Eu sou professora e para mim a chamada é uma obrigação de verificar quantos e quais alunos estão comparecendo às aulas, com o objetivo de controlar as presenças e eventualmente reprovar por faltas, o que é uma forma de garantir o bom emprego de recursos públicos da Educação mas também uma forma de conhecer os meus alunos.
Por questões pessoais, e porque me dedico ao estudo da memória e sei da sua importância para a individualidade, eu sei o nome de todos os meus alunos e as características que deixam transparecer no pouco tempo que estamos juntos (cf. https://direitoamemoria.blogspot.com/2013/07/lembrar-simonides-de-ceos.html). Ultimamente não tenho tido a oportunidade de agregar as fisionomias nas minhas lembranças em razão das aulas remotas.
Nesses tempos de pandemia o que para mim era um momento normal e administrativo das aulas tornou-se fonte de preocupação e tristeza. Quando percebo que uma pessoa não está comparecendo, isso tem um significado completamente diferente: se antes ocorria por razões e escolhas pessoais, hoje temo que tenha a ver com com a Covid-19.
Alunos meus desapareceram porque faleceram, estão doentes ou estão enfrentando a perda de um ente querido. Então quando eu percebo que alguém não está comparecendo imediatamente meu coração fica apertado e eu procuro saber o que está acontecendo.
Essa é uma sensação terrível que se renova a cada aula, e com certeza vai se enraizar em minha memória e no meu comportamento mesmo depois que a pandemia passar e for esquecida. Eu sempre agradeço a presença de todos e, acreditem, realmente fico feliz quando vejo que as pessoas estão do outro lado.
A presença e a chamada que a verifica têm agora um significado totalmente diferente para mim.
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