Há um ditado que diz: "os homens se parecem mais com o seu tempo do que com os seus pais", e isso é bem verdade. Outro não é o motivo para o choque entre gerações, a rebeldia adolescente (que envolve aspectos hormonais e de identidade), e aquela sensação de que pertencemos a uma época.
Por mais de uma vez, já me peguei falando que "no meu tempo" as coisas eram melhores e diferentes. Definitivamente, estou me tornado obsoleta de forma intencional, porque me recuso a acompanhar todas as novas tecnologias e modismos que surgem.
É claro que eu aceito algumas inovações. Eu até escrevo em um blog, pelo amor de Deus. Mas há um limite para mim: não tenho Twitter, não uso Instagram, só recentemente vi um tablet, e poderia ter passado o resto da vida sem vê-lo. Uso o facebook para reencontrar os amigos e marcar encontros no mundo físico, compartilhar e discutir temas para a vida coletiva, e só.
Mas esse nosso tempo não é assim. É o tempo da exacerbação do individualismo e da necessidade de exposição. Foi criada uma necessidade de informar sobre aspectos da vida privada, ao ponto que as pessoas discutem as suas relações íntimas em público, através das redes sociais. E isso tudo é acompanhado de imagens.
Sem dúvida é tempo da chamada "Sociedade da Informação", o que não significa necessariamente um ganho para as relações humanas e a memória individual e coletiva. Pelo contrário, o excesso de informação e a espécie de suporte (virtual) pode prejudicar, e muito, a memória desse nosso tempo.
É também um tempo assustadoramente conservador e autoritário. A pressão social do grupo para moldar comportamentos - heteronomia - antigamente era reservada aos aspectos mais públicos da convivência, mas dada a crescente exposição da intimidade, agora atinge até aspectos que deveriam ser socialmente irrelevantes. É claro que também há pontos positivos, e as redes sociais permitem fortalecer os laços de coesão social e a discussão de temas políticos (não político-partidários note-se) importantes para nossa vida.
O meu tempo e o meu lugar têm seus mandamentos:
- Seja magro, de qualquer jeito;
- Seja "bonito", a qualquer custo. Beleza física, em meu tempo, é literalmente uma forma de reconstrução do corpo. Fico curiosa, e gostaria de estar lá para ver, os arqueólogos do futuro distante analisando os enterramentos desse nosso tempo, e encontrando todas as próteses de silicone espalhadas pelos esqueletos.
- Seja feliz, ou pelos menos aparente ser.
- Seja rico, e isso significa ostentar bens ou um estilo de vida glamouroso, ainda que à custa de endividamento. Muito endividados, os "ricos" na verdade são pobres, porque o seu estilo de vida exige o consumo de muitos bens e, como diria o filósofo e Presidente José Mujica, "pobre é quem precisa de muito".
- Compartilhe aspectos da sua vida privada. (Será que no Brasil as redes sociais fazem tanto sucesso porque na dicotomia público-privado percebemos melhor o segundo aspecto?).
- Cuide do meio ambiente, desde que não atrapalhe o seu estilo de vida e de consumo;
- Aproveite para consumir o planeta, porque o fim está próximo e a Terra tornar-se-á um lugar muito quente. Nesse nosso tempo, chegamos ao fim das profecias mais antigas (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012_12_01_archive.html), e o mundo, no fim das contas, não acabou em dezembro de 2012. É o tempo em que os cientistas tornaram-se profetas.
É um tempo peculiar, mas também bem parecido com os outros porque a Humanidade continua fazendo o que sempre fez. Não chegamos à paz perpétua, e parece que não será no meu tempo que isso acontecerá.
O meu tempo não é brinquedo não. Tempos difíceis.
ResponderExcluirO meu tempo é o da pandemia, que nome terrível. Tempos difíceis.
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