O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









sábado, 26 de junho de 2021

Impressões da pandemia (vol 11): a chamada de aula

Eu sou professora e para mim a chamada é uma obrigação de verificar quantos e quais alunos estão comparecendo às aulas, com o objetivo de controlar as presenças e eventualmente reprovar por faltas, o que é uma forma de garantir o bom emprego de recursos públicos da Educação mas também uma forma de conhecer os meus alunos.

Por questões pessoais, e porque me dedico ao estudo da memória e sei da sua importância para a individualidade, eu sei o nome de todos os meus alunos e as características que deixam transparecer no pouco tempo que estamos juntos (cf. https://direitoamemoria.blogspot.com/2013/07/lembrar-simonides-de-ceos.html).  Ultimamente não tenho tido a oportunidade de agregar as fisionomias nas minhas lembranças em razão das aulas remotas.

Nesses tempos de pandemia o que para mim era um momento normal e administrativo das aulas tornou-se fonte de preocupação e tristeza.  Quando percebo que uma pessoa não está comparecendo, isso tem um significado completamente diferente: se antes ocorria por razões e escolhas pessoais, hoje temo que tenha a ver com com a Covid-19.

Alunos meus desapareceram porque faleceram, estão doentes ou estão enfrentando a perda de um ente querido.  Então quando eu percebo que alguém não está comparecendo imediatamente meu coração fica apertado e eu procuro saber o que está acontecendo.

Essa é uma sensação terrível que se renova a cada aula, e com certeza vai se enraizar em minha memória e no meu comportamento mesmo depois que a pandemia passar e for esquecida.  Eu sempre agradeço a presença de todos e, acreditem, realmente fico feliz quando vejo que as pessoas estão do outro lado.

A  presença e a chamada que a verifica têm agora um significado totalmente diferente para mim.


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