O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









domingo, 9 de fevereiro de 2025

Feliz 9 de frevereiro

9 de fevereiro é o marco mítico celebrativo do nascimento do frevo, bem imaterial registrado do Brasil e inscrito na Lista do Patrimônio Imaterial da Humanidade da UNESCO.  Para conhecer um pouco confira o  vídeo institucional da candidatura: https://www.youtube.com/watch?v=dOjtXpl77_E

Mas para conhecer de verdade essa forma de expressão  tão linda e complexa, que nos envolve em uma música distinta e uma dança (passo) magnífica, com vestimentas e adereços tão peculiares (https://direitoamemoria.blogspot.com/2019/03/sombrinha.html), você tem que aprender a dançar, e dançar no meio do povo durante um carnaval em Pernambuco, Brasil.

É uma experiência que marca com fogo alto a memória, que faz parte da  minha vida e da minha identidade, como expliquei no post: http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/07/o-primeiro-frevo-gente-nunca-esquece.html

Por isso, não chamamos a data de hoje de 9 de fevereiro.

É 9 DE FREVEREIRO!

Viva o Frevo!


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

6 de fevereiro de 2025 - 80 anos do nascimento de Bob Marley

Hoje, dia 6 de fevereiro, há oitenta anos nascia o senhor Robert Nesta Marley.

E nascia também uma maneira linda de cantar e contar um povo, que ressoa em comunidades diferentes da sua, mas que compartilham das dores e alegrias comuns à humanidade. E por isso o reggae é patrimônio imaterial dessa Humanidade.

Dores e alegrias de um povo pobre, que sofre, e que apesar de tudo e só por sermos humanos, canta e dança.

Lembrar Bob Marley (https://direitoamemoria.blogspot.com/2013/05/lembrar-bob-marley.html), e desejar feliz aniversário, celebrando a sua memória e a sua vida.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Direito à memória dos mortos: a veracidade e a integridade do passado de Rubens Paiva

Ontem, dia 23/01/2025, o atestado de óbito de Rubens Paiva foi retificado para constar como causa mortis a ação violenta do Estado Brasileiro: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2025/01/23/certidao-de-obito-de-rubens-paiva-e-corrigida-em-sp-documento-informa-que-morte-foi-violenta-e-causada-pelo-estado-brasileiro.ghtml

Os familiares dos mortos e desaparecidos no Brasil, especialmente das vítimas do período da última ditadura militar (1961-1988), lutam há décadas para recompor a sua dignidade.  Muitas foram as trajetórias para conseguir o reconhecimento, finalmente, do que os agentes públicos, ou ao seu mando, perpetraram em nome do Estado Brasileiro: alguns ajuizaram ações declaratórias para que o Estado reconheça o status de ausente/falecido; ajuizaram-se ações para retificar atestados de óbito, e outras para responsabilizar esses agentes.

É o caso da família de Vladimir Herzog (https://direitoamemoria.blogspot.com/2012/03/vladmir-herzog-oea-notifica-o-estado.html), João Batista Drumond (https://direitoamemoria.blogspot.com/2012/04/direito-memoria-dos-mortos-veracidade-e.html) e  José Jobim (https://direitoamemoria.blogspot.com/2018/09/direito-memoria-dos-mortos-veracidade-e.html).  Muitas décadas de angústia processual sem obter, de maneira clara e verdadeira, uma justificativa para o destino dos seus entes queridos.

A Comissão da Verdade, cujos resultados ainda estamos estudando, teve um importante papel em abreviar esse procedimento de reconhecer os desaparecidos, e expor as circunstâncias dos desaparecimentos e prisões ilegais, e desde então houve uma mudança gradual, mas notável, na maneira como o Poder Judiciário trata da questão. O Poder Executivo também lançou iniciativas reparatórias que, por questões político-partidárias, tem idas e vindas, avanços e retrocessos.

Dependendo do governo eleito a perspectiva sobre essas vítimas e familiares muda. Às vezes são tratados com respeito, às vezes com um inacreditável desprezo e até ódio, mas agora não mais invisíveis. E a despeito das visões de mundo, os fatos ainda estão aqui.

É difícil ignorar e tornar invisível quando um relato aparece em formato grande.  E esse é o caso do filme "Ainda estou aqui" que narra a vida da Sra. Eunice Paiva e de sua família em sua busca pelo destino do esposo, Rubens Paiva.

Na semana em que o atestado de óbito foi retificado, o filme foi indicado ao Oscar.  A ditadura que causou tudo isso não é passado, e os seus efeitos traumáticos também ainda estão aqui.



quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

8 de janeiro de 2025 - dever de memória

 A missão deste blog é lembrar e mostrar a importância da memória individual e coletiva, bem como os direitos e os deveres que a ela correspondem.

Nesta data - 8 de janeiro - há dois anos, assistimos à violação física e simbólica dos Poderes da República Federativa do Brasil. Cidadãos comuns, como eu e você, radicalizados por uma falsa polarização política, que abraçaram uma ideologia violenta na ação e no discurso, e acabaram atentando contra a institucionalidade do Estado Brasileiro e contra a democracia.

O desejo era destruir material e imaterialmente as bases da nossa organização política que, claro, não é perfeita mas é o fruto do aperfeiçoamento do nosso modo de fazer e de viver ao longo de gerações.

O amadurecimento político e institucional não vem com rupturas, mas com o permanente e sistemático aperfeiçoamento. A disciplina de evoluir contraria a ideia de romper, de esquecer e de passar a borracha.

Rupturas são a tradição política brasileira, assim como o desejo por anistia daqueles que participaram dos eventos. Isso já aconteceu dezenas de vezes na nossa história política.

Só para fazer um resumo rápido, e para que fique bem entendido para os meus alunos e para aqueles com quem eu nunca tive a honra de dialogar em sala de aula, percebam:

- O Brasil nasceu de um golpe.  A nossa independência foi proclamada pelo herdeiro do trono português, que aqui ocupou as funções quando do retorno da Corte a Portugal. O Fico - quando ele disse à gente que ficava - foi um ato de desobediência e ruptura.

- O Brasil mudou de forma de governo - de monarquia para República - por meio de um golpe em 1889. No caso um golpe militar que nos levou a uma República Presidencialista, e também alterou a forma de Estado (de unitário para federação).

- O Brasil mudou de regime político na década de 1930 (1937-1945) por um golpe, que instalou a ditadura Vargas.

- Após a redemocratização desse período, o Brasil novamente mudou de sistema de governo e regime político no período de 1961 a 1988.  O sistema presidencialista que é tradicional desde 1889 passou a parlamentarista em 1961, e esse período de conturbação política levou à mudança de regime (de democracia para ditadura) em 1964.

- A nova redemocratização ocorreu a partir da década de 1980, culminando com a volta do regime democrático, e uma certa confusão entre o presidencialismo e o semiparlamentarismo, que borrou de forma estranha os limites de atuação entre os poderes Executivo e Legislativo.

Cada ruptura exigiu uma nova Constituição, que nos permite registrar e rastrear os fatores que historicamente nos levam a essas convulsões. As sequelas dessas rupturas são permanentes, como  assistimos agora nessa forma estranha de orçamentação que leva à discussão sobre emendas parlamentares e ao esvaziamento das funções de execução do Poder Executivo.

Nessa breve síntese já deu para perceber que o Brasil transitou por todos os modelos contemporâneos de forma de Estado, de governo, de sistema de governo e de regime político.  O início e o fim da instalação dessas tentativas são marcados por rupturas e, de fato, não houve tempo suficiente para amadurecer quaisquer modelos institucionais.

A novidade na nossa trajetória é exatamente a Constituição de 1988 e sua permanência por mais de uma geração. Talvez essa permanência tenha ajudado a criar os anticorpos que evitaram uma nova ruptura institucional tentada em 8 de janeiro de 2023.

Eu estava trabalhando quando a culminância do processo de golpe de Estado de 2022-2023 aconteceu. Assisti pela televisão enquanto continuava trabalhando, e essa ausência de ruptura da normalidade me tranquilizou porque ficou claro que um golpe no século XXI seria diferente dos golpes anteriores.

 A invasão e a depredação da sede dos Poderes da República foi a culminância de diversos atos prévios e outros preparatórios que levaram a essa tentativa  de tomada hostil do poder. Os cidadãos que participaram desse evento do 8 de janeiro de 2023 estavam conscientes de desempenhar um papel histórico, embora o enredo escrito tenha sido bem diferente daquele por eles sonhado.

E o desejo por anistia é tradição também por aqui, pois a concessão de anistias abusivas integra o conjunto das práticas que levam ao esquecimento.

A lição que fica é que rupturas políticas agora são mais imateriais e graduais. Elas agem como um cupim corroendo a institucionalidade, às vezes invisível superficialmente, mas de efeitos devastadores quando a estrutura desaba.

É preciso estar atento aos cupins institucionais e lembrar, a cada 8 de janeiro, o que deverá ser feito para evitar novas rupturas.  As mudanças são bem vindas, quando controladas e contextualizadas, e isso só a memória permite.

_______

Para ler outras reflexões sobre o 8 de janeiro no blog:

https://direitoamemoria.blogspot.com/2023/08/lembrar-o-8-de-janeiro-batalha-pela-data.html

https://direitoamemoria.blogspot.com/2024/01/8-de-janeiro-de-2024.html

https://direitoamemoria.blogspot.com/2023/09/8-de-janeiro-primeiras-condenacoes.html

https://direitoamemoria.blogspot.com/2024/01/comemoracao-do-8-de-janeiro-ato.html


Para aprofundar a leitura sobre essa questão da ruptura, sugiro a leitura de um trabalho que eu e Dra. Denise Teixeira publicamos sobre o Brésil: https://www.persee.fr/doc/aijc_0995-3817_2023_num_38_2022_3076

Recomendo também a leitura do livro Nação Enraizada, que publiquei em 2024.  Não é por ser meu, e por eu concordar com tudo que está escrito ali, mas pela abordagem cultural desses processos políticos, que ajuda a entender de uma forma diferente.

_______

Antes que eu me esqueça: sim, esse assunto vai cair na prova. Para o resto da vida.

domingo, 5 de janeiro de 2025

10 coisas para fazer em 2025

1 - Parar de assistir aos vídeos sobre como organizar a casa, e começar a organizar a casa.

2 - Aprender alguma coisa bem específica, absurda e desconhecida.  Aceito sugestões bizarras, desde que bem fundamentadas e dentro da legalidade.

3- Em 2025 vou finalizar alguns artigos pendentes, mas sem nenhuma pressa de publicar.

4- Mais praia;

5- Mais treino;

6- Mais silêncio;

7- Mais caminhadas e mais longas.

8- Continuar fazendo o que funciona e faz-me feliz, cuidando dos meus afetos.

9- Menos pressa, menos um monte de coisa, para ter mais praia, mais treino, mais silêncio e mais caminhadas longas.

10- Vou ser vegetariana de novo, lembrando os tempos de pandemia.

2025 vai ser muito interessante e vai ficar na memória.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Água de janeiro

As certezas e os mistérios da cultura brasileira apontam que dar água da primeira chuva de janeiro ajuda os bebezinhos a falar.

Tal prática, de reconhecida e indiscutida eficácia, não é isenta de efeitos colaterais.  Além de destravar a fala das criancinhas, pode exacerbar essa habilidade naquelas que, embora não precisassem, inadvertidamente tomaram e ficam a falar descontroladamente.

Os tagarelas certamente tomaram água de janeiro sem precisar, e não se conformam em apenas falar, mas agora expressam-se nas redes sociais por palavras e figurinhas, ainda que não solicitadas.

Água de janeiro é um perigo e deve ser bebida com moderação.