Esse diálogo aconteceu com o meu marido, que então era meu namorado há pouco tempo, sobre a decisão de realizar uma viagem de aventura pelo Rio São Francisco, junto com um amigo. A idéia era buscar um barco que o pai do amigo havia dado de presente.
Eu fiquei preocupada, é claro, pois nenhum deles conhecia o rio ou a área, então aconteceu o diálogo surreal:
- Fabiana: Mas vocês decidiram isso assim, de uma hora para outra?
- Marcelo: Foi. O pai dele deu um barco de presente, e a gente resolveu ir buscar. Levar o barco da cidade onde ele mora até Petrolina, e depois trazer para cá.
- Fabiana: Até Petrolina? Mas não é muito longe?
- Não, a gente vai estar de barco, então deve ser mais perto.
- E quanto tempo isso vai levar, Marcelo?
- Mais ou menos quatro dias. A gente está calculando entre quatro e vinte dias.
- Quatro E vinte dias? Que espécie de cronograma é esse?
- É mais ou menos.
- Estão levando comida suficiente?
- Estamos levando comida para dois dias.
- Mas, o mínimo é quatro dias, como isso pode ser?
- É porque lá tem lugar para comprar comida, não precisa levar tanto.
- E os equipamentos?
- São esses aí.
- Mas não tem nada de útil. Vocês não vão acampar? Cadê a barraca?
- A gente vai dormir no barco.
- Corda? Faca? Alguma coisa para cozinhar, fogareiro?
- Não precisa de nada disso, porque a gente é roots.
- Cadê o mapa?
- Não precisa de mapa, a gente vai descendo o rio São Francisco.
- E como vocês vão fazer para atravessar as barragens das hidrelétricas?
- Que barragens?
- No caminho de vocês tem pelo menos duas gigantescas. Outra coisa: vocês sabem dirigir esse tipo de barco?
Foi nesse momento que o amigo dele interrompeu, e pôs fim ao diálogo assim:
-Fabiana, pare de fazer perguntas difíceis. Não tem mistério, a gente só vai buscar um barquinho. Mulher se preocupa com cada detalhe.
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Aprenda-se a lição: planejar não tem nada a ver com gênero. Todos precisam de planejamento.
Graças a Deus, voltaram depois de 18 dias, magros e laranjados porque o combustível do barco espirrou neles, e acabaram se queimando ao sol. Detidos pela polícia, quase assaltados na estrada, trouxeram um barco furado que virou troféu, e muitas estórias para contar.
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