Há dois anos me meti em um diálogo surreal digno de lembrar com um Benjamin de dois anos de idade, sobre bebês e a coercitividade (https://direitoamemoria.blogspot.com/2018/07/dialogo-surreal-14-sobre-coercitividade.html). Ontem, tivemos outro capítulo da estória maluca das nossas conversas.
- Tia Fabiana, me ajuda a procurar a caixa?
- Claro, onde foi que você a viu pela última vez?
(uma pergunta totalmente lógica e coerente, da tia ocupada em servir o almoço mas empenhada em ajudar).
- Não sei.
- Certo, então me diz como ela é que eu já vou te ajudar.
- Ela é pequena, mas ou menos desse tamanho (abriu os bracinhos para mostrar que era bem grande), e a gente coloca todas as maldades do mundo nela.
- 😕. Você já viu essa caixa?
- É de uma menina do desenho. É Pandora.
(Pausa para descobrir como encontrar artefatos mitológicos).
- Entendi. Mas para que você quer encontrar a caixa de Pandora?
- Eu quero abrir e colocar os meus brinquedos dentro.
- Mas essa caixa foi feita para guardar as maldades do mundo e impedir que elas saiam por aí fazendo maldades. É para ficar fechada, Benjamin. Coloque os seus brinquedos naquela caixa ali perto da televisão.
- Não, eu quero a caixa de Pandora.
- Mas a caixa é dela, não é sua. Você vai ter que perguntar para Pandora se ela empresta a caixa para você guardar os brinquedos.
- Você tem celular?
- Tenho.
- Então liga e pergunta para ela.
- Tá bom, mas não na hora do almoço porque não é educado incomodar as pessoas nesse horário. Depois do almoço a gente liga para Pandora e pergunta, está certo?
- Tá.
Então agora venha almoçar e depois você vai juntar todos esses brinquedos espalhados para guardar.
- Na caixa de Pandora?
- Não por enquanto você vai guardar na caixa de brinquedos que está perto da televisão.
E esse seria o ponto final da conversa se o meu interlocutor não fosse Benjamin, que não esquece e não desiste. Agora nós estamos procurando o telefone de Pandora para pedir a caixa dela emprestada, e isso vai durar muito.