Há uns vinte dias, ministrei uma aula sobre os instrumentos de intervenção do Estado na Economia, um dos pontos de Direito Administrativo. Ao falar de tabelamento de preços, perguntei aos meus alunos se lembravam da época em que os preços e a inflação no Brasil estavam fora de controle, e fiquei realmente surpresa ao ver que apenas os alunos mais velhos (acima de trinta e poucos anos) já tinham passado pela experiência, enquanto que os alunos na casa dos vinte e poucos já tinham "ouvido falar" do fenômeno mas sequer sabiam como ele ocorria.
Hoje saiu uma notícia que parece confirmar que existe uma geração que não tem memória da inflação:
"RIO - A cantina da escola acusa: a inflação chegou ao universo de Pedro Santos e seus amigos do quinto ano do colégio Teresiano, no Rio. A turma já notou com mais intensidade aumentos no preço do mate, do pingo de leite, do pão na chapa e do brigadeiro. Fora do colégio, a pipoca também ficou mais cara, assim como o feijão, o chocolate e os presentes para as mães. As altas, naturalmente, atingem toda família - e, em resposta, tem havido corte nos excessos das crianças e arrocho nas mesadas, mostra reportagem de Fabiana Ribeiro, publicada neste domingo pelo JORNAL O GLOBO.
- A pipoca subiu. Eu não sei o ingresso (do cinema), que eu não compro. Mas a pipoca, sim. Porque a minha mãe só me dá dinheiro para comprar a pequena, mas eu gosto da média ou da grande. Antes eu tinha que completar com uns R$ 8, agora tenho que completar com R$ 12 - diz Pedro, de 10 anos.
VÍDEO: A inflação está engolindo parte da mesada
BLOG: Especialista fala sobre mesada no blog Mamãe, eu quero
Pedro, Thales, Gustavo, João Gabriel, Maria Fernanda e Ana Luiza fazem parte de uma geração que, até pouco tempo, desconhecia inflação. Com o Plano Real, em 1994, os preços na economia brasileira vinham estáveis há mais de 15 anos. Mas pressões da demanda, com o crescimento da renda dos trabalhadores, e alta de preços básicos (petróleo, soja, trigo), no mercado internacional, estão trazendo de volta o fantasma do elevado custo de vida. Nada que se compare, claro, às taxas da década de 80 e início de 90. Mas a inflação elevada - que, em 12 meses, bateu 6,51%, estourando o teto da meta - é, sem dúvida, uma preocupação do governo.
- É uma inflação diferente: está elevada, mas não está na mesma intensidade do passado. Além disso, antes, a inflação era um problema do Brasil. Hoje, a inflação é uma questão mundial. Essa atual inflação não gera angústia nas pessoas como acontecia no passado. Nada está fora do controle - avalia Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio.
As queixas das crianças em relação aos preços fazem sentido. Levantamento feito pelo GLOBO mostra que produtos e serviços que fazem parte do universo dos mais jovens chegaram a ter um reajuste de até 30,28% em 12 meses no Rio. Caso do material de informática. Também ficaram mais caros no último ano o cinema (24,94%) e a manicure (9,07%). Tem mais, citam eles:
- A escolinha de futebol era R$ 69 por mês. Hoje está R$ 88 - lembra Pedro.
- E o vôlei era R$ 97. Está R$ 129 - diz Thales.
Com preços subindo, a mesada precisa se adaptar aos novos tempos. Pedro teve um corte de R$ 5 no seu orçamento deste ano. "As coisas têm subido para a minha mãe", justifica. E Maria Fernanda, de 10 anos, se queixa que não consegue, com o mesmo valor, comprar o de sempre.
- Os preços estão subindo muito - atesta a mocinha.
- É por isso que antes eu conseguia poupar R$ 30, agora, só R$ 5 - acrescenta Pedro.
Com uma nova realidade de preços, Reinaldo Domingos, presidente do Instituto DSOP de Educação Financeira, diz que as crianças terão de aprender a respeitar o dinheiro.
- Estão acostumadas com uma economia mais sustentável e com preços mais estabilizados. Uma inflação mais forte vai exigir uma maior disciplina nos gastos. É hora de poupar e, em vez de fazer compras imediatas, as crianças terão de aprender a sonhar. E sonhos de consumo exigem planejamento, poupança".
fonte: http://br.noticias.yahoo.com/gera%C3%A7%C3%A3o-conhecia-infla%C3%A7%C3%A3o-sofre-alta-pre%C3%A7os-214056545.html
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Na década de 80 eu era criança, e a minha memória da inflação consiste no seguinte: eu e meu pai, no supermercado, correndo entre os corredores de mercadorias, à frente do rapaz que ia remarcando os preços. Era um verdadeiro suspense,porque o funcionário era muito rápido (a especialização automática pela repetição), parecia haver nascido para remarcar coisas, e minhas pernas curtinhas de criança não eram páreo para o furor da inflação que avançava sobre nós como Godzilla.
Graças a Deus, meus pais não são cacimba (para engolir corda do governo), e não chegaram a usar o adesivo (ou falso poder) de fiscais de Sarney. Mas lembro bastante de uma tabela da SUNAB que as famílias levavam ao supermercado, apenas para constatar que o preço tabelado não era respeitado, e que o ágio virou uma forma de usura institucionalizada.
As pessoas faziam fila para comprar leite, que era inclusive racionado.E tome cortar zero e mudar o nome da moeda, aplicações que rendiam 80% no virar da noite, gatilhos salariais, e mais controle ineficaz, e mais correria no supermercado...Vixe, a gente não pode esquecer como isso tudo era ruim.
A memoria dos tempos de inflação, e a falta dela, é coisa muito séria! Tempos dificies esses...
ResponderExcluirO comportamento do povo de hj no sentido de um consumismo desenfreado e a tomação de empréstimo que parece não ter fim são facetas disso.
O sentimento de falta de inflação perturba os que viveram com ela. E o desconhecimento de periodos de grande inflação turva a avaliação feita pelas novas gerações quando confrontadas ao problema de finitude dos bens.
O problema so piora pelo fato de não existirem politicas publicas sérias destinadas à educação das pessoas sobre como consumir com responsabilidade. E provavelmente elas não vão existir nunca, pois consumir mais faz bem para uma certa balança comercial...
Isso faz com que não entenda que, independente da economia e finanças publicas, o mundo em que vivemos jà é inflacionado.
Ex. a questão do lixo.
Um poder aquisitivo melhorzinho, e as pessoas consomem desenfreadamente. Bens de consumo que logo viram lixo.
Eh esse o perfil do consumidor de todos os paises do BRIC (emergentes que não emergirão nunca se continuarem assim). Somados aos q jà eram consumistas hà mais tempon como o povo dos EUA, so vai nos restar mudar de planeta.
E nesse ritmo vamos em direção de uma inflação de lixo da qual ninguém mais consegue dar conta. Vistes a pesquisa das correntes maritimas e a construção das ilhas de plàstico?
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A pesquisa que você narrou acima eu não conheço, mas esse jeito de apresentar o problema é tão pueril que chega a ser temeràrio. So vai matando, mas ai jà temos inflação de cadàveres, insufientes as covas até de Sucupira.
Nunca vou me acostumar com a imbecilização da população face aos problemas complexos, como a inflação. Isso deve ser fruto de anos de novelas da Globo + axémusic.
Medo.
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Tb tenho lembrança de meus pais calculando o dia certo de ir ao supermercado. Considerando que os dois trabalhavam mas recebiam os respectivos salàrios em dias diferentes, era necessàrio organisar as compras segundo os viveres de primeira necessidade q mudavam de preço mais rapidamente. Tempos dificies também...
Naquela época as pessoas chamavam o aumento geral de preços de "carestia", que na verdade é um efeito da inflação. A carestia está entre nós.
ResponderExcluirA inflação abateu fortemente o poder de compra dos brasileiros. Ela muda e molda modos de viver.
ResponderExcluirEstamos no tempo das escolhas difíceis.