O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Memória Poética - Álvares de Azevedo

"Lembrança de Morrer"

Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima,
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste pensamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poente caminheiro,
_ Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o destêrro de minh`alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade _ é dêsses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade _ é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe, pobre coitada
Que por minha tristeza te definhas!

De meu pai... de meus únicos amigos,
Poucos _ bem poucos _ e que não zombavam
Quando, em noite de febre endoidecido,
Minhas pálidas cranças duvidavam.

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encontrou a face linda!

Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flôres...
Se viveu, foi por ti! e de esperança
Que na vida gozar de teus amôres.

Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
_ Foi poeta, sonhou, e amou na vida. _

Sombras do vale, noites da montanha,
Que minha alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe o canto!

Mas quando preludia ave d`aurora
E quando à meia-noite o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri os ramos...
Deixai a lua prantear-me a lousa!
___________

:(

Álvares de Azevedo foi poeta, sonhou e amou na vida. Morreu muito jovem, e acho que ele tinha até uma certa razão de ser tão deprimido.

Quando leio os poemas dele, lembro imediatamente das aulas de Literatura na escola. "Segunda geração romântica": quando chegava nessa parte eu sabia que ia ser um rosário de tristezas.

2 comentários:

  1. Discordo. Não acho que seja um "rosario de tristeza".

    Vejo melancolia no mau do século, mas não tristeza.

    Francamente acho que eram felizes (e não tristes) vendo as coisas assim, melancolicamente.

    Veja o que fazem hoje em dia os EMOs, por exemplo. Não acho que eles são infelizes.

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