O brasileiro não tem memória.
Neste blog desmascaramos esta mentira.
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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
O DIA DO SACI
A criação de uma data celebrativa é a maneira de marcar um encontro no tempo entre as gerações que se sucedem. Em cada ano, vão se encontrar naquela data para co-memorar, ou seja, lembrar juntos, criando uma ligação entre o passado e o presente. O calendário oficial é um espaço privilegiado para construir e veicular os símbolos da comunidade,e revela também quais fatos, pessoas e valores são considerados como fator de unidade e identidade cultural. Pois bem, me deparei com o Projeto de Lei nº 2479/2003, de autoria da Deputada Angela Guadagnin (SP) e também com o projeto substitutivo apresentado pelo Deputado Aldo Rebelo (SP), cuja finalidade é instituir o dia do SACI, como instrumento de valorização do folclore, da cultura e das tradições brasileiras. A minha caça ao Saci começou no post sobre a "Deusa Memória", em que nós começamos a refletir sobre entidades que presidem ou patrocinam a Memória, começando por Mnemosyne e chegando a São Longuinho, por sugestão de Dra. Denise, que de comum acordo foi tirado da lista. E nessa discussão começamos a lembrar de lendas brasileiras, que são uma parte importante da minha memória individual infantil. Comecei a lembrar do que eu sabia sobre o saci, fui ao google e achei um livro interessantíssimo de Monteiro Lobato chamado "Sacy-Pererê: o resultado de um inquérito", realizado em 1918 pelo Jornal Estado de São Paulo, que supostamente foi a realização de uma pesquisa de opinião com os leitores, que encaminharam suas recordações por escrito à redação do jornal, indicando as características físicas do Saci. A finalidade declarada de Monteiro Lobato era criar uma imagem mais fidedigna do SACI para permitir a sua representação por meio dos artistas, e combater o "estrangeirismo desnacionalizante" que assolava a sociedade brasileira naquela época. Uma evidência disso era a existência de anões nibelúngicos, vestidos de lã no nosso calor tropical, adornando o Jardim da Luz, em São Paulo. Portanto, revelar a verdadeira face do SACI tinha um explícito fim identitário bem compatível com a mentalidade intelectual dos modernistas. Esse inquérito é composto por depoimentos escritos enviados à redação do jornal, mas não havia uma definição de público-alvo. Portanto, não há controle de quem presta a informação, nem de sua procedência no território brasileiro. São relatos de causos envolvendo o SACI e que ajudam a fazer o seu retrato falado. A leitura é muito divertida,mas evidentemente os relatos não podem ser tomados como dados válidos para fins de realizar uma pesquisa de opinião, até mesmo porque Monteiro Lobato frequentemente desconfia da autoria dos relatos (por exemplo, o depoimento de M. Aurorita, mocinha de 16 anos, que o autor jura ser homem...), sem contar que o próprio Saci prestou o seu depoimento, um dos menos esclarecedores, por sinal. Outro grande problema com os depoimentos é que são narrativas de estórias de terceiros. Apenas dois ou três "depoentes" afirmaram ter contato direto com o SACI, o que dificulta também a sua validação. E não podemos esquecer do Autor, cuja imaginação fértil e talento permitiriam criar, por farra, todos aqueles depoimentos em estilos e até idiomas diferentes. Lendo o livro, percebi que Monteiro Lobato não fez a tabulação dos depoimentos. Então, como ainda estou de férias (hoje é o último dia), procedi à uma tabulação simples, só para entender melhor...A metodologia utilizada foi a criação de categorias (que são nossas amigas)de dados: numeração dos depoimentos, nome do depoente, procedência regional, forma de depoimento, idade em que teve contato com o SACI, contato direto ou através de terceiros, quem transmitiu a estória, características físicas do SACI, ações e o campo "observações" para dados peculiares. É preciso fazer um parênteses para dizer quais são as premissas do meu raciocínio: 1) O Saci existe; 2) O Saci é patrimônio imaterial; 3) Monteiro Lobato apenas compilou depoimentos, ou seja, não os inventou. Vá lá, é mais um ato de fé do que qualquer outra coisa. Os resultados (aqui apresentados resumidamente) foram: CARACTERÍSTICA FÍSICAS DO SACI FREQUÊNCIA OBSERVAÇÃO NEGRO 53,94% UMA PERNA 35,5% CARAPUÇA VERMELHA 31,27% Barrete, gorro, boina, urupemba, urucum BAIXA ESTATURA 15,78% De meio metro a um metro OLHOS VERMELHOS 14,47% FORMAS DE MANIFESTAÇÃO FORMA HUMANA 57,8% REDEMOINHO DE VENTO 7,8% DIURNO AVE 1,31% URSO 1,31% Para ilustrar, fotos do indivíduo de frente e de perfil, esculpidas pelo meu irmão,Robinson Dantas, cujo quintal vem sendo a morada do Saci nos últimos tempos: Esclarecimento: o Saci é a figura na frente do fusca amarelo, que apesar de não andar não é uma escultura. Predominam os relatos sobre a forma humana, de baixa estatura, que acabam por fazer a associação dele com uma criança travessa. Então, basicamente, as ações do Saci são travessuras, que ocorrem em quatro espaços da zona rural: dentro de casa (tirar os objetos de lugar, estragar a comida, roubar coisas, fazer barulhos), no terreiro (chatear os animais, chupar seu sangue, enrolar crinas, dar galopes adoidados), nos caminhos assustando os viajantes e na mata. Em síntese, o Saci é um grande fazedor de merdas, e é responsabilizado pelas pequenas merdas cotidianas. Por exemplo, o leite azedou, os pratos quebraram, roupas e livros espalhados pela casa. Não, esse último não é culpa do Saci, é minha mesmo. A representação de Saci que passou à nossa memória coletiva corresponde àquela que obteve maior frequência nas respostas do "Inquérito" (forma humana, negro, baixa estatura, uma perna, carapuça vermelha). A minha memória individual do Saci é baseada na obra de Monteiro Lobato, especialmente nos seus livros do universo do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Isso é muito importante, porque o Saci é uma lenda nascida no interior paulista/mineiro/fluminense, e aparentemente não é nordestino. Essa estória não me foi transmitida oralmente, e apesar de conhecê-la na infância, na verdade quem me contou foi Monteiro Lobato. Não sei se é porque sou da cidade, e notadamente os sacis não são urbanos, mas em uma rápida enquete com alguns conhecidos da minha região, da minha geração, todos afirmaram que o seu contato com Saci ocorreu através dos livros ou do programa de televisão. Enfim, voltando ao dia memorial de Saci, soy contra. Primeiro por uma questão de razoabilidade, de adequação dos fins aos meios. A inclusão do dia do Saci no calendário oficial não é garantia da preservação desse patrimônio imaterial, não só porque há já outros dias criados que não cumprem o seu papel (Dia do Índio, 7 de setembro, por exemplo), não se justificando a utilização desse instrumento CARÍSSIMO que é a elaboração de uma lei. Segundo, nós brasileiros não cultuamos nem homenageamos assombrações.Nós temos medo de assombração. Logo, o Dia do Saci é uma tradição inventada. E, pela exposição no projeto substitutivo de Aldo Rebelo, tem a finalidade explícita de combater a influência estrangeira, que insidiosamente está impondo aos brasileiros o Halloween, que é incompatível com o nosso imaginário popular. Ou seja, a intenção é combater o Halloween criando um Halloween (?), desculpa Raloim,onde o Saci e seus amigos (Iara, Curupira, boitatá, e tantos outros)fossem uma alternativa cultural às entidades e super-heróis estrangeiros. Saci e seus amigos? Desde quando o Saci é amigo do Boitatá e de outras assombrações? É outra estória, outra memória. O Saci assim virou um símbolo de resistência contra a invasão estrangeira...Realmente,usar fantasias e fazer farras é absolutamente incompatível com o nosso imaginário popular. Esse projeto ainda tem um grandíssimo defeito. Utiliza como EVIDÊNCIAS os depoimentos do Inquérito de Monteiro Lobato, que inclusive reproduz extensamente trechos do livro. Nem Monteiro Lobato levou tão a sério a enquete a ponto de pretender sua transformação em Lei, e eu fico com a boca mais torta que a do Saci quando penso nisso.
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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Esqueça, se puder! (2)
Que marcar profundamente a sua tábua de cera? Pimenta habanero. Experimente sem moderação, e você vai ter o que merece. Ontem resolvi fazer o teste, porque estou praticando o esporte de comer pimenta e tomar tequila desde que voltei do México, e posso afirmar que é a coisa mais ardida que eu já comi na vida. A sensação é de que a sua lingua está cheia de cortes superficiais, como se a gente ralasse o joelho no cimento, sabe? Pois é. Água não ajuda, tequila muito menos (em grandes quantidades pode fazer esquecer momentaneamente a dor, mas não resolve).
sábado, 22 de janeiro de 2011
Tatuagem e Memória
No post anterior comentei que os gregos concebiam (metaforicamente)a memória como uma tábua de cera, na qual eram "marcadas" as informações. Quanto mais marcantes essas impressões, mais forte seria a sua lembrança. E se essa tábua de cera for a nossa pele? As diversas formas de registrar informações na pele, com suas distintas finalidades, são também uma espécie fonte memorial. A tatuagem, originalmente, servia para registrar os eventos importantes na vida do indivíduo e às vezes também da coletividade, além indicar o processo de aquisição de um determinado status social. Esses sinais em seu conjunto davam a informação sobre a origem e a posição do indivíduo no grupo, e acabavam por constituir um sinal de identidade cultural. Um belo exemplo disso são as tatuagens do povo maori: Fonte:http://imagenshistoricas.blogspot.com/2010/11/oceania-e-pacifico.html Mas as tatuagens podem ser também símbolos de vergonha, ou mesmo uma penalidade acessória. Já foram utilizadas como forma de identificação de criminosos, e essa deve ser a origem da idéia (ainda presente no Brasil) de que esse tipo de marca corporal pode acarretar a inidoneidade moral. Em concursos para certos cargos públicos, ter uma tatuagem pode significar a desclassificação sumária, embora atualmente a jurisprudência se mostre favorável aos candidatos eliminados. No século 20, a tatuagem também foi utilizada pelos Nazistas de maneira utilitária, para registrar a quantidade de pessoas que passavam nos campos de concentração. Não havia um significado intrínseco naqueles números naquela época, mas posteriormente tornaram-se símbolos de sobrevivência. Acho que a tatuagem hoje perdeu muito do seu significado original, e agora virou moda principalmente por fins estéticos, pois para ter uma tatuagem não é preciso merecê-la, basta ter dinheiro e tolerância à dor. Apesar disso, ainda é possível ver que algumas pessoas buscam através da tatuagem registrar no próprio corpo eventos importantes de forma indelével, tatuando datas, símbolos, retratos, com função explicitamente memorial e identitária. Acho particularmente interessante quando as pessoas tatuam o nome de sua paixão no momento. Registrar situações efêmeras como essa pode ser uma fonte de grande dor de cabeça, e exemplos não faltam de gente que gastou muito dinheiro para apagar o nome e a efígie de ex-namorados (uma espécie de damnatio memoriae)... Eis aí o paradoxo: ao contrário de ter apenas a lembrança do relacionamento (uma), na verdade temos essa, a de fazer a tatuagem, e a de apagá-la. E quem não tem dinheiro para apagar? Deixa como está ou manda cobrir com uma tarja ou outro desenho, e a memória permanece ali, censurada ou encoberta.
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Esqueça, se puder! (1)
Se a memória é uma tábua de cera onde ficam registradas as impressões dos sentidos, como pensavam os gregos, é claro que a lembrança será mais viva se a impressão for profunda. Por isso, as banalidades, o que é comum, é facilmente esquecido. Ao contrário, o que é "marcante", o que é "notável" (notae, como características mnemônicas), por ser incomum, belo, ridículo ou grandioso, mais forte impressão causa e será lembrado mais facilmente, como destaca Yates (1974, p.9), no inesquecível livro a "Arte da Memória". Então, esqueça se puder: http://noticias.terra.com.br/popular/interna/0,,OI1727715-EI1141,00.html.
sábado, 15 de janeiro de 2011
A Deusa Memória
Na mitologia grega, a Memória tem origem divina e é personificada através de Mnemosyne, a titanide filha da deusa Gaia e do deus Urano (CARAZZAI; WERTHEIN, 2000, p. 10). Além de ser filha da Terra e do Céu, Mnemosyne também é irmã do Tempo (Cronos), tida como a protetora das Artes e da História, do que ressalta a sua íntima relação com o patrimônio cultural: não é à toa que é considerada a mãe das Musas. A deusa Memória carrega o bastão da sabedoria talhado em loureiro (skeptron) e sua função é revelar o que foi e o que será (VERNANT, 1990, p. 141). Presidindo a função poética, concedia aos poetas e adivinhos o poder de voltar às origens e à essência (geralmente identificadas com o passado) e lembrá-las para a coletividade e também conferia o dom da imortalidade, pois quem se torna memorável não morreria jamais (CHAUÍ, 2001, p. 126). Olha a ilustração de Rossetti: Uma das funções mais importantes da memória é ser fonte de respostas às questões que intrigam o ser humano - a sua origem, identidade e a sua posição e papel no mundo - por isso é muito significativo que Mnemosyne esteja ligada à faculdade da orientação e da desorientação no tempo e no espaço (DANTAS, 2010). Outra função importante da Deusa Memória era a seleção das informações que seriam transmitidas, por isso existe uma relação entre Mnemosyne e Lemosyne (esquecimento). A sacralização da memória e sua representação como uma deusa mostram a sua importância social, além da sua vinculação com Artes, a História, e a Ciência, representadas pelas Musas que não só são suas filhas mitológicas, mas que por ela são nutridas com informação. A Memória ainda foi considerada parte da virtude da Prudência, juntamente com a Inteligência e a Providência, por São Tomás de Aquino. Mas finalmente estabeleceu-se enquanto técnica ou ferramenta (mnemotécnica), baseada na sistematização dos registros a partir da criação de lugares e de uma ordem de disposição específica. Esse caráter utilitário da memória parece que está predominando, haja vista a ânsia de êxito em provas, vestibular, e principalmente em concursos públicos. A necessidade de acumular informações para ter sucesso profissional tem levado a uma busca incessante por livros e métodos que prometem o incremento da capacidade de memorização. Entretanto, não podemos esquecer que a memória não é um simples depósito. Para ser eficiente, enquanto fonte informação, também exige inteligência, sagacidade, sensibilidade e a capacidade de realizar associações e abstrações. Outra função interessante para a memória é o entretenimento, ótima para aqueles momentos de espera infindável (fila de banco, de consultório médico, esperando o ônibus). Ficar lembrando de fatos e pessoas engraçadas pode proporcionar muita diversão, embora frequentemente cause estranheza nas pessoas em volta (Como pode se divertir nessa fila gigantesca, e nesse calor? Só pode ser doida), agravada por ocasionais gargalhadas solitárias. É claro que se pode usar a memória para fins mais nobres, por exemplo, fazer o exercício disciplinado diário de realizar o exame de consciência dos pitagóricos, conhecendo a si mesmo pelos seus próprios meios. Mas, por enquanto, vamos pensar apenas nos aspectos mais divertidos da memória. REFERÊNCIAS CARAZZAI, Emilio; WERTHEIN, Jorge. Memória, um lugar a ser visitado. In: UNESCO. Patrimônio mundial no Brasil. Brasília: UNESCO: Caixa Econômica Federal, 2000. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2001. DANTAS, Fabiana Santos. Direito fundamental à memória. Curitiba: Juruá, 2010. VERNANT, Jean-Pierre. Mito e Pensamento entre os gregos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Faixa de Pedestres atravessada pelos Beatles vira patrimônio cultural britânico
Olha que notícia interessante!:
"Faixa de pedestres dos Beatles vira patrimônio britânico
Publicidade
OLESYA DMITRACOVA
DA REUTERS, EM LONDRES
A mais famosa faixa de pedestres da música popular, diante do estúdio Abbey Road, na zona norte de Londres, foi designada local de importância nacional pelo governo britânico na quarta-feira.
Beatlemaníacos de todo o mundo costumam ir à rua para posar para fotos imitando a foto da capa do álbum "Abbey Road," que mostra Paul, John, George e Ringo atravessando a faixa.
"Esta faixa de travessia de pedestres em Londres não é nenhum castelo ou catedral, mas, graças aos Beatles e a uma sessão fotográfica feita em dez minutos numa manhã de agosto de 1969, tem direito igual a fazer parte de nosso legado nacional" disse em comunicado John Penrose, ministro britânico do Turismo e do Patrimônio Histórico e Cultural.
Divulgação
Faixa de pedestres imortalizada pelos Beatles na capa de "Abbey Road" vira "local de importância nacional"
A partir de agora, a faixa de pedestres só poderá ser modificada com a aprovação das autoridades locais, que teriam que tomar uma decisão com base no significado histórico do local, sua função e sua condição.
O próprio estúdio Abbey Road ganhou status de patrimônio nacional protegido em fevereiro deste ano/".
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/849574-faixa-de-pedestres-dos-beatles-vira-patrimonio-britanico.shtml
_____________________________
Muito interessante porque deixa evidenciado o motivo pelo qual um bem cultural comum passa um símbolo de identidade. A grande questão é a REPRESENTATIVIDADE, o poder de evocação, que esse bem porta.
Observem que o que começou com uma brincadeira de fãs, que gostavam de reconstituir a cena famosa na faixa de pedestres, acabou por erigir aquela simples faixa de pedestre em um marco e atrativo turístico da cidade.
Resultado: a faixa não pode ser alterada. Difícil vai ser manter o critério de autenticidade porque, provavelmente, esta faixa já não é a mesma que os Beatles passaram. Já deve ter sido pintada e repintada várias vezes.
Até quem não é fã, passando por essa faixa, vai se sentir tentado a relembrar a cena, e essa repetição de comportamento virou quase um costume. Se esse comportamento evoluir, pode até virar costume jurídico, só faltando a sensação de obrigatoriedade.
Quem quiser ver os Beatles segundos antes da foto ser tirada (muito legal!), dá uma olhadinha neste site:
http://www.poracaso.com/os-beatles-poucos-segundos-antes-da-iconica-foto-de-abbey-road.html
"Faixa de pedestres dos Beatles vira patrimônio britânico
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OLESYA DMITRACOVA
DA REUTERS, EM LONDRES
A mais famosa faixa de pedestres da música popular, diante do estúdio Abbey Road, na zona norte de Londres, foi designada local de importância nacional pelo governo britânico na quarta-feira.
Beatlemaníacos de todo o mundo costumam ir à rua para posar para fotos imitando a foto da capa do álbum "Abbey Road," que mostra Paul, John, George e Ringo atravessando a faixa.
"Esta faixa de travessia de pedestres em Londres não é nenhum castelo ou catedral, mas, graças aos Beatles e a uma sessão fotográfica feita em dez minutos numa manhã de agosto de 1969, tem direito igual a fazer parte de nosso legado nacional" disse em comunicado John Penrose, ministro britânico do Turismo e do Patrimônio Histórico e Cultural.
Divulgação
Faixa de pedestres imortalizada pelos Beatles na capa de "Abbey Road" vira "local de importância nacional"
A partir de agora, a faixa de pedestres só poderá ser modificada com a aprovação das autoridades locais, que teriam que tomar uma decisão com base no significado histórico do local, sua função e sua condição.
O próprio estúdio Abbey Road ganhou status de patrimônio nacional protegido em fevereiro deste ano/".
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/849574-faixa-de-pedestres-dos-beatles-vira-patrimonio-britanico.shtml
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Muito interessante porque deixa evidenciado o motivo pelo qual um bem cultural comum passa um símbolo de identidade. A grande questão é a REPRESENTATIVIDADE, o poder de evocação, que esse bem porta.
Observem que o que começou com uma brincadeira de fãs, que gostavam de reconstituir a cena famosa na faixa de pedestres, acabou por erigir aquela simples faixa de pedestre em um marco e atrativo turístico da cidade.
Resultado: a faixa não pode ser alterada. Difícil vai ser manter o critério de autenticidade porque, provavelmente, esta faixa já não é a mesma que os Beatles passaram. Já deve ter sido pintada e repintada várias vezes.
Até quem não é fã, passando por essa faixa, vai se sentir tentado a relembrar a cena, e essa repetição de comportamento virou quase um costume. Se esse comportamento evoluir, pode até virar costume jurídico, só faltando a sensação de obrigatoriedade.
Quem quiser ver os Beatles segundos antes da foto ser tirada (muito legal!), dá uma olhadinha neste site:
http://www.poracaso.com/os-beatles-poucos-segundos-antes-da-iconica-foto-de-abbey-road.html
sábado, 8 de janeiro de 2011
Lembrar poeticamente 1
Memória - Carlos Drummond de Andrade Amar o perdido deixa confundido este coração. Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não. As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão Mas as coisas findas muito mais que lindas, essas ficarão.
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE DIREITO DO PATRIMÔNIO CULTURAL
A Universidade Federal de Ouro Preto promoverá em março de 2011 o Congresso Luso-Brasileiro de Direito do Patrimônio Cultural.
Informações no site: http://www.congressolusobrasileiro.ufop.br/
Informações no site: http://www.congressolusobrasileiro.ufop.br/
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
Memento Mori: o direito à memória dos mortos e a imagem do cadáver
"Memento Mori" é uma frase latina que significa, numa tradução simples, "lembre-se de que vais morrer". A consciência da mortalidade, pretendida nesta frase, tem como objetivo combater a soberba, a arrogância, lembrando como é transitória a condição humana. Também é uma exortação para as pessoas aproveitem o melhor da vida, enquanto durar, sintetizada na expressão "carpe diem". Geralmente, essa condição de mortalidade é representada pela exposição de restos mortais em locais especialmente destinados. Na Europa, um exemplo admirável são as criptas de la Chiesa della S.S Concezione (Capuchinhos), cujas fotos podem ser vistas neste site: http://www.cappucciniviaveneto.it. Do pó viestes, e ao pó retornarás. Esta frase nada tem a ver com maus hábitos, mas é uma advertência da nossa mortalidade e uma exortação para sermos bons. A idéia de realizar a exposição de restos mortais, que são considerados delicados em razão das questões morais, sentimentais, filosóficas, envolve uma pergunta básica: qual é a finalidade dessa exposição? Não é só uma questão de gosto (mau ou bom), nem de arte ou outra questão qualquer, mas de manter a dignidade e a boa memória dos falecidos. Um exemplo interessante de prática memorial eram as fotos tiradas dos falecidos para serem guardadas como lembranças pelos familiares, no século XIX. Vale a pena conferir um vídeo sobre essas fotografias no link abaixo: http://www.youtube.com/watch?v=sWukFwE9QCc Observe que nessas fotos a finalidade não é fazer uma exposição desrespeitosa do falecido, embora algumas delas pareçam bizarras as olhos contemporâneos. Às vezes a morte é tão abrupta que as pessoas precisavam criar um cenário de normalidade para registrar a pessoa como se estivera em vida, pois naquela época tirar fotos era muito caro. Ou apenas guardar a memória de um momento feliz, ainda que falso. Essa situação é muito diferente das imagens veiculadas como ilustração de reportagens sobre crimes, por exemplo, que me parecem ter a finalidade de causar trauma visual ou fazer o marketing da desgraça. Nessas situações posso vislumbrar uma violação ao direito à memória dos mortos, porque não foi mantida a dignidade da sua representação.
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Bruxaria é considerada profissão legal na Romênia
"A Romênia alterou suas leis trabalhistas para reconhecer oficialmente a bruxaria como profissão. A determinação, que passou a valer hoje, faz parte de um pacote de medidas para combater a evasão fiscal num país que enfrenta forte recessão. Além das bruxas, astrólogos, embalsamadores, camareiros e instrutores de direção são agora considerados profissionais, o que deve facilitar os trâmites para que essas pessoas paguem imposto de renda. A medida, debatida durante meses, foi alvo de protesto das bruxas e da zombaria da mídia. Hoje, uma bruxa chamada Bratara disse ao Realitate.net, o site de uma das principais emissoras de televisão do país, que planeja fazer um feitiço com pimenta-do-reino e levedura para criar discórdia no governo. As informações são da Associated Press". Fonte:http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,bruxaria-e-considerada-profissao-legal-na-romenia,660943,0.htm. Essa eu TENHO que comentar! O reconhecimento da bruxaria como profissão, do ponto de vista jurídico, é interessante porque: a) Há alguns séculos, os senhores e senhoras bem se lembram, a Bruxaria era ilícita na Europa e em suas colônias, apenada às vezes com a morte. Depois, superada a fase da Inquisição, a bruxaria se tornou irrelevante do ponto de vista jurídico (nem proibida, nem obrigatória), enquadrando-se no permissivo geral de que "o que não está proibido está permitido", ou relevante se tomada como um direito vinculado à liberdade de crença. Falo em liberdade de crença porque algumas práticas denominadas "bruxaria" vinculam-se às religiões anímicas, denominadas genericamente pelos cristãos como pagãs, e na verdade algumas dessas práticas não têm um fundo religioso, por exemplo, a confecção de medicamentos fitoterápicos. b) O reconhecimento da bruxaria como profissão, independentemente da intenção do governo romeno de taxar a prática, significa que podem ser criados critérios de controle profissional, por exemplo, a exigência de certificações, uma deontologia profissional (olha aí, Denise, essa para você pensar), o que pode modificar profundamente a maneira como esse ofício é exercido e transmitido. c) Inclusive esse tipo de ofício tradicional, sim porque a bruxaria antes de ser profissão reconhecida é patrimônio imaterial, principalmente na Romênia que tem uma longa tradição nessa área, deveria contar com formas de preservação para evitar a sua mudança abrupta, visto que sem mecanismos eficientes em breve a maneira tradicional de transmiti-la e praticá-la pode se perder. Bom, de todo jeito vou ficar muito atenta aos desdobramentos dessa nova forma de conceber a bruxaria, especialmente em relação ao feitiço que a bruxa Bratara fará com pimenta-do-reino e levedura, devido às sérias implicações jurídicas que tal ato significa: pode configurar crime de ameaça (considerando o Direito Brasileiro), pode funcionar (e, daí, como se poderia processar alguém, sem recorrer a fogueiras, para desconstituir esse tipo ato? condenação em ação civil pública a desfazer o feitiço? ou para fazer um feitiço positivo, com o intuito de criar concórdia no governo?). Se funcionar, e considerando que pimenta-do-reino e levedura são relativamente fáceis de conseguir, imagina se os brasileiros inconformados com o imposto de renda resolverem aderir?
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domingo, 2 de janeiro de 2011
Direito à memória dos mortos: o caso de Billy, The Kid
A memória coletiva às vezes é engraçada...Depois de 129 anos, o facínora Billy "The Kid" ainda continua nas manchetes dos jornais. Olha só a notícia: "Governador do Novo México recusou ontem perdoar William Bonney por falta de provas" O perdão prometido a um dos mais famosos bandidos do Novo México, Billy the Kid, vai continuar a engrossar as muitas lendas do Faroeste. O governador do estado norte-americano, Bill Richardson, recusou ontem conceder um perdão póstumo ao fora-da-lei e assim vingar uma suposta traição do seu antecessor Lew Wallace. Há 130 anos, o governador Wallace teria convencido William Bonney a depor contra três homens em troca de imunidade, mas o rapaz acabou preso, acusado de matar 21 pessoas - uma por cada ano de vida. Acabaria por ser morto pelo xerife Pat Garrett, depois de fugir da prisão. Bill Richardson anunciou o veredicto ontem de manhã, no programa "Good Morning America". A revisão histórica da relação do homicida como as autoridades da época entusiasmou os americanos e desencadeou movimentos de protesto. Bill Richardson iniciou a investigação depois de receber uma petição movida por um advogado de Albuquerque, Randi McGin, em defesa do perdão. A questão era de honra: Billy the Kid tinha cumprido a sua parte do acordo, ao contrário do governador. Além de encomendar uma análise histórica, Bill Richardson, que fez da causa uma das última bandeiras do seu mandato, criou um site na internet para receber a opinião dos eleitores. Segundo a Associated Press, em 809 emails recebidos até ao passado domingo, 430 mensagens mostravam-se a favor da indulgência e 379 contra. Ainda assim, o governador não se terá deixado levar pelas massas e decidiu não conceder o perdão, "devido à falta de certezas e à ambiguidade histórica" em torno da razão que terá levado o governador Lew Wallace a abandonar a intenção de perdoar William Bonney. As únicas provas da alegada promessa são uma entrevista dada pelo governador Lew Wallace a 28 de Abril de 1881, mas os descendentes do xerife que matou William Bonney e do governador acusado de traição têm outra leitura da história: "A verdade é que Wallace não tinha qualquer intenção de perdoar Billy", sublinhou J. P. Garrett, neto de Pat Garrett. A promessa teria sido então um engodo para convencer o bandido a denunciar os companheiros, aparentemente com sucesso. A dupla contra o perdão alegou também que nas quatro cartas escritas por Billy the Kid enquanto aguardava o julgamento pelo homicídio do xerife William Brady nunca foi usada a palavra "perdão", embora o bandido tentasse a todo o custo ser ilibado. Como se comentava ontem no Twitter, com perdão ou sem perdão, a história continua. M. F. R. Fonte: http://www.ionline.pt/conteudo/96284-historia-ja-perdoou-billy-the-kid-mas-o-perdao-oficial-ficou-na-gaveta. Algumas considerações sobre a notícia, que é um ótimo motivo para continuar pensando na memória dos mortos: 1) Ninguém discute que Billy "The Kid" era um celerado. E pensar sobre ele tem a vantagem de poder usar palavras como "facínora" e "celerado", em homenagem à época em que viveu. Portanto, a sua memória individual, e a memória coletiva sobre ele, apontam que devemos lembrá-lo como um bandido. 2) A grande polêmica no caso (?) é se o governador da época prometera ou não perdão a Billy, em troca de informações. E mesmo com tais informações, o perdão não foi dado. Parece-me que queriam que o governador cumprisse com a sua palavra, mesmo depois de morto... 3) Do meu ponto de vista, não se trata de perdão (nem na forma de graça, de indulto ou anistia) e nem de reabilitação, como discutimos em post anterior. Parece-me que havia uma promessa de delação premiada, na qual Billy "The Kid" trocaria sua imunidade por informações (bargain system), o que evidentemente se tornou irrelevante com a sua morte. O caso, portanto, não é de reabilitação de sua memória, que inclusive é celebrada em filmes e livros exatamente no sentido de fortalecer o seu aspecto criminoso e marginal, mas de reparar uma, digamos, "injustiça histórica" porque o governo não cumpriu a sua parte no suposto acordo. E na verdade o governador Lew Wallace não necessitaria cumpri-la porque o beneficiado foi morto em seguida. 4)O "perdão" foi negado pelo governador do Novo México, e apenas constitui-se em mais um aspecto a ser lembrado qundo o assunto for Billy The Kid. De toda maneira, é sempre um ótimo exercício raciocinar sobre esse tipo de situação. Valeu pela notícia Flávia!
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