Ontem me deparei com uma reportagem interessante sobre o Butão, um intrigante Estado que cultiva a felicidade, e o segredo do seu sucesso: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/05/150504_vert_tra_butao_felicidade_ml?ocid=socialflow_facebook.
Segundo a análise do autor da reportagem, os butaneses são felizes porque pensam na morte até cinco vezes por dia. Afirma-se que as sociedades ocidentais estão doentes de ansiedade, depressão e pânico porque houve um incompreensível distanciamento da morte.
Concordo parcialmente. A morte coloca a vida em perspectiva e nos permite valorizar o que realmente é importante. Mas na nossa sociedade os velórios estão cada vez mais rápidos (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/03/beber-o-morto.html), os cemitérios estão cada dia mais provisórios (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/08/cemiterio-lugar-de-memoria.html), e a aproximação com a morte é feita com temor e indiretamente, como se tivéssemos medo de contemplar a natureza.
Em uma sociedade violenta como é a nossa, onde os números dos homicídios e acidentes de trânsitos superam quaisquer guerras (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/04/dever-de-memoria-homicidios-no-brasil.html) é surpreendente que a morte seja quase invisível (ou será que é a vida?), e que as tentativas de enganá-la resultem em uma infrutífera busca pela fonte da juventude aparente.
Os rituais funerários poderiam ser utilizados para dar significado à vida, assim como servem para organizar o futuro dos mortos. É claro que algumas crenças também facilitam esse processo, especialmente se há reencarnação, ou um lugar como o paraíso como destino.
Eu, particularmente, acredito que "imortalidade" é a memória exercitada. Sobrevivemos na memória dos vivos, enquanto formos lembrados.
Mas é claro que não basta a consciência da fugacidade da vida para ser feliz, ainda que o "memento mori" seja útil e eticamente fundante. Atender as necessidades do corpo e da alma também são pré-requisitos para a felicidade, ainda que fortemente condicionadas ou limitadas pela idéia da morte, perante a qual alguns desejos são inúteis.
Enfim, pensar na morte é na verdade pensar na própria vida, e em que medida ela faz e tem sentido. Então, concluo com um provérbio que a internet afirma ser aborígene, mas se não for vale porque é belo e sábio: "somos todos visitantes deste tempo, deste lugar, Estamos só de passagem. O nosso objetivo é observar, crescer e amar. E depois vamos para casa".
O Butão, sempre o Butão: http://www.hypeness.com.br/2015/01/butao-vai-ser-o-primeiro-pais-do-mundo-a-somente-permitir-agricultura-organica/
ResponderExcluir