O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Memória, direito à memória e saudade

O vocábulo saudade decorre de “soedade”, um lugar ermo e isolado, ou distante, que pelo seu isolamento causa sentimentos como a ausência, abandono, falta, carência, que geralmente levam à tristeza, mas que para outras pessoas é desejável e bom ( NASCIMENTO; MENANDRO, 2007).

Já “nostalgia” foi um termo criado em 1688 pelo médico suíço Johannes Hoffer para designar uma doença que atingia os soldados suíços em serviço no exército francês, caracterizada por febre, vômito e falta de apetite, formada pelas palavras gregas “nostos” (retorno) e “algos” (dor), ou seja, dor pela impossibilidade do retorno. Depois passa a ser considerada uma doença da alma, causada pelo excesso de identificação com as coisas do passado e/ou pela insatisfação com o presente (ROSSI, 2007).

Essa doença é também conhecida no Brasil como “banzo”, nostalgia que acometia os escravos africanos, capaz de causar-lhes a morte. Na minha região não faltam relatos de escravos que se abandonavam ao banzo junto aos baobás, tão deprimidos que acabavam falecendo.

Exercer o direito à memória não se trata de cultivar o sentimento nostálgico,
essa sensação de perda pela impossibilidade de retornar capaz de adoecer o corpo e alma , porque a memória assim exercitada acaba por se tornar um esquema repetitivo e engessado, uma mera reprodução das coisas passadas.

Não se trata também de fazer um culto à saudade , em que a recordação é afetiva e idealizada, permeada pelo sentimento de ausência.Tanto a saudade como a nostalgia consideram o passado como algo fixo, quando na verdade, deve ser continuamente revisto e adaptado para que não perca o seu significado, por isso o direito à memória deve ser o impulso permanente à pesquisa, à busca pelo conhecimento, a revisão e a projeção do passado, enfim, deve manifestar-se como um ato construtivo de recordar.

Mas a memória individual tem, sim, estreita relação com a saudade. Depois do Natal fiquei especialmente saudosa dos meus afetos que, por quaisquer motivos, já não estão mais junto a mim: meus avós e tios falecidos, minha professora de piano; amigos queridos, amigos que estão distantes.

A saudade é uma boa maneira de lembrar, "é a presença dos ausentes", como diria o poeta. Então, vamos lembrar, ainda que seja com saudades.

Referências

NASCIMENTO, Adriano Roberto Afonso do; MENANDRO, Paulo Rogério Meira. Memória social e saudade: especificidades e possibilidades de articulação na análise psicossocial de recordações. Memorandum, nº 8, p. 5-19. Disnponível em:

ROSSI, Filippo. Quando la nostalgia è postmoderna. Disponível em:< http://www.ideazione. com/settimanale/5.cultura/89_06-06-2003/89rossi.htm>.

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