O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









quinta-feira, 12 de maio de 2011

Elegia da lembrança impossível - Jorge Luis Borges

Esta poesia é dedicada a todos aqueles que sentem uma falta crônica do que não tiveram, não viveram e não sentiram:

"O que não daria eu pela memória
De uma rua de terra com baixos taipais
E de um alto ginete enchendo a alba
(Com o poncho grande e coçado)
Num dos dias da planície,
Num dia sem data.

O que não daria eu pela memória
Da minha mãe a olhar a manhã
Na fazenda de Santa Irene,
Sem saber que o seu nome ia ser Borges.

O que não daria eu pela memória
De ter lutado em Cepeda
E de ter visto Estanislao del Campo
Saudando a primeira bala
Com a alegria da coragem.

O que não daria eu pela memória
Dos barcos de Hengisto,
Zarpando do areal da Dinamarca
Para devastar uma ilha
Que ainda não era a Inglaterra.

O que não daria eu pela memória
(Tive-a e já a perdi)
De uma tela de ouro de Turner,
Tão vasta como a música.

O que não daria eu pela memória
De ter sido um ouvinte daquele Sócrates
Que, na tarde da cicuta,
Examinou serenamente o problema
Da imortalidade,
Alternando os mitos e as razões
Enquanto a morte azul ia subindo
Dos seus pés já tão frios.

O que não daria eu pela memória
De que tu me dissesses que me amavas
E de não ter dormido até à aurora,
Dissoluto e feliz".

__________________

O que não daria eu para saber escrever assim...

2 comentários:

  1. Convencidos de caducidad
    por tantas nobles certidumbres del polvo,
    nos demoramos y bajamos la voz
    entre las lentas filas de panteones,
    cuya retórica de sombra y de mármol
    promete o prefigura la deseable
    dignidad de haber muerto.
    Bellos son los sepulcros,
    el desnudo latín y las trabadas fechas fatales,
    la conjunción del mármol y de la flor
    y las plazuelas con frescura de patio
    y los muchos ayeres de a historia
    hoy detenida y única.
    Equivocamos esa paz con la muerte
    y creemos anhelar nuestro fin
    y anhelamos el sueño y la indiferencia.
    Vibrante en las espadas y en la pasión
    y dormida en la hiedra,
    sólo la vida existe.
    El espacio y el tiempo son normas suyas,
    son instrumentos mágicos del alma,
    y cuando ésta se apague,
    se apagarán con ella el espacio, el tiempo y la muerte,
    como al cesar la luz
    caduca el simulacro de los espejos
    que ya la tarde fue apagando.
    Sombra benigna de los árboles,
    viento con pájaros que sobre las ramas ondea,
    alma que se dispersa entre otras almas,
    fuera un milagro que alguna vez dejaran de ser,
    milagro incomprensible,
    aunque su imaginaria repetición
    infame con horror nuestros días.
    Estas cosas pensé en la Recoleta,
    en el lugar de mi ceniza. (La Recoleta)

    ResponderExcluir