A distribuição pública de água e esgoto é uma novidade relativamente recente no Brasil. No início do século XX, pelo menos aqui na minha cidade, o abastecimento era feito através de uma empresa privada que levava galões de água em carroças puxadas a tração animal de porta em porta.
Era isso ou cada um por si, com a lata de água na cabeça, providenciava o seu próprio abastecimento.
Abastecimento e saneamento, duas faces da mesma moeda, dependem de obras de infra-estrutura que no geral permanecem ocultas à vista de população, e por isso, não dando votos, em geral não recebem a atenção dos governantes de visão mesquinha.
Na minha cidade o saneamento sempre foi um caso à parte. Até o início do século XX, conta-se que as pessoas jogavam as fezes pela janela, e em uma dessas ocasiões um desavisado Charles Darwin, que visitava a minha cidade, ficou coberto de fezes e realmente enfezado, que é de onde vem essa palavra. Pelo menos, antes de jogar tudo pelas janelas, as pessoas tinham a dignidade de gritar "água vai"...
Os escravos também tinham mais esse fardo de carregar tonéis cheios de fezes pelas ruas da minha cidade. Dizem que o doce balanço dos baldes e tonéis fazia com que o conteúdo se derramasse sobre os carregadores, pintando-os com padrões rajados que lembravam os tigres, daí serem chamados de "tigreiros".
Agora a situação melhorou um pouco, mas a solução mais fácil foi escolhida: jogar tudo nos rios. Não é nenhuma novidade, já que relatos antigos diziam que nós, os habitantes dessa cidade ensolarada, jogamos tudo neles há muito tempo, inclusive cadáveres. 70% da nossa cidade não possui saneamento ainda hoje, e isso inclui as moradias da elite.
Enfim, tudo isso para dizer que nós poluímos os corpos hídricos, o que faz com que a água passe a ser escassa em função da qualidade ruim, e por isso devemos consegui-la cada vez mais longe e a um custo crescente.
São Paulo dispõe de água. O sistema Cantareira em declínio desesperador não deveria ser a principal fonte abastecimento, a depender da mira de São Pedro. Bastava uma política séria de reuso da água, e sistemas mais eficientes de captação da água da chuva e de retenção e infiltração, por exemplo, mais telhados verdes, menos impermeabilização do solo e, evidentemente, uma mudança radical no padrão de consumo.`
O reuso é mais barato do que mudar o curso dos rios, além do que, deve-se partir do pressuposto de que a natureza nunca está errada. Vamos observar o que está acontecendo em São Paulo, com o terrível prognóstico de colapso hídrico nos próximos quatro meses, para ver se aprendemos alguma coisa com essa dura, amarga, terrível lição, de consequências imprevisíveis.
Se eu morasse em São Paulo, construiria uma cisterna.
ResponderExcluirEm 2017, a Lei nº 9433/97 completará 20 anos. A legislação relativa ao gerenciamento de recursos hídricos, com foco nessa lei, foi objeto da minha pesquisa de mestrado em Direito, que eu pensava em rever daqui a dois anos, para sentir se a realidade moldou-se à norma.
ResponderExcluirDiante do que está acontecendo em São Paulo, acho que vou antecipar os meus planos.