"Bom é o esquecimento.
Senão como é que
O filho deixaria a mãe que o amamentou?
Que lhe deu a força dos membros e
O retém para os experimentar.
Ou como havia o discípulo de abandonar o mestre
Que lhe deu o saber?
Quando o saber está dado
O discípulo tem de se pôr a caminho.
Na velha casa
Entram os novos moradores.
Se os que a construíram ainda lá estivessem
A casa seria pequena demais.
O fogão aquece. O oleiro que o fez
Já ninguém o conhece.
O lavrador não reconhece a broa de pão.
Como se levantaria, sem o esquecimento
Da noite que apaga os rastos, o homem de manhã?
Como é que o que foi espancado seis vezes
Se ergueria do chão à sétima
Pra lavrar o pedregal, pra voar oo céu perigoso?
A fraqueza da memória dá fortaleza aos homens".
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Se me permite, prezado Brecht, vou discordar. A memória não exige que o mundo pare. A criança vai crescer, o aluno vai caminhar, e talvez superar o mestre, mas a experiência torna o indivíduo único.
Não é por esquecer que o espancado seis vezes se ergue do chão à sétima.É por lembrar que viver é mais do que só infortúnios.
O esquecimento não é o contrário da memória, é o seu limite, contorno e destaque.
Mas apesar de discordar, prezado Brecht, entendo que a bênção do esquecimento é fundamental, especialmente para quem presenciou a tragédia da guerra e do exílio.
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