O "Ano Novo" é a prova cabal de que as convenções sociais são realidades e criam realidades. Há uma energia diferente no ar, aquela sensação excitante de desafio, de planejamento, de vontade de se entregar ao bom combate.
Como já é tradição neste blog (desde 2010, uma tradição novinha em folha!), vamos realizar uma rápida retrospectiva:
- Na política, parece que o eixo da Terra mudou. As Revoluções do continente africano são um exemplo didático de processo revolucionário (observem o Egito: queda de um ditador há quarenta anos, governo "provisório" por uma junta militar (trocaram seis por meia dúzia?), realização de eleições para a realização de eleições (deveriam simplificar esse pleito). Na Líbia, exorcizaram Kadhafi do poder, e parece que as pessoas até se esqueceram dele.
Realmente, a sensação é de indefinição: quem viver, verá. Já no Oriente Médio, a Síria continua a asfixiar os seus cidadãos, a despeito da pressão internacional. De todo jeito, acho que a mensagem ficou clara para quem pretende se perpetuar no poder: em tempos de Facebook, a união faz a força virtual.
- Há os que faleceram: Kim Jong-Il, Osama bin Laden, o citado Gaddafi, Amy Winehouse, Cesária Évora, duas de minhas cantoras favoritas. Tantos outros famosos e anônimos enfrentaram o destino comum a todos, o que nos faz concluir que é a vida que levamos que nos diferencia.
- Para mim, 2011 foi um ano muito interessante: graças ao bom Deus trabalhei muito, estudei menos do que devia, comecei a malhar (e tenho fé que em 2012 os resultados começarão a aparecer em forma de rigidez), me tornei vegetariana, dexei de ser vegetariana e estou pensando em ser vegetariana em 2012.
Casei, e continuo casada. E tenho muitos projetos para 2012, que serão afixados em lugar de honra na porta da geladeira.
O ano de 2012 será especialíssimo: nele convergem várias profecias do fim do mundo. Sei que para alguns é pura bobagem, e para outros é pura verdade. Como a minha curiosidade é quase patológica, sem acreditar ou desacreditar, vou viver mais intensamente nesse ano e ficar de olhos bem abertos, bem atenta para tudo que acontecer até 21 de dezembro.
Fico só preocupada com a histeria e o pânico coletivos, pois nesse ano presenciei e senti na pele os efeitos do ensaio do fim do mundo: http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/05/trauma-e-memoria-coletiva-viva-o-caso.html. Se na pequena escala municipal o pânico coletivo causou o caos, imagine se for generalizado...
Desejo a todos vocês um Ano Novo maravilhoso, repleto de novas e felizes memórias!
O brasileiro não tem memória.
Neste blog desmascaramos esta mentira.
Neste blog desmascaramos esta mentira.
sábado, 31 de dezembro de 2011
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Memórias falsas: vazamento no banheiro
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
Memória, direito à memória e saudade
O vocábulo saudade decorre de “soedade”, um lugar ermo e isolado, ou distante, que pelo seu isolamento causa sentimentos como a ausência, abandono, falta, carência, que geralmente levam à tristeza, mas que para outras pessoas é desejável e bom ( NASCIMENTO; MENANDRO, 2007).
Já “nostalgia” foi um termo criado em 1688 pelo médico suíço Johannes Hoffer para designar uma doença que atingia os soldados suíços em serviço no exército francês, caracterizada por febre, vômito e falta de apetite, formada pelas palavras gregas “nostos” (retorno) e “algos” (dor), ou seja, dor pela impossibilidade do retorno. Depois passa a ser considerada uma doença da alma, causada pelo excesso de identificação com as coisas do passado e/ou pela insatisfação com o presente (ROSSI, 2007).
Essa doença é também conhecida no Brasil como “banzo”, nostalgia que acometia os escravos africanos, capaz de causar-lhes a morte. Na minha região não faltam relatos de escravos que se abandonavam ao banzo junto aos baobás, tão deprimidos que acabavam falecendo.
Exercer o direito à memória não se trata de cultivar o sentimento nostálgico,
essa sensação de perda pela impossibilidade de retornar capaz de adoecer o corpo e alma , porque a memória assim exercitada acaba por se tornar um esquema repetitivo e engessado, uma mera reprodução das coisas passadas.
Não se trata também de fazer um culto à saudade , em que a recordação é afetiva e idealizada, permeada pelo sentimento de ausência.Tanto a saudade como a nostalgia consideram o passado como algo fixo, quando na verdade, deve ser continuamente revisto e adaptado para que não perca o seu significado, por isso o direito à memória deve ser o impulso permanente à pesquisa, à busca pelo conhecimento, a revisão e a projeção do passado, enfim, deve manifestar-se como um ato construtivo de recordar.
Mas a memória individual tem, sim, estreita relação com a saudade. Depois do Natal fiquei especialmente saudosa dos meus afetos que, por quaisquer motivos, já não estão mais junto a mim: meus avós e tios falecidos, minha professora de piano; amigos queridos, amigos que estão distantes.
A saudade é uma boa maneira de lembrar, "é a presença dos ausentes", como diria o poeta. Então, vamos lembrar, ainda que seja com saudades.
Referências
NASCIMENTO, Adriano Roberto Afonso do; MENANDRO, Paulo Rogério Meira. Memória social e saudade: especificidades e possibilidades de articulação na análise psicossocial de recordações. Memorandum, nº 8, p. 5-19. Disnponível em:
ROSSI, Filippo. Quando la nostalgia è postmoderna. Disponível em:< http://www.ideazione. com/settimanale/5.cultura/89_06-06-2003/89rossi.htm>.
Já “nostalgia” foi um termo criado em 1688 pelo médico suíço Johannes Hoffer para designar uma doença que atingia os soldados suíços em serviço no exército francês, caracterizada por febre, vômito e falta de apetite, formada pelas palavras gregas “nostos” (retorno) e “algos” (dor), ou seja, dor pela impossibilidade do retorno. Depois passa a ser considerada uma doença da alma, causada pelo excesso de identificação com as coisas do passado e/ou pela insatisfação com o presente (ROSSI, 2007).
Essa doença é também conhecida no Brasil como “banzo”, nostalgia que acometia os escravos africanos, capaz de causar-lhes a morte. Na minha região não faltam relatos de escravos que se abandonavam ao banzo junto aos baobás, tão deprimidos que acabavam falecendo.
Exercer o direito à memória não se trata de cultivar o sentimento nostálgico,
essa sensação de perda pela impossibilidade de retornar capaz de adoecer o corpo e alma , porque a memória assim exercitada acaba por se tornar um esquema repetitivo e engessado, uma mera reprodução das coisas passadas.
Não se trata também de fazer um culto à saudade , em que a recordação é afetiva e idealizada, permeada pelo sentimento de ausência.Tanto a saudade como a nostalgia consideram o passado como algo fixo, quando na verdade, deve ser continuamente revisto e adaptado para que não perca o seu significado, por isso o direito à memória deve ser o impulso permanente à pesquisa, à busca pelo conhecimento, a revisão e a projeção do passado, enfim, deve manifestar-se como um ato construtivo de recordar.
Mas a memória individual tem, sim, estreita relação com a saudade. Depois do Natal fiquei especialmente saudosa dos meus afetos que, por quaisquer motivos, já não estão mais junto a mim: meus avós e tios falecidos, minha professora de piano; amigos queridos, amigos que estão distantes.
A saudade é uma boa maneira de lembrar, "é a presença dos ausentes", como diria o poeta. Então, vamos lembrar, ainda que seja com saudades.
Referências
NASCIMENTO, Adriano Roberto Afonso do; MENANDRO, Paulo Rogério Meira. Memória social e saudade: especificidades e possibilidades de articulação na análise psicossocial de recordações. Memorandum, nº 8, p. 5-19. Disnponível em:
ROSSI, Filippo. Quando la nostalgia è postmoderna. Disponível em:< http://www.ideazione. com/settimanale/5.cultura/89_06-06-2003/89rossi.htm>.
Marcadores:
Direito à memória coletiva,
memória individual
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
RESGATANDO INSTITUIÇÕES ANTIGAS (3): Cavaleiros Templários
Na série "resgatando instituições antigas", pretendemos realizar a reciclagem de antigas práticas que, se corretamente adaptadas à contemporaneidade, podem continuar servindo à Humanidade.
Já promovemos o resgate de duas instituições que poderão ser utilizadas nas próximas eleições: o ostracismo para políticos indesejáveis (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/11/resgatando-instituicoes-antigas.html), e o auto-sacrifício maia (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/11/resgatando-instituicoes-antigasauto.html), como forma de espantar candidatos temerários (olhem que incrível: ganhar a eleição pode ser um mau negócio!).
Agora, considerando que as estradas brasileiras estão cada dia mais perigosas, com constantes ataques aos viajantes por bandoleiros e facínoras, propomos o resgate da nobre arte cavalheiresca templária.
Os municípios poderiam recriar a ordem dos Cavaleiros Templários para garantir a segurança dos caminhos, assegurando a concretização do direito fundamental de ir e vir.
A instituição da ordem dos cavaleiros templários poderia ser reciclada se:
a) A função de cavaleiro municipal não fosse criada nos moldes de cargos públicos;
b) Por ser o Brasil um Estado formalmente laico, os novos cavaleiros deveriam ser desvinculados de qualquer tipo de religião;
c) Os uniformes e armas devem ser modernizados, optando-se por tecidos de microfibra, ao invés as pesadíssimas cotas de malha que utilizam, e substituindo espadas e escudos por armas não letais.
Já promovemos o resgate de duas instituições que poderão ser utilizadas nas próximas eleições: o ostracismo para políticos indesejáveis (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/11/resgatando-instituicoes-antigas.html), e o auto-sacrifício maia (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/11/resgatando-instituicoes-antigasauto.html), como forma de espantar candidatos temerários (olhem que incrível: ganhar a eleição pode ser um mau negócio!).
Agora, considerando que as estradas brasileiras estão cada dia mais perigosas, com constantes ataques aos viajantes por bandoleiros e facínoras, propomos o resgate da nobre arte cavalheiresca templária.
Os municípios poderiam recriar a ordem dos Cavaleiros Templários para garantir a segurança dos caminhos, assegurando a concretização do direito fundamental de ir e vir.
A instituição da ordem dos cavaleiros templários poderia ser reciclada se:
a) A função de cavaleiro municipal não fosse criada nos moldes de cargos públicos;
b) Por ser o Brasil um Estado formalmente laico, os novos cavaleiros deveriam ser desvinculados de qualquer tipo de religião;
c) Os uniformes e armas devem ser modernizados, optando-se por tecidos de microfibra, ao invés as pesadíssimas cotas de malha que utilizam, e substituindo espadas e escudos por armas não letais.
domingo, 25 de dezembro de 2011
sábado, 24 de dezembro de 2011
Feliz Natal! e algumas questões...
Feliz Natal!
Tempo de compatilhar, perdoar (não esquecer), e preparar os espíritos para passar a régua no passado ruim, a partir do ano novo.
Celebração tradicional do nosso comemograma cristão, o Natal sempre me deixou mais questionamentos que certezas:
1) O que exatamente nós celebramos? O nascimento de Cristo.
2) É por isso que minha mãe concebe o Natal como uma festa de aniversário. Sim, nos cantamos parabéns para Jesus Cristo, com direito a bolo e UMA vela de aniversário simbólica (já pensou colocar aproximadamente 2015 velas?!).
3) Se é uma festa de aniversário, por que nós comemoramos na véspera? Se o suposto dia de aniversário é 25 de dezembro, por que todo mundo comemora no dia 24?
4) Sabe-se que Jesus não nasceu em dezembro, e que essa data foi sobreposta à data tradicional pagã em comemoração ao Sol (se não me falha a memória). E a despeito disso, continuamos celebrando como se fosse o aniversário de Jesus.
5) Por que trocamos presentes? É uma questão de dádiva, como concebe Marcel Mauss? Os presentes são dádivas, no sentido de compartilhamento de riquezas e promessas de boa vontade? Por que não se faz uma oferenda ao aniversariante, que rigorosamente era quem merecia ganhar presentes?
6) Quanto à gastronomia, sempre fiquei intrigada com a Ceia de Natal. Tenho a sorte de que meus pais são tradicionalistas (lá do jeito deles...), então sempre houve um cuidado em manter as coisas como os pais deles faziam. Resultado: a ceia de natal que eu conheço (repetida através das gerações) incorpora elementos muito exóticos, e nada compatíveis com a minha região.
Por exemplo: nozes, amêndoas, frutas secas de outros lugares (damasco, ameixa, figo). Por que seriam incorporados elementos tão singulares? Acredito que era uma questão de status. Devia ser muito difícil e caro conseguir esses alimentos, e eles eram colocados na ceia para simbolizar a fartura.
Pensando bem, até hoje são caros por aqui. As nozes, por exemplo, custam em média R$ 20,00 (vinte reais, meio quilo), ou seja, aproximadamente 11 dólares americanos.
Não existe um procedimento específico, nem ritual estabelecido. Há a celebração de sentimentos de compartilhamento, boa vontade, e o desejo de confraternizar com os amigos, familiares, colegas de trabalho.
Por sinal, essa parece ser uma particularidade dos brasileiros: desde o início de dezembro eu estou confraternizando. Praticamente duas vezes por semana, o que nas minhas contas já deu umas oito confraternizações, uns cinco amigos-secretos (troca de dádivas surpresa), uns dois inimigos-secretos (trocas de dádivas ruins supresa).
Enfim, o mês de dezembro de cada ano é ótimo, porque consigo rever pessoas queridas, presentear algumas, abraçar todas e comemorar, lembrar junto com elas.
Feliz Natal para você também, e se tiver a resposta para alguns dos questionamentos acima, por favor, me diga. Vou considerar como um verdadeiro presente de Natal!
Tempo de compatilhar, perdoar (não esquecer), e preparar os espíritos para passar a régua no passado ruim, a partir do ano novo.
Celebração tradicional do nosso comemograma cristão, o Natal sempre me deixou mais questionamentos que certezas:
1) O que exatamente nós celebramos? O nascimento de Cristo.
2) É por isso que minha mãe concebe o Natal como uma festa de aniversário. Sim, nos cantamos parabéns para Jesus Cristo, com direito a bolo e UMA vela de aniversário simbólica (já pensou colocar aproximadamente 2015 velas?!).
3) Se é uma festa de aniversário, por que nós comemoramos na véspera? Se o suposto dia de aniversário é 25 de dezembro, por que todo mundo comemora no dia 24?
4) Sabe-se que Jesus não nasceu em dezembro, e que essa data foi sobreposta à data tradicional pagã em comemoração ao Sol (se não me falha a memória). E a despeito disso, continuamos celebrando como se fosse o aniversário de Jesus.
5) Por que trocamos presentes? É uma questão de dádiva, como concebe Marcel Mauss? Os presentes são dádivas, no sentido de compartilhamento de riquezas e promessas de boa vontade? Por que não se faz uma oferenda ao aniversariante, que rigorosamente era quem merecia ganhar presentes?
6) Quanto à gastronomia, sempre fiquei intrigada com a Ceia de Natal. Tenho a sorte de que meus pais são tradicionalistas (lá do jeito deles...), então sempre houve um cuidado em manter as coisas como os pais deles faziam. Resultado: a ceia de natal que eu conheço (repetida através das gerações) incorpora elementos muito exóticos, e nada compatíveis com a minha região.
Por exemplo: nozes, amêndoas, frutas secas de outros lugares (damasco, ameixa, figo). Por que seriam incorporados elementos tão singulares? Acredito que era uma questão de status. Devia ser muito difícil e caro conseguir esses alimentos, e eles eram colocados na ceia para simbolizar a fartura.
Pensando bem, até hoje são caros por aqui. As nozes, por exemplo, custam em média R$ 20,00 (vinte reais, meio quilo), ou seja, aproximadamente 11 dólares americanos.
Não existe um procedimento específico, nem ritual estabelecido. Há a celebração de sentimentos de compartilhamento, boa vontade, e o desejo de confraternizar com os amigos, familiares, colegas de trabalho.
Por sinal, essa parece ser uma particularidade dos brasileiros: desde o início de dezembro eu estou confraternizando. Praticamente duas vezes por semana, o que nas minhas contas já deu umas oito confraternizações, uns cinco amigos-secretos (troca de dádivas surpresa), uns dois inimigos-secretos (trocas de dádivas ruins supresa).
Enfim, o mês de dezembro de cada ano é ótimo, porque consigo rever pessoas queridas, presentear algumas, abraçar todas e comemorar, lembrar junto com elas.
Feliz Natal para você também, e se tiver a resposta para alguns dos questionamentos acima, por favor, me diga. Vou considerar como um verdadeiro presente de Natal!
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Palentologia Imaginária (4): Provolonessauro
Em certa fase da minha vida, quando era jovem e tola, achei que perder casa, comida pronta e roupa lavada de graça era sinônimo de independência.
Resolvi então morar sozinha, "para aprender as coisas da vida". E foi aí que eu me deparei com as tarefas cotidianas para as quais a minha mãe, monarca absolutista e centralizadora, nunca havia me preparado.
Trocar o gás, lavar roupas, comprar água mineral, no começo era tudo uma grande aventura. Depois ficou uma droga, mesmo. Mas com tudo a gente se acostuma, não é? E lá se vão quase quinze anos de exílio do lar parental, período em que evoluí enquanto pessoa, mas evidentemente não ao cúmulo de se dizer que sou boa dona de casa.
Enfim, tudo isso para dizer que, após oito anos de uma feliz convivência apenas comigo mesma, o meu irmão mais velho me disse uma coisa assombrosa: "Fabiana, você tem que descongelar essa geladeira de vez em quando. É por isso que a porta do congelador não está fechando, ela não está quebrada".
Bom, eu passei uns três anos achando que a porta do congelador estava quebrada,porque não abria nem fechava. Na verdade era o acúmulo de gelo que emperrava a porta. Bastava descongelar e tudo se resolveria sem precisar chamar assistência técnica.
Não é que resolveu? Depois que descongelou, a porta miraculosamente voltou a funcionar. E o melhor de tudo isso, no meio de todo aquele descongelamento, o meu irmão encontrou um pedaço de queijo primordial, fruto das minhas primeiras compras em loja de conveniência. Nele, estampada a data da minha vergonha: 1999.
Nem foi necessário datar por Carbono 14, bastou fazer uma continha rápida: 2004-199. Ele estava perdido há cinco anos...
Por se tratar de matéria orgânica, praticamente fossilizada, aquele pedaço de queijo ganhou o apelo carinhoso de "provolonessauro", o que o habilita definitivamente a integrar o panteão da paleontologia imaginária, junto com fósseis-escultura de pterodáctilos (3) e dragões (1), e ossos de centauro e tritões (2).
Resolvi então morar sozinha, "para aprender as coisas da vida". E foi aí que eu me deparei com as tarefas cotidianas para as quais a minha mãe, monarca absolutista e centralizadora, nunca havia me preparado.
Trocar o gás, lavar roupas, comprar água mineral, no começo era tudo uma grande aventura. Depois ficou uma droga, mesmo. Mas com tudo a gente se acostuma, não é? E lá se vão quase quinze anos de exílio do lar parental, período em que evoluí enquanto pessoa, mas evidentemente não ao cúmulo de se dizer que sou boa dona de casa.
Enfim, tudo isso para dizer que, após oito anos de uma feliz convivência apenas comigo mesma, o meu irmão mais velho me disse uma coisa assombrosa: "Fabiana, você tem que descongelar essa geladeira de vez em quando. É por isso que a porta do congelador não está fechando, ela não está quebrada".
Bom, eu passei uns três anos achando que a porta do congelador estava quebrada,porque não abria nem fechava. Na verdade era o acúmulo de gelo que emperrava a porta. Bastava descongelar e tudo se resolveria sem precisar chamar assistência técnica.
Não é que resolveu? Depois que descongelou, a porta miraculosamente voltou a funcionar. E o melhor de tudo isso, no meio de todo aquele descongelamento, o meu irmão encontrou um pedaço de queijo primordial, fruto das minhas primeiras compras em loja de conveniência. Nele, estampada a data da minha vergonha: 1999.
Nem foi necessário datar por Carbono 14, bastou fazer uma continha rápida: 2004-199. Ele estava perdido há cinco anos...
Por se tratar de matéria orgânica, praticamente fossilizada, aquele pedaço de queijo ganhou o apelo carinhoso de "provolonessauro", o que o habilita definitivamente a integrar o panteão da paleontologia imaginária, junto com fósseis-escultura de pterodáctilos (3) e dragões (1), e ossos de centauro e tritões (2).
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Memória Poética - Fernando Pessoa de novo
"Quanto faças, supremamente faze.
Mais vale, se a memória é quanto temos,
Lembrar muito do que pouco.
E se o muito no pouco te é possível,
Mais ampla liberdade de lembrança
Te tornará teu dono".
_______________
"Mais ampla liberdade de lembrança te tornará teu dono". Não existe maneira mais bonita, ou precisa, de destacar o papel da memória na construção da subjetividade.
Mais vale, se a memória é quanto temos,
Lembrar muito do que pouco.
E se o muito no pouco te é possível,
Mais ampla liberdade de lembrança
Te tornará teu dono".
_______________
"Mais ampla liberdade de lembrança te tornará teu dono". Não existe maneira mais bonita, ou precisa, de destacar o papel da memória na construção da subjetividade.
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
domingo, 18 de dezembro de 2011
Revanchismo, Memória e Comissão da Verdade
Na Mitologia Grega as deusas da vingança, chamadas de Erínias ou Fúrias, eram conhecidas pela sua longa memória (OST, 2005, p. 38).
Chamavam-se Tisífone (Castigo), Megaira (Rancor), Alecto (Interminável) e o seu aspecto físico era terrível (asas de morcego, cabelos trançados com serpentes e seus olhos escorrem sangue), com o claro intento de por o temor, preventivo de crimes e proativo do cumprimento de normas, no coração dos homens.
Vingança e longa memória têm uma associação imediata, porque a primeira depende da segunda.
É por isso, que quando surgem reivindicações sobre o direito fundamental à memória, são acionados os mecanismos do esquecimento: a produção da memória oficial sem os fatos inadequados, a concessão de anistias, a fabricação do consenso (discurso da superação das ideologias), o silêncio sobre fatos conflituosos, a busca da reconciliação nacional e as comemorações da datas cívicas (DANTAS, 2010).
Evidentemente que, quando começam os questionamentos sobre as torturas, crimes contra a dignidade humana, os ainda desaparecidos políticos, e os assassinados pelo terrorismo de Estado, em nome da reconciliação nacional ou por medo das Erínias, surgem tentativas de vilipendiar sua importância, reduzindo-os à categoria de "revanchismo".
Como bem destacam Lechner e Güell (2006), anda mal quem considera a busca pela verdade como uma revanche promovida por indivíduos cheios de rancor, com um insaciável apetite de vingança e cuja única finalidade é desestabilizar a Nação e a ordem. A abordagem do problema partindo dessa premissa revela, mais uma vez, uma visão privada da memória, como se respeitasse a indivíduos, quando na verdade é uma luta de toda a sociedade para estabelecer a verdade dos fatos do seu passado (DANTAS, 2010).
Um exercício interessante é questionar quem joga a carta do revanchismo, quem utiliza desse discurso? E por que?
Não há mais contexto (nem espaço, nem tempo) político, social ou internacional,para considerar esses atos sanáveis através do "deixa disso". Especialmente porque as estruturas autoritárias criadas e herdadas daquela época ainda existem e produzem os seus efeitos: o medo, a violência, o exercício incompleto de direitos, e esse temor velado ou não, de ser cidadão.
A título de conclusão, Ortega Y Gasset: "Vivemos num tempo de chantagem universal,
Que toma duas formas complementares de escárnio:
Há a chantagem da violência e a chantagem do entretenimento.
Uma e outra servem sempre para a mesma coisa:
Manter o homem simples longe do centro dos acontecimentos".
REFERÊNCIAS
DANTAS, Fabiana. Direito fundamental à memória. Curitiba: Juruá, 2010.
LECHNER, Norbert; GÜELL, Pedro. Construcción social de las memórias em la transicion chilena. In: JELIN, Elizabeth; KAUFMAN, Susana G (comps). Subjetividad y figuras de la memoria. Buenos Aires: Siglo XXI; Editora Iberoamericana,p. 17-46, 2006.
OST, François. O tempo do Direito. Bauru: EDUSC, 2005.
Chamavam-se Tisífone (Castigo), Megaira (Rancor), Alecto (Interminável) e o seu aspecto físico era terrível (asas de morcego, cabelos trançados com serpentes e seus olhos escorrem sangue), com o claro intento de por o temor, preventivo de crimes e proativo do cumprimento de normas, no coração dos homens.
Vingança e longa memória têm uma associação imediata, porque a primeira depende da segunda.
É por isso, que quando surgem reivindicações sobre o direito fundamental à memória, são acionados os mecanismos do esquecimento: a produção da memória oficial sem os fatos inadequados, a concessão de anistias, a fabricação do consenso (discurso da superação das ideologias), o silêncio sobre fatos conflituosos, a busca da reconciliação nacional e as comemorações da datas cívicas (DANTAS, 2010).
Evidentemente que, quando começam os questionamentos sobre as torturas, crimes contra a dignidade humana, os ainda desaparecidos políticos, e os assassinados pelo terrorismo de Estado, em nome da reconciliação nacional ou por medo das Erínias, surgem tentativas de vilipendiar sua importância, reduzindo-os à categoria de "revanchismo".
Como bem destacam Lechner e Güell (2006), anda mal quem considera a busca pela verdade como uma revanche promovida por indivíduos cheios de rancor, com um insaciável apetite de vingança e cuja única finalidade é desestabilizar a Nação e a ordem. A abordagem do problema partindo dessa premissa revela, mais uma vez, uma visão privada da memória, como se respeitasse a indivíduos, quando na verdade é uma luta de toda a sociedade para estabelecer a verdade dos fatos do seu passado (DANTAS, 2010).
Um exercício interessante é questionar quem joga a carta do revanchismo, quem utiliza desse discurso? E por que?
Não há mais contexto (nem espaço, nem tempo) político, social ou internacional,para considerar esses atos sanáveis através do "deixa disso". Especialmente porque as estruturas autoritárias criadas e herdadas daquela época ainda existem e produzem os seus efeitos: o medo, a violência, o exercício incompleto de direitos, e esse temor velado ou não, de ser cidadão.
A título de conclusão, Ortega Y Gasset: "Vivemos num tempo de chantagem universal,
Que toma duas formas complementares de escárnio:
Há a chantagem da violência e a chantagem do entretenimento.
Uma e outra servem sempre para a mesma coisa:
Manter o homem simples longe do centro dos acontecimentos".
REFERÊNCIAS
DANTAS, Fabiana. Direito fundamental à memória. Curitiba: Juruá, 2010.
LECHNER, Norbert; GÜELL, Pedro. Construcción social de las memórias em la transicion chilena. In: JELIN, Elizabeth; KAUFMAN, Susana G (comps). Subjetividad y figuras de la memoria. Buenos Aires: Siglo XXI; Editora Iberoamericana,p. 17-46, 2006.
OST, François. O tempo do Direito. Bauru: EDUSC, 2005.
sábado, 17 de dezembro de 2011
Lembrar Concepción Arenal
Concepción Arenal é uma escritora espanhola, nasceu em 31 de janeiro de 1820, e faleceu em fevereiro de 1893.
Foi uma jurista engajada pela concretização de muitos direitos humanos (concretos): liberdade de expressão (fundou um jornal chamado Iberia), pela dignidade das mulheres encarceradas (ajudou a fundar uma associação chamada Magdalenas para apoiá-las), lutou pelo direito à moradia (fundou a Construtora Benéfica para construir casas a baixo custo para os operários, que ainda existe) e colaborou com a Cruz Vermelha Espanhola.
Ela foi uma mulher e tanto, mas para poder estudar Direito teve que se vestir de homem! Na sua época, mulheres não frequentavam a Universidade, então foi obrigada a usar desse artifício para conseguir estudar. E pela sua biografia, dá para perceber que ela entendeu bem as aulas da Faculdade.
Concepción Arenal é, para mim, o espelho da minha vergonha. Toda vez que tenho preguiça de estudar, ou simplesmente estou tentando fazer corpo mole, lembro que para a minha geração de mulheres tudo foi (é) relativamente mais fácil.
É também o espelho da minha vergonha pois eu já estudei (e até escrevi) sobre direitos humanos, mas nunca promovi nenhuma ação concreta para efetivá-los.
Lembrar de Concepción Arenal é também lembrar que a gente pode ser uma pessoa um pouco melhor.
Foi uma jurista engajada pela concretização de muitos direitos humanos (concretos): liberdade de expressão (fundou um jornal chamado Iberia), pela dignidade das mulheres encarceradas (ajudou a fundar uma associação chamada Magdalenas para apoiá-las), lutou pelo direito à moradia (fundou a Construtora Benéfica para construir casas a baixo custo para os operários, que ainda existe) e colaborou com a Cruz Vermelha Espanhola.
Ela foi uma mulher e tanto, mas para poder estudar Direito teve que se vestir de homem! Na sua época, mulheres não frequentavam a Universidade, então foi obrigada a usar desse artifício para conseguir estudar. E pela sua biografia, dá para perceber que ela entendeu bem as aulas da Faculdade.
Concepción Arenal é, para mim, o espelho da minha vergonha. Toda vez que tenho preguiça de estudar, ou simplesmente estou tentando fazer corpo mole, lembro que para a minha geração de mulheres tudo foi (é) relativamente mais fácil.
É também o espelho da minha vergonha pois eu já estudei (e até escrevi) sobre direitos humanos, mas nunca promovi nenhuma ação concreta para efetivá-los.
Lembrar de Concepción Arenal é também lembrar que a gente pode ser uma pessoa um pouco melhor.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
Agendolatria e as repercussões para a memória individual
Fim de ano, e consequentemente, fim de agenda. As últimas folhas serão utilizadas para traçar planos para 2012.
Hora de comprar uma nova agenda, com um reluzente 2012 escrito na frente. Nesse ano, por ser prospectivamente histórico, já que nele ocorrerá o fim de antigas profecias, vou comprar duas agendas, deixando uma de reserva caso o mundo não acabe.
As agendas são muito úteis e servem para auxiliar a memória cotidiana. Tudo se consigna na agenda para não esquecer: desde datas de aniversário, compromissos importantes, período menstrual, e vários etceteras. Serve também para organizar a nossa vida, evitando o choque de horários, pessoas e interesses.
Entretanto, há pessoas que desenvolvem uma relação de dependência psicológica, e às vezes física, com as suas agendas. A "agendolatria" é um vício ou adicção em agendas que pode prejudicar consideravelmente a memória, porque simplesmente as pessoas param de exercitá-la, e sequer tentam lembrar de compromissos.
Eu, por exemplo, consigno tudo na minha agenda, mas acabo esquecendo dela em qualquer lugar, o que me força não só a lembrar sozinha dos compromissos, mas a realizar uma peregrinação por todos os lugares por quais passei ultimamente, perguntando por ela.
É uma boa chance de rever pessoas e lugares, mas infelizmente é também um pouco humilhante. Já cansei de ouvir frases como: "só não perde a cabeça porque está grudada no pescoço", "de novo, Fabiana?", "Por que não amarra a agenda numa cordinha do pescoço?" (afinal de contas, que relação é essa entre esquecimento e pescoço?). Há também aqueles que preferem cometer falta, entrando de carrinho nos meus pobres joelhos: "E é porque escreveu uma tese sobre a memória..."
Enfim.
Há também as pessoas que são viciadas nas agendas alheias, às vezes por ossos do ofício, como as secretarias. Às vezes por simples intromissão.
Em síntese, as agendas são boas e importantes, mas devem manter o seu lugar de auxiliares da memória, e não de substitutas.
Hora de comprar uma nova agenda, com um reluzente 2012 escrito na frente. Nesse ano, por ser prospectivamente histórico, já que nele ocorrerá o fim de antigas profecias, vou comprar duas agendas, deixando uma de reserva caso o mundo não acabe.
As agendas são muito úteis e servem para auxiliar a memória cotidiana. Tudo se consigna na agenda para não esquecer: desde datas de aniversário, compromissos importantes, período menstrual, e vários etceteras. Serve também para organizar a nossa vida, evitando o choque de horários, pessoas e interesses.
Entretanto, há pessoas que desenvolvem uma relação de dependência psicológica, e às vezes física, com as suas agendas. A "agendolatria" é um vício ou adicção em agendas que pode prejudicar consideravelmente a memória, porque simplesmente as pessoas param de exercitá-la, e sequer tentam lembrar de compromissos.
Eu, por exemplo, consigno tudo na minha agenda, mas acabo esquecendo dela em qualquer lugar, o que me força não só a lembrar sozinha dos compromissos, mas a realizar uma peregrinação por todos os lugares por quais passei ultimamente, perguntando por ela.
É uma boa chance de rever pessoas e lugares, mas infelizmente é também um pouco humilhante. Já cansei de ouvir frases como: "só não perde a cabeça porque está grudada no pescoço", "de novo, Fabiana?", "Por que não amarra a agenda numa cordinha do pescoço?" (afinal de contas, que relação é essa entre esquecimento e pescoço?). Há também aqueles que preferem cometer falta, entrando de carrinho nos meus pobres joelhos: "E é porque escreveu uma tese sobre a memória..."
Enfim.
Há também as pessoas que são viciadas nas agendas alheias, às vezes por ossos do ofício, como as secretarias. Às vezes por simples intromissão.
Em síntese, as agendas são boas e importantes, mas devem manter o seu lugar de auxiliares da memória, e não de substitutas.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Resgatando xingamentos antigos (9): Estúrdio
Estúrdio: "adjetivo. 1. Extravagante, estróina, leviano e doidivanas.
2. (Bras.) Esquisito, excêntrico e extravagante.
3. Bras MG SP . Diz-se de coisa fora do comum.
4. Bras RS. Trajado de maneira extravagante ou fora de moda".
Referência: Dicionário Aurélio, ensinando a gente a xingar desde 1782.
Acredito que esse xingamento é muito versátil, pois varia de acordo com o Estado da Federação em que seja usado.
No primeiro sentido, de "estróina", "extravagante", efetivamente há um componente econômico, de prodigalidade. É uma pessoa que deita fora os seus haveres. Nesse contexto de crise econômica globalizada, o parâmetro de pródigo-estróina-estúrdio mudou bastante: pode ser xingado até o indivíduo que gasta suas economias com cachaça e caldinho de feijão.
Se o pródigo-estróina-estúrdio for rico, aí ele pode ser excêntrico. Para ser excêntrico tem que ser rico, ao contrário será apenas taxado de maluco mesmo.
Se estivermos em São Paulo ou Minas Gerais (sentido 3), estúrdio pode não ser um xingamento propriamente dito, podendo apenas designar algo incomum. Difícil vai ser convencer as pessoas disso, depois que você falar em alto, bom som, e sotaque: esturrrdio. Hã?
Preocupante mesmo é se você estiver no Rio Grande do Sul, porque lá "estúrdio" se refere aos trajes. Uma bombacha faz de você um estúrdio? Claro que não. E as prendas, o que faz elas se tornarem estúrdias?
Modo de usar: por tudo isso, e pela necessidade absoluta de contextualização, acho que esse xingamento antigo é de difícil manejo, e só deve ser utilizado por aqueles que sabem esgrimir com a língua.
2. (Bras.) Esquisito, excêntrico e extravagante.
3. Bras MG SP . Diz-se de coisa fora do comum.
4. Bras RS. Trajado de maneira extravagante ou fora de moda".
Referência: Dicionário Aurélio, ensinando a gente a xingar desde 1782.
Acredito que esse xingamento é muito versátil, pois varia de acordo com o Estado da Federação em que seja usado.
No primeiro sentido, de "estróina", "extravagante", efetivamente há um componente econômico, de prodigalidade. É uma pessoa que deita fora os seus haveres. Nesse contexto de crise econômica globalizada, o parâmetro de pródigo-estróina-estúrdio mudou bastante: pode ser xingado até o indivíduo que gasta suas economias com cachaça e caldinho de feijão.
Se o pródigo-estróina-estúrdio for rico, aí ele pode ser excêntrico. Para ser excêntrico tem que ser rico, ao contrário será apenas taxado de maluco mesmo.
Se estivermos em São Paulo ou Minas Gerais (sentido 3), estúrdio pode não ser um xingamento propriamente dito, podendo apenas designar algo incomum. Difícil vai ser convencer as pessoas disso, depois que você falar em alto, bom som, e sotaque: esturrrdio. Hã?
Preocupante mesmo é se você estiver no Rio Grande do Sul, porque lá "estúrdio" se refere aos trajes. Uma bombacha faz de você um estúrdio? Claro que não. E as prendas, o que faz elas se tornarem estúrdias?
Modo de usar: por tudo isso, e pela necessidade absoluta de contextualização, acho que esse xingamento antigo é de difícil manejo, e só deve ser utilizado por aqueles que sabem esgrimir com a língua.
Marcadores:
Direito à memória coletiva
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Direito à veracidade e integridade do passado: o caso dos filhos sequestrados dos presos políticos brasileiros
Um dos aspectos do direito individual à memória que mais me preocupa é a efetivação da sua integridade e veracidade.
Acredito que seja profundamente arrasador para o indivíduo não conhecer suas próprias origens, não possuir informações verdadeiras da sua biografia, o que efetivamente causará danos à sua identidade.
Nenhum exemplo me parece melhor para ilustrar essa situação de violação à memória individual do que o caso dos netos argentinos, sequestrados pelos militares e criados por eles como se filhos fossem. Sobre essa dramática situação, escrevi o primeiro (que na verdade é o segundo) post deste blog: http://direitoamemoria.blogspot.com/2010/06/o-direito-veracidade-e-integridade-do.html. Situação parecida aconteceu durante o regime de Franco, na Espanha.
Eu sempre me perguntei se aconteceu o mesmo no Brasil. Ouvi relatos de presas brasileiras grávidas, mas nada se diz sobre os seus filhos nascidos em cativeiro.
Nesta semana li uma reportagem que parece confirmar essas preocupações: Maria Amélia de Almeida Teles, que integra a Comissão de Familiares, informou que pelo menos sete crianças foram sequestradas e entregues a militares brasileiros para adoção. (cf. http://correiodobrasil.com.br/sentenca-da-oea-sobre-araguaia-leva-parentes-ao-ministerio-publico-2/340909/).
Se isso é verdade, essas pessoas são a prova viva do envolvimento dos "falsos pais" não só com o regime ditatorial, mas com o que havia de pior nele.
Na Argentina, foram localizadas aproximadamente 105 pessoas sequestradas nessa mesma situação. Mas isso decorreu de uma efetiva campanha realizada pela Associação das Mães da Plaza de Mayo, que contaram a história dos filhos mortos e desaparecidos através de atos públicos, documentários, conclamando as pessoas com certo perfil (idade, por exemplo), a duvidarem de sua identidade.
Talvez fosse útil divulgar as fotos dos pais desaparecidos para ver se esses 7 (ou mais) brasileiros se reconhecem. Talvez fosse útil deixar que os familiares, avós, tios, falem e expliquem em rede nacional o que aconteceu.
Acredito que seja profundamente arrasador para o indivíduo não conhecer suas próprias origens, não possuir informações verdadeiras da sua biografia, o que efetivamente causará danos à sua identidade.
Nenhum exemplo me parece melhor para ilustrar essa situação de violação à memória individual do que o caso dos netos argentinos, sequestrados pelos militares e criados por eles como se filhos fossem. Sobre essa dramática situação, escrevi o primeiro (que na verdade é o segundo) post deste blog: http://direitoamemoria.blogspot.com/2010/06/o-direito-veracidade-e-integridade-do.html. Situação parecida aconteceu durante o regime de Franco, na Espanha.
Eu sempre me perguntei se aconteceu o mesmo no Brasil. Ouvi relatos de presas brasileiras grávidas, mas nada se diz sobre os seus filhos nascidos em cativeiro.
Nesta semana li uma reportagem que parece confirmar essas preocupações: Maria Amélia de Almeida Teles, que integra a Comissão de Familiares, informou que pelo menos sete crianças foram sequestradas e entregues a militares brasileiros para adoção. (cf. http://correiodobrasil.com.br/sentenca-da-oea-sobre-araguaia-leva-parentes-ao-ministerio-publico-2/340909/).
Se isso é verdade, essas pessoas são a prova viva do envolvimento dos "falsos pais" não só com o regime ditatorial, mas com o que havia de pior nele.
Na Argentina, foram localizadas aproximadamente 105 pessoas sequestradas nessa mesma situação. Mas isso decorreu de uma efetiva campanha realizada pela Associação das Mães da Plaza de Mayo, que contaram a história dos filhos mortos e desaparecidos através de atos públicos, documentários, conclamando as pessoas com certo perfil (idade, por exemplo), a duvidarem de sua identidade.
Talvez fosse útil divulgar as fotos dos pais desaparecidos para ver se esses 7 (ou mais) brasileiros se reconhecem. Talvez fosse útil deixar que os familiares, avós, tios, falem e expliquem em rede nacional o que aconteceu.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
domingo, 11 de dezembro de 2011
Pregões da minha infância
O pregão é uma espécie de anúncio, um chamamento. Alguns profissionais, como leiteiros, vendedores em geral e amoladores de facas, avisam cantando a sua chegada à clientela.
Os pregões são músicas de trabalho tradicional, que contribuíram com a trilha sonora da minha infância. Lembro que eu acordava ao som dos sinos da Igreja (que hoje não tocam mais... foram substituídos por um aparelho de som!?), e logo depois, pouco a pouco, começavam os pregões mais variados:
O apito do amolador de facas: http://www.youtube.com/watch?v=JNJpFzAne_0.
Herança portuguesa, com certeza!: http://www.youtube.com/watch?v=C0JznE2UwEQ
O vendedor de macaxeira (aipim), que gritava: XÊEEEEERA, Ô XÊRA!
Existe uma expressão antiga aqui na minha cidade que parece remeter aos pregoeiros: quando alguém é tagarela, diz-se que "fala mais que o preto do leite". Provavelmente ele era um pregoeiro dos bons!
Comparando memórias com o meu marido, ele disse que na cidade natal havia um senhor que também comercializava laticínios, conhecido como o "Alemão da Nata", que também apregoava seus produtos. O pregão de laticínios deve ser alguma particularidade dessa categoria profissional, não é?
Essa trilha sonora da cidade foi desaparecendo aos poucos. É difícil competir com o barulho ensurdecedor das nossas cidades.
Os pregões são músicas de trabalho tradicional, que contribuíram com a trilha sonora da minha infância. Lembro que eu acordava ao som dos sinos da Igreja (que hoje não tocam mais... foram substituídos por um aparelho de som!?), e logo depois, pouco a pouco, começavam os pregões mais variados:
O apito do amolador de facas: http://www.youtube.com/watch?v=JNJpFzAne_0.
Herança portuguesa, com certeza!: http://www.youtube.com/watch?v=C0JznE2UwEQ
O vendedor de macaxeira (aipim), que gritava: XÊEEEEERA, Ô XÊRA!
Existe uma expressão antiga aqui na minha cidade que parece remeter aos pregoeiros: quando alguém é tagarela, diz-se que "fala mais que o preto do leite". Provavelmente ele era um pregoeiro dos bons!
Comparando memórias com o meu marido, ele disse que na cidade natal havia um senhor que também comercializava laticínios, conhecido como o "Alemão da Nata", que também apregoava seus produtos. O pregão de laticínios deve ser alguma particularidade dessa categoria profissional, não é?
Essa trilha sonora da cidade foi desaparecendo aos poucos. É difícil competir com o barulho ensurdecedor das nossas cidades.
sábado, 10 de dezembro de 2011
Alecrim e memória
O alecrim é uma erva muito associada à boa memória. A palavra "alecrim" tem origem árabe, como geralmente acontece com as palavras portuguesas que começam com "al"(alface, alfaiate, alcachofra, almofada, alcatifa, álcool, aldraba, aldebarã,alguidar, algarismo, álgebra, alvará, entre outros).
Na língua portuguesa também é conhecida como anecril ou rosmaninho, sendo essa última palavra derivada do Latim Rosmarinus (Rosa do Mar, segundo MALLON, 2009, sendo associada com Vênus, e portanto com propriedades afrodisíacas) ou "orvalho do Mar".
Pode ser definida como :"Planta aromática da fam. das leguminosas, Rosmarinus officinalis ou Halocalyx graziovii, usada como remédio e condimento"(FRANCA, 1994, p. 49).
O alecrim simboliza a lembrança,por isso era utilizada para fortalecer a memória pelos estudantes na Antiga Grécia, que carregavam um ramo de alecrim no dia de provas e exames. Era também utilizada em funerais e colocadas no caixão, como sinal de que o falecido não seria esquecido (MALLON, 2009, p. 199).
Referências
MALLON, Brenda. Os símbolos místicos - um guia compelto para símbolos e sinais mágicos e sagrados. São Paulo: Larousse do Brasil, 2009.
FRANCA, Rubem. Arabismos - Uma mini-enciclopédia do mundo árabe. Recife: Fundação de Cultura da Cidade do Recife: Editora Universitária da UFPE, 1994.
Na língua portuguesa também é conhecida como anecril ou rosmaninho, sendo essa última palavra derivada do Latim Rosmarinus (Rosa do Mar, segundo MALLON, 2009, sendo associada com Vênus, e portanto com propriedades afrodisíacas) ou "orvalho do Mar".
Pode ser definida como :"Planta aromática da fam. das leguminosas, Rosmarinus officinalis ou Halocalyx graziovii, usada como remédio e condimento"(FRANCA, 1994, p. 49).
O alecrim simboliza a lembrança,por isso era utilizada para fortalecer a memória pelos estudantes na Antiga Grécia, que carregavam um ramo de alecrim no dia de provas e exames. Era também utilizada em funerais e colocadas no caixão, como sinal de que o falecido não seria esquecido (MALLON, 2009, p. 199).
Referências
MALLON, Brenda. Os símbolos místicos - um guia compelto para símbolos e sinais mágicos e sagrados. São Paulo: Larousse do Brasil, 2009.
FRANCA, Rubem. Arabismos - Uma mini-enciclopédia do mundo árabe. Recife: Fundação de Cultura da Cidade do Recife: Editora Universitária da UFPE, 1994.
domingo, 4 de dezembro de 2011
Recesso do Blog: 04/12 a 10/12
O blog "direitoamemoria.blogspot.com" estará de recesso entre hoje (04/12 e 10/12).
"Recesso" significa que eu não sei ainda programar a publicação das postagens futuras, mas ouvi dizer que pode ser feito.
Até a volta!
"Recesso" significa que eu não sei ainda programar a publicação das postagens futuras, mas ouvi dizer que pode ser feito.
Até a volta!
sábado, 3 de dezembro de 2011
Memória Poética - Quase paródia
"Memória, vasta memória
Se fosse sinônimo de História
seria uma rima,
não uma solução".
_______________________
Quase-paródia dos famosos versos de Carlos Drummond de Andrade, excerto do "Poema de sete faces":
"Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração."
Se fosse sinônimo de História
seria uma rima,
não uma solução".
_______________________
Quase-paródia dos famosos versos de Carlos Drummond de Andrade, excerto do "Poema de sete faces":
"Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração."
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Direito ao esquecimento: Vanusa
Vanusa é uma famosa cantora brasileira que, por motivos que só lhe dizem respeito, errou ao cantar o hino nacional brasileiro: http://www.youtube.com/watch?v=4VGDhOxmZZI.
Cantar errado a música ou a letra do hino nacional brasileiro não é crime, nem pecado. Mas parece que afetou bastante a auto-imagem da cantora que, nesta semana, esqueceu novamente outra canção e agora fala em aposentadoria: http://www.pbagora.com.br/conteudo.php?id=20111130131036&cat=brasil&keys=vanusa-esquece-letra-novo-fala-aposentadoria
Como se pode ver na notícia, Vanusa não quer ser lembrada como "a cantora que errou o hino nacional". Esse é um claro exemplo de reivindicação do direito ao esquecimento, que poderia ser efetivado, pois não houve nenhum limite moral transgredido, nenhuma violação a quaisquer direitos.
Na verdade, ninguém mais falava de Vanusa ter errado o Hino (que por sinal, não é nada fácil), e nem cantar o Hino evocava a imagem de Vanusa. Atire a primeira pedra quem nunca cantou o Hino Brasileiro errado, nem confundiu a primeira parte com a segunda...
Entretanto, há o risco de se fazer a associação definitiva da cantora com cantar errado. Toda vez que alguém esquecer qualquer letra de música, vai estar cometendo uma "vanusada", por exemplo. Isso acontece porque, involuntariamente, a cantora reforçou a memória de um erro, com um segundo e agora, terceiro.
Cantar errado a música ou a letra do hino nacional brasileiro não é crime, nem pecado. Mas parece que afetou bastante a auto-imagem da cantora que, nesta semana, esqueceu novamente outra canção e agora fala em aposentadoria: http://www.pbagora.com.br/conteudo.php?id=20111130131036&cat=brasil&keys=vanusa-esquece-letra-novo-fala-aposentadoria
Como se pode ver na notícia, Vanusa não quer ser lembrada como "a cantora que errou o hino nacional". Esse é um claro exemplo de reivindicação do direito ao esquecimento, que poderia ser efetivado, pois não houve nenhum limite moral transgredido, nenhuma violação a quaisquer direitos.
Na verdade, ninguém mais falava de Vanusa ter errado o Hino (que por sinal, não é nada fácil), e nem cantar o Hino evocava a imagem de Vanusa. Atire a primeira pedra quem nunca cantou o Hino Brasileiro errado, nem confundiu a primeira parte com a segunda...
Entretanto, há o risco de se fazer a associação definitiva da cantora com cantar errado. Toda vez que alguém esquecer qualquer letra de música, vai estar cometendo uma "vanusada", por exemplo. Isso acontece porque, involuntariamente, a cantora reforçou a memória de um erro, com um segundo e agora, terceiro.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Inacreditável (2)
Diariamente, eu consulto o seguinte sítio:http://kibeloco.com.br/platb/kibeloco/
Esse sítio traz importantes reflexões memoriais, e tem duas séries fundamentais, no nosso ponto de vista: "Separados", uma análise comparativa entre pessoas/coisas que mutuamente se evocam; e "Pracas do Braziu", porque essa é dura a realidade de pessoas que vagamente lembram como as coisas devem ser escritas.
Hoje, foi veiculada a seguinte notícia chocante: http://kibeloco.com.br/platb/kibeloco/2011/11/30/que-historia-e-essa/
Fiquei "absolutamente" estarrecida.
Esse sítio traz importantes reflexões memoriais, e tem duas séries fundamentais, no nosso ponto de vista: "Separados", uma análise comparativa entre pessoas/coisas que mutuamente se evocam; e "Pracas do Braziu", porque essa é dura a realidade de pessoas que vagamente lembram como as coisas devem ser escritas.
Hoje, foi veiculada a seguinte notícia chocante: http://kibeloco.com.br/platb/kibeloco/2011/11/30/que-historia-e-essa/
Fiquei "absolutamente" estarrecida.
Marcadores:
Direito à memória coletiva,
Direito à memória dos mortos
Memória Poética: Edith Piaf
Non, Je Ne Regrette Rien
Édith Piaf
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Ni le bien qu'on ma fait,
Ni le mal - tout ça m'est bien égal!
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
C'est payé, balayé, oublié,
Je me fous du passé!
Avec mes souvenirs
J'ai allumé le feu,
Mes chagrins, mes plaisirs,
Je n'ai plus besoin d'eux!
Balayé les amours
Avec leurs trémolos
Balayés pour toujours
Je repars à zéro...
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Ni le bien qu'on ma fait,
Ni le mal - tout ça m'est bien égal!
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Car ma vie, car mes joies,
Aujourd'hui, ça commence avec toi!
______________________
Boa tentativa, mas não dá para recomeçar do zero absoluto.
Édith Piaf
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Ni le bien qu'on ma fait,
Ni le mal - tout ça m'est bien égal!
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
C'est payé, balayé, oublié,
Je me fous du passé!
Avec mes souvenirs
J'ai allumé le feu,
Mes chagrins, mes plaisirs,
Je n'ai plus besoin d'eux!
Balayé les amours
Avec leurs trémolos
Balayés pour toujours
Je repars à zéro...
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Ni le bien qu'on ma fait,
Ni le mal - tout ça m'est bien égal!
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Car ma vie, car mes joies,
Aujourd'hui, ça commence avec toi!
______________________
Boa tentativa, mas não dá para recomeçar do zero absoluto.
terça-feira, 29 de novembro de 2011
Citações sobre a memória - Simone Weil
A memória é fundamental para a individualidade, como destaca Simone Weil (2001, p. 50:
"A oposição entre o passado e o futuro é absurda. O futuro não nos traz nada, não nos dá nada; somos nós que para o construir devemos dar-lhe tudo, dar-lhe a nossa própria vida. Mas para dar é preciso possuir, e não possuímos outra vida, outra seiva, senão os tesouros herdados do passado e digeridos, assimilados e recriados por nós. De todas as necessidades da alma humana, não há nenhuma mais vital do que o passado".
Referência
WEIL, Simone. O enraizamento. Bauru: EDUSC, 2001.
"A oposição entre o passado e o futuro é absurda. O futuro não nos traz nada, não nos dá nada; somos nós que para o construir devemos dar-lhe tudo, dar-lhe a nossa própria vida. Mas para dar é preciso possuir, e não possuímos outra vida, outra seiva, senão os tesouros herdados do passado e digeridos, assimilados e recriados por nós. De todas as necessidades da alma humana, não há nenhuma mais vital do que o passado".
Referência
WEIL, Simone. O enraizamento. Bauru: EDUSC, 2001.
domingo, 27 de novembro de 2011
sábado, 26 de novembro de 2011
Comissão Nacional da Verdade: afirmações e perguntas
Passei a semana estudando a Lei nº 12.528/2011, que instituiu a Comissão Nacional da verdade para "examinar as graves violações de direitos humanos praticadas", no período de 18 de setembro de 1946 até 5 de outubro de 1988, com a finalidade de efetivar o direito à memória e à verdade e promover a reconciliação nacional.
Depois da leitura do texto,e ainda sem fazer juízos de valor, fiquei com as seguintes certezas:
a) A comissão tem a natureza jurídica de órgão;
b) Integra a estrutura da Presidência da República, pela desconcentração da Casa Civil, portanto faz parte do Executivo;
c) A partir da instalação a Comissão existirá por dois anos;
d) Nesse tempo improrrogável, a Comissão deverá expedir um relatório consolidando as informações obtidas através de depoimentos voluntários e documentos.
e) Os membros devem ser brasileiros (natos ou naturalizados), imparciais, de reconhecida conduta ética, identificados com a institucionalidade constitucional, identificados com o respeito aos direitos humanos;
f) Pela exigência de "imparcialidade" evidentemente as vítimas, familiares das vítimas, algozes, não poderão integrá-la.
g) Os membros da Comissão estarão submetidos ao regime dos servidores públicos civis da União (Lei 8112/90), portanto, poderão sofrer processo disciplinar em razão de violação de deveres e proibições funcionais.
A leitura do texto trouxe os seguintes questionamentos:
1) Art. 4º, III - qual é a consequência de não comparecer ou atender à convocação da Comissão? Evidentemente, os responsáveis por violações aos direitos humanos não vão comparecer.
2) Haverá imunidade para quem divulgar a identidade de torturadores?
3) O artigo 5º prevê o sigilo discricionário durante as atividades da Comissão. E depois de sua extinção, também haverá sigilo?
4) O artigo 9º efetivamente promoveu a criação retroativa de cargos públicos, ou foi erro de impressão?
5) Qual é o critério norteador para a escolha dos membros da Comissão "pluralista"? Análise curricular e da vida pregressa? Serão elaboradas listas sêxtuplas, tríplices? Haverá candidaturas ou será um ato exclusivo da Presidência?
6) O regulamento deverá prever as causas de destituição, substituição de membros da Comissão.
7) Haverá aprovação do relatório da Comissão por alguma autoridade?
8) Se o relatório não estiver tecnicamente suficiente e adequado, quais são as consequências?
9) Haverá suplentes?
10) No regulamento, deverá ser estabelecido o rito das decisões da Comissão;
11) Quais serão os parâmetros para avaliar a eficiência da comissão?
12 ) O regulamento deverá prever causas de mpedimento e suspeição para preservar a imparcialidade.
13) A Comissão (7 membros) será secundada e apoiada por 14 cargos de assessoramento superior (1 DAS, 10 DAS4 e 3 DAS3). Qual será o critério de escolha e quais serão suas funções?
14) O acervo, todo o acervo, encaminhado ao Arquivo Nacional para integrar o Projeto Memórias Reveladas será disponibilizado ao público?
15) O que será feito com o relatório da Comissão da Verdade?
Finalmente, duas últimas considerações neste momento:
I- A Comissão Nacional da Verdade já parte da premissa de que houve violação de direitos humanos, essa inclusive é a versão oficial dos fatos desde a publicação do relatório "Direito à Memória e à Verdade", qual é a verdade, então que se quer pesquisar?
II -Promover a "reconciliação nacional"? Houve algum momento de não-reconciliação? Reconciliar os brasileiros com esse passado doloroso, reconciliar famílias com o governo? Reconciliar quem? Reconciliar o que? Reconciliar os brasileiros com aqueles que violaram direitos humanos? Por que?
Depois da leitura do texto,e ainda sem fazer juízos de valor, fiquei com as seguintes certezas:
a) A comissão tem a natureza jurídica de órgão;
b) Integra a estrutura da Presidência da República, pela desconcentração da Casa Civil, portanto faz parte do Executivo;
c) A partir da instalação a Comissão existirá por dois anos;
d) Nesse tempo improrrogável, a Comissão deverá expedir um relatório consolidando as informações obtidas através de depoimentos voluntários e documentos.
e) Os membros devem ser brasileiros (natos ou naturalizados), imparciais, de reconhecida conduta ética, identificados com a institucionalidade constitucional, identificados com o respeito aos direitos humanos;
f) Pela exigência de "imparcialidade" evidentemente as vítimas, familiares das vítimas, algozes, não poderão integrá-la.
g) Os membros da Comissão estarão submetidos ao regime dos servidores públicos civis da União (Lei 8112/90), portanto, poderão sofrer processo disciplinar em razão de violação de deveres e proibições funcionais.
A leitura do texto trouxe os seguintes questionamentos:
1) Art. 4º, III - qual é a consequência de não comparecer ou atender à convocação da Comissão? Evidentemente, os responsáveis por violações aos direitos humanos não vão comparecer.
2) Haverá imunidade para quem divulgar a identidade de torturadores?
3) O artigo 5º prevê o sigilo discricionário durante as atividades da Comissão. E depois de sua extinção, também haverá sigilo?
4) O artigo 9º efetivamente promoveu a criação retroativa de cargos públicos, ou foi erro de impressão?
5) Qual é o critério norteador para a escolha dos membros da Comissão "pluralista"? Análise curricular e da vida pregressa? Serão elaboradas listas sêxtuplas, tríplices? Haverá candidaturas ou será um ato exclusivo da Presidência?
6) O regulamento deverá prever as causas de destituição, substituição de membros da Comissão.
7) Haverá aprovação do relatório da Comissão por alguma autoridade?
8) Se o relatório não estiver tecnicamente suficiente e adequado, quais são as consequências?
9) Haverá suplentes?
10) No regulamento, deverá ser estabelecido o rito das decisões da Comissão;
11) Quais serão os parâmetros para avaliar a eficiência da comissão?
12 ) O regulamento deverá prever causas de mpedimento e suspeição para preservar a imparcialidade.
13) A Comissão (7 membros) será secundada e apoiada por 14 cargos de assessoramento superior (1 DAS, 10 DAS4 e 3 DAS3). Qual será o critério de escolha e quais serão suas funções?
14) O acervo, todo o acervo, encaminhado ao Arquivo Nacional para integrar o Projeto Memórias Reveladas será disponibilizado ao público?
15) O que será feito com o relatório da Comissão da Verdade?
Finalmente, duas últimas considerações neste momento:
I- A Comissão Nacional da Verdade já parte da premissa de que houve violação de direitos humanos, essa inclusive é a versão oficial dos fatos desde a publicação do relatório "Direito à Memória e à Verdade", qual é a verdade, então que se quer pesquisar?
II -Promover a "reconciliação nacional"? Houve algum momento de não-reconciliação? Reconciliar os brasileiros com esse passado doloroso, reconciliar famílias com o governo? Reconciliar quem? Reconciliar o que? Reconciliar os brasileiros com aqueles que violaram direitos humanos? Por que?
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
Citações sobre a memória - Friedrich Nietzsche
"A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez".
______________________
Ele tem toda razão. Mas quando a piada é boa mesmo, basta lembrar e rir como se fosse a primeira vez.
Eu ADORO a seguinte piada, que ouvi quando era pequena, mas só de escrever sobre ela já comecei a rir.
Pergunta: "Por que o elefante é grande e cinza?"
Resposta estulta: "Porque se fosse pequeno, e verde, era uma azeitona!".
hahahahahaha.
______________________
Ele tem toda razão. Mas quando a piada é boa mesmo, basta lembrar e rir como se fosse a primeira vez.
Eu ADORO a seguinte piada, que ouvi quando era pequena, mas só de escrever sobre ela já comecei a rir.
Pergunta: "Por que o elefante é grande e cinza?"
Resposta estulta: "Porque se fosse pequeno, e verde, era uma azeitona!".
hahahahahaha.
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
RESGATANDO INSTITUIÇÕES ANTIGAS:Auto-sacrifício maia
A série “Resgatando Instituições Antigas” é mais uma iniciativa deste blog para recordar de maneira ativa, reciclando e reconstruindo antigas instituições/convenções sociais que, por fatores variados, acabaram sendo esquecidas (cf.http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/11/resgatando-instituicoes-antigas.html) .
Esse resgate baseia-se na certeza de que muitas dessas instituições/convenções poderiam voltar a ser úteis, se fossem adaptadas às necessidades modernas: neste post analisaremos o auto-sacrifício maia.
O auto-sacrifício entre os povos indígenas mesoamericanos era praticado pelos governantes e integrava o conjunto de suas atribuições. A finalidade desse ritual era religiosa e política, e consistia em furar partes do corpo (língua, pênis, lábios) com espinhos, espinha de peixe ou artefatos de obsidiana, com a finalidade de obter o sangue sagrado para oferendas.
Ilustração: confiram a representação de uma cena de auto-sacrifício, que acabou inspirando a confecção de um baralho russo (?): http://boingboing.net/2010/03/24/russian-playing-card.html.
A antiga instituição do auto-sacrifício maia poderia ser revitalizada se:
a) A finalidade religiosa fosse abstraída;
b)A finalidade política fosse ressaltada, com caráter preventivo e pedagógico. Assim, quando houvesse eleições, os candidatos já estariam advertidos também dessa obrigação inerente ao mandato.
c)Fosse proibida a divulgação de imagens, ou de vídeos no youtube, das sessões de auto-sacrifício para não transformar esse grave ato público em espetáculo midiático.
Esse resgate baseia-se na certeza de que muitas dessas instituições/convenções poderiam voltar a ser úteis, se fossem adaptadas às necessidades modernas: neste post analisaremos o auto-sacrifício maia.
O auto-sacrifício entre os povos indígenas mesoamericanos era praticado pelos governantes e integrava o conjunto de suas atribuições. A finalidade desse ritual era religiosa e política, e consistia em furar partes do corpo (língua, pênis, lábios) com espinhos, espinha de peixe ou artefatos de obsidiana, com a finalidade de obter o sangue sagrado para oferendas.
Ilustração: confiram a representação de uma cena de auto-sacrifício, que acabou inspirando a confecção de um baralho russo (?): http://boingboing.net/2010/03/24/russian-playing-card.html.
A antiga instituição do auto-sacrifício maia poderia ser revitalizada se:
a) A finalidade religiosa fosse abstraída;
b)A finalidade política fosse ressaltada, com caráter preventivo e pedagógico. Assim, quando houvesse eleições, os candidatos já estariam advertidos também dessa obrigação inerente ao mandato.
c)Fosse proibida a divulgação de imagens, ou de vídeos no youtube, das sessões de auto-sacrifício para não transformar esse grave ato público em espetáculo midiático.
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Memória do Direito
Memória e Direito têm uma íntima relação, que vai além da lenda em torno dos rábulas, esses juristas não-bacharéis de quem, pejorativamente, se diz conhecer a letra da lei, mas não o seu significado. Na nossa memória coletiva profissional, os rábulas decoram a Lei, mas não a entendem, o que é efetivamente uma grande injustiça com esses nossos antecessores.
Muitas pessoas ainda acham que para exercer funções na área do Direito é preciso decorar as normas jurídicas. Talvez isso ocorra porque, de tanto utilizar e aplicar determinada norma, os operadores jurídicos acabam por conhecê-la e citá-la decor, o que pode causar assombro em desavisados.
Ou, talvez porque a função de jurista é das mais antigas, ainda aplicamos aquelas práticas medievais, tempo em que saber era sinônimo de decorar: tantum scimus, quanto memoria tenemus.
Até bem pouco tempo (uma geração no máximo), dava-se grande valor no ensino formal à prática de decorar. Acho muito interessante quando o meu pai se põe a declamar os afluentes do Rio Amazonas, porque realmente percebo sentido na etimologia: decorar (do Latim de cor), "saber de coração", porque esse órgão era tido como a sede dos sentimentos, da inteligência e do saber (CUNHA, 2001, p. 216).
O Direito utiliza-se da memória de várias formas:
a) Como meio de prova: desde a previsão do testemunho, que é memória individual sobre fatos, até à utilização de documentos.
b) A atividade jurisdicional consiste, basicamente, no registro e solução de conflitos e, por isso, os arquivos judiciais são uma importante fonte de pesquisa dos costumes, da linguagem e das relações sociais, embora o interesse dos historiadores e sociólogos sobre eles seja relativamente recente (CHALHOUB, 2007).
Infelizmente, em razão da crônica falta de espaço físico, o projeto do novo Código de Processo Civil pretende facilitar a destruição de autos judiciais, tema sobre o qual já nos pronunciamos contrariamente, no post http://direitoamemoria.blogspot.com/2010/09/o-dever-de-lembrar-e-destruicao-de.html
c) O Direito abrange fontes memoriais como o costume jurídico e o precedente judicial, onde a solução jurídica é herdada, e sua legitimidade decorre da antigüidade e da constância da transmissão mais do que uma racionalidade ou utilidade social (OST, 2005, p. 95)
d) O ordenamento jurídico brasileiro prevê o respeito às situações constituídas como garantia individual, através do princípio da segurança jurídica, estabelecendo o respeito ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada, em clara exortação de respeito ao passado (DANTAS, 2010).
e) Existe uma “memória jurídica” no modo de ser do Direito e de construí-lo: as vestimentas utilizadas, a linguagem, as normas transmitidas.
f) A memória é uma aliada do Direito, pois permite consolidar as inibições que fazem do Direito um importante sistema de controle social: sem ela os homens não saberiam o que é lícito ou ilícito, nem mesmo a diferença entre ambos.
g) O exercício do direito à memória evita que violações de direitos sejam esquecidas.
REFERÊNCIA
CHALHOUB, Sidney. O conhecimento da História, o direito à memória e os arquivos judiciais. Disponível em:. Acesso em: 17/03/2007.
CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
DANTAS, Fabiana Santos. Direito fundamental à memória.
OST, François. O tempo do Direito. Bauru: EDUSC, 2005.
Muitas pessoas ainda acham que para exercer funções na área do Direito é preciso decorar as normas jurídicas. Talvez isso ocorra porque, de tanto utilizar e aplicar determinada norma, os operadores jurídicos acabam por conhecê-la e citá-la decor, o que pode causar assombro em desavisados.
Ou, talvez porque a função de jurista é das mais antigas, ainda aplicamos aquelas práticas medievais, tempo em que saber era sinônimo de decorar: tantum scimus, quanto memoria tenemus.
Até bem pouco tempo (uma geração no máximo), dava-se grande valor no ensino formal à prática de decorar. Acho muito interessante quando o meu pai se põe a declamar os afluentes do Rio Amazonas, porque realmente percebo sentido na etimologia: decorar (do Latim de cor), "saber de coração", porque esse órgão era tido como a sede dos sentimentos, da inteligência e do saber (CUNHA, 2001, p. 216).
O Direito utiliza-se da memória de várias formas:
a) Como meio de prova: desde a previsão do testemunho, que é memória individual sobre fatos, até à utilização de documentos.
b) A atividade jurisdicional consiste, basicamente, no registro e solução de conflitos e, por isso, os arquivos judiciais são uma importante fonte de pesquisa dos costumes, da linguagem e das relações sociais, embora o interesse dos historiadores e sociólogos sobre eles seja relativamente recente (CHALHOUB, 2007).
Infelizmente, em razão da crônica falta de espaço físico, o projeto do novo Código de Processo Civil pretende facilitar a destruição de autos judiciais, tema sobre o qual já nos pronunciamos contrariamente, no post http://direitoamemoria.blogspot.com/2010/09/o-dever-de-lembrar-e-destruicao-de.html
c) O Direito abrange fontes memoriais como o costume jurídico e o precedente judicial, onde a solução jurídica é herdada, e sua legitimidade decorre da antigüidade e da constância da transmissão mais do que uma racionalidade ou utilidade social (OST, 2005, p. 95)
d) O ordenamento jurídico brasileiro prevê o respeito às situações constituídas como garantia individual, através do princípio da segurança jurídica, estabelecendo o respeito ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada, em clara exortação de respeito ao passado (DANTAS, 2010).
e) Existe uma “memória jurídica” no modo de ser do Direito e de construí-lo: as vestimentas utilizadas, a linguagem, as normas transmitidas.
f) A memória é uma aliada do Direito, pois permite consolidar as inibições que fazem do Direito um importante sistema de controle social: sem ela os homens não saberiam o que é lícito ou ilícito, nem mesmo a diferença entre ambos.
g) O exercício do direito à memória evita que violações de direitos sejam esquecidas.
REFERÊNCIA
CHALHOUB, Sidney. O conhecimento da História, o direito à memória e os arquivos judiciais. Disponível em:
CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
DANTAS, Fabiana Santos. Direito fundamental à memória.
OST, François. O tempo do Direito. Bauru: EDUSC, 2005.
domingo, 20 de novembro de 2011
Memória poética - Mario Benedetti
"O esquecimento está tão cheio de memória que às vezes não cabem as lembranças
e rancores precisam ser jogados pela borda no fundo
o esquecimento é um grande simulacro ninguém sabe nem pode
ainda que queira
esquecer um grande simulacro abarrotado de fantasmas
esses romeiros que peregrinam pelo esquecimento como se fosse o caminho de Santiago.
O dia ou a noite em que o esquecimento estale, exploda em pedaços ou crepite
as lembranças atrozes e as de maravilhamento quebrarão as trancas de fogo
arrastarão afinal a verdade pelo mundo e essa verdade será a de que não há esquecimento".
BENEDETTI, Mario. Esse grande simulacro.
e rancores precisam ser jogados pela borda no fundo
o esquecimento é um grande simulacro ninguém sabe nem pode
ainda que queira
esquecer um grande simulacro abarrotado de fantasmas
esses romeiros que peregrinam pelo esquecimento como se fosse o caminho de Santiago.
O dia ou a noite em que o esquecimento estale, exploda em pedaços ou crepite
as lembranças atrozes e as de maravilhamento quebrarão as trancas de fogo
arrastarão afinal a verdade pelo mundo e essa verdade será a de que não há esquecimento".
BENEDETTI, Mario. Esse grande simulacro.
sábado, 19 de novembro de 2011
Citações sobre a memória - Aristóteles
"Memória é, portanto, nem percepção nem concepção, mas sim um estado de afeição de um destes, condicionados por um intervalo de tempo. Como já observamos não existe memória do presente no presente, pois o presente é objeto apenas de percepção, e o futuro de expectativas, porém o objeto da memória é o passado. Toda memória, portanto, implica um intervalo de tempo. Conseqüentemente apenas os animais que percebem o tempo lembram e o órgão no qual percebem o tempo também no qual eles lembram".
Referência:ARISTOTLE. On Memory and Reminiscence. In: Works of Aristotle. Chicago: University of Chicago Press, 1989, p. 55.
Referência:ARISTOTLE. On Memory and Reminiscence. In: Works of Aristotle. Chicago: University of Chicago Press, 1989, p. 55.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Sancionada a Lei de criação da Comissão da Verdade
Hoje foi sancionada a Lei de criação da Comissão da Verdade, instaurada para verificar possíveis violações de direitos humanos no Brasil, no período de 1946 a 1988.
Cf:http://br.reuters.com/article/topNews/idBRSPE7AH07C20111118
Vamos aguardar a publicação do texto no Diário Oficial para analisá-lo.
Hoje também foi sancionada a lei que limita o sigilo de documentos públicos. Boa notícia para a memória coletiva.
Cf:http://br.reuters.com/article/topNews/idBRSPE7AH07C20111118
Vamos aguardar a publicação do texto no Diário Oficial para analisá-lo.
Hoje também foi sancionada a lei que limita o sigilo de documentos públicos. Boa notícia para a memória coletiva.
Marcadores:
Direito à memória coletiva,
Direito à memória dos mortos
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
RESGATANDO XINGAMENTOS ANTIGOS (8): SÉCIO
"Sécio" é o indivíduo janota, que se veste com apuro exagerado e afetação, ou que saracoteia muito, segundo o Dicionário do Sr. Aurélio.
Parece que, no contexto social em que esse xingamento foi criado, ser vistoso e muito enfeitado é um desvalor.
Realmente, aplicar esse xingamento antigo no cotidiano é um pouco difícil, pois desde a moda "grunge" o conceito de apurar-se no vestir caiu em desuso. As calças já são compradas do tamanho errado ou rasgadas, deixando à mostra partes de roupas íntimas, que não estão necessariamente limpas.
Por outro lado, a moda feminina no Brasil revela roupas cada vez menores, mais apertadas e frequentemente muito coloridas e enfeitadas, ou que então são produzidas sob o jugo da mentalidade ditatorial que elege a cor da moda: já passamos pela ditadura do bege, do roxo, do caramelo e do rosa.
Nesse contexto, qualquer pessoa que vista a roupa do tamanho certo pode ser xingada de sécia.
Modo de usar: "Fulano é um sécio".
Modo de usar avançado (combinando xingamentos antigos): "Fulano é tão sécio, que mais parece um alfenim".
Parece que, no contexto social em que esse xingamento foi criado, ser vistoso e muito enfeitado é um desvalor.
Realmente, aplicar esse xingamento antigo no cotidiano é um pouco difícil, pois desde a moda "grunge" o conceito de apurar-se no vestir caiu em desuso. As calças já são compradas do tamanho errado ou rasgadas, deixando à mostra partes de roupas íntimas, que não estão necessariamente limpas.
Por outro lado, a moda feminina no Brasil revela roupas cada vez menores, mais apertadas e frequentemente muito coloridas e enfeitadas, ou que então são produzidas sob o jugo da mentalidade ditatorial que elege a cor da moda: já passamos pela ditadura do bege, do roxo, do caramelo e do rosa.
Nesse contexto, qualquer pessoa que vista a roupa do tamanho certo pode ser xingada de sécia.
Modo de usar: "Fulano é um sécio".
Modo de usar avançado (combinando xingamentos antigos): "Fulano é tão sécio, que mais parece um alfenim".
terça-feira, 15 de novembro de 2011
15 de novembro - Proclamação da República
A história oficial conta que, viril e bravamente, o marechal Manuel Deodoro da Fonseca resolveu que o Brasil seria uma República, no dia 15 de novembro do ano da graça de 1889. Sentando em seu cavalo, prenunciando que tal imagem viraria estátua, supostamente disse: "Viva Sua Majestade, o Imperador".
A história é confusa mesmo. Como é que um reconhecido monarquista proclamou a república? A contragosto, evidente. Na verdade, conta-se que a idéia era apenas substituir alguns ministérios, mas uma rede de intrigas, conspirações e mentiras (boato de que o Marechal seria preso, boato de que um desafeto antigo seria ministro, boatos, boatos) o fez proclamar a República.
A monarquia e a república são formas de governo, e a sua distinção fundamental é na forma de acesso e permanência do governante nas funções de Chefe de Estado e/ou Governo. Na Monarquia, o governante é escolhido em caráter vitalício, e sua sucessão ocorrerá por tradição, conforme regras pré-definidas (não necessariamente por filiação). Na República, o governante é escolhido em caráter temporário, para exercer um mandato.
Naquela manhã do dia 15 de novembro, a intenção do marechal Deodoro era apenas derrubar o primeiro-ministro, Visconde de Ouro Preto e o seu gabiente, e voltar para casa o mais rápido possível, porque estava muito doente. O marechal dormia à tarde quando foi acordado deselegantemente pelos republicanos, com o boato de que um desafeto seu (Gaspar Silveira Martins) iria substituir o Visconde de Ouro Preto.
Do alto da sua cama, e de pijama, o marechal proclamou a República, e tornou-se o primeiro presidente dos Estados Unidos do Brasil (sim, esse era então o nome da Pátria), através de um golpe militar, e exercendo poderes ditatoriais.(cf: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL697700-15607-191,00.html).
Olha o que dispõe o Decreto nº 1, de 16/11/1889:
"Art. 1º - Fica proclamada provisoriamente e decretada como a forma de governo da Nação brasileira - a República Federativa.
Art. 2º - As Províncias do Brasil, reunidas pelo laço da Federação, ficam constituindo os Estados Unidos do Brasil.
Art. 3º - Cada um desses Estados, no exercício de sua legítima soberania, decretará oportunamente a sua constituição definitiva, elegendo os seus corpos deliberantes e os seus Governos locais".
[Pausa para reflexão: o artigo 3º reconhece a "soberania" de cada um dos Estados membros? Decreto nº 1 criou uma confederação?]
Como consequência da proclamação da república, a família imperial foi banida do Brasil, e o Habeas Corpus impetrado para permitir o seu retorno foi julgado improcedente: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/sobreStfConhecaStfJulgamentoHistorico/anexo/HC1974.pdf
Se há alguma comemoração popular sobre a Proclamação da República? Ir à praia. Ninguém reflete sobre o significado desse feriado (feriado, oba!, oba!), nem há eventos públicos para discutir a sanidade e a salubridade da república.
A história é confusa mesmo. Como é que um reconhecido monarquista proclamou a república? A contragosto, evidente. Na verdade, conta-se que a idéia era apenas substituir alguns ministérios, mas uma rede de intrigas, conspirações e mentiras (boato de que o Marechal seria preso, boato de que um desafeto antigo seria ministro, boatos, boatos) o fez proclamar a República.
A monarquia e a república são formas de governo, e a sua distinção fundamental é na forma de acesso e permanência do governante nas funções de Chefe de Estado e/ou Governo. Na Monarquia, o governante é escolhido em caráter vitalício, e sua sucessão ocorrerá por tradição, conforme regras pré-definidas (não necessariamente por filiação). Na República, o governante é escolhido em caráter temporário, para exercer um mandato.
Naquela manhã do dia 15 de novembro, a intenção do marechal Deodoro era apenas derrubar o primeiro-ministro, Visconde de Ouro Preto e o seu gabiente, e voltar para casa o mais rápido possível, porque estava muito doente. O marechal dormia à tarde quando foi acordado deselegantemente pelos republicanos, com o boato de que um desafeto seu (Gaspar Silveira Martins) iria substituir o Visconde de Ouro Preto.
Do alto da sua cama, e de pijama, o marechal proclamou a República, e tornou-se o primeiro presidente dos Estados Unidos do Brasil (sim, esse era então o nome da Pátria), através de um golpe militar, e exercendo poderes ditatoriais.(cf: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL697700-15607-191,00.html).
Olha o que dispõe o Decreto nº 1, de 16/11/1889:
"Art. 1º - Fica proclamada provisoriamente e decretada como a forma de governo da Nação brasileira - a República Federativa.
Art. 2º - As Províncias do Brasil, reunidas pelo laço da Federação, ficam constituindo os Estados Unidos do Brasil.
Art. 3º - Cada um desses Estados, no exercício de sua legítima soberania, decretará oportunamente a sua constituição definitiva, elegendo os seus corpos deliberantes e os seus Governos locais".
[Pausa para reflexão: o artigo 3º reconhece a "soberania" de cada um dos Estados membros? Decreto nº 1 criou uma confederação?]
Como consequência da proclamação da república, a família imperial foi banida do Brasil, e o Habeas Corpus impetrado para permitir o seu retorno foi julgado improcedente: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/sobreStfConhecaStfJulgamentoHistorico/anexo/HC1974.pdf
Se há alguma comemoração popular sobre a Proclamação da República? Ir à praia. Ninguém reflete sobre o significado desse feriado (feriado, oba!, oba!), nem há eventos públicos para discutir a sanidade e a salubridade da república.
Marcadores:
comemograma,
Direito à memória coletiva
domingo, 13 de novembro de 2011
Business da memória
Dica de Denise: no sítio http://memorias.atrapalo.com.br/index_pt_BR.html, você pode conhecer uma empresa que se propõe a implantar memórias.
A missão dessa empresa é disponibilizar aos clientes um catálogo de lembranças, que podem ser compradas para implantação. A proposta é permitir ao cliente transportar-se a qualquer lugar, "repetir o irrepetível", sentir o que nunca sentiu (então não é memória individual), e repetir essa sensação comprada quantas vezes quiser (aí já estamos no campo da memória).
Já imaginaram? Poder comprar a lembrança de voar de asa delta, com toda a adrenalina e emoção, sem precisar correr o risco inerente à atividade?
No "catálogo" da empresa você pode adquirir lembranças de viajar de balão, pelo Brasil, de receber massagem...
A idéia é interessante, mas prefiro participar ativamente da construção das minhas lembranças, especialmente porque elas são moduladas pelas minhas emoções, meu ponto de vista e pela intensidade da minha atenção, e por isso são únicas.
A missão dessa empresa é disponibilizar aos clientes um catálogo de lembranças, que podem ser compradas para implantação. A proposta é permitir ao cliente transportar-se a qualquer lugar, "repetir o irrepetível", sentir o que nunca sentiu (então não é memória individual), e repetir essa sensação comprada quantas vezes quiser (aí já estamos no campo da memória).
Já imaginaram? Poder comprar a lembrança de voar de asa delta, com toda a adrenalina e emoção, sem precisar correr o risco inerente à atividade?
No "catálogo" da empresa você pode adquirir lembranças de viajar de balão, pelo Brasil, de receber massagem...
A idéia é interessante, mas prefiro participar ativamente da construção das minhas lembranças, especialmente porque elas são moduladas pelas minhas emoções, meu ponto de vista e pela intensidade da minha atenção, e por isso são únicas.
sábado, 12 de novembro de 2011
Músicas da Infância de Fabiana
Adoro essas músicas desde pequena:
1) Galinha d'Angola:http://www.youtube.com/watch?v=rhn2Uaoqa8Q. Galinha mais doida...
2) A casa: http://www.youtube.com/watch?v=ipjly96rzxA. Resolvido o problema habitacional do Brasil.
3) Carimbador maluco: http://www.youtube.com/watch?v=ZTHvN3r3thM. Uma nova visão sobre a burocracia.
4) O pato: http://www.youtube.com/watch?v=z8-yWOXXJ4Y. Pensando bem, o fim dele não foi muito feliz...
5) Alecrim dourado: http://www.youtube.com/watch?v=SCsRXMKi3ws. A segunda musiquinha que eu aprendi na vida.
6) O meu chapéu tem três pontas: http://www.youtube.com/watch?v=XCPxdF8DXhc. A primeira musiquinha que eu aprendi na vida. Até hoje não entendo muito bem a importância de cantar sobre esse chapéu, nem imagino um de três pontas.
7) Aquarela: http://www.youtube.com/watch?v=IG1ZU56tsdo. A primeira música gigante que eu aprendi. Prova de fogo para a minha memória infantil.
8) Meu bem querer, de Djavan: http://www.youtube.com/watch?v=C_SozkWRZVY. Primeira música de "gente grande" que eu aprendi.
9) Still loving you, Scorpions: http://www.youtube.com/watch?v=gkIrZxN9pHk&ob=av3n. Primeira música em inglês.
10) Rock me Amadeus: http://www.youtube.com/watch?v=cVikZ8Oe_XA&ob=av2e. Primeira música em alemão, mas eu pensava que era em inglês.
1) Galinha d'Angola:http://www.youtube.com/watch?v=rhn2Uaoqa8Q. Galinha mais doida...
2) A casa: http://www.youtube.com/watch?v=ipjly96rzxA. Resolvido o problema habitacional do Brasil.
3) Carimbador maluco: http://www.youtube.com/watch?v=ZTHvN3r3thM. Uma nova visão sobre a burocracia.
4) O pato: http://www.youtube.com/watch?v=z8-yWOXXJ4Y. Pensando bem, o fim dele não foi muito feliz...
5) Alecrim dourado: http://www.youtube.com/watch?v=SCsRXMKi3ws. A segunda musiquinha que eu aprendi na vida.
6) O meu chapéu tem três pontas: http://www.youtube.com/watch?v=XCPxdF8DXhc. A primeira musiquinha que eu aprendi na vida. Até hoje não entendo muito bem a importância de cantar sobre esse chapéu, nem imagino um de três pontas.
7) Aquarela: http://www.youtube.com/watch?v=IG1ZU56tsdo. A primeira música gigante que eu aprendi. Prova de fogo para a minha memória infantil.
8) Meu bem querer, de Djavan: http://www.youtube.com/watch?v=C_SozkWRZVY. Primeira música de "gente grande" que eu aprendi.
9) Still loving you, Scorpions: http://www.youtube.com/watch?v=gkIrZxN9pHk&ob=av3n. Primeira música em inglês.
10) Rock me Amadeus: http://www.youtube.com/watch?v=cVikZ8Oe_XA&ob=av2e. Primeira música em alemão, mas eu pensava que era em inglês.
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
RESGATANDO INSTITUIÇÕES ANTIGAS: OSTRACISMO
Hoje iniciamos mais uma série do blog, propondo a reciclagem, reuso, resgate ou reconstrução de instituições sociais antigas, inovadoras em seu próprio tempo, e que poderiam ser úteis de novo desde que adaptadas às novas necessidades.
A primeira sugestão é a reabilitação do "ostracismo" grego, que por muitos é considerado uma forma de punição contra governantes que, por motivos variados, tornaram-se merecedores do banimento da vida pública por prazo determinado.
Acredito que o instituto foi mal compreendido. Não se trata de uma punição efetivamente, mas de uma medida cautelar para preservar a salubridade do exercício do poder, cujos ecos podem ser ouvidos na atual legislação sobre improbidade administrativa e cassação de direitos políticos.
Infelizmente a palavra "ostracismo" atualmente é utilizada como sinônimo de esquecimento (Fulano de tal caiu no ostracismo...), o que avilta o seu significado, fazendo-a merecedora desse resgate.
A antiga instituição do ostracismo poderia ser revitalizada se:
1) ampliássemos o âmbito de aplicação dessa medida cautelar, envolvendo outros atores sociais além dos políticos em sentido amplo;
2) a votação ocorresse através do twitter;
3) a exclusão abrangeria as redes sociais, no ciberespaço e fora dele;
4) Os ostracizados seriam encaminhados a um local previamente definido, denominado Limbo, nem quente nem frio, onde seriam submetidos a uma dieta à base de alface e chuchu.
A primeira sugestão é a reabilitação do "ostracismo" grego, que por muitos é considerado uma forma de punição contra governantes que, por motivos variados, tornaram-se merecedores do banimento da vida pública por prazo determinado.
Acredito que o instituto foi mal compreendido. Não se trata de uma punição efetivamente, mas de uma medida cautelar para preservar a salubridade do exercício do poder, cujos ecos podem ser ouvidos na atual legislação sobre improbidade administrativa e cassação de direitos políticos.
Infelizmente a palavra "ostracismo" atualmente é utilizada como sinônimo de esquecimento (Fulano de tal caiu no ostracismo...), o que avilta o seu significado, fazendo-a merecedora desse resgate.
A antiga instituição do ostracismo poderia ser revitalizada se:
1) ampliássemos o âmbito de aplicação dessa medida cautelar, envolvendo outros atores sociais além dos políticos em sentido amplo;
2) a votação ocorresse através do twitter;
3) a exclusão abrangeria as redes sociais, no ciberespaço e fora dele;
4) Os ostracizados seriam encaminhados a um local previamente definido, denominado Limbo, nem quente nem frio, onde seriam submetidos a uma dieta à base de alface e chuchu.
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
Xuxa e Pelé: memorialistas da hora
Xuxa lembrando de Pelé:http://br.omg.yahoo.com/noticias/xuxa-diz-p%C3%A9-pel%C3%A9-era-nojento-154700149.html
Em síntese, insinuou que o pé dele era nojento, porque tinha as unhas roxas.
Pelé comentando essa lembrança: "Se a Xuxa lembra do meu pé, imagina do resto". http://br.omg.yahoo.com/noticias/se-xuxa-lembra-p%C3%A9-imagina-resto-diz-pel%C3%A9-053500873.html
Agora eu pergunto: por que eu tenho que saber disso? Por que virou notícia e a agora unhas roxas fazem parte da minha memória?
Como é que eu vou esquecer?
Droga...
Em síntese, insinuou que o pé dele era nojento, porque tinha as unhas roxas.
Pelé comentando essa lembrança: "Se a Xuxa lembra do meu pé, imagina do resto". http://br.omg.yahoo.com/noticias/se-xuxa-lembra-p%C3%A9-imagina-resto-diz-pel%C3%A9-053500873.html
Agora eu pergunto: por que eu tenho que saber disso? Por que virou notícia e a agora unhas roxas fazem parte da minha memória?
Como é que eu vou esquecer?
Droga...
terça-feira, 8 de novembro de 2011
O brasileiro não tem memória?
Que conversa é essa?
Por que essa mentira se cristalizou em nossa memória coletiva?
Fiz uma busca no Google pela expressão "o brasileiro não tem memória", e foram encontradas 32.100 ocorrências.
Já a expressão "o Brasil não tem memória" atingiu a marca de 108 mil ocorrências.
A memória é reforçada pela repetição, se continuarmos a repetir essas frases um dia elas serão consideradas verdadeiras.
Este blog está em permanente campanha contra a mentalidade que recusa aos brasileiros o poder de exercer livremente o seu direito fundamental à memória: http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/10/campanha-contra-frase-o-brasil-eiro-nao.html?
Para aderir a essa campanha basta lembrar e recusar-se a aceitar essa castração inaceitável da liberdade de pensar e manifestar a sua opinião.
Por que essa mentira se cristalizou em nossa memória coletiva?
Fiz uma busca no Google pela expressão "o brasileiro não tem memória", e foram encontradas 32.100 ocorrências.
Já a expressão "o Brasil não tem memória" atingiu a marca de 108 mil ocorrências.
A memória é reforçada pela repetição, se continuarmos a repetir essas frases um dia elas serão consideradas verdadeiras.
Este blog está em permanente campanha contra a mentalidade que recusa aos brasileiros o poder de exercer livremente o seu direito fundamental à memória: http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/10/campanha-contra-frase-o-brasil-eiro-nao.html?
Para aderir a essa campanha basta lembrar e recusar-se a aceitar essa castração inaceitável da liberdade de pensar e manifestar a sua opinião.
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
RESGATANDO XINGAMENTOS ANTIGOS (7): Temulento
Temulento é sinônimo de ébrio, embriagado. Mas nos dicionários, também pode designar um local em que ocorrem orgias ou cenas de embriaguez, parecendo sintetizar perfeitamente o antigo ditado brasileiro que reza: "os bens de bêbado não têm dono".
O ditado popular não é bem assim, mas por uma questão de elegância e bom gosto, preferi retirar a alusão a quaisquer partes do corpo humano.
Modo de usar: Como sinônimo de bêbado: "O teu marido é um temulento de uma figa".
Como lugar onde acontecem espetáculos impróprios: "O temulento apartamento de Fulano".
O ditado popular não é bem assim, mas por uma questão de elegância e bom gosto, preferi retirar a alusão a quaisquer partes do corpo humano.
Modo de usar: Como sinônimo de bêbado: "O teu marido é um temulento de uma figa".
Como lugar onde acontecem espetáculos impróprios: "O temulento apartamento de Fulano".
domingo, 6 de novembro de 2011
O primeiro disco a gente nunca esquece...
O primeiro disco de vinil que, conscientemente, eu comprei para mim mesma foi o "Falco 3", que continha o sucesso "Rock me Amadeus".
O que?! Você não lembra/conhece essa música?! Dá uma olhada no santo youtube: http://www.youtube.com/watch?v=cVikZ8Oe_XA.
Nesse mesmo disco havia outros grandes sucessos: Vienna Calling (http://www.youtube.com/watch?v=vFTxqMg-OKQ), Jeanny (http://www.youtube.com/watch?v=_5-XF_pnXX4).
Falco também ficou conhecido pela música "Der Kommissar" (http://www.youtube.com/watch?v=_w4Xulsjo5I).
Tive boas lembranças revendo os videoclips no youtube. Cantei, dancei e lembrei da minha infância, super orgulhosa de ter conseguido comprar o então dificílimo disco importado (meses de economia e de negociação com o dono da loja).
Lembro também que eu achava que ele cantava em inglês, só muito tempo depois a minha irmã, que estudava alemão, me disse delicadamente: "Tá doida? Esse cara tá cantando em alemão, Fabiana".
E eu fiquei muito surpresa, porque sempre me emocionava e cantava todas as letras junto com Falco, em inglês...
O meu primeiro disco foi vítima da insensibilidade humana. Outro dia, fui procurá-lo mas minha mãe já tinha jogado todos os discos de vinil fora, e agora ele é mais uma preciosa lembrança.
O que?! Você não lembra/conhece essa música?! Dá uma olhada no santo youtube: http://www.youtube.com/watch?v=cVikZ8Oe_XA.
Nesse mesmo disco havia outros grandes sucessos: Vienna Calling (http://www.youtube.com/watch?v=vFTxqMg-OKQ), Jeanny (http://www.youtube.com/watch?v=_5-XF_pnXX4).
Falco também ficou conhecido pela música "Der Kommissar" (http://www.youtube.com/watch?v=_w4Xulsjo5I).
Tive boas lembranças revendo os videoclips no youtube. Cantei, dancei e lembrei da minha infância, super orgulhosa de ter conseguido comprar o então dificílimo disco importado (meses de economia e de negociação com o dono da loja).
Lembro também que eu achava que ele cantava em inglês, só muito tempo depois a minha irmã, que estudava alemão, me disse delicadamente: "Tá doida? Esse cara tá cantando em alemão, Fabiana".
E eu fiquei muito surpresa, porque sempre me emocionava e cantava todas as letras junto com Falco, em inglês...
O meu primeiro disco foi vítima da insensibilidade humana. Outro dia, fui procurá-lo mas minha mãe já tinha jogado todos os discos de vinil fora, e agora ele é mais uma preciosa lembrança.
sábado, 5 de novembro de 2011
Inesquecíveis do youtube
Não há depressão que resista. Alguém me mostrou esses links e eu não consegui esquecer:
Música: http://www.youtube.com/watch?v=vDoy5V5fKks
Áudio: http://www.youtube.com/watch?v=Zhgq8bkkp7k
História alternativa do Brasil: http://www.youtube.com/watch?v=2FbpCv4zfFo
Locução:http://www.youtube.com/watch?v=uSaf28eS7d4
Nutrição: http://www.youtube.com/watch?v=pmn-dbBpglU
Música: http://www.youtube.com/watch?v=vDoy5V5fKks
Áudio: http://www.youtube.com/watch?v=Zhgq8bkkp7k
História alternativa do Brasil: http://www.youtube.com/watch?v=2FbpCv4zfFo
Locução:http://www.youtube.com/watch?v=uSaf28eS7d4
Nutrição: http://www.youtube.com/watch?v=pmn-dbBpglU
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
RESGATANDO XINGAMENTOS ANTIGOS - LUMIA
"Lumia" é uma palavra de origem latina, que hoje significa "prostituta" em Espanhol, xingamento dos mais antigos nesse idioma.
O mérito desse resgate não é nosso, é da Nokia, que resolveu batizar o seu novo celular de Lumia, apesar de saber da conotação, digamos, um tanto pejorativa.
Confira:http://br.finance.yahoo.com/noticias/Nokia-adota-termo-Lumia-efebr-1391648804.html?x=0
Conforme consta da notícia referida no link acima, a Nokia explicou a escolha do nome porque "lumia" é um termo em espanhol muito antigo, que não é usado há muito tempo". Essa explicação nos permite considerar a empresa como uma parceira na luta pelo resgate de xingamentos antigos.
Modo de usar: "Coloque o Lumia no modo vibrador e silencioso, por favor".
O mérito desse resgate não é nosso, é da Nokia, que resolveu batizar o seu novo celular de Lumia, apesar de saber da conotação, digamos, um tanto pejorativa.
Confira:http://br.finance.yahoo.com/noticias/Nokia-adota-termo-Lumia-efebr-1391648804.html?x=0
Conforme consta da notícia referida no link acima, a Nokia explicou a escolha do nome porque "lumia" é um termo em espanhol muito antigo, que não é usado há muito tempo". Essa explicação nos permite considerar a empresa como uma parceira na luta pelo resgate de xingamentos antigos.
Modo de usar: "Coloque o Lumia no modo vibrador e silencioso, por favor".
Marcadores:
Direito à memória coletiva,
Patrimônio imaterial
Memória Poética - Carlos Pena Filho
SONETO OCO
Neste papel levanta-se um soneto,
de lembranças antigas sustentado,
pássaro de museu, bicho empalhado,
madeira apodrecida de coreto.
De tempo e tempo e tempo alimentado,
sendo em fraco metal, agora é preto.
E talvez seja apenas um soneto
de si mesmo nascido e organizado.
Mas ninguém o verá? Ninguém. Nem eu,
pois não sei como foi arquitetado
e nem me lembro quando apareceu.
Lembranças são lembranças, mesmo pobres,
olha pois este jogo de exilado
e vê se entre as lembranças te descobres.
Neste papel levanta-se um soneto,
de lembranças antigas sustentado,
pássaro de museu, bicho empalhado,
madeira apodrecida de coreto.
De tempo e tempo e tempo alimentado,
sendo em fraco metal, agora é preto.
E talvez seja apenas um soneto
de si mesmo nascido e organizado.
Mas ninguém o verá? Ninguém. Nem eu,
pois não sei como foi arquitetado
e nem me lembro quando apareceu.
Lembranças são lembranças, mesmo pobres,
olha pois este jogo de exilado
e vê se entre as lembranças te descobres.
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
Esquecedouros - Cemitérios
Ontem, dia de finados, foi dia de refletir sobre os cemitérios, uma das mais antigas manifestações culturais da Humanidade, datando do período neolítico, onde desenvolvem-se alguns dos mais importantes ritos de passagem dos mortos, por exemplo, o velório, as exéquias, luto público, as condolências e o sepultamento (THOMAS, 1996, p. 9).
O ato de sepultar, em geral, representa uma forma de dignificar e organizar o futuro do morto, permitindo a sua sobrevivência memorial. Ao contrário, negar o direito ao sepultamento pode significar uma forma de vingança ou punição contra o falecido, como se vê na Antígona de Sófocles.
O tratamento conferido aos restos mortais, especificamente quanto à corrupção do corpo, pode ocorrer de quatro maneiras básicas, que acabam por determinar o tipo de cemitério que será produzido: na corrupção acelerada, pretende-se o desfazimento rápido do cadáver, que geralmente fica exposto à ação de animais; outro tipo é a corrupção consentida mas oculta, quando o cadáver é deixado às intempéries, mas escondido (em cima de árvores, por exemplo); na inumação, o corpo é enterrado e desintegra-se sem ser visto; e finalmente, a corrupção proibida, quando se impõe o uso de técnicas de preservação para conservar (defumar, dessecar ou embalsamar) ou destruir sem corrupção, como ocorre na cremação ou ingestão de partes ou cinzas dos cadáveres pelos parentes (THOMAS, 1996, p. 9).
Em algumas culturas, o rito fúnebre serve de vetor da coesão social porque mostra a continuidade do grupo a despeito do desaparecimento dos indivíduos, que inclusive continuam a integrar o corpo social na condição de antepassados, honrados através de eventos específicos (BAYARD, 1996, p.16). O dia de finados, conforme Le Goff (2000, p. 32), foi criado no século XI para celebrar a memória dos falecidos, com pesar ou festa, tal como ocorre no México.
No Brasil predomina a inumação, adotada com fins sanitários, havendo uma tendência atual da instalação de crematórios, não por razões religiosas mas de otimização do espaço e por necessidades de higiene. Em razão das exigências da vida moderna, nas grandes cidades os ritos fúnebres tornaram-se cada vez mais rápidos e menos carregados de simbolismo, o que evidentemente contribui para um exercício cada vez menor da memória.
A mudança dos ritos funerários, a pressa da vida moderna e a ausência de um ritual específico de afirmação da presença dos falecidos, salvo no dia de Finados, faz dos cemitérios um esquecedouro. E por fim, eles mesmos acabam sendo esquecidos.
É triste ver o abandono de alguns cemitérios brasileiros, que também são lugares de memória histórica e repositórios de arte tumular, mas que por preconceito, medo ou ignorância, não conseguem ser vistos como locais de visitação e de aprendizado.
REFERÊNCIAS
BAYARD, Jean-Pierre. Sentido oculto dos ritos mortuários – morrer é morrer?. São Paulo: Paulus, 1996.
DANTAS, Fabiana Santos. Direito fundamental à memória. Curitiba: Juruá, 2010.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Lisboa: Edições 70, 2000.
THOMAS, Louis-Vincent. Prefácio. In: BAYARD, Jean-Pierre. Sentido oculto dos ritos mortuários – morrer é morrer? São Paulo: Paulus, 1996.
O ato de sepultar, em geral, representa uma forma de dignificar e organizar o futuro do morto, permitindo a sua sobrevivência memorial. Ao contrário, negar o direito ao sepultamento pode significar uma forma de vingança ou punição contra o falecido, como se vê na Antígona de Sófocles.
O tratamento conferido aos restos mortais, especificamente quanto à corrupção do corpo, pode ocorrer de quatro maneiras básicas, que acabam por determinar o tipo de cemitério que será produzido: na corrupção acelerada, pretende-se o desfazimento rápido do cadáver, que geralmente fica exposto à ação de animais; outro tipo é a corrupção consentida mas oculta, quando o cadáver é deixado às intempéries, mas escondido (em cima de árvores, por exemplo); na inumação, o corpo é enterrado e desintegra-se sem ser visto; e finalmente, a corrupção proibida, quando se impõe o uso de técnicas de preservação para conservar (defumar, dessecar ou embalsamar) ou destruir sem corrupção, como ocorre na cremação ou ingestão de partes ou cinzas dos cadáveres pelos parentes (THOMAS, 1996, p. 9).
Em algumas culturas, o rito fúnebre serve de vetor da coesão social porque mostra a continuidade do grupo a despeito do desaparecimento dos indivíduos, que inclusive continuam a integrar o corpo social na condição de antepassados, honrados através de eventos específicos (BAYARD, 1996, p.16). O dia de finados, conforme Le Goff (2000, p. 32), foi criado no século XI para celebrar a memória dos falecidos, com pesar ou festa, tal como ocorre no México.
No Brasil predomina a inumação, adotada com fins sanitários, havendo uma tendência atual da instalação de crematórios, não por razões religiosas mas de otimização do espaço e por necessidades de higiene. Em razão das exigências da vida moderna, nas grandes cidades os ritos fúnebres tornaram-se cada vez mais rápidos e menos carregados de simbolismo, o que evidentemente contribui para um exercício cada vez menor da memória.
A mudança dos ritos funerários, a pressa da vida moderna e a ausência de um ritual específico de afirmação da presença dos falecidos, salvo no dia de Finados, faz dos cemitérios um esquecedouro. E por fim, eles mesmos acabam sendo esquecidos.
É triste ver o abandono de alguns cemitérios brasileiros, que também são lugares de memória histórica e repositórios de arte tumular, mas que por preconceito, medo ou ignorância, não conseguem ser vistos como locais de visitação e de aprendizado.
REFERÊNCIAS
BAYARD, Jean-Pierre. Sentido oculto dos ritos mortuários – morrer é morrer?. São Paulo: Paulus, 1996.
DANTAS, Fabiana Santos. Direito fundamental à memória. Curitiba: Juruá, 2010.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Lisboa: Edições 70, 2000.
THOMAS, Louis-Vincent. Prefácio. In: BAYARD, Jean-Pierre. Sentido oculto dos ritos mortuários – morrer é morrer? São Paulo: Paulus, 1996.
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
2 de Novembro - dia de Finados.
O dia 2 de novembro é uma data memorial dedicada a todos os falecidos.
É dia de visitar a casa dos mortos, limpar túmulos, e honrá-los. Não percebo uma grande diferença na forma de cultuar os mortos entre as diversas religiões praticadas no Brasil: no geral, as pessoas praticam rituais parecidos, colocam flores e fazem rezas.
Para alguns cristãos não católicos sei que há um maior desapego do corpo, então não há uma preocupação em visitá-los fisicamente no cemitério.
Cada um do seu jeito, hoje é dia de lembrar. Viver na memória é a verdadeira imortalidade.
É dia de visitar a casa dos mortos, limpar túmulos, e honrá-los. Não percebo uma grande diferença na forma de cultuar os mortos entre as diversas religiões praticadas no Brasil: no geral, as pessoas praticam rituais parecidos, colocam flores e fazem rezas.
Para alguns cristãos não católicos sei que há um maior desapego do corpo, então não há uma preocupação em visitá-los fisicamente no cemitério.
Cada um do seu jeito, hoje é dia de lembrar. Viver na memória é a verdadeira imortalidade.
Marcadores:
comemograma,
Direito à memória dos mortos
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
31 de outubro - Halloween, Raloim, dia do Saci e memória coletiva
No calendário oficial são criados marcos com a finalidade de construir e veicular os símbolos, os valores, as pessoas consideradas como fator de unidade e identidade cultural, e que por isso devem ser co-memoradas.
Nesses dias comemorativos, marcamos um encontro no tempo específico entre as gerações que se sucedem, criando uma ligação entre o passado e o presente. Essa data celebrativa, ou dia memorial, deve ser significativa para a sociedade e deve ter ressonância social.
Em alguns países de origem anglo-saxã, no dia 31 de outubro é comemorado o "Halloween", com provável origem em um festival celta que marcava o fim do verão. O nome cristão desse festival (All Hallows' Eve) foi uma tentativa de combater as práticas pagãs mas, por ironia do destino, acabou por marcá-las mais na memória coletiva.
Em Português essa festa passou a ser chamada de "Dia das Bruxas", como se fosse uma data comemorativa de categoria profissional (Dia do comerciário, dia do dentista), mas com um significado diferente:a véspera do dia de Todos os Santos (31 de outubro) marcava o início de uma vigília que se estendia até o dia seguinte.
Acho que a substituição de símbolos pagãos, a perseguição e demonização de bruxas, e a própria transformação do festival original são bons exemplos de violação do direito à memória coletiva e desprestígio do patrimônio imaterial. Situação semelhante aconteceu com a "noite de Walspurgis", igualmente transformada em festim diabólico pela Igreja Católica.
Recentemente (recentemente mesmo, pois quando eu era criança isso não acontecia), o Halloween começou a ser comemorado também no Brasil. Acredito que isso aconteceu por dois fatores: 1) em razão da pedagogia "feliz" que alguns cursos de idioma inglês utilizam, aproveitando essa manifestação cultural como recurso de aula; 2) porque é uma festa divertida, e os brasileiros estão sempre dispostos a praticar esse esporte.
Hoje o Halloween é comemorado nas escolas de ensino fundamental, com um sentido completamente diferente do que faziam os celtas e os cristãos. Na verdade, quando vejo todas aquelas crianças correndo atrás de doces, só um pensamento me vem à cabeça: Cosme e Damião.
Exatamente por causa de "Cosme e Damião" é tão confortável a idéia de distribuir doces a crianças em comemoração a espíritos. Então, para mim, essa distribuição de doces extemporânea (considerando que a comemoração tradicional ocorre em 27 de setembro), é apenas uma extensão da festa de ibeji.
Ou seja, há um motivo para essa festa ter sido incorporada alegremente no calendário não oficial de comemorações. Não é necessário criar um "Raloim", para comemorar as assombrações brasileiras, criando uma "contra-festa", como forma de resistência ao estrangeirismo desnacionalizante.
31 de outubro é o "dia do Saci" em São Paulo, mas essa comemoração não faz o menor sentido no resto do Brasil ( talvez nem mesmo em São Paulo). Sobre o assunto, confiram o post:http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/01/o-dia-do-saci.html.
Nem Halloween, nem Raloim (tradição inventada, puf!), nem dia do Saci. No Brasil, 31 de outubro é dia normal, nada festivo, a menos que você seja comissário de bordo.
Nesses dias comemorativos, marcamos um encontro no tempo específico entre as gerações que se sucedem, criando uma ligação entre o passado e o presente. Essa data celebrativa, ou dia memorial, deve ser significativa para a sociedade e deve ter ressonância social.
Em alguns países de origem anglo-saxã, no dia 31 de outubro é comemorado o "Halloween", com provável origem em um festival celta que marcava o fim do verão. O nome cristão desse festival (All Hallows' Eve) foi uma tentativa de combater as práticas pagãs mas, por ironia do destino, acabou por marcá-las mais na memória coletiva.
Em Português essa festa passou a ser chamada de "Dia das Bruxas", como se fosse uma data comemorativa de categoria profissional (Dia do comerciário, dia do dentista), mas com um significado diferente:a véspera do dia de Todos os Santos (31 de outubro) marcava o início de uma vigília que se estendia até o dia seguinte.
Acho que a substituição de símbolos pagãos, a perseguição e demonização de bruxas, e a própria transformação do festival original são bons exemplos de violação do direito à memória coletiva e desprestígio do patrimônio imaterial. Situação semelhante aconteceu com a "noite de Walspurgis", igualmente transformada em festim diabólico pela Igreja Católica.
Recentemente (recentemente mesmo, pois quando eu era criança isso não acontecia), o Halloween começou a ser comemorado também no Brasil. Acredito que isso aconteceu por dois fatores: 1) em razão da pedagogia "feliz" que alguns cursos de idioma inglês utilizam, aproveitando essa manifestação cultural como recurso de aula; 2) porque é uma festa divertida, e os brasileiros estão sempre dispostos a praticar esse esporte.
Hoje o Halloween é comemorado nas escolas de ensino fundamental, com um sentido completamente diferente do que faziam os celtas e os cristãos. Na verdade, quando vejo todas aquelas crianças correndo atrás de doces, só um pensamento me vem à cabeça: Cosme e Damião.
Exatamente por causa de "Cosme e Damião" é tão confortável a idéia de distribuir doces a crianças em comemoração a espíritos. Então, para mim, essa distribuição de doces extemporânea (considerando que a comemoração tradicional ocorre em 27 de setembro), é apenas uma extensão da festa de ibeji.
Ou seja, há um motivo para essa festa ter sido incorporada alegremente no calendário não oficial de comemorações. Não é necessário criar um "Raloim", para comemorar as assombrações brasileiras, criando uma "contra-festa", como forma de resistência ao estrangeirismo desnacionalizante.
31 de outubro é o "dia do Saci" em São Paulo, mas essa comemoração não faz o menor sentido no resto do Brasil ( talvez nem mesmo em São Paulo). Sobre o assunto, confiram o post:http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/01/o-dia-do-saci.html.
Nem Halloween, nem Raloim (tradição inventada, puf!), nem dia do Saci. No Brasil, 31 de outubro é dia normal, nada festivo, a menos que você seja comissário de bordo.
domingo, 30 de outubro de 2011
Citações sobre a memória - Hume
"O papel principal da memória é conservar não simplesmente as idéias, mas a sua ordem e a sua posição."
sábado, 29 de outubro de 2011
Memória brasileira: a Shindo Renmei
Shindo Renmei foi uma associação, de caráter político, fundada por imigrantes japoneses que viviam no Estado de São Paulo e Paraná, durante a 2ª Guerra Mundial.
A história dessa associação é muito interessante, e não é sequer referida nos livros didáticos.
Imaginem a situação: um grande grupo de japoneses chega no Brasil, cujo idioma e os costumes são completamente diferentes. O Brasil é governado por um ditador, que durante a Segunda Guerra Mundial mostrou grande afinidade com o regime fascista, mas "decide" apoiar os aliados contra os membros do Eixo, entre eles o Japão.
Nem imagino como a comunidade japonesa foi reprimida nessa época. Mas apenas para ilustrar, confiram o Decreto nº 383/38, que mesmo antes da Guerra, proibia aos estrangeiros o exercício de atividades políticas (o que ocorre até hoje, já que não são titulares de direitos políticos), mas também proibiam manifestações identitárias, o que é um absurdo.
Durante a Guerra, os imigrantes japoneses não podiam mais publicar o seu jornal e nem receber cartas do Japão, que então era o "inimigo".
Nesse contexto de hostilidade e falta de informação surge a Shindo Renmei, cuja finalidade (na minha visão leiga e simplista) era permitir que os homens em idade militar participassem do esforço de guerra extraterritorial. Por que eu penso isso?
Porque o seu fundador, Junji Kikawa, foi coronel do exército japonês. E também porque algumas das ações terroristas da Shindo Renmei tinham alvo militares indiretos: por exemplo, tentavam sabotar a produção de seda (usada em para-quedas) e de hortelã (porque o mentol era usado para potencializar nitroglicerina). cf: http://pt.wikipedia.org/wiki/Shindo_Renmei.
No fim das contas, a Shindo Renmei atuou para aterrorizar a própria comunidade japonesa, reputada responsável por 23 homicídios. Por si só, a existência dessa organização política já merecia, pelo menos, ser referida nos livros de História do Brasil.
Mas do ponto de vista memorial, a Shindo Renmei ainda é mais interessante porque, diante da impossibilidade da comunidade japonesa obter informações verdadeiras sobre a guerra(proibiram a comunicação postal e a circulação de jornais), a associação começou a punir as pessoas que acreditavam na rendição do Imperador. A estratégia negacionista da Shindo Renmei, de se recusar a aceitar o fim da Guerra e a derrota do Japão, é um dos melhores exemplos de manipulação de fatos e violação da memória coletiva de toda uma comunidade.
A verdade da Shindo Renmei é que o Japão venceu a guerra e quem não aceitava, ou duvidava disso, tinha que morrer porque era um "coração sujo". Sobre o assunto, e pelas belas fotos, recomendo o livro "Corações sujos", de Fernando Morais.
Essa é uma parte da História que o Brasil precisa conhecer.
Referência
MORAIS, Fernando. Corações sujos – A história da Shindo Renmei. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
A história dessa associação é muito interessante, e não é sequer referida nos livros didáticos.
Imaginem a situação: um grande grupo de japoneses chega no Brasil, cujo idioma e os costumes são completamente diferentes. O Brasil é governado por um ditador, que durante a Segunda Guerra Mundial mostrou grande afinidade com o regime fascista, mas "decide" apoiar os aliados contra os membros do Eixo, entre eles o Japão.
Nem imagino como a comunidade japonesa foi reprimida nessa época. Mas apenas para ilustrar, confiram o Decreto nº 383/38, que mesmo antes da Guerra, proibia aos estrangeiros o exercício de atividades políticas (o que ocorre até hoje, já que não são titulares de direitos políticos), mas também proibiam manifestações identitárias, o que é um absurdo.
Durante a Guerra, os imigrantes japoneses não podiam mais publicar o seu jornal e nem receber cartas do Japão, que então era o "inimigo".
Nesse contexto de hostilidade e falta de informação surge a Shindo Renmei, cuja finalidade (na minha visão leiga e simplista) era permitir que os homens em idade militar participassem do esforço de guerra extraterritorial. Por que eu penso isso?
Porque o seu fundador, Junji Kikawa, foi coronel do exército japonês. E também porque algumas das ações terroristas da Shindo Renmei tinham alvo militares indiretos: por exemplo, tentavam sabotar a produção de seda (usada em para-quedas) e de hortelã (porque o mentol era usado para potencializar nitroglicerina). cf: http://pt.wikipedia.org/wiki/Shindo_Renmei.
No fim das contas, a Shindo Renmei atuou para aterrorizar a própria comunidade japonesa, reputada responsável por 23 homicídios. Por si só, a existência dessa organização política já merecia, pelo menos, ser referida nos livros de História do Brasil.
Mas do ponto de vista memorial, a Shindo Renmei ainda é mais interessante porque, diante da impossibilidade da comunidade japonesa obter informações verdadeiras sobre a guerra(proibiram a comunicação postal e a circulação de jornais), a associação começou a punir as pessoas que acreditavam na rendição do Imperador. A estratégia negacionista da Shindo Renmei, de se recusar a aceitar o fim da Guerra e a derrota do Japão, é um dos melhores exemplos de manipulação de fatos e violação da memória coletiva de toda uma comunidade.
A verdade da Shindo Renmei é que o Japão venceu a guerra e quem não aceitava, ou duvidava disso, tinha que morrer porque era um "coração sujo". Sobre o assunto, e pelas belas fotos, recomendo o livro "Corações sujos", de Fernando Morais.
Essa é uma parte da História que o Brasil precisa conhecer.
Referência
MORAIS, Fernando. Corações sujos – A história da Shindo Renmei. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Uruguai aprova lei que permite julgar crimes da ditadura
Notícia importante para o direito à memória coletiva dos uruguaios:
cf http://br.reuters.com/article/worldNews/idBRSPE79Q03720111027.
cf http://br.reuters.com/article/worldNews/idBRSPE79Q03720111027.
FIM DO SIGILO PERPÉTUO DE DOCUMENTOS PÚBLICOS
O segredo, ou sigilo, é uma das principais estratégias da política do esquecimento porque impede que as informações sejam conhecidas, impedindo consequentemente a formação de memória e sua transmissão.
É realmente uma notícia muito importante para a memória coletiva brasileira e para a efetivação de alguns direitos fundamentais, que não conseguem ser exercidos em razão do sigilo inconstitucional.
Confira: http://portalimprensa.uol.com.br/noticias/brasil/45317/senado+aprova+fim+do+sigilo+eterno+para+documentos+oficiais/
Espero que o texto da lei seja fruto, ou pelo menos acompanhado, de uma mentalidade democrática de acesso à informação. No cotidiano, verifico que ainda há reminiscências autoritárias nessa área, e não são raros questionamentos quanto à "legalidade", "conveniência" de se fornecer informações públicas (?!).
É realmente uma notícia muito importante para a memória coletiva brasileira e para a efetivação de alguns direitos fundamentais, que não conseguem ser exercidos em razão do sigilo inconstitucional.
Confira: http://portalimprensa.uol.com.br/noticias/brasil/45317/senado+aprova+fim+do+sigilo+eterno+para+documentos+oficiais/
Espero que o texto da lei seja fruto, ou pelo menos acompanhado, de uma mentalidade democrática de acesso à informação. No cotidiano, verifico que ainda há reminiscências autoritárias nessa área, e não são raros questionamentos quanto à "legalidade", "conveniência" de se fornecer informações públicas (?!).
Marcadores:
Direito à memória coletiva
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Oktoberfest: o fim
A Oktoberfest de 2011 chegou ao fim. Depois de quinze dias de festa (!), houve o encerramento em alto nível:
http://www.youtube.com/watch?v=tbWrh1Xizic&feature=related
Definitivamente, não consegui entender essa festa. Observem que, depois de quinze dias de gandaia, as pessoas ainda parecem sóbrias e limpas, como se tivessem saído do banho. O organizador da festa ainda tem voz para agradecer aos presentes e aos ausentes.
Não tem ninguém sujo, descabelado. Provavelmente as roupas que usam poderão ser novamente utilizadas no ano que vem, ao contrário do que geralmente acontece nos carnavais da nossa região: é questão de saúde pública se desfazer das roupas e sapatos que são usados durante o carnaval, e que geralmente são adquiridos para esse único uso.
Enfim, acredito que para saber o que acontece, só indo lá mesmo.
http://www.youtube.com/watch?v=tbWrh1Xizic&feature=related
Definitivamente, não consegui entender essa festa. Observem que, depois de quinze dias de gandaia, as pessoas ainda parecem sóbrias e limpas, como se tivessem saído do banho. O organizador da festa ainda tem voz para agradecer aos presentes e aos ausentes.
Não tem ninguém sujo, descabelado. Provavelmente as roupas que usam poderão ser novamente utilizadas no ano que vem, ao contrário do que geralmente acontece nos carnavais da nossa região: é questão de saúde pública se desfazer das roupas e sapatos que são usados durante o carnaval, e que geralmente são adquiridos para esse único uso.
Enfim, acredito que para saber o que acontece, só indo lá mesmo.
Marcadores:
Direito à memória coletiva,
Patrimônio imaterial
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Prêmio Europa Nostra - Vencedores 2011
Esse post é para divulgar o resultado do Prêmio Europa Nostra. Patrimônio maravilhoso e exemplos de boas práticas de preservação para a gente olhar e babar.
1) Categoria Conservação:
Estação Central de Antuérpia, Bélgica
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=IJrKRN6RjpY
Edifícios Pré-Industriais de Ademuz, Espanha:
http://www.youtube.com/watch?v=ootfIsXj-tg&feature=player_embedded
The Hackfall Woodland Garden, Grewelthorpe, UK:
http://www.youtube.com/watch?v=DOicI52hM_Q&feature=player_embedded
2) Categoria Pesquisa
Patrimônio arquitetônico da Zona Tampão da cidade fortificada de Nicósia, Chipre
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ZtzdO9JiB9I
3) Categoria contribuição exemplar de um indivíduo ou organização: SZYMON MODRZEJEWSKI
http://www.youtube.com/watch?v=rg5AmSEYILs&feature=player_embedded
4) Categoria Educação, sensibilização e formação
Museu ao ar livre de Weald & Downland, Chichester, UK.
http://www.youtube.com/watch?v=eOsJdVituIs&feature=player_embedded
Para maiores informações http://www.europanostra.org/
1) Categoria Conservação:
Estação Central de Antuérpia, Bélgica
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=IJrKRN6RjpY
Edifícios Pré-Industriais de Ademuz, Espanha:
http://www.youtube.com/watch?v=ootfIsXj-tg&feature=player_embedded
The Hackfall Woodland Garden, Grewelthorpe, UK:
http://www.youtube.com/watch?v=DOicI52hM_Q&feature=player_embedded
2) Categoria Pesquisa
Patrimônio arquitetônico da Zona Tampão da cidade fortificada de Nicósia, Chipre
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ZtzdO9JiB9I
3) Categoria contribuição exemplar de um indivíduo ou organização: SZYMON MODRZEJEWSKI
http://www.youtube.com/watch?v=rg5AmSEYILs&feature=player_embedded
4) Categoria Educação, sensibilização e formação
Museu ao ar livre de Weald & Downland, Chichester, UK.
http://www.youtube.com/watch?v=eOsJdVituIs&feature=player_embedded
Para maiores informações http://www.europanostra.org/
domingo, 23 de outubro de 2011
Resgatando xingamentos antigos (6): CRÁPULA
Não, nada a ver com vampiros. Não existe na literatura um "Conde Crápula".
Na forma de xingar mais clássica, "crápula" é a pessoa afeita à devassidão, à libertinagem.
Você é muito jovem para saber o que é "devassidão" e "libertinagem"? Não entendeu? Bem, geralmente essas palavras são associadas ao conjunto de atos de desregramento geral, com forte conotação sexual.
Existe um segundo sentido para o xingamento de hoje: "crápula" como sinônimo de calhorda, de desonesto.
Particularmente gosto muito desse xingamento. É uma palavra forte, que lembra "drácula", o que por si só já ajuda a meter medo nos corações. Mas também parece alguma espécie de instrumento cirúrgico (Enfermeira, por favor, a crápula), ou um utensílio de cozinha (Aí você pega a crápula e vira o crepe).
Modo de usar: como sinônimo de devassidão: "Fulano só gosta de viver na crápula".
como sinônimo de desonesto: "Fulano, aquele crápula".
Na forma de xingar mais clássica, "crápula" é a pessoa afeita à devassidão, à libertinagem.
Você é muito jovem para saber o que é "devassidão" e "libertinagem"? Não entendeu? Bem, geralmente essas palavras são associadas ao conjunto de atos de desregramento geral, com forte conotação sexual.
Existe um segundo sentido para o xingamento de hoje: "crápula" como sinônimo de calhorda, de desonesto.
Particularmente gosto muito desse xingamento. É uma palavra forte, que lembra "drácula", o que por si só já ajuda a meter medo nos corações. Mas também parece alguma espécie de instrumento cirúrgico (Enfermeira, por favor, a crápula), ou um utensílio de cozinha (Aí você pega a crápula e vira o crepe).
Modo de usar: como sinônimo de devassidão: "Fulano só gosta de viver na crápula".
como sinônimo de desonesto: "Fulano, aquele crápula".
Marcadores:
Direito à memória coletiva
sábado, 22 de outubro de 2011
Lembrar Muammar Kadhafi
Muammar Abu Minyar al-Gaddafi foi um governante líbio, nascido e assassinado na cidade de Sirte, no dia 20 de outubro de 2011.
Khadafi merece ser lembrado por vários motivos: primeiro, pela diversidade de grafias do seu nome na imprensa mundial (cf. post http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/02/fora-kadhafi-gadhafi-qaddafi-gaddafi.html).
Em segundo lugar, por sua própria aparência bizarra. Kadafi foi visto usando roupas interessantes, algumas muito bonitas, e talvez até significativas dentro da cultura tribal, mas a minha ignorância não conseguiu perceber até agora se era simples gosto do mandatário ou alguma referência cultural.
Em terceiro lugar, Kadhafi foi o exemplo didático de ditador personalista e carismático. Sua longevidade no poder permite aos estudiosos da História da Líbia e do Direito Constitucional Líbio analisar desde o Golpe de Estado de 1969 até a Revolução de 2011. Praticamente uma geração dos líbios não conheceu outra forma de governo senão a ditadura personalista de Cadafi.
Analisando rapidamente a estrutura da forma de ditadura líbia, pudemos fazer um exercício interessante sobre as fases de instalação de ditaduras em geral (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/02/receita-de-ditadura.html)
Qadhafi merece ainda ser lembrado pela maneira como morreu. Ninguém viu o Rei da França ser guilhotinado, nem assistiu à execução do Czar Nicolau e sua família. Ninguém viu o corpo de Hitler. Mas na sociedade da informação e da tecnologia, é possível assistir à execução dos ditadores como Saddam Hussein e Gathafi.
As imagens de Kadhafi sendo preso, conduzido, espancado, e finalmente morto, servem de lembrete e advertência aos presentes e futuros ditadores. O tiranicídio, parece, ganhou contornos de solução final para as ditaduras e para a restauração de democracias nesse terceiro milênio.
Vou também lembrar de Muamar Kadhafi pelo que deixou de acontecer com ele: gostaria de vê-lo respondendo à Corte Internacional de Justiça pelos seus crimes contra o povo líbio. Gostaria de vê-lo testemunhar sobre quarenta e dois anos de desvio de recursos públicos. Mas agora isso não será possível.
Entretanto, percebo pelas notícias veiculadas na imprensa que já estão em curso as estratégias clássicas de esquecimento, observem:
a) Damnatio memoriae: apagar a efígia do governante falecido. Confira a notícia sobre a queima da efígie pelos funcionários da embaixada da Líbia no Brasil: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1059416
b) Técnicas diversionistas sobre o paradeiro do seu túmulo. Já foi decidido que ele será enterrado em local incerto, para evitar peregrinações ao seu túmulo.
Acredito que em breve veremos a queima dos exemplares do "livro Verde".
Espero que a sociedade líbia consiga realizar a sua transição para a democracia de maneira institucionalmente tranquila e célere, para um tempo em que sejam garantidos e respeitados os direitos fundamentais dos seus cidadãos. Nessa transição, espero também que sejam apuradas as circunstâncias da morte da Kadhafi, porque o povo líbio não merece iniciar o seu processo democrático com a sombra e a herança da barbárie.
Khadafi merece ser lembrado por vários motivos: primeiro, pela diversidade de grafias do seu nome na imprensa mundial (cf. post http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/02/fora-kadhafi-gadhafi-qaddafi-gaddafi.html).
Em segundo lugar, por sua própria aparência bizarra. Kadafi foi visto usando roupas interessantes, algumas muito bonitas, e talvez até significativas dentro da cultura tribal, mas a minha ignorância não conseguiu perceber até agora se era simples gosto do mandatário ou alguma referência cultural.
Em terceiro lugar, Kadhafi foi o exemplo didático de ditador personalista e carismático. Sua longevidade no poder permite aos estudiosos da História da Líbia e do Direito Constitucional Líbio analisar desde o Golpe de Estado de 1969 até a Revolução de 2011. Praticamente uma geração dos líbios não conheceu outra forma de governo senão a ditadura personalista de Cadafi.
Analisando rapidamente a estrutura da forma de ditadura líbia, pudemos fazer um exercício interessante sobre as fases de instalação de ditaduras em geral (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/02/receita-de-ditadura.html)
Qadhafi merece ainda ser lembrado pela maneira como morreu. Ninguém viu o Rei da França ser guilhotinado, nem assistiu à execução do Czar Nicolau e sua família. Ninguém viu o corpo de Hitler. Mas na sociedade da informação e da tecnologia, é possível assistir à execução dos ditadores como Saddam Hussein e Gathafi.
As imagens de Kadhafi sendo preso, conduzido, espancado, e finalmente morto, servem de lembrete e advertência aos presentes e futuros ditadores. O tiranicídio, parece, ganhou contornos de solução final para as ditaduras e para a restauração de democracias nesse terceiro milênio.
Vou também lembrar de Muamar Kadhafi pelo que deixou de acontecer com ele: gostaria de vê-lo respondendo à Corte Internacional de Justiça pelos seus crimes contra o povo líbio. Gostaria de vê-lo testemunhar sobre quarenta e dois anos de desvio de recursos públicos. Mas agora isso não será possível.
Entretanto, percebo pelas notícias veiculadas na imprensa que já estão em curso as estratégias clássicas de esquecimento, observem:
a) Damnatio memoriae: apagar a efígia do governante falecido. Confira a notícia sobre a queima da efígie pelos funcionários da embaixada da Líbia no Brasil: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1059416
b) Técnicas diversionistas sobre o paradeiro do seu túmulo. Já foi decidido que ele será enterrado em local incerto, para evitar peregrinações ao seu túmulo.
Acredito que em breve veremos a queima dos exemplares do "livro Verde".
Espero que a sociedade líbia consiga realizar a sua transição para a democracia de maneira institucionalmente tranquila e célere, para um tempo em que sejam garantidos e respeitados os direitos fundamentais dos seus cidadãos. Nessa transição, espero também que sejam apuradas as circunstâncias da morte da Kadhafi, porque o povo líbio não merece iniciar o seu processo democrático com a sombra e a herança da barbárie.
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
Lugar inesquecível: o quintal do meu irmão
Houve um tempo em que as casas possuíam quintais, e as pessoas plantavam árvores frutíferas, plantas medicinais, flores. Esses quintais mágicos contribuíam para a arborização da cidade, para a economia local: eu mesma já comprei frutas características de quintais (goiaba, tamarindo), ou de cemitérios, que também podem ser considerados os quintais da eternidade.
Todo mundo sabe que o jambo de cemitério é maior, mais vermelho e doce...
Tudo isso para lamentar a perda dos quintais da nossa cidade, e também para dizer que eu ainda posso frequentar um quintal. É meio diferente, tem saci, onça, quetzacoatl (serpente emplumada ou pássaro serpente), e por isso se torna inesquecível:
Tem jacaré:
Todo mundo sabe que o jambo de cemitério é maior, mais vermelho e doce...
Tudo isso para lamentar a perda dos quintais da nossa cidade, e também para dizer que eu ainda posso frequentar um quintal. É meio diferente, tem saci, onça, quetzacoatl (serpente emplumada ou pássaro serpente), e por isso se torna inesquecível:
Tem jacaré:
domingo, 16 de outubro de 2011
Boas lembranças...Heidelberg
Heidelberg é uma cidade turística, e infelizmente não consegui ficar tempo suficiente para conhecer a cidade, ultrapassando a barreira dos atrativos consumíveis.
Lá, a beleza está em coisas simples. Flores nas janelas:
Detalhes na Arquitetura:
Por ser um destino turístico, as pessoas realmente se empenham em receber bem o turista e dar informações. Eu caí na besteira de tentar comprar uma cerveja, e inocentemente, perguntei a um habitante qual ele indicava entre as dezenas de marcas que havia. Foi o bastante para juntar um punhado de pessoas, que discutiam acaloradamente sobre qual cerveja eu deveria tomar, e finalmente, quando decidiram, me entregaram uma cerveja de milho (?), forte que só vendo, e que tinha pedaços de coisas a serem mastigados.
Aí eu realmente precisei ir ao banheiro, e qual não foi a minha surpresa...
Lá, a beleza está em coisas simples. Flores nas janelas:
Detalhes na Arquitetura:
Por ser um destino turístico, as pessoas realmente se empenham em receber bem o turista e dar informações. Eu caí na besteira de tentar comprar uma cerveja, e inocentemente, perguntei a um habitante qual ele indicava entre as dezenas de marcas que havia. Foi o bastante para juntar um punhado de pessoas, que discutiam acaloradamente sobre qual cerveja eu deveria tomar, e finalmente, quando decidiram, me entregaram uma cerveja de milho (?), forte que só vendo, e que tinha pedaços de coisas a serem mastigados.
Aí eu realmente precisei ir ao banheiro, e qual não foi a minha surpresa...
sábado, 15 de outubro de 2011
Oktoberfest: a origem
Continuo estudando sobre a Oktoberfest. Então, olha aí a informação sobre as origens da Festa:
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticia/HOJE+NA+HISTORIA+1810++CASAMENTO+REAL+DA+INICIO+A+PRIMEIRA+OKTOBERFEST+EM+MUNIQUE_15889.shtml
Historicamente, datou-se o inicío do Oktoberfest em 1810, como uma continuidade dos festejos de casamento do Rei Ludwig I. Entretanto...
Eu tenho a estranha sensação de que essas "festas de outubro" devem ter uma origem mais remota. Ela me parece tão pagã, tão pagã, que deve ser mais antiga.
Para realizar o monitoramento da festa: http://www.oktoberfestblumenau.com.br/
E mais trilha sonora: http://www.youtube.com/watch?v=xAhyqBl9lqo.
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticia/HOJE+NA+HISTORIA+1810++CASAMENTO+REAL+DA+INICIO+A+PRIMEIRA+OKTOBERFEST+EM+MUNIQUE_15889.shtml
Historicamente, datou-se o inicío do Oktoberfest em 1810, como uma continuidade dos festejos de casamento do Rei Ludwig I. Entretanto...
Eu tenho a estranha sensação de que essas "festas de outubro" devem ter uma origem mais remota. Ela me parece tão pagã, tão pagã, que deve ser mais antiga.
Para realizar o monitoramento da festa: http://www.oktoberfestblumenau.com.br/
E mais trilha sonora: http://www.youtube.com/watch?v=xAhyqBl9lqo.
Marcadores:
Direito à memória coletiva,
Patrimônio imaterial
Comissão da Verdade no Brasil: discussões
A Câmara dos Deputados do Congresso Nacional Brasileiro aprovou o texto do projeto de lei que cria a Comissão da Verdade, que agora deve ser apreciado pelo Senado Federal, dado o nosso bicameralismo.
Vou deixar para comentar e analisar o texto quando (e se) a Lei de criação da Comissão da Verdade for publicada. Enquanto aguardamos, recomendo aos interessados assistir ao seguinte vídeo:http://www.youtube.com/watch?v=fw0dkfOt058
São cinquenta e poucos minutos de uma discussão muito proveitosa e esclarecedora.
Vou deixar para comentar e analisar o texto quando (e se) a Lei de criação da Comissão da Verdade for publicada. Enquanto aguardamos, recomendo aos interessados assistir ao seguinte vídeo:http://www.youtube.com/watch?v=fw0dkfOt058
São cinquenta e poucos minutos de uma discussão muito proveitosa e esclarecedora.
Marcadores:
Direito à memória coletiva
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Lembrar Marc Bloch
Marc Leopold Benjamin Bloch, famoso historiador francês (1886-1944), foi fuzilado pelos nazistas em 16 de junho de 1944, por ser francês, historiador, e membro da resistência francesa.
No post http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/09/lembrar-maurice-halbwachs.html, lembramos de Maurice Halbwachs, outro estudioso francês que também foi executado pelos nazistas. Ele me fez lembrar de Marc Bloch, e consequentemente lembrei que o meu irmão me emprestara um livro dele há muito tempo, mas que infelizmente não tive tempo de ler.
O livro é a "Apologia da História, ou o ofício do historiador", obra que Marc Bloch começou escrever durante a sua prisão e tortura, e que ficou inacabada em razão do fuzilamento do autor. A obra foi publicada postumamente.
Eu comecei a ler o livro há mais ou menos dez dias, e não consegui mais largar dele. Fiquei muito impressionada porque, naquela situação tão devastadora, Marc Bloch dirigiu a sua atenção e o que sobrava do seu tempo para refletir sobre o seu ofício, prestando contas e também cobrando o rigor dos seus companheiros e aprendizes de profissão na construção do conhecimento histórico.
Pessoalmente, gostei muito do livro porque através dele conheci um homem apaixonado pelo seu ofício (de historiador) e pela História. Mas também porque esse homem apaixonado não era possessivo: ao contrário, ao considerar que a História pode ser um entretenimento, descaradamente Bloch nos autorizou apenas a flertar com ela.
Isso é sem dúvida libertador para pessoas que, como eu, são apaixonadas por História mas não querem um compromisso duradouro. Eu gosto mesmo é da sedução, da paquera histórica, e de vez em quando dar uns amassos na História, mas sem grandes comprometimentos, e tudo isso autorizado por Marc Bloch.
No fim do livro, fiquei com a impressão de que a História era quase tudo para ele: ciência, preocupação, diversão, e consolo nos momentos difíceis. Deve ser por isso que é considerado pelos seus pares como um Mestre no seu ofício.
In memoriam matris amicae.
No post http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/09/lembrar-maurice-halbwachs.html, lembramos de Maurice Halbwachs, outro estudioso francês que também foi executado pelos nazistas. Ele me fez lembrar de Marc Bloch, e consequentemente lembrei que o meu irmão me emprestara um livro dele há muito tempo, mas que infelizmente não tive tempo de ler.
O livro é a "Apologia da História, ou o ofício do historiador", obra que Marc Bloch começou escrever durante a sua prisão e tortura, e que ficou inacabada em razão do fuzilamento do autor. A obra foi publicada postumamente.
Eu comecei a ler o livro há mais ou menos dez dias, e não consegui mais largar dele. Fiquei muito impressionada porque, naquela situação tão devastadora, Marc Bloch dirigiu a sua atenção e o que sobrava do seu tempo para refletir sobre o seu ofício, prestando contas e também cobrando o rigor dos seus companheiros e aprendizes de profissão na construção do conhecimento histórico.
Pessoalmente, gostei muito do livro porque através dele conheci um homem apaixonado pelo seu ofício (de historiador) e pela História. Mas também porque esse homem apaixonado não era possessivo: ao contrário, ao considerar que a História pode ser um entretenimento, descaradamente Bloch nos autorizou apenas a flertar com ela.
Isso é sem dúvida libertador para pessoas que, como eu, são apaixonadas por História mas não querem um compromisso duradouro. Eu gosto mesmo é da sedução, da paquera histórica, e de vez em quando dar uns amassos na História, mas sem grandes comprometimentos, e tudo isso autorizado por Marc Bloch.
No fim do livro, fiquei com a impressão de que a História era quase tudo para ele: ciência, preocupação, diversão, e consolo nos momentos difíceis. Deve ser por isso que é considerado pelos seus pares como um Mestre no seu ofício.
In memoriam matris amicae.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
12 de Outubro - Feriado de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil
Conta-se que em 12 de outubro de 1717 (?), dois pescadores encontraram por milagre uma imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição Aparecida no Rio Paraíba do Sul, região de Guaratinguetá, no Estado de São Paulo.
Depois de muitas tentativas sem pescar peixe nenhum, ao chegarem no local do achamento, lançaram novamente a rede e "pescaram" o corpo da imagem sem cabeça. Depois, aí sim, por milagre, lançaram de novo a rede e recuperaram a cabeça.
Hoje essa mesma imagem repousa na Basílica de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida, São Paulo, considerado o maior templo mariano do Mundo. A estátua é adornada com uma riquíssima coroa e um manto azul, doados pela Princesa Isabel.
Falando em Princesa Isabel, que assinou a lei (áurea) de abolição da escravatura, um dos milagres associados à Nossa Senhora Aparecida foi o rompimento das correntes de alguns escravos presentes, que ainda podem ser vistas no teto da "sala dos milagres" da Basílica, segundo dizem, o que dá verossimilhança à estória.
A história da imagem de Nossa Senhora Aparecida, ao lado das lendas, é muito dramática e simbólica. Em 1978 sofreu um gravíssimo dano, que a reduziu em quase duzentos pedaços, sendo restaurada por Maria Helena Chartuni.
Para conhecer a imagem de Nossa Senhora Aparecida: http://www.google.com.br/imgres?q=nossa+senhora+aparecida&hl=pt-BR&safe=off&biw=716&bih=697&gbv=2&tbm=isch&tbnid=4SuFJR-7ZUcf8M:&imgrefurl=http://www.paroquiabompastorjf.com.br/&docid=dVn9U3xCmVtsEM&w=400&h=300&ei=8imUTtiYDIL30gG2zPjTBw&zoom=1&iact=hc&vpx=244&vpy=354&dur=62&hovh=194&hovw=259&tx=141&ty=129&page=2&tbnh=137&tbnw=188&start=11&ndsp=9&ved=1t:429,r:4,s:11
Finalmente, lembro que Nossa Senhora Aparecida é uma das poucas "virgens negras". Na verdade, na verdade, a sua representação não é de uma virgem negra, mas devido à ausência de policromia, dizem que por permancer submersa nas águas do Rio Paraíba do Sul, e por haver sido enegrecida pela fumaça das velas.
Certo, e qual é a relevância disso? Bem...há muito tempo (?), li em algum lugar (? memória traiçoeira, onde tempo e espaço se perdem), que as virgens negras possuem um significado alquímico, provavelmente uma representação da matéria-prima da Grande Obra, o que contribui para incrementar a sua aura simbólica.
O feriado foi instituído pela Lei Federal nº 6802/80, abaixo transcrita:
"LEI No 6.802, DE 30 DE JUNHO DE 1980.
Declara Feriado Nacional o Dia 12 de outubro, Consagrado a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º É declarado feriado nacional o dia 12 de outubro, para culto público e oficial a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil.
Art. 2º Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação.
Brasília, em 30 de junho de 1980; 159º da Independência e 92º da República.
JOÃO FIGUEIREDO
Ibrahim Abi-Ackel"
Como na nossa República laica nós temos um "culto público e oficial", desejo a todos, devotos e não devotos, inclusive os praticantes de outras religiões e cristãos de todas as denominações, um bom feriado!
Depois de muitas tentativas sem pescar peixe nenhum, ao chegarem no local do achamento, lançaram novamente a rede e "pescaram" o corpo da imagem sem cabeça. Depois, aí sim, por milagre, lançaram de novo a rede e recuperaram a cabeça.
Hoje essa mesma imagem repousa na Basílica de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida, São Paulo, considerado o maior templo mariano do Mundo. A estátua é adornada com uma riquíssima coroa e um manto azul, doados pela Princesa Isabel.
Falando em Princesa Isabel, que assinou a lei (áurea) de abolição da escravatura, um dos milagres associados à Nossa Senhora Aparecida foi o rompimento das correntes de alguns escravos presentes, que ainda podem ser vistas no teto da "sala dos milagres" da Basílica, segundo dizem, o que dá verossimilhança à estória.
A história da imagem de Nossa Senhora Aparecida, ao lado das lendas, é muito dramática e simbólica. Em 1978 sofreu um gravíssimo dano, que a reduziu em quase duzentos pedaços, sendo restaurada por Maria Helena Chartuni.
Para conhecer a imagem de Nossa Senhora Aparecida: http://www.google.com.br/imgres?q=nossa+senhora+aparecida&hl=pt-BR&safe=off&biw=716&bih=697&gbv=2&tbm=isch&tbnid=4SuFJR-7ZUcf8M:&imgrefurl=http://www.paroquiabompastorjf.com.br/&docid=dVn9U3xCmVtsEM&w=400&h=300&ei=8imUTtiYDIL30gG2zPjTBw&zoom=1&iact=hc&vpx=244&vpy=354&dur=62&hovh=194&hovw=259&tx=141&ty=129&page=2&tbnh=137&tbnw=188&start=11&ndsp=9&ved=1t:429,r:4,s:11
Finalmente, lembro que Nossa Senhora Aparecida é uma das poucas "virgens negras". Na verdade, na verdade, a sua representação não é de uma virgem negra, mas devido à ausência de policromia, dizem que por permancer submersa nas águas do Rio Paraíba do Sul, e por haver sido enegrecida pela fumaça das velas.
Certo, e qual é a relevância disso? Bem...há muito tempo (?), li em algum lugar (? memória traiçoeira, onde tempo e espaço se perdem), que as virgens negras possuem um significado alquímico, provavelmente uma representação da matéria-prima da Grande Obra, o que contribui para incrementar a sua aura simbólica.
O feriado foi instituído pela Lei Federal nº 6802/80, abaixo transcrita:
"LEI No 6.802, DE 30 DE JUNHO DE 1980.
Declara Feriado Nacional o Dia 12 de outubro, Consagrado a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º É declarado feriado nacional o dia 12 de outubro, para culto público e oficial a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil.
Art. 2º Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação.
Brasília, em 30 de junho de 1980; 159º da Independência e 92º da República.
JOÃO FIGUEIREDO
Ibrahim Abi-Ackel"
Como na nossa República laica nós temos um "culto público e oficial", desejo a todos, devotos e não devotos, inclusive os praticantes de outras religiões e cristãos de todas as denominações, um bom feriado!
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
Lembrar García Moreno
Gabriel Gregório Fernando José Maria García y Moreno y Morán de Buitrón, de origem aristocrática como revela o seu nome, foi duas vezes presidente do Ecuador, nos anos de 1859-1865 e 1869-1875, ano em que foi assassinado.
Personagem muito controvertido, foi amado e odiado ao seu tempo enquanto presidente, destacando-se no desenvolvimento das ciências e da economia no Ecuador, e por sua estreita relação com a Igreja Católica e com a Monarquia espanhola, o que contrariava os princípios basilares da República da qual era dirigente.
A biografia póstuma (mortografia, eu diria) de García Moreno me impressionou vivamente. Vários governantes infelizmente já foram assassinados, mas a história dele é única por vários motivos:
a) No dia marcado para o seu assassinato, na mesma hora, apareceram dois executores diferentes: um grupo de 4 homens armados com pistola, e um indivíduo chamado Faustino Rayo, armado com um facão (machete);
b) Aparentemente não havia relação entre eles, embora frequentemente a estória seja contada como "Faustino Rayo e seus comparsas".
c) A motivação deles era diferente: para Faustino Rayo a morte de García Moreno tinha finalidade de reparar a sua "honra". Conta-se que o presidente era amante da esposa dele e, para facilitar as coisas, deu a Faustino o cargo de governador de uma província longínqua.
d) O grupo de pistoleiros tinha motivação política, e considerando que o presidente havia sido eleito para o terceiro mandato, optaram pela forma não democrática de deposição.
e) Imaginem a cena: O presidente caminhando pelo corredor externo do palácio de Carondelet, quando de repente aparece um grupo armado. Ele sabia que ia morrer, pois já lhe haviam advertido. De repente, do outro lado do corredor, aparece um homem armado com um facão (Faustino Rayo), e começa a dar golpes nele, quatorze no total.
f) Conta-se que os pistoleiros correram assustados, mas depois voltaram para desferir 6 tiros. O presidente assim ferido, caiu ou foi empurrado do terraço, que ficava no primeiro andar. Não satisfeitos, os executores desceram e continuaram a atingi-lo. Nessa ocasião o presidente proferiu as seguintes palavras: "Dios no muere".
Entendo que, sendo católico fervoroso, a sua intenção evidentemente não foi comparar-se a Deus. Provavelmente estava se autoconfortando na hora da morte com a idéia de que, mesmo morrendo o seu principal defensor no Ecuador (o próprio García Moreno), Deus estava em boas mãos e ia continuar existindo.
Ou talvez ele nunca tenha dito tal frase, que foi acrescentada em sua biografia na tentativa de promover a sua canonização como defensor da fé.
g) Incrivelmente, o presidente não faleceu imediatamente. Foi levado à Catedral de Quito, onde recebeu extrema-unção, o que foi bom para a sua alma extremamente católica. Faustino Rayo foi imediatamente executado, e sequer lhe deram a chance de dizer o motivo da execução.
Tudo isso já faria de García Moreno um personagem inesquecível, candidato à pessoa mais assassinada de que eu já tive notícia. Mas a estória dele continua:
h) os padres que procederam aos ritos fúnebres tiraram um pedaço do seu crânio e o seu coração e guardaram. Depois, os restos mortais foram escondidos e ficaram perdidos até 1975, quando foram encontrados no Monasterio de Santa Maria Catalina em Quito.
i) A identificação positiva do corpo foi permitida pela aposição do pedaço do crânio, que encaixou perfeitamente.
García Moreno é um personagem muito complexo e merece ser lembrado: um presidente monarquista e católico de uma República laica, supostamente assassinado pela Maçonaria (?), por motivo passional e/ou político (?), patriota, amado por amigos e inimigos e odiado por amigos e inimigos, perdido, exumado e, finalmente, repousa em paz.
Personagem muito controvertido, foi amado e odiado ao seu tempo enquanto presidente, destacando-se no desenvolvimento das ciências e da economia no Ecuador, e por sua estreita relação com a Igreja Católica e com a Monarquia espanhola, o que contrariava os princípios basilares da República da qual era dirigente.
A biografia póstuma (mortografia, eu diria) de García Moreno me impressionou vivamente. Vários governantes infelizmente já foram assassinados, mas a história dele é única por vários motivos:
a) No dia marcado para o seu assassinato, na mesma hora, apareceram dois executores diferentes: um grupo de 4 homens armados com pistola, e um indivíduo chamado Faustino Rayo, armado com um facão (machete);
b) Aparentemente não havia relação entre eles, embora frequentemente a estória seja contada como "Faustino Rayo e seus comparsas".
c) A motivação deles era diferente: para Faustino Rayo a morte de García Moreno tinha finalidade de reparar a sua "honra". Conta-se que o presidente era amante da esposa dele e, para facilitar as coisas, deu a Faustino o cargo de governador de uma província longínqua.
d) O grupo de pistoleiros tinha motivação política, e considerando que o presidente havia sido eleito para o terceiro mandato, optaram pela forma não democrática de deposição.
e) Imaginem a cena: O presidente caminhando pelo corredor externo do palácio de Carondelet, quando de repente aparece um grupo armado. Ele sabia que ia morrer, pois já lhe haviam advertido. De repente, do outro lado do corredor, aparece um homem armado com um facão (Faustino Rayo), e começa a dar golpes nele, quatorze no total.
f) Conta-se que os pistoleiros correram assustados, mas depois voltaram para desferir 6 tiros. O presidente assim ferido, caiu ou foi empurrado do terraço, que ficava no primeiro andar. Não satisfeitos, os executores desceram e continuaram a atingi-lo. Nessa ocasião o presidente proferiu as seguintes palavras: "Dios no muere".
Entendo que, sendo católico fervoroso, a sua intenção evidentemente não foi comparar-se a Deus. Provavelmente estava se autoconfortando na hora da morte com a idéia de que, mesmo morrendo o seu principal defensor no Ecuador (o próprio García Moreno), Deus estava em boas mãos e ia continuar existindo.
Ou talvez ele nunca tenha dito tal frase, que foi acrescentada em sua biografia na tentativa de promover a sua canonização como defensor da fé.
g) Incrivelmente, o presidente não faleceu imediatamente. Foi levado à Catedral de Quito, onde recebeu extrema-unção, o que foi bom para a sua alma extremamente católica. Faustino Rayo foi imediatamente executado, e sequer lhe deram a chance de dizer o motivo da execução.
Tudo isso já faria de García Moreno um personagem inesquecível, candidato à pessoa mais assassinada de que eu já tive notícia. Mas a estória dele continua:
h) os padres que procederam aos ritos fúnebres tiraram um pedaço do seu crânio e o seu coração e guardaram. Depois, os restos mortais foram escondidos e ficaram perdidos até 1975, quando foram encontrados no Monasterio de Santa Maria Catalina em Quito.
i) A identificação positiva do corpo foi permitida pela aposição do pedaço do crânio, que encaixou perfeitamente.
García Moreno é um personagem muito complexo e merece ser lembrado: um presidente monarquista e católico de uma República laica, supostamente assassinado pela Maçonaria (?), por motivo passional e/ou político (?), patriota, amado por amigos e inimigos e odiado por amigos e inimigos, perdido, exumado e, finalmente, repousa em paz.
domingo, 9 de outubro de 2011
Esquecedouros: prisões
O esquecedouro é um lugar de esquecimento. E "esquecimento" não é apenas a falta de lembrança, pode significar também a privação de reconhecimento e exercício de direitos.
Em outros posts falamos sobre lugares de esquecimento, criados com essa específica finalidade: L'Oubliette francesa (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/06/esquecedouros.html), disappointment room, a roda dos enjeitados (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/06/esquecedouros-roda-dos-enjeitados.html), o lixão (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/06/esquecedouros-lixao.html).
Há também locais criados sem essa finalidade específica, mas que por questões culturais tornam-se esquecedouros: é o caso dos asilos no Brasil (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/07/esquecedouros-asilos.html porque a nossa sociedade, em geral, não valoriza o idoso. Foi preciso até criar uma lei especial - o Estatuto do Idoso - para garantir-lhes direitos inerentes a qualquer indíviduo, em qualquer fase da vida.
As prisões são outro exemplo de lugar transformado culturalmente em esquecedouro. Embora a legislação brasileira pretenda que sejam um ambiente de reabilitação social e reeducação, na verdade quando os comandos normativos são concretizados percebe-se que ocorre o oposto da vontade legal.
Do jeito que foram construídas fisica e simbolicamente, as prisões brasileiras não realizam a vontade legal de reabilitação, mas a vontade de vingança social, de retribuição do mal, no sentido normativo do termo. E isso é compatível com cultura brasileira, porque as instituições são criadas à imagem e semelhança da nossa mentalidade.
Recentemente fui ministrar uma aula sobre bens públicos, e tomei uma penintenciária como estudo de caso para gestão, fazendo um comparativo com determinada prisão estrangeira que, na indignação dos meus alunos, parecia "um hotel de luxo". Os presos tinham celas individuais limpas e adequadas, boa comida, um espaço para a prática de esportes e iam permanecer assim pelo tempo de reclusão determinado em sentença.
A indignação de muitos alunos decorria do fato de que estavam levando uma "boa vida", melhor do que a de muitos trabalhadores honestos. E eu questionava: a penalidade é de reclusão, e não de reclusão em um inferno. A lei não quer que as pessoas sejam maltratadas, e se assim quisesse, a nossa Constituição Federal devia prever castigos corporais e penas infamantes, que são proibidas no nosso sistema.
As prisões medievais e renascentistas possuíam péssimas condições estruturais e de salubridade, mas talvez isso se explicasse (não justificasse) pelo seu caráter temporário. As pessoas permaneciam presas enquanto a sua pena não era estipulada: banimento, morte, castigos corporais. A reclusão, portanto, era um meio, não um fim em si mesmo.
A reclusão passou a ser uma penalidade autônoma recentemente (acredito que a partir do século XVIII ou XIX) , com a explícita finalidade de apartar o criminoso da sociedade por razões de segurança e proteção. A questão é: a reclusão , tal como é praticada, consegue cumprir o que lei deseja?
Não, porque sequer o apartamento da sociedade é realizado forma eficiente, já que a tecnologia permite aos reclusos continuar integrando os seus meios sociais através de telefones celulares, por exemplo.
Por tudo isso, acredito que as prisões são esquecedouros. Locais onde são esquecidos os direitos fundamentais do cidadão, são esquecidas pessoas (inclusive quanto ao extrapolamento do cumprimento prazo das sentenças), e são também esquecidos valores que sociedade brasileira deveria cultivar, principalmente a dignidade da pessoa humana, em troca do atual sentimento de vingança.
Em outros posts falamos sobre lugares de esquecimento, criados com essa específica finalidade: L'Oubliette francesa (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/06/esquecedouros.html), disappointment room, a roda dos enjeitados (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/06/esquecedouros-roda-dos-enjeitados.html), o lixão (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/06/esquecedouros-lixao.html).
Há também locais criados sem essa finalidade específica, mas que por questões culturais tornam-se esquecedouros: é o caso dos asilos no Brasil (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/07/esquecedouros-asilos.html porque a nossa sociedade, em geral, não valoriza o idoso. Foi preciso até criar uma lei especial - o Estatuto do Idoso - para garantir-lhes direitos inerentes a qualquer indíviduo, em qualquer fase da vida.
As prisões são outro exemplo de lugar transformado culturalmente em esquecedouro. Embora a legislação brasileira pretenda que sejam um ambiente de reabilitação social e reeducação, na verdade quando os comandos normativos são concretizados percebe-se que ocorre o oposto da vontade legal.
Do jeito que foram construídas fisica e simbolicamente, as prisões brasileiras não realizam a vontade legal de reabilitação, mas a vontade de vingança social, de retribuição do mal, no sentido normativo do termo. E isso é compatível com cultura brasileira, porque as instituições são criadas à imagem e semelhança da nossa mentalidade.
Recentemente fui ministrar uma aula sobre bens públicos, e tomei uma penintenciária como estudo de caso para gestão, fazendo um comparativo com determinada prisão estrangeira que, na indignação dos meus alunos, parecia "um hotel de luxo". Os presos tinham celas individuais limpas e adequadas, boa comida, um espaço para a prática de esportes e iam permanecer assim pelo tempo de reclusão determinado em sentença.
A indignação de muitos alunos decorria do fato de que estavam levando uma "boa vida", melhor do que a de muitos trabalhadores honestos. E eu questionava: a penalidade é de reclusão, e não de reclusão em um inferno. A lei não quer que as pessoas sejam maltratadas, e se assim quisesse, a nossa Constituição Federal devia prever castigos corporais e penas infamantes, que são proibidas no nosso sistema.
As prisões medievais e renascentistas possuíam péssimas condições estruturais e de salubridade, mas talvez isso se explicasse (não justificasse) pelo seu caráter temporário. As pessoas permaneciam presas enquanto a sua pena não era estipulada: banimento, morte, castigos corporais. A reclusão, portanto, era um meio, não um fim em si mesmo.
A reclusão passou a ser uma penalidade autônoma recentemente (acredito que a partir do século XVIII ou XIX) , com a explícita finalidade de apartar o criminoso da sociedade por razões de segurança e proteção. A questão é: a reclusão , tal como é praticada, consegue cumprir o que lei deseja?
Não, porque sequer o apartamento da sociedade é realizado forma eficiente, já que a tecnologia permite aos reclusos continuar integrando os seus meios sociais através de telefones celulares, por exemplo.
Por tudo isso, acredito que as prisões são esquecedouros. Locais onde são esquecidos os direitos fundamentais do cidadão, são esquecidas pessoas (inclusive quanto ao extrapolamento do cumprimento prazo das sentenças), e são também esquecidos valores que sociedade brasileira deveria cultivar, principalmente a dignidade da pessoa humana, em troca do atual sentimento de vingança.
Assinar:
Postagens (Atom)