Em 17 de junho de 2015, na cidade norteamericana de Charleston, no Estado da Carolina do Sul, o atirador Dylan Roof invadiu uma igreja e matou nove pessoas (para conhecer as vítimas: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/06/vitimas-de-atentado-igreja-de-charleston-tinham-entre-26-e-87-anos.html). A motivação é política (racismo) e o alvo eram pessoas negras.
O racismo é um tema que não sai da pauta dos norte-americanos, porque cotidianamente são produzidos fatos e versões que mostram a sua atualidade: hoje uma pessoa é morta porque negra, anteontem é preso por ser hispânico, juntamente com uma atuação seletiva da polícia e a ausência de políticas transformativas, embora sobrem ações afirmativas.
Nessa semana a questão ganhou um novo capítulo, que foi a ressignificação da bandeira confederada, agora transformada em símbolo racista. É certo que a bandeira identificava e representava os Estados da Confederação que discordavam da abolição da escravidão, e também da adoção da forma de Estado Federativo, que acabaram prevalecendo com a vitória da União "Norte".
Mas também é fato que a bandeira confederada assumiu outros valores e significados desde a Guerra da Secessão. Ela havia deixado de ser um símbolo da defesa da escravidão e era utilizada para marcar a identidade sulista, assim como no Brasil, na cidade de Santa Bárbara do Oeste, é utilizada para celebrar a ascendência norte-americana, com aparente abstração dos aspectos políticos (cf. http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/06/150622_bandeira_confederada_sp_mdb).
Em torno da bandeira, assistimos a uma verdadeira batalha pela marca, uma batalha de significado. Após o atentado de Charleston, em que serviu de pano de fundo, tornou-se um símbolo do ódio racial, tal como ocorreu com a suástica nazista, e por isso vem merecendo o tratamento expurgatório idêntico.
Expurgar símbolos é uma medida relativamente eficiente no curto e médio prazos, e tem um caráter igualmente simbólico de enfrentamento. Porém, se não for acompanhada de uma política pública de combate às condições sócio, econômico e históricas que perpetuam a ideologia simbolizada, nada vai mudar.
A Alemanha lidou com o passado nazista, através de uma política pública da memória. O Brasil nunca lidou com a sua memória autoritária, da escravidão, da violência estatal, social e generalizada, salvo recentes e pontuais iniciativas, o que resulta na manutenção das estruturas que geram tais problemas.
Vamos observar como os norteamericanos vão enfrentar esse conflito simbólico. Será que a Guerra da Secessão deixou traumas coletivos latentes até hoje? Os derrotados ainda se ressentem? Esse ressentimento foi repassado através das gerações? Ou será que o racismo do atirador independe de símbolos?
E o modelo de bandeira em questão nem era o "oficial" dos confederados.
ResponderExcluirOs sulistas se orgulham de seus valores, como a hospitalidade, e uma certa nobreza de origem aristocrática. Orgulham-se também do sotaque e do modo de viver.
ResponderExcluir