de referências, uma identidade complexa de alma imigrante polonesa diluída em ser brasileiro, e tudo isso na forma de um vaso japonês. A relação dele com a cultura japonesa é muito interessante, lutava judô e estudava o idioma, mas por que era Leminiski, acabou sendo chamado de "samurai malandro".
Depois descobri que já havia ouvido as suas letras em músicas famosas, que eu também adoro.
Além de me mostrar um jeito especial de ver a realidade, por causa de Leminiski comecei a cometer meus próprios versos que, embora não sejam lá grande coisa, são meus e são uma expressão da criatividade que eu consigo. E basta.
Leminski, sempre exato:
ResponderExcluir"Razão de ser
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece.
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?"
Hoje, Leminski me fez sorrir.
ResponderExcluirLeminski tirando o meu sono. Não consigo fichar alguns dos poemas, e isso está sendo demais para a minha obsessão suportar.
ResponderExcluir"Tudo o que eu faço
ResponderExcluiralguém em mim que eu desprezo
sempre acha o máximo.
Mal rabisco,
não dá mais para mudar nada.
Já é um clássico". (Poesia:1970).
kkkk
http://revistaogrito.ne10.uol.com.br/page/blog/2015/10/14/hqs-eroticas-de-paulo-leminski-e-alice-ruiz-sao-reunidas-em-livro-pela-primeira-vez/
ResponderExcluir"Tudo me foi dado.
ResponderExcluirNada me foi tirado.
O que um dia foi meu
nunca vai ser passado". (Winterverno)
Nunca quis ser
ResponderExcluirFreguês distinto
Pedindo isso e aquilo
Vinho tinto
Obrigado
Hasta la vista
Queria entrar
Com os dois pés
No peito dos porteiros
Dizendo pro espelho
- cala a boca
E pro relógio
- abaixo os ponteiros (sem título).
"um dia desses quero ser
ResponderExcluirum grande poeta inglês
do século passado
dizer
ó céu ó mar ó clã ó destino
lutar na Índia em 1866
e sumir num naufrágio clandestino".
"eu queria tanto
ResponderExcluirser um poeta maldito
a massa sofrendo
enquanto eu profundo medito
eu queria tanto
ser um poeta social
rosto queimado
pelo hálito das multidões
em vez
olha eu aqui
pondo sal
nesta sopa rala
que mal vai dar para dois"
Um Leminski ao acordar:
ResponderExcluir"Esse estranho hábito,
escrever obras primas,
não me veio rápido.
Custou-me rimas.
Umas, paguei caro,
liras, vidas, preços máximos.
Umas, foi fácil.
Outras, nem falo.
Me lembro duma
que desfiz a socos.
Duas, em suma,
Bati mais um pouco.
Esse estranho abuso,
adquiri, faz séculos.
Aos outros, as músicas.
Eu, senhor, sou todo ecos".
E um Leminski antes de dormir:
ResponderExcluir"Tudo é vago e muito vário,
meu destino não tem siso,
o que eu quero não tem preço,
ter um preço é necessário,
e nada disso é preciso".
Eita, Leminski:
ResponderExcluirAmar você é
coisa de minutos…
Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui"
"não discuto
ResponderExcluircom o destino
o que pintar
eu assino"
"Merda é veneno.
ResponderExcluirNo entanto, não há nada
que seja mais bonito
que uma bela cagada.
Cagam ricos, cagam padres,
cagam reis e cagam fadas.
Não há merda que se compare
à bosta da pessoa amada".
hahaha, Lemininski...
"Palpite
ResponderExcluirO graffiti é o limite". Citei esse poema de Leminski na epígrafe do artigo publicado na Revista Lusófona de Estudos Culturais sobre grafite em imóveis tombados: https://rlec.pt/article/view/2125/2675