Há dois dias, refletimos sobre a Paixão de Cristo, esse dia memorial feriado para lembrar uma pessoa assassinada.
A cruz é o símbolo do Cristianismo porque lembra onde Jesus sofreu por nós. A sua morte é fundante da fé cristã.
Refleti bastante sobre o significado memorial das pessoas assassinadas desde então. Lembrar delas é um dever de memória, como já destacado no post http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/04/dever-de-memoria-homicidios-no-brasil.html.
Mas toda memória começa em uma decisão de "como" vamos lembrar certos fatos. Dar-lhes o nome e o significado adequados é um começo importante e determinante para a formação da lembrança e do que vamos fazer com ela.
Sempre que leio documentos e artigos sobre homicídios no Brasil fico profundamente incomodada com algumas estatísticas. Não é porque transformam vidas em números, pois isso é um instrumento necessário de gestão.
O que me incomoda é a falácia da "redução da taxa de homicídios".
Para fins de argumento, vamos transformar vidas em números: digamos que em janeiro de 2018 foram assassinadas 10 pessoas, e em janeiro de 2019 "apenas" 2. A estatística otimista poderá, baseando-se na comparação, dizer festivamente que houve uma redução de 80% do número de homicídios.
Não. Agora são doze pessoas assassinadas em janeiro, mais pessoas morreram.
Não discuto que esse tipo de análise é importante para o planejamento das políticas públicas, discuto é o significado disso porque o que a memória coletiva fixará é que os homicídios estão diminuindo no Brasil, e isso tem impacto em como vamos nos comportar diante desses fatos.
O dever de memória não se exaure em lembrar de quem morreu, mas quem foi o responsável, quem agiu ou foi omisso, saber quais foram as causas e sanar as consequências, e adotar medidas para que, se possível, tais fatos não voltem a ocorrer.
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