Há um ditado árabe, muito citado por aqui, que fala sobre a irreversibilidade:
"Quatro coisas jamais voltam: a flecha (pedra) atirada, a palavra dita, a oportunidade perdida e o tempo passado".
Se o que aconteceu não pode ser mudado, a interpretação sobre o que aconteceu muda aos sabor dos tempos. O que antes era Revolução passa a ser caracterizado como Golpe de Estado. O que ontem foi considerado uma grande vitória em batalhas, com o passar do tempo pode mostrar-se uma derrota de médio e longo prazos.
O século XX foi crucial para as mudanças de paradigmas, e dentre esses a maneira de interpretar o passado.
Um dos maiores feitos da memória é transformar eventos desconexos em narrativas históricas corentes (ZERUBAVEL, 2004, p. 13), onde as omissões e ênfases acabam por formatar o passado.
Dizer que o passado é irreversível não impede que seja ressignificado.
E aí, eu lembro de uma das minhas frases favoritas, dita por Joelmir Beting no Jornal da Bandeirantes (24/01/2005, às 18:56):
"No Brasil até o passado é imprevísivel".
Perder a noção de certeza do que aconteceu, perder o porto seguro do passado, às vezes é necessário para seguir em frente de forma melhor, porém, isso abala os alicerces de pessoas e grupos fundam a sua identidade no passado.
Acompanhar essas ressignificações é muito interessante, pois elas são capazes demonstrar os processos de construção da memória coletiva e individual.
Referência
ZERUBAVEL, Eviatar. Time Maps. Chicado:London, 2004.
Tu jà gostas de uma teoria revisionista, hein, criatura?!?
ResponderExcluirNão me conformo com a estória contada simplesmente, mas não mereço o título de "revisionista".
ResponderExcluirO Rei das versões alternativas do passado é: http://www.youtube.com/watch?v=7tLFbUKVrUo.
Realmente, isso é teoria revisionista, o resto é resto!
ResponderExcluirEspero a tradução de: "suruba onde rolam muitas execuções por Ju Boquete".
Denise: Jumbo cat Metropolitano Transportes Marítimos. É a empresa que presta o serviço de travessia de Niterói para a cidade do Rio de Janeiro (eu acho...).
ResponderExcluirSe juntando tudo fica cacofônico, avalie no contexto histórico em que foi posto. Mas, o que nós plebeus podemos fazer? Reclamar e correr o risco de contrariar o King Size?
Notícia interessante:http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Acao/noticia/2013/12/amazon-britanica-vende-kit-virgindade-com-himen-artificial.html
ResponderExcluirVenda de hímen artificial...
Vários sintomas mostram a irreversibilidade do passado: vergonha, arrependimento, gratidão, saudade. Todos modulam a lembrança, e assim ressignificam o que passou.
ResponderExcluirNomear alguma coisa é um ato de poder. Chamar um processo histórico de Revolução, Contra-Revolução, Golpe de Estado ou "Movimento" revela de que lado do argumento alguém está. Entretanto, essas categorias possuem características específicas e não podem ser usadas arbitrariamente, ou apenas com a intenção de mudar o que aconteceu. Ressignificar não significa ignorar os fatos, mas partir deles para criar novos sentidos.
ResponderExcluirAplicar o conceito de "movimento" ao Golpe Militar de 1964 é um eufemismo e, enquanto tal, é um dos instrumentos da política de esquecimento sempre aqui adotada como estratégia de reconciliação.
No Brasil, a almejada "pacificação social" é baseada em esquecer, calar, ignorar e é por isso que não se efetiva.