O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









domingo, 11 de junho de 2017

Memória Poética - Quanto vale o show? - Mano Brown

"A primeira coisa que aprendi a fazer na minha vida foi isso aqui, ó!
Ráááá! É isso!
Só eu sei os desertos que cruzei até aqui
Pode pá, tá lançada a sorte

83 era legal, sétima série, eu tinha 13 e pá e tal
Tudo era novo em um tempo brutal
O auge era o Natal, beijava a boca das minas
Nas favelas de cima tinha um som e um clima bom
O kit era o Faroait
O quente era o Patchouli
O pica era o Djavan
O hit era o Billie Jean
Do rock ao black as mais tops
Nos dias de mais sorte ouvia no Soul Pop
Moleque magro e fraco, invisível na esquina
Planejava a chacina na minha mente doente, hey!
Sem pai, nem parente, nem, sozinho entre as feras
Os malandro que era na miséria fizeram mal
Meu primo resolve ter revólver
Em volta outras revoltas, envolve-se fácil
Era guerra com a favela de baixo
Sem livro nem lápis e o Brasil em colapso

"Quanto vale...
Quanto vale...
Quanto vale..."
Quanto vale o show?

Já em 86 subi aos 16 ao time principal
Via em São Paulo, tava mil grau já, favela pra carai, fi
Bar em bar, baile em baile, degrau pós degrau, ia
Quanto baixo eu pude ir, pobre muito mal
O preto vê mil chances de morrer, morô?
Com roupas ou tênis sim, por que não?
Pra muitos uns Artemis, benzina ou optalidon
Tudo pela preza, irmão
Olha pra mim e diga: Vale quanto pesa ou não?

"Quanto vale...
Quanto vale...
Quanto vale..."
Quanto vale o show?

A César o que é de César
Primeira impressão: Os muleque tinha pressa, mano
Que funk louco, que onda é essa, mano?
E assim meus parceirin virou ladrão
É que malandro é malandro memo e várias fita
Era Bezerra o que tava tendo, Malandro Rife
Outros papo, outras gírias mais, outras grifes
Cristian Dior, Samira, Le Coq Sportif
G-Shock eu tive sim, calça com pizza eu fiz
Brasil é osso, a ideia fixa eu tinha
Porque pardin igual eu assim era um monte, uma pá
Fui garimpar, cruzei a ponte pra lá
Ei, zica
Isso significa que era naquele pique, tocando repique de mão, jow
No auge da Chic Show, nos traje
Kurtis Blow era o cara, curtição da massa
Era luxo, só viver pra dançar, fui ver Sandra Sá
Whodini eu curti
A vitrine Pierre Cardin, Gucci, Fiorucci, Yves Saint Laurent, 
Indigo Blue
Corpo negro semi-nu encontrado no lixão em São Paulo
A última a abolir a escravidão
Dezembro sangrento, Sp, mundo cão promete
Nuvens e valas, chuvas de balas em 87
Quanto vale?
Quanto vale o show?"

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Memórias de um tempo e de um modo de viver.

2 comentários:

  1. Para ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=ubf9R7NWOWE

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  2. Somos contemporâneos mas as minhas memórias são diferentes das de Mano Brown, porque nascemos em classes sociais diversas, mais do que em cidades distintas. A maioria das cidades brasileiras reproduz, com maior ou menor intensidade a violência retratada na letra transcrita. O que compartilhamos de verdade são as referências: música, os produtos de consumo quase obrigatório que eram moda e, é claro, aquela sensação de desgoverno.

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