O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









sábado, 11 de junho de 2011

Fazei isso em memória de mim.

Esse foi o apelo dirigido por Jesus Cristo aos seus apóstolos na Última Ceia, como descrito em I Coríntios, 12:23-26, que é o evento fundante da celebração eucarística.

A missa católica, denominação atual da celebração eucarística, é um ritual que objetiva recordar os ensinamentos de Cristo e determinados momentos da sua vida, em especial a Última Ceia, a morte e ressurreição, revivendo o seu sacrifício em favor de todos (cristãos e não cristãos), para livrar-nos do pecado.

Fui batizada como católica mas criada como um animal silvestre, então nunca tive a disciplina necessária para dizer que pertenço a essa ou àquela religião. Sim, porque além de relapsa também sou ortodoxa: se é para seguir uma religião, tem que fazer tudo direitinho.

Pode ser também que a minha infidelidade partidária seja uma tradição brasileira, já que aqui 90% dos indivíduos são cristãos, 50% pratica cultos afro-brasileiros, 40% são espíritas, 20% são de outras denominações, e 1% não soube opinar. Portanto, essa soma vai dar muito mais que 100%: ou seja, tem brasileiro que professa mais de uma religião, e isso não é nenhum conflito, o que é uma peculiaridade nossa.

Eu mesma, católica relapsa e filha de Iemanjá, frequentava a Igreja Batista quando era pequena e uma mesquita, já participei de cerimônias em terreiro de candomblé e frequentaria também uma sinagoga, se fosse convidada e desde que ao final fosse servida alguma espécie de comida. Acho todas essas religiões formas maravilhosas e tradicionais de contar a estória da Humanidade.

Tudo isso para dizer que eu, católica relapsa, quando vou raramente à missa, presto muita atenção na performance do ritual. E, realmente, enquanto tento participar com as frases e rezas que eu aprendi quando criança, lembro de Jesus Cristo, porque fazemos tudo aquilo em memória dele.

O que eu lembro de Cristo? Bem, para mim Cristo é sangue. E o sangue dele é onipresente no ritual: comer o corpo e beber o sangue, após a transmutação do pão e do vinho. Vejo o crucifixo que fica no altar banhando no sangue de um condenado pelo governo colonial, já que o Império Romano lavou mãos.

Principalmente, vejo o sangue de uma vítima da violência policial.

Provavelmente o ritual vai evocar lembranças distintas nos participantes. Alguns vão lembrar que Jesus sofreu, outros vão lembrar das suas palavras, outros vão lembrar das suas ações, mas todos vão lembrar de uma pessoa que faleceu há mais de 2000 anos, o que é absolutamente incrível.

O apelo de Cristo à recordação do seu sofrimento tem caráter de redenção. A memória servirá para libertar ou evitar a condenação dos pecadores, o que faz sentido já que na verdade impõe a prática de valores cristãos no cotidiano, para que a pessoa se torne digna de recordá-lo através da ingestão do pão e do vinho.

Está na Lei: "Examine-se o homem a si mesmo antes de comer deste pão e beber deste cálice, pois o que come e bebe indiganmente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do senhor" (I Coríntios 12 28-29).

Ite, missa est.

6 comentários:

  1. Post scriptum: lembrei agora que a memória da estória de Cristo está mudando. Poucas teorias discutem se ele realmente existiu, e quando, e na verdade para a memória coletiva essa discussão não está relevante no momento.

    Mais relevante é perceber fraturas na narrativa tradicional da vida de Cristo, que foi construída institucionalmente e muito debatida durante 2000 anos.

    O livro o Código da Vinci obteve enorme sucesso de vendas, e embora não tenha sido o primeiro a contar uma biografia diferente, talvez consiga marcar profundamente a memória coletiva pelo alcance que teve.

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  2. Dois mil e onze anos menos trinta e três é igual a mil novecentos e setenta e oito anos sendo lembrado. Nada mal para alguém que nunca escreveu um livro.

    Eu ñ conhecia o conceito de "catolica relapsa", mas agora que vc falou, me vai como uma luva tb.

    Vai aqui a outra versão dos fatos:
    http://ghiraldelli.pro.br/2011/05/22/deus-nao-e-bom-de-cama/

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  3. 2011 -33 =1978

    1978 + 4= 1982. Você tem que acrescentar quatro anos na conta porque, segundo uma pesquisa que li há muito tempo (não tenho as referências, não fichava naquela época) Jesus nasceu em 4 a.C (alguns falam até em 7 a.C).

    Parece uma contradição em termos, mas a data de
    nascimento dele foi retificada.

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  4. 2 de fevereiro é dia de Iemanjá. Consigo ser relapsa em duas ou três religiões...

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