Na série "conhece-te a ti mesmo, Brasil", tentamos refletir sobre algumas características do povo brasileiro, que integram o seu modo de ser e/ou de viver. Em dois posts anteriores discutimos a "vontade de ganhar" (ou de levar vantagem, que é uma consequência) e a impontualidade, respectivamente: cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/11/conhece-te-ti-mesmo-brasil-1.html e http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/01/conhece-te-ti-mesmo-brasil-2.html.
Já vi muitos escritos destacando a "alegria" do povo brasileiro, mas nunca entendi muito bem o que isso significa. Provavelmente quem fala disso pensa nas manifestações culturais coloridas e movidas a álcool (sim, a cachaça é patrimônio também), deixando de lado aquelas que são solenes e sóbrias.
Refleti um pouco sobre essa questão. Alguns povos têm até uma palavra para designar esse apetite pela vida em geral, não apenas em festas: por exemplo, os gregos identificam um "kefi", os franceses falam em "joie de vivre", os americanos utilizam a palavra "mojo", por exemplo.
Trata-se de um espírito, ou de uma virtude, não sei dizer.
Entre nós parece que a expressão "alegria de viver" resulta mais de uma tradução do que propriamente de uma característica observada. Não há, ou não observei, um apelo ao cultivo desse espírito como característica identitária.
Alguns podem dizer que eu não percebo porque perdi o meu kefi, já que renunciei ao carnaval, por exemplo. É bem possível, especialmente se a percepção se basear em uma questão de "inteligibilidade".
Ou talvez nós precisemos que os "outros" reconheçam em nós os traços identitários. E os "outros" geralmente dizem que o povo brasileiro é alegre.
Uma coisa é absolutamente verdade: se houver alguma batida ritmada, o brasileiro vai se remexer. O desejo de dançar parece que é, sim, uma característica identitária.
Por fim, é uma grande falácia a generalização de adjetivos. Da mesma maneira que não se pode dizer que "todos os homens são safados", ainda que essa carapuça possa ser aplicada em diversas situações, também não se pode dizer que o brasileiro é "alegre", ou que a "alegria do brasileiro" é uma característica identitária.
Eu acho que pode!
ResponderExcluirPor favor, não cometam o erro de pensar que todo brasileiro sabe sambar. Quando eu digo "se remexer" pode ser alguma coisa totalmente sem coordenação e sem sentido.
ResponderExcluirHoje estava lembrando e refletindo que essa questão da "alegria de viver" também pode ser uma espécie de defesa. Não sei se outros povos fazem isso, mas os brasileiros costumam fazer piadas sobre tragédias. Quase que imediatamente ao acontecimento de uma tragédia, as piadas começam a surgir e as pessoas começam a se divertir com o fato, de uma maneira para mim incompreensível.
ResponderExcluirPara ver algumas delas, basta colocar no buscador a frase "piadas sobre tragédias".
Não foi necessariamente uma tragédia, mas quando alguém confundiu a bandeira do Japão com uma bandeira co-mu-nis-ta, que estava em uma homenagem do Congresso Nacional ao centenário da Imigração japonesa, as piadas começaram a surgir espontaneamente. Cf: http://www.brasilpost.com.br/2016/11/17/manifestante-confunde-comunista-bandeira-japao_n_13042982.html?ncid=engmodushpmg00000003
ResponderExcluirhttps://exame.abril.com.br/marketing/homofobicos-confundem-arco-iris-pink-floyd-bandeira-lgbt/
ExcluirAlegria de viver é poder desfrutar da cidade, das pessoas, da Natureza em paz. Poder desenvolver as próprias capacidades e construir de forma livre a nossa personalidade. Não lutar demasiadamente para suprir necessidades materiais básicas, e suprir as imateriais de forma livre.
ResponderExcluirSe um povo não tem essas condições, então não há alegria de viver.
ResponderExcluirA ignorância pode até ser uma bênção, mas certamente não é uma virtude.
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