O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









sábado, 29 de outubro de 2011

Memória brasileira: a Shindo Renmei

Shindo Renmei foi uma associação, de caráter político, fundada por imigrantes japoneses que viviam no Estado de São Paulo e Paraná, durante a 2ª Guerra Mundial.

A história dessa associação é muito interessante, e não é sequer referida nos livros didáticos.

Imaginem a situação: um grande grupo de japoneses chega no Brasil, cujo idioma e os costumes são completamente diferentes. O Brasil é governado por um ditador, que durante a Segunda Guerra Mundial mostrou grande afinidade com o regime fascista, mas "decide" apoiar os aliados contra os membros do Eixo, entre eles o Japão.

Nem imagino como a comunidade japonesa foi reprimida nessa época. Mas apenas para ilustrar, confiram o Decreto nº 383/38, que mesmo antes da Guerra, proibia aos estrangeiros o exercício de atividades políticas (o que ocorre até hoje, já que não são titulares de direitos políticos), mas também proibiam manifestações identitárias, o que é um absurdo.

Durante a Guerra, os imigrantes japoneses não podiam mais publicar o seu jornal e nem receber cartas do Japão, que então era o "inimigo".

Nesse contexto de hostilidade e falta de informação surge a Shindo Renmei, cuja finalidade (na minha visão leiga e simplista) era permitir que os homens em idade militar participassem do esforço de guerra extraterritorial. Por que eu penso isso?

Porque o seu fundador, Junji Kikawa, foi coronel do exército japonês. E também porque algumas das ações terroristas da Shindo Renmei tinham alvo militares indiretos: por exemplo, tentavam sabotar a produção de seda (usada em para-quedas) e de hortelã (porque o mentol era usado para potencializar nitroglicerina). cf: http://pt.wikipedia.org/wiki/Shindo_Renmei.

No fim das contas, a Shindo Renmei atuou para aterrorizar a própria comunidade japonesa, reputada responsável por 23 homicídios. Por si só, a existência dessa organização política já merecia, pelo menos, ser referida nos livros de História do Brasil.

Mas do ponto de vista memorial, a Shindo Renmei ainda é mais interessante porque, diante da impossibilidade da comunidade japonesa obter informações verdadeiras sobre a guerra(proibiram a comunicação postal e a circulação de jornais), a associação começou a punir as pessoas que acreditavam na rendição do Imperador. A estratégia negacionista da Shindo Renmei, de se recusar a aceitar o fim da Guerra e a derrota do Japão, é um dos melhores exemplos de manipulação de fatos e violação da memória coletiva de toda uma comunidade.

A verdade da Shindo Renmei é que o Japão venceu a guerra e quem não aceitava, ou duvidava disso, tinha que morrer porque era um "coração sujo". Sobre o assunto, e pelas belas fotos, recomendo o livro "Corações sujos", de Fernando Morais.

Essa é uma parte da História que o Brasil precisa conhecer.

Referência

MORAIS, Fernando. Corações sujos – A história da Shindo Renmei. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

4 comentários:

  1. Fui ao cinema ontem, e vi que a estória da Shindo Renmei será contada em um filme (breve), baseado no livro "corações sujos", que citei como referência acima.

    Pelo que pude ver, o filme parece ser bem realizado, e sem dúvida essa parte da memória brasileira precisa ser contada e debatida.

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  2. Olá, Fabiana

    Se me permite, existem outras obras (artigos e livros) de caráter acadêmico muito mais bem fundamentadas do que o livro do Morais (de caráter jornalístico e em certos trechos "sensacionalista"). Pesquise na internet, ok? Um abraço! Rogério (rdezem@yahoo.com.br)

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  3. Obrigada, Rogério. Vou procurar com certeza!

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  4. Acabei de assistir ao filme "Corações Sujos", de Vicente Amorim. A trágica história da colônia japonesa no Brasil virou o pano de fundo para o fim de uma estória de amor, portanto, bem diferente do livro.

    Gostei do filme porque tentou refletir um pouco a tragédia dos sobreviventes, das famílias despedaçadas e nisso foi além do livro. Sempre me perguntei como ficaram essas famílias e como a memória desse período foi transmitida (ou silenciada) através das gerações.

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