O brasileiro não tem memória.
Neste blog desmascaramos esta mentira.
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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
Receita de escândalo de corrupção no Brasil
Aqueles que me conhecem devem ficar surpreendidos com algumas receitas que aparecem aqui no blog (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/08/receita-de-tilapia.html, http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/06/desafio-para-memoria-receita-de-vatapa.html, http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/02/receita-de-ditadura.html), já que é fato notório que eu não sei cozinhar, e nem tenho o interesse em fazê-lo.
O motivo para escrever essas receitas, como não poderia deixar de ser, é memorial A idéia é tirar lições gerais desses casos específicos, identificando regularidades e padrões. A memória é antes de tudo uma forma de sistematizar registros.
Todos os anos os brasileiros são surpreendidos e oprimidos por notícias de corrupção, independentemente do partido ou ideologia que esteja no governo. A denominada "corrupção" parece ser uma mentalidade generalizada e enraizada nos representantes dos Poderes e instituições públicas e privadas brasileiras.Como, então, poderemos aprender e prever esses comportamentos, para realizar um controle político e administrativo eficiente?
Realizando uma análise comparativa dos últimos escândalos podemos identificar alguns padrões ou regularidades:
1) Vamos partir de uma premissa básica: o Brasil é o maior empresário brasileiro, e também o maior consumidor dos produtos de empresas brasileiras. O Estado brasileiro consome uma gama enorme de produtos e serviços de empresas privadas e o seu orçamento é trilionário.
2) A denominada corrupção acontece no âmbito da gestão de entidades públicas da Administração Direta (União, Estados, municípios e Distrito Federal) e Indireta (Autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista), em razão do caráter político das ações e indicações, e em sua relação com empresas públicas e privadas. Portanto, os últimos escândalos giram em torno das contratações de bens e serviços (fraude nas licitações, superfaturamentos, empresas fantasmas).
3) Essas indicações políticas decorrem da existência de cargos e funções que são ocupadas politicamente. E o "politicamente" aqui significa que cada governo (Executivo) deve usar esses cargos para angariar apoio no Legislativo, utilizá-los para ocupar a máquina pública ou simplesmente agradar correligionários que passarão a auferir a remuneração do cargo, mesmo que não estejam preparados para exercê-los.
4) Parece que no Brasil um problema grave é a quantidade de gente a agradar. Por uma questão de lógica, a governabilidade nesses moldes deveria basear-se em menos e mais importantes cargos e não nessa miríade de apadrinhados. Negociar apenas posições mais estratégicas fortaleceria o governo, porque as ofertas para apoio deveriam ser mais, digamos, consistentes e constantes.
5) Quando a máquina administrativa é ocupada pelos amigos, estabelece-se uma rede de solidariedade que permite não só controlá-la (essencial ao real poder de mando), mas também que seja leal nos momentos difíceis. Essa rede de solidariedade é financiada basicamente de duas maneiras: através dos desvios de dinheiro e de finalidade , ou através do pagamento de parte das remunerações recebidas pelos apadrinhados ao padrinho. Há relatos de uma prática esquisita de devolver uma parte da remuneração ao padrinho, e é por isso que tantos servidores fantasmas assombram a máquina administrativa.
6) O grande número dos chamados "cargos de confiança" pode ser um bom indício dessas práticas. Bem entendido, a existência de cargos de confiança não é um problema, visto que o gestor deve poder nomear aquelas pessoas considera aptas, independentemente da necessidade de realização de um concurso público, até mesmo porque esses cargos são transitórios. Os problemas dos cargos de confiança no Brasil são:
a) A quantidade. É muita gente em quem confiar, e certamente a manutenção da confiança é diretamente proporcional à regularidade da generosidade governamental.
b) A forma de provimento. Cargos de confiança com perfil técnico devem ser ocupados por quem tem as habilidades necessárias para exercê-los. Nas denominadas agências reguladoras e executivas, cuja existência nasceu de uma necessidade técnica, é ilógico que os cargos de gestão não tenham esse perfil. No mínimo a pessoa indicada deveria ter um profundo conhecimento sobre a área em questão.
c) São os cargos de confiança que tomam as decisões estratégicas para a máquina administrativa. Ou seja, pessoas que não necessariamente integram o corpo estatal, e que lá estão de forma precária e temporária, acabam tomando as decisões mais importantes para todos nós.
Além disso, não devemos esquecer que a máquina administrativa brasileira não evoluiu do ponto de vista estrutural e institucional desde a época da ditadura militar (cf. Decreto-lei nº 200/67).
Portanto, e como é óbvio, os escândalos vão acontecer em qualquer estrutura governamental que detenha o perfil acima. E isso só vai mudar quando mudarem as formas de relacionamento entre o governo e seus apoios, principalmente no Legislativo; a identificação das prioridades públicas (interesse público predominante e reconhecido, o que não se confunde com o interesse governamental)e o aumento do controle eficaz da ações governamentais, inclusive prevendo formas de participação popular na tomada de decisão administrativa.
Einstein dizia que não há maior sinal de loucura do que fazer uma coisa repetidamente e esperar cada vez um resultado diferente. O resultado será sempre o mesmo, se mantidas as práticas, a mentalidade e a estrutura que gera escândalos.
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
2014 - Fim de prazo
Ai, ai, ai. 2014 está acabando, o prazo está se esgotando. O que é que dá para fazer antes da virada do ano?
Tenho uma lista imensa de coisas que eu deveria fazer em 2014, mas que acabaram sendo atropeladas pelas necessidades do cotidiano. Alguns itens são complexos demais para realizar em dois dias.
Por exemplo, sei que não vou conseguir organizar os meus livros até 2015. A estratégia com eles deverá ser a disciplina diária da organização, um pouco por vez ao longo do ano vindouro.
Mas vou conseguir arrumar o meu armário, fazer uma lista de coisas a fazer em 2015 e remexer o passado em busca dos "projetos futuros" que acabaram, literalmente, encaixotados.
2015 será o ano do critério. Vou priorizar e focar em concluir projetos que estão em andamento há muito tempo. Precisar de menos, consumir melhor, estudar mais e melhor.
O ano novo realmente é um marco temporal poderoso. Dá essa sensação gratificante de conclusão, de encerramento de ciclo, ao mesmo tempo em que nos dá a esperança de recomeçar alguma coisa em novas e melhores bases.
Vamos lá, ainda dá tempo de fazer alguma coisa boa em 2014.
Tenho uma lista imensa de coisas que eu deveria fazer em 2014, mas que acabaram sendo atropeladas pelas necessidades do cotidiano. Alguns itens são complexos demais para realizar em dois dias.
Por exemplo, sei que não vou conseguir organizar os meus livros até 2015. A estratégia com eles deverá ser a disciplina diária da organização, um pouco por vez ao longo do ano vindouro.
Mas vou conseguir arrumar o meu armário, fazer uma lista de coisas a fazer em 2015 e remexer o passado em busca dos "projetos futuros" que acabaram, literalmente, encaixotados.
2015 será o ano do critério. Vou priorizar e focar em concluir projetos que estão em andamento há muito tempo. Precisar de menos, consumir melhor, estudar mais e melhor.
O ano novo realmente é um marco temporal poderoso. Dá essa sensação gratificante de conclusão, de encerramento de ciclo, ao mesmo tempo em que nos dá a esperança de recomeçar alguma coisa em novas e melhores bases.
Vamos lá, ainda dá tempo de fazer alguma coisa boa em 2014.
segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
Livro gratuito sobre fazendas cafeeiras em São Paulo
Notícia interessante: http://sao-paulo.estadao.com.br/blogs/edison-veiga/heranca-cafeeira/.
O livro " Fazendas de Café do Vale do Paraíba: O Que os Inventários Revelam" está sendo distribuído gratuitamente a historiadores e pesquisadores, e pode ser solicitado através do seguinte endereço de correio eletrônico: pupph@sp.gov.br
O livro " Fazendas de Café do Vale do Paraíba: O Que os Inventários Revelam" está sendo distribuído gratuitamente a historiadores e pesquisadores, e pode ser solicitado através do seguinte endereço de correio eletrônico: pupph@sp.gov.br
quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
Centenário da Trégua de Natal de 1914 - Primeira Guerra Mundial
Natal, tempo de confraternizar. Até com os inimigos?
Conta-se que em 25 de dezembro de 1914 houve um armistício não oficial, uma confraternização entre soldados inimigos que lutavam na Primeira Guerra Mundial.
Essa suspensão de hostilidades ocorreu em diversos lugares, e provocou distintas reações. Em geral, os Comandantes ficaram indignados com a atitude dos soldados, sendo alguns deles considerados traidores.
Dra. Denise nos informou no post http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2010/11/o-direito-memoria-dos-mortos.html que os familiares dos soldados considerados traidores ingressaram com ações judiciais visando à sua reabilitação, o que provocou um debate público sobre a percepção desses eventos históricos, e talvez a sua ressignificação.
Uma rememoração desse tipo de armistício foi o jogo realizado entre Inglaterra e Alemanha no dia 17/12/2014, na cidade de Aldershot. Nesse caso, a trégua veio sob a forma de um jogo de futebol (http://www.theguardian.com/world/2014/dec/18/first-world-war-truce-football-match-replayed-centenary), o que nos mostra que os tempos realmente eram outros.
Então, com essa lembrança, gostaria de desejar a todos um Natal com muita paz e alegria.
Feliz Natal!
Conta-se que em 25 de dezembro de 1914 houve um armistício não oficial, uma confraternização entre soldados inimigos que lutavam na Primeira Guerra Mundial.
Essa suspensão de hostilidades ocorreu em diversos lugares, e provocou distintas reações. Em geral, os Comandantes ficaram indignados com a atitude dos soldados, sendo alguns deles considerados traidores.
Dra. Denise nos informou no post http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2010/11/o-direito-memoria-dos-mortos.html que os familiares dos soldados considerados traidores ingressaram com ações judiciais visando à sua reabilitação, o que provocou um debate público sobre a percepção desses eventos históricos, e talvez a sua ressignificação.
Uma rememoração desse tipo de armistício foi o jogo realizado entre Inglaterra e Alemanha no dia 17/12/2014, na cidade de Aldershot. Nesse caso, a trégua veio sob a forma de um jogo de futebol (http://www.theguardian.com/world/2014/dec/18/first-world-war-truce-football-match-replayed-centenary), o que nos mostra que os tempos realmente eram outros.
Então, com essa lembrança, gostaria de desejar a todos um Natal com muita paz e alegria.
Feliz Natal!
terça-feira, 23 de dezembro de 2014
Revogação de banimentos - outras histórias
Já que no post anterior (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/12/banimento-do-brasil-da-familia-imperial.html ) falamos sobre a revogação do banimento da Família Imperial, também é importante lembrar que outros brasileiros foram do banidos do território, e essa penalidade foi revogada também por decretos, observem:
Vale lembrar que a Constituição Federal de 1988 proíbe a penalidade de banimento, no artigo 5º, XLVII, d.
"DECRETO Nº 82.960, DE 29 DE DEZEMBRO DE 1978.
Revoga os atos de banimento.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, de acordo com o artigo 182 da Constituição,
CONSIDERANDO que o Parágrafo único do artigo 1º do Ato Institucional nº 13, de 5 de setembro de 1969, admite a revogação de banimento que o Poder Executivo haja determinado no uso da faculdade conferida pelo mesmo Ato Institucional; e
CONSIDERANDO que a permanência do banimento de brasileiros deixaria de corresponder ao propósito da Emenda Constitucional nº 11, de 13 de outubro de 1978, a vigorar em 1º de janeiro de 1979,
DECRETA:
Art. 1º É revogado o banimento, determinado pelo Ato Complementar nº 64, de 5 de setembro de 1969, e pelos Decretos nºs 66.319, de 14 de março de 1970, 66.716, de 15 de junho de 1970,e 68.050, de 13 de janeiro de 1971, de ARGONAUTA PACHECO DA SILVA, FLÁVIO ARISTIDES DE FREITAS TAVARES, GREGÓRIO BEZERRA, IVENS MARCHETTI DE MONTE LIMA, JOÃO LEONARDO DA SILVA ROCHA, JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA E SILVA, JOSÉ IBRAIM, LUIZ TRAVASSOS, MARIA AUGUSTA RIBEIRO CARNEIRO, MARIO ROBERTO GALGARDO ZANCONATO, ONOFRE PINTO, RICARDO VILLAS BOAS SÁ REGO, ROLANDO PRATTES, WLADIMIR GRACINDO PALMEIRA, SHIMO OSAWA, DAMARIS DE OLIVEIRA LUCENA, OCTÁCIO ÂNGELO, MAURINA BORGES DA SILVEIRA, DIÓGENES JOSÉ CARVALHO DE OLIVEIRA, ADERVAL ALVES COQUEIRO, ALMIR DUTTON FERREIRA, ALTAIR LUCHESSI CAMPOS, ÂNGELO PEZZUTI DA SILVA, APOLONIO DE CARVALHO, CARLOS EDUARDO PIRES FLEURY, CARLOS FREDERICO FAIAL DE LIRA, CARLOS MINCBAUNFELD, CID QUEIROZ BENJAMIM, DANIEL AARÃO REIS FILHO, DARCY RODRIGUES, DOMINGOS FERNANDES, TÂNIA REGINA RODRIGUES FERNANDES, EDMAURO GOPFERT, DULCE DE SOUZA, EUDALDO GOMES DA SILVA, FAUSTO MACHADO FREIRE, FERNANDO NAGLE GABEIRA, FLÁVIO ROBERTO DE SOUZA, IEDA DOS REIS CHAVES, JEOVAH DE ASSIS, JOAQUIM PIRES CERVEIRA, JORGE RAYMUNDO NAHAS, JOSÉ ARAÚJO NÓBREGA, JOSÉ LAVECHIA, JOSÉ RONALDO TAVARES DE LIRA E SILVA, LADISLAS DOWBOR, LISZT BENJAMIM VIEIRA, MARCO ANTONIO AZEVEDO MAYER, MARIA JOSÉ DE CARVALHO NAHAS, MARIA DO CARMO BRITO, MAURICIO VIEIRA PAIVA, MURILO PINTO DA SILVA, OSWALDO ANTONIO DOS SANTOS, PEDRO LOBO DE OLIVEIRA, RONALDO DUTRA MACHADO, VERA SILVIA ARAÚJO MAGALHÃES, MELCHIADES PORCINO DA COSTA, OSWALDO SOARES, TERCINA DIAS OLIVEIRA, AFONSO JUNQUEIRA DE ALVARENGA, MARA CURTISS ALVARENGA, AFONSO CELSO LANA LEITE, ALUÍZIO FERREIRA PALMAR, ANTONIO EXPEDITO CARVALHO PEREIRA, ANTONIO ROGÉRIO GARCIA SILVEIRA, ANTONIO UBALDINO PEREIRA, ARISTENES NOGUEIRA DE ALMEIDA, ARMANDO AUGUSTO VARGAS DIAS, BRUNO DAUSTER MAGALHÃES E SILVA, CARLOS BERNARDO VAINER, CARMELA PEZZUTTI, CHRISTÓVÃO DA SILVA RIBEIRO, CONCEIÇÃO IMACULADA DE OLIVEIRA, DANIEL JOSÉ DE CARVALHO, DELCI FENSTERSEIFER, DERLY JOSÉ DE CARVALHO, EDMUR PÉRICLES CAMARGO, ELINOR MENDES BRITO, FRANCISCO ROBERVAL MENDES, GUSTAVO BUARQUE SCHILLER, IRANI CAMPOS, ISMAEL ANTÔNIO DE SOUZA, JAYME WALWITZ CARDOSO, JAIRO JOSÉ DE CARVALHO, JEAN MARC FRIEDRICH CHARLES VAN DER WEID, JOÃO BATISTA RITA, JOÃO CARLOS BONA GARCIA, JOEL JOSÉ DE CARVALHO, JOSÉ DUARTE DOS SANTOS, JOVELINA TONELLO DO NASCIMENTO, JÚLIO ANTÔNIO BITTENCOURT ALMEIDA, LÚCIO FLAVIO UCHÔA REGUEIRA, LUIZ ALBERTO BARRETO LEITE SANZ, MANOEL DIAS DO NASCIMENTO, MARCOS ANTONIO MARANHÃO COSTA, MARIA AUXILIADORA LARA BARCELOS, NELSON CHAVES DOS SANTOS, OTACÍLIO PEREIRA DA SILVA, PAULO ROBERTO ALVES, PAULO ROBERTO TELLES FRANCK, PEDRO ALVES FILHO, PEDRO CHAVES DOS SANTOS, PEDRO FRANÇA VIEGAS, PEDRO PAULO BRETAS, RAFAEL DE FALCO NETO, REINALDO GUARANY SIMÕES, REINALDO JOSÉ DE MELO, ROBERTO CARDOSO FERRAZ DO AMARAL, ROQUE APARECIDO DA SILVA, SAMUEL AARÃO REIS, SÔNIA REGINA YESSIN RAMOS, TAKAO AMANO, TITO DE ALENCAR LIMA, UBIRATAN DE SOUZA, UBIRATAN VATUTIM BORGES KERTZSCHER, UMBERTO TRIGUEIROS LIMA, VALNERI NEVES ANTUNES, VERA MARIA ROCHA PEREIRA, WÂNIO JOSÉ DE MATTOS, WASHINGTON ALVES DA SILVA, WELLINTON MOREIRA DINIZ, WILSON DO NASCIMENTO BARBOSA, BRUNO PIOLA, GENY CECÍLIA PIOLA, ENCARNACION LOPES PERES E NANCY MANGABEIRA UNGER.
Art. 2º - Com a vigência deste Decreto cessa a suspensão de processos e de execução de penas, bem como da prescrição de ações e de condenações decorrentes dos atos de banimento ora revogados, de conformidade com o disposto no Parágrafo único do artigo 1º do Ato Institucional nº 13, de 5 de setembro de 1969.
Art. 3º - Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Brasília, em 29 de dezembro de 1978; 157º da Independência e 90º da República.
ERNESTO GEISEL
Armando Falcão"
Vale lembrar que a Constituição Federal de 1988 proíbe a penalidade de banimento, no artigo 5º, XLVII, d.
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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014
Banimento do Brasil da família imperial - 125 anos
Ontem, comemoramos (lembramos juntos, bem esclarecido) 125 anos do banimento da família imperial do Brasil Para ver o decreto de banimento (nº 78A/1889):
http://www.camara.gov.br/Internet/InfDoc/Conteudo/Colecoes/Legislacao/decretos1889%20(380p)/decretos1889-1027.pdf#page=3
O Habeas Corpus impetrado em favor deles foi julgado assim: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/sobreStfConhecaStfJulgamentoHistorico/anexo/HC1974.pdf.
Só com o Decreto nº 4120/1920 o banimento foi revogado:
DECRETO N. 4.120, DE 3 DE SETEMBRO DE 1920
Revoga os arts. 1º e 2º do decreto n. 78 A, de 21 de dezembro de 1889 e autoriza a trasladar para o Brasil os despojos mortaes do ex-Imperador D. Pedro II e de sua esposa, D. Thereza Christina, abrindo para tal fim os necessarios creditos
O Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brasil:
Faço saber que o Congresso Nacional decretou e eu sancciono a seguinte resolução:
Art. 1º Ficam revogados os arts. 1º e 2º do decreto n. 78 A, de 21 de dezembro de 1889.
Art. 2º fica o Poder Executivo autorizado a, mediante previo assentimento da familia do ex-Imperador D. Pedro II e do Governo de Portugal, trasladar para o Brasil os despojos mortaes do mesmo e os de sua esposa, D. Thereza Christina, fazendo-os recolher em mausuléo condigno e para tal fim especialmente construido.
Art. 3º Fica o Governo autorizado a abrir, para tal fim, os necessarios creditos.
Art. 4º Revogam-se as disposições em contrario.
Rio de Janeiro, 3 de setembro de 1920, 99º da Independencia e 32º da Republica.
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terça-feira, 16 de dezembro de 2014
Memória do mundo da Unesco - dez novos registros brasileiros
A UNESCO registrou dez coleções de documentos brasileiros no programa Memória do Mundo:
- Acervo documental, iconográfico de Abdias do Nascimento (1916-2011), do Instituto de Pesquisa e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO);
- Acervo Educador Paulo Freire (1921-2013), de Anita Freire e Instituto Paulo Freire;
- Arquivo Pessoal Nise da Silveira, da Sociedade Amigos do Museu de Imagens do Inconsciente;
- Cartas Andradinas, da Fundação Biblioteca Nacional
- Coleção Francisco Curt Lange de Documentos Musicais, do Museu da Inconfidência;
- Fundo Plínio Salgado, do Arquivo Público e Histórico do Município de Rio Claro;
- Jornal Abolicionista A Redenção (1887-1899), do Arquivo Público DO Estado de São Paulo;
- Primeiro Empréstimo externo Brasileiro, da Superintendência de Administração do Ministério da Fazenda no Estado do Rio de Janeiro (SAMF/RJ) – Museu da Fazenda Federal;
- Série “Falas do trono” (1826-1889) Fundo Assembleia Geral Legislativa do Império, do Senado Federal;
- Série Aforamentos, do Arquivo Municipal da Cidade do Rio de Janeiro.
Para conhecer o programa "Memória do Mundo", basta clicar no link localizado no lado direito inferior da página do blog, onde há os sítios interessantes para a memória.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
25 de outubro - Dia Nacional do Macarrão
Mais uma data sem sentido para o nosso comemograma:
Presidência da República
Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos |
Institui o dia 25 de outubro como Dia Nacional do Macarrão.
|
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o Fica instituído o Dia Nacional do Macarrão, a ser celebrado em todo território nacional, anualmente, no dia 25 de outubro.
Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 8 de dezembro de 2014; 193o da Independência e 126o da República.
DILMA ROUSSEFF
Este texto não substitui o publicado no DOU de 9.12.2014
Para conhecer as justificativas para a edição da lei: http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=67626&tp=1.
domingo, 14 de dezembro de 2014
Vandalismo do Greenpeace nas Linhas de Nazca
Imperdoável. O futuro até pode ser renovável, mas o patrimônio arqueológico não. É vulnerável, irrepetível e não renovável.
fonte:http://www.news.com.au/travel/world-travel/greenpeace-apologises-for-nazca-lines-stunt/story-e6frfqcr-1227155153457
Que mundo é esse, onde nem os ambientalistas respeitam o meio ambiente cultural? Ainda que não tenha sido usada tinta, considero essa atitude um estímulo à pichação de monumentos.
Compartilho com os peruanos, com o governo do Peru e com o resto da Humanidade, porque esse sítio é Patrimônio Mundial, a dor por essa atitude vergonhosa.
fonte:http://www.news.com.au/travel/world-travel/greenpeace-apologises-for-nazca-lines-stunt/story-e6frfqcr-1227155153457
Que mundo é esse, onde nem os ambientalistas respeitam o meio ambiente cultural? Ainda que não tenha sido usada tinta, considero essa atitude um estímulo à pichação de monumentos.
Compartilho com os peruanos, com o governo do Peru e com o resto da Humanidade, porque esse sítio é Patrimônio Mundial, a dor por essa atitude vergonhosa.
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sábado, 13 de dezembro de 2014
Reflexões saturnais
Hoje é sábado, meu dia favorito da semana, quando me dou ao luxo de fazer coisas que não tenho tempo de fazer durante a semana, por exemplo, escutar músicas, ver filmes, ou simplesmente, ficar largada no sofá pensando.
Nesses momentos de reflexão, penso o que me dá na telha. Lembro experiências, pessoas, poesias, coisas a fazer, gostos e desgostos. Exercito a minha memória, remexo o acervo para arejá-lo, já pensando na velhice.
Enfim, hoje me peguei pensando nos povos antigos. Parto da hipótese que a humanidade sempre fez as mesmas coisas, apenas usando meios diferentes. Então, como será que o romanos tomavam banho? ou os gregos cozinhavam, ou os mesopotâmios casavam? Será que os egípcios iam ao cabelereiro e saíam para a balada?
Resolvi, então tentar responder à primeira pergunta: como os romanos tomavam banho? Sei bem que havia uma grande importância social nos monumentais banhos públicos romanos, que inclusive é revelada pela riqueza e complexidade de sua arquitetura. O banho era um ritual complexo, que envolvia várias etapas (banho quente, sauna, banho frio, massagem, refeições), além de ser um lugar importante para discutir política, vida, encontrar os amigos, relaxar.
Afirma-se que cristianismo prejudicou muito a questão da higiene pessoal romana. Por causa da religião, os banhos romanos foram sendo esquecidos, e substituídos por uma geral falta de higiene entre os europeus, que influenciou na propagação de várias doenças, inclusive da Peste Negra (século XIV) e outras grandes pestes que se seguiram.
Os cristãos da época, e até o século XIX, acreditavam que tomar banho fazia mal à saúde porque dilatava os poros, e assim o corpo ficava vulnerável a doenças. Além disso, quem é puro de espírito não precisa banhar-se, ainda mais se estiver desnudo, com as pudícias à mostra, como faziam os pagãos, aqueles miseráveis.
Graças a Deus, um dos patrimônios imateriais dos indígenas brasileiros era o hábito de banhar-se várias vezes ao dia. Agradeço por mais esse legado.
Há relatos de que a Inquisição no Brasil processou várias pessoas por judaísmo, sendo uma das principais evidências dessa prática o ato de tomar banho (às sextas-feiras).
Então, tomar banho poderia variar entre obrigação religiosa (fazer) ou pecado (não fazer), em todos os casos um ato com gravíssimas repercussões. Hoje em dia é uma faculdade (poder fazer), e essa facultatividade vem prejudicando bastante pessoas e relações.
Dito isso, como será, então que os incas tomavam banho?
Nesses momentos de reflexão, penso o que me dá na telha. Lembro experiências, pessoas, poesias, coisas a fazer, gostos e desgostos. Exercito a minha memória, remexo o acervo para arejá-lo, já pensando na velhice.
Enfim, hoje me peguei pensando nos povos antigos. Parto da hipótese que a humanidade sempre fez as mesmas coisas, apenas usando meios diferentes. Então, como será que o romanos tomavam banho? ou os gregos cozinhavam, ou os mesopotâmios casavam? Será que os egípcios iam ao cabelereiro e saíam para a balada?
Resolvi, então tentar responder à primeira pergunta: como os romanos tomavam banho? Sei bem que havia uma grande importância social nos monumentais banhos públicos romanos, que inclusive é revelada pela riqueza e complexidade de sua arquitetura. O banho era um ritual complexo, que envolvia várias etapas (banho quente, sauna, banho frio, massagem, refeições), além de ser um lugar importante para discutir política, vida, encontrar os amigos, relaxar.
Afirma-se que cristianismo prejudicou muito a questão da higiene pessoal romana. Por causa da religião, os banhos romanos foram sendo esquecidos, e substituídos por uma geral falta de higiene entre os europeus, que influenciou na propagação de várias doenças, inclusive da Peste Negra (século XIV) e outras grandes pestes que se seguiram.
Os cristãos da época, e até o século XIX, acreditavam que tomar banho fazia mal à saúde porque dilatava os poros, e assim o corpo ficava vulnerável a doenças. Além disso, quem é puro de espírito não precisa banhar-se, ainda mais se estiver desnudo, com as pudícias à mostra, como faziam os pagãos, aqueles miseráveis.
Graças a Deus, um dos patrimônios imateriais dos indígenas brasileiros era o hábito de banhar-se várias vezes ao dia. Agradeço por mais esse legado.
Há relatos de que a Inquisição no Brasil processou várias pessoas por judaísmo, sendo uma das principais evidências dessa prática o ato de tomar banho (às sextas-feiras).
Então, tomar banho poderia variar entre obrigação religiosa (fazer) ou pecado (não fazer), em todos os casos um ato com gravíssimas repercussões. Hoje em dia é uma faculdade (poder fazer), e essa facultatividade vem prejudicando bastante pessoas e relações.
Dito isso, como será, então que os incas tomavam banho?
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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
Comissão Nacional da Verdade - Relatório Final
Divulgado hoje, dia 10/12/2014: http://www.cnv.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=571.
Estudemos.
Estudemos.
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terça-feira, 9 de dezembro de 2014
O verão da lata - Documentário
No verão de 1987, ocorreu mais um desses fatos inverossímeis que só fazem sentido no Brasil, e que mais parece piada ou estória para boi dormir.
Um barco chamado "Solana Star", carregado com 22 toneladas de maconha enlatadas a vácuo, jogou sua carga ao mar, na costa brasileira. As latas viajaram e foram espalhadas pelo litoral do Sudeste, e foram recolhidas e consumidas durante esse verão que parece ter marcado a memória dos personagens.
Acabei de assistir ao documentário "Verão da Lata"(https://www.youtube.com/watch?v=3Bx8-5UJUgY) e fiquei muito intrigada pelas diferentes memórias que o fato parece ter gerado.
Para a Polícia Federal, conforme se pode ver pelos depoimentos dos agentes públicos, aparentemente o episódio é encarado como uma espécie de fracasso, ao meu ver, injustificadamente. Ao receber uma denúncia do DEA americano, a Polícia Federal tentou interceptar sem sucesso a embarcação carregada da entorpecentes, o que aparentemente motivou a tripulação a jogar a carga ao mar.
A ação da polícia resultou na distribuição gratuita de milhares de latas cheias de entorpecentes, prensados à vácuo, à população do Rio de Janeiro e São Paulo. Portanto, o resultado indireto da ação policial foi a promoção e não a repressão ao uso de entorpecentes.
Já para os EUA representou um episódio de sucesso, uma vez que com a denúncia evitou-se que o barco e sua carga chegassem em Miami, muitos traficantes foram presos em razão do caso.
Alguns depoimentos individuais no documentário mostram que, do ponto de vista da memória individual dos cidadãos, o fato foi ora percebido como um presente, um milagre, uma festa, algo inesperado e bom que marcou um determinado grupo e época.
Marcou tanto que uma gíria utilizada por esse grupo chegou a integrar a nossa memória coletiva. A expressão "da lata" passou a ser sinônimo de "muito bom, de boa qualidade". Por exemplo, "esse livro é da lata" = esse livro é bom. Nunca utilizei a expressão, mas já ouvi e agora sei de onde veio.
No Português do Brasil há outra expressão envolvendo latas. "Na lata" significa ser preciso ou direto. Por exemplo: "disse na lata" = disse diretamente. Acertou na lata= acertou em cheio = acertou na mosca. Não acredito que essa expressão tenha a mesma origem, parece resultar mais de práticas de tiro ao alvo.
Fim da história: o barco "Solana Star" foi apreendido, vendido em um leilão para tornar-se barco pesqueiro (conta-se que foi o primeiro bem apreendido em razão do tráfico de drogas), trocou de nome para Tunamar, e afundou na primeira viagem.
Um barco chamado "Solana Star", carregado com 22 toneladas de maconha enlatadas a vácuo, jogou sua carga ao mar, na costa brasileira. As latas viajaram e foram espalhadas pelo litoral do Sudeste, e foram recolhidas e consumidas durante esse verão que parece ter marcado a memória dos personagens.
Acabei de assistir ao documentário "Verão da Lata"(https://www.youtube.com/watch?v=3Bx8-5UJUgY) e fiquei muito intrigada pelas diferentes memórias que o fato parece ter gerado.
Para a Polícia Federal, conforme se pode ver pelos depoimentos dos agentes públicos, aparentemente o episódio é encarado como uma espécie de fracasso, ao meu ver, injustificadamente. Ao receber uma denúncia do DEA americano, a Polícia Federal tentou interceptar sem sucesso a embarcação carregada da entorpecentes, o que aparentemente motivou a tripulação a jogar a carga ao mar.
A ação da polícia resultou na distribuição gratuita de milhares de latas cheias de entorpecentes, prensados à vácuo, à população do Rio de Janeiro e São Paulo. Portanto, o resultado indireto da ação policial foi a promoção e não a repressão ao uso de entorpecentes.
Já para os EUA representou um episódio de sucesso, uma vez que com a denúncia evitou-se que o barco e sua carga chegassem em Miami, muitos traficantes foram presos em razão do caso.
Alguns depoimentos individuais no documentário mostram que, do ponto de vista da memória individual dos cidadãos, o fato foi ora percebido como um presente, um milagre, uma festa, algo inesperado e bom que marcou um determinado grupo e época.
Marcou tanto que uma gíria utilizada por esse grupo chegou a integrar a nossa memória coletiva. A expressão "da lata" passou a ser sinônimo de "muito bom, de boa qualidade". Por exemplo, "esse livro é da lata" = esse livro é bom. Nunca utilizei a expressão, mas já ouvi e agora sei de onde veio.
No Português do Brasil há outra expressão envolvendo latas. "Na lata" significa ser preciso ou direto. Por exemplo: "disse na lata" = disse diretamente. Acertou na lata= acertou em cheio = acertou na mosca. Não acredito que essa expressão tenha a mesma origem, parece resultar mais de práticas de tiro ao alvo.
Fim da história: o barco "Solana Star" foi apreendido, vendido em um leilão para tornar-se barco pesqueiro (conta-se que foi o primeiro bem apreendido em razão do tráfico de drogas), trocou de nome para Tunamar, e afundou na primeira viagem.
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
Roda de Capoeira - Patrimônio imaterial da Humanidade
Salve!
Em 26/11/2014 a Roda de Capoeira foi declarada Patrimônio Imaterial da Humanidade: http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=18713&sigla=Noticia&retorno=detalheNoticia.
Não custa lembrar que a capoeiragem já foi considerada crime no Brasil, pelo artigo o artigo 402, do Decreto 847 de 11 de outubro de 1890 (Código Penal da República dos Estados Unidos do Brasil), que no Capítulo XIII trata dos "vadios e capoeiras":
"Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e destreza corporal conhecida pela denominação Capoeiragem: andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão corporal, provocando tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal;
Pena -- de prisão celular por dois a seis meses".
E que mesmo após deixar de ser crime, em 1940, continuou sendo estigmatizada. Quando eu resolvi jogar capoeira, ouvi dizer que "era coisa de malandro" e "não era para meninas". Tive que começar a jogar escondido,e só depois de algum tempo, e de muitas explicações, meus pais entenderam que era uma coisa boa para a saúde e para a cabeça.
Mas a capoeira é para homem, menino e mulher, e agora para o mundo todo. Esse caminho desde a criminalidade até o reconhecimento como patrimônio mundial ajuda a compreender como a capoeira é fascinante e malandra.
Em 26/11/2014 a Roda de Capoeira foi declarada Patrimônio Imaterial da Humanidade: http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=18713&sigla=Noticia&retorno=detalheNoticia.
Não custa lembrar que a capoeiragem já foi considerada crime no Brasil, pelo artigo o artigo 402, do Decreto 847 de 11 de outubro de 1890 (Código Penal da República dos Estados Unidos do Brasil), que no Capítulo XIII trata dos "vadios e capoeiras":
"Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e destreza corporal conhecida pela denominação Capoeiragem: andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão corporal, provocando tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal;
Pena -- de prisão celular por dois a seis meses".
E que mesmo após deixar de ser crime, em 1940, continuou sendo estigmatizada. Quando eu resolvi jogar capoeira, ouvi dizer que "era coisa de malandro" e "não era para meninas". Tive que começar a jogar escondido,e só depois de algum tempo, e de muitas explicações, meus pais entenderam que era uma coisa boa para a saúde e para a cabeça.
Mas a capoeira é para homem, menino e mulher, e agora para o mundo todo. Esse caminho desde a criminalidade até o reconhecimento como patrimônio mundial ajuda a compreender como a capoeira é fascinante e malandra.
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
Dia Nacional de Ação de Graças (Brasil)
A comemoração do "Dia Nacional de Ação de Graças" foi instituída pela Lei Federal nº 781/49, alterada pela Lei nº 5110/1966:
Modifica a redação do artigo único da Lei nº 781, de 17 de agôsto de 1949, que institui o Dia Nacional de Ação de Graças.
|
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA faço saber que CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte lei:
Art 1º - O artigo único da Lei nº 781, de 17 de agôsto de 1949, passa a vigorar com a seguinte redação:
"Artigo único. É instituído o Dia Nacional de Ação de Graças, que será a quarta quinta-feira do mês de novembro".
Art 2º - Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 22 de setembro de 1966; 145º da Independência e 78º da República.
H. CASTELLO BRANCO
Carlos Medeiros Silva
Carlos Medeiros Silva
A supratranscrita lei foi regulamentada pelo Decreto nº 57298/65. Confesso que nessa data nunca vi nada parecido ao descrito na norma acontecer, embora o Ministério da Justiça afirme que anualmente as comemorações ocorrem: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJAD82FBF6ITEMIDFA39B22278B6448FB367A4DD31A0322EPTBRNN.htm
Essa comemoração nasceu nos Estados Unidos, e faz sentido entre os norte-americanos. Além da gratidão e da tradição de ver a família e compartilhar refeições, o ritual engloba também uma exótica modalidade de perdão executivo interessante, onde o Presidente "perdoa" dois perus, salvando-os da morte.
Os festejos de ação de graça também compreendem a famosa Black Friday, que foi incorporada pelos brasileiros com mais efetividade do que a comemoração religiosa. Talvez essa seja a forma da sociedade de consumo demonstrar a sua gratidão.
Apesar de não vislumbrar ressonância social na comemoração, desejo a todos um Feliz Dia Nacional de Ação de Graças e boas compras.
sábado, 22 de novembro de 2014
Conhece-te a ti mesmo, Brasil (9): a questão da imediatidade
No Brasil há uma expressão interessante, utilizada para indicar uma situação financeira difícil, que diz que "fulano está vendendo o almoço para pagar o jantar". Para mim, além da evidente alusão à falta de recursos, essa frase também serve para mostrar que o planejamento por aqui só vai até a próxima refeição.
Quando as pessoas estão lutando pela sobrevivência, na roda viva que a vida se tornou, tendem a pensar mais no presente. Na satisfação da necessidades de agora, em resolver problemas do hoje.
Quer ver algumas manifestações dessa mentalidade do imediato?
Os brasileiros raramente fazem testamentos.
Os brasileiros engajam-se alegremente em relacionamentos afetivos efêmeros. Assim como os esquimós possuem dezenas de palavras para nomear a neve, e cada uma das pequenas diferenças merece um nome novo, assim fazem os brasileiros com a sua miríade de formas de relacionamento: ficar, ter um rolo, namorar, noivar, namoridos, amizade colorida, entre outras categorias dinâmicas e permutáveis. É a única fila no Brasil que anda rápido.
O planejamento efetivo ainda parece ser um comportamento estranho entre nós. Geralmente, nós fazemos gestões de crise (planejar para resolver o problema imediato), mas os planos de longa duração ainda são raridade.
O próprio conceito de longa duração para nós é estranho. Curto prazo: hoje. Médio prazo: um ano. Longo prazo: de cinco a oito anos.
E ainda tem gente perguntando por que aconteceu a crise hídrica em São Paulo.
Acredito que esse senso de urgência, essa imediatidade, é uma das grandes responsáveis pela mentira deslavada de que o "brasileiro não tem memória". É claro que vivendo apenas no presente e mirando as suas urgências, não sobra muito espaço para refletir sobre o passado e ou para planejar o futuro.
Há quem considere que na pós-modernidade, época fragmentada, dinâmica e imprevisível, quase líquida no sentir de alguns, a adaptabilidade pode ser considerada uma virtude. Entretanto, essa adaptabilidade só será virtuosa se exercida dentro de um quadro maior de referência, contexto em que essas ações ganham coerência.
Sem essa moldura, projetos, políticas e ações tornam-se descontextualizados e fica difícil aferir a sua eficiência, restando essa sensação estranha de indefinição quanto a objetivos. "Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde quer ir", frase tão sábia que é atribuída ora a Sêneca, ora a Montaigne.
Quando as pessoas estão lutando pela sobrevivência, na roda viva que a vida se tornou, tendem a pensar mais no presente. Na satisfação da necessidades de agora, em resolver problemas do hoje.
Quer ver algumas manifestações dessa mentalidade do imediato?
Os brasileiros raramente fazem testamentos.
Os brasileiros engajam-se alegremente em relacionamentos afetivos efêmeros. Assim como os esquimós possuem dezenas de palavras para nomear a neve, e cada uma das pequenas diferenças merece um nome novo, assim fazem os brasileiros com a sua miríade de formas de relacionamento: ficar, ter um rolo, namorar, noivar, namoridos, amizade colorida, entre outras categorias dinâmicas e permutáveis. É a única fila no Brasil que anda rápido.
O planejamento efetivo ainda parece ser um comportamento estranho entre nós. Geralmente, nós fazemos gestões de crise (planejar para resolver o problema imediato), mas os planos de longa duração ainda são raridade.
O próprio conceito de longa duração para nós é estranho. Curto prazo: hoje. Médio prazo: um ano. Longo prazo: de cinco a oito anos.
E ainda tem gente perguntando por que aconteceu a crise hídrica em São Paulo.
Acredito que esse senso de urgência, essa imediatidade, é uma das grandes responsáveis pela mentira deslavada de que o "brasileiro não tem memória". É claro que vivendo apenas no presente e mirando as suas urgências, não sobra muito espaço para refletir sobre o passado e ou para planejar o futuro.
Há quem considere que na pós-modernidade, época fragmentada, dinâmica e imprevisível, quase líquida no sentir de alguns, a adaptabilidade pode ser considerada uma virtude. Entretanto, essa adaptabilidade só será virtuosa se exercida dentro de um quadro maior de referência, contexto em que essas ações ganham coerência.
Sem essa moldura, projetos, políticas e ações tornam-se descontextualizados e fica difícil aferir a sua eficiência, restando essa sensação estranha de indefinição quanto a objetivos. "Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde quer ir", frase tão sábia que é atribuída ora a Sêneca, ora a Montaigne.
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terça-feira, 18 de novembro de 2014
sábado, 15 de novembro de 2014
Reabilitação póstuma de Alan Turing
Embora a notícia não seja nova, é muito importante:http://www.dailymail.co.uk/news/article-2528697/Queen-pardons-wartime-codebreaking-hero-Alan-Turing.html.
Hoje estava lembrando de Alan Turing, um herói nacional que foi vítima do seu tempo. Neste ano, comemorou-se 50 anos de sua morte (suicídio, acidente, assassinato?), e nesta ocasião foi concedido o perdão real, por ter sido condenado por homossexualismo.
O herói da Segunda Guerra, que ajudou a Grã-Bretanha a decifrar os inimigos, não conseguiu fazer os mesmo com seus próprios conterrâneos. Apesar de sua importante participação, foi condenado por sua sexualidade e, para evitar a prisão, concordou com a castração química.
Não dá para imaginar a humilhação, a exposição a que foi submetido, e que acabaram por deslustrar o seu verdadeiro valor como indivíduo, cidadão e cientista.
A reabilitação póstuma - uma das formas de manifestação do direito à memória dos mortos - permite que ele seja lembrado como o brilhante cientista e herói de guerra que ele sempre foi, mesmo enquanto era vilipendiado, o que permite não só reabilitá-lo como também aos britânicos.
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
Lembrar Xangô
Aprendi recentemente, e fiquei muito surpresa, para não dizer estarrecida e maravilhada, que o mítico Xangô foi um personagem histórico.
Ele foi um Rei (Alafin) de Oyó, cidade do denominado Império Yoruba, localizada no que hoje é o oeste da Nigéria. À semelhança de outros governantes, Xangô foi divinizado e é cultuado nas religiões de matriz africana, e no nosso caso, nas afro-brasileiras.
Xangô é um orixá poderoso, o que se pode ver pelas suas manifestações como trovão, raio e fogo. Ao ler informações sobre a sua biografia, nota-se que ele depôs o irmão, que não conseguiu manter a coesão do Império. Sua função unificadora foi conseguida através da força, ele tomou as rédeas políticas para controlar o poder disperso, inclusive com a função de aplicar a justiça, e talvez por isso tenha recebido os atributos de orixá violento e vingativo.
O fato é que Xangô é poderoso e faz tremer o chão. Além disso, pela tradição ele fundou o culto aos eguns (antepassados falecidos) o que, do ponto de vista memorial e político, é também uma forma de obter a coesão social. Sabe-se que a idéia de "nação" tem profunda relação simbólica com nascimento, essa é a origem da palavra, e com as idéias de paternidade, maternidade e ancestralidade: não são à toa as associações com língua "materna" e "pátria", por exemplo.
O culto aos eguns, acredito, contribui para a coesão social porque manifesta a ancestralidade comum daquele povo. Xangô é o responsável pelo culto, e há informação (passível de verificação) de que suas vestimentas representam esses ancestrais sob a forma de cores em sua saia.
No Brasil, especificamente no local onde moro, "xangô" também é sinônimo de terreiro e da própria religião afro-brasileira. Nesse sentido, usa-se a expressão "ir ao xangô", e aos praticantes denomina-se "xangozeiros", no meu sentir de maneira pejorativa.
Apenas para acrescentar uma reflexão, feita por alguém que não é da religião e ignora a maior parte dos rituais e significados, fiquei muito impressionada quando participei de uma cerimônia de Candomblé. Eu tinha sido convidada para ser uma espécie de madrinha (foi assim que eu entendi), e como condição para participar precisei fazer uma consulta com o sacerdote, que jogou búzios para mim.
Dessa consulta, algumas coisas ficaram na minha memória. A primeira é que no lugar onde os búzios eram jogados havia moedas. E isso me fez lembrar que em algumas culturas as conchas (ou búzios) também eram usados como moeda. Fiquei pensando se as moedas de real não seriam uma forma mais moderna de representação dos antigos padrões monetários africanos, e sei que têm grande importância nos denominados "trabalhos".
Aprendi certa vez que quanto mais antiga a moeda, mais forte é a mandinga.
A segunda coisa que eu aprendi é como sou ignorante, e como não recebi desde a infância o acesso a essa fonte de cultura nacional, como preconiza o artigo 215 da Constituição Federal. Acredito que nem foi por preconceito, foi apenas ignorância, distância e falta de oportunidade. Atualmente, os currículos escolares prevêem o ensino da cultura afro-brasileira e, oxalá, contemplassem também outros patrimônios culturais de indígenas, imigrantes, cosmopolitas, potiguares, soteropolitanos, gaúchos, pantaneiros e etceteras.
Enfim, acho que se tivesse recebido mais educação antes de participar da cerimônia teria aproveitado e aprendido mais com a experiência. Por exemplo, teria aproveitado mais a oportunidade do jogo dos búzios, e não teria cometido a sucessão de gafes que pratiquei e que algum dia irei contar aqui no blog.
E finalmente, devo dizer que sou apaixonada pelas comidas de santo. A gastronomia religiosa dos cultos afro-brasileiros é maravilhosa, e as comidas são sempre tão complexas (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/06/desafio-para-memoria-receita-de-vatapa.html) que dá para ver que são para ocasiões especiais. A comida de Xangô é uma das minhas preferidas: rabada com quiabo!
Ele foi um Rei (Alafin) de Oyó, cidade do denominado Império Yoruba, localizada no que hoje é o oeste da Nigéria. À semelhança de outros governantes, Xangô foi divinizado e é cultuado nas religiões de matriz africana, e no nosso caso, nas afro-brasileiras.
Xangô é um orixá poderoso, o que se pode ver pelas suas manifestações como trovão, raio e fogo. Ao ler informações sobre a sua biografia, nota-se que ele depôs o irmão, que não conseguiu manter a coesão do Império. Sua função unificadora foi conseguida através da força, ele tomou as rédeas políticas para controlar o poder disperso, inclusive com a função de aplicar a justiça, e talvez por isso tenha recebido os atributos de orixá violento e vingativo.
O fato é que Xangô é poderoso e faz tremer o chão. Além disso, pela tradição ele fundou o culto aos eguns (antepassados falecidos) o que, do ponto de vista memorial e político, é também uma forma de obter a coesão social. Sabe-se que a idéia de "nação" tem profunda relação simbólica com nascimento, essa é a origem da palavra, e com as idéias de paternidade, maternidade e ancestralidade: não são à toa as associações com língua "materna" e "pátria", por exemplo.
O culto aos eguns, acredito, contribui para a coesão social porque manifesta a ancestralidade comum daquele povo. Xangô é o responsável pelo culto, e há informação (passível de verificação) de que suas vestimentas representam esses ancestrais sob a forma de cores em sua saia.
No Brasil, especificamente no local onde moro, "xangô" também é sinônimo de terreiro e da própria religião afro-brasileira. Nesse sentido, usa-se a expressão "ir ao xangô", e aos praticantes denomina-se "xangozeiros", no meu sentir de maneira pejorativa.
Apenas para acrescentar uma reflexão, feita por alguém que não é da religião e ignora a maior parte dos rituais e significados, fiquei muito impressionada quando participei de uma cerimônia de Candomblé. Eu tinha sido convidada para ser uma espécie de madrinha (foi assim que eu entendi), e como condição para participar precisei fazer uma consulta com o sacerdote, que jogou búzios para mim.
Dessa consulta, algumas coisas ficaram na minha memória. A primeira é que no lugar onde os búzios eram jogados havia moedas. E isso me fez lembrar que em algumas culturas as conchas (ou búzios) também eram usados como moeda. Fiquei pensando se as moedas de real não seriam uma forma mais moderna de representação dos antigos padrões monetários africanos, e sei que têm grande importância nos denominados "trabalhos".
Aprendi certa vez que quanto mais antiga a moeda, mais forte é a mandinga.
A segunda coisa que eu aprendi é como sou ignorante, e como não recebi desde a infância o acesso a essa fonte de cultura nacional, como preconiza o artigo 215 da Constituição Federal. Acredito que nem foi por preconceito, foi apenas ignorância, distância e falta de oportunidade. Atualmente, os currículos escolares prevêem o ensino da cultura afro-brasileira e, oxalá, contemplassem também outros patrimônios culturais de indígenas, imigrantes, cosmopolitas, potiguares, soteropolitanos, gaúchos, pantaneiros e etceteras.
Enfim, acho que se tivesse recebido mais educação antes de participar da cerimônia teria aproveitado e aprendido mais com a experiência. Por exemplo, teria aproveitado mais a oportunidade do jogo dos búzios, e não teria cometido a sucessão de gafes que pratiquei e que algum dia irei contar aqui no blog.
E finalmente, devo dizer que sou apaixonada pelas comidas de santo. A gastronomia religiosa dos cultos afro-brasileiros é maravilhosa, e as comidas são sempre tão complexas (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/06/desafio-para-memoria-receita-de-vatapa.html) que dá para ver que são para ocasiões especiais. A comida de Xangô é uma das minhas preferidas: rabada com quiabo!
terça-feira, 11 de novembro de 2014
Direito à memória dos mortos: bonecas Kokeshi
As bonecas kokeshi nasceram no norte do Japão durante o período Edo, em meados do século XVII ou XIX (há divergência), como souvenires para quem visitava as estações de águas termais. Embora a sua origem não esteja clara, talvez porque ainda não acessei referências suficientes, por causa do seu formato (uma cabeça redonda, sem braços e sem pernas) era associada com instrumentos de massagem.
Outra versão afirma que nasceram como brinquedos. A sua associação com crianças parece ser tanto lúdica como trágica. Vi algumas fontes que afirmam ser a boneca kokeshi uma espécie de amuleto para proteger as crianças da casa, ou a representação de crianças que faleceram, cujas almas são guardadas pelas bonecas.
Neste sítio (http://www.japaoemfoco.com/kokeshi-dolls-as-bonecas-tradicionais-japonesas), há a referência de que o infanticídio era uma prática cultural frequente no Japão, havendo relação entre as bonecas kokeshi com essa prática.
Assisti a um vídeo com diversos artesãos fazendo diversos tipos dessas bonecas tradicionais, e vale a pena apreciar o seu modo de fazer tão interessante (https://www.youtube.com/watch?v=NfPapG4EnPg).
Outra versão afirma que nasceram como brinquedos. A sua associação com crianças parece ser tanto lúdica como trágica. Vi algumas fontes que afirmam ser a boneca kokeshi uma espécie de amuleto para proteger as crianças da casa, ou a representação de crianças que faleceram, cujas almas são guardadas pelas bonecas.
Neste sítio (http://www.japaoemfoco.com/kokeshi-dolls-as-bonecas-tradicionais-japonesas), há a referência de que o infanticídio era uma prática cultural frequente no Japão, havendo relação entre as bonecas kokeshi com essa prática.
Assisti a um vídeo com diversos artesãos fazendo diversos tipos dessas bonecas tradicionais, e vale a pena apreciar o seu modo de fazer tão interessante (https://www.youtube.com/watch?v=NfPapG4EnPg).
sábado, 8 de novembro de 2014
Direito à memória dos mortos: Bustuárias
"Bustu" em Latim significa túmulo, sepultura ou monumento funerário. Por sua vez a palavra "cemitério" provêm do grego, e significa "dormitório".
A idéia de que o cemitério é um lugar de descanso (eterno) parece ser fortemente arraigada desde a Antiguidade. Não se deve deslocar os mortos, mas deixá-los jazer serena e tranquilamente, por isso sou contra a crescente tendência de deslocamento de cemitérios, principalmente por razões imobiliárias, mas isso é tema para outro post.
Hoje estou pensando nos bustuários e bustuárias.
Os bustuários eram gladiadores que combatiam ao redor das piras em que eram cremados os mortos. A explicação que encontrei para esse costume reside na idéia de apaziguar o espírito dos guerreiros mortos em combate com o sangue dos inimigos, que eram sacrificados sobre os seus túmulos (cf. http://www.mediterranees.net/civilisation/Rich/Articles/Loisirs/Gladiateurs/Bustuarius.html). Essa prática evoluiu para o ritual de combate próximo aos túmulos.
O feminino - Bustuária - designa as prostitutas que atuavam nos cemitérios, entre os túmulos. Ainda não consegui localizar a explicação do por que existir prostitutas em cemitérios, apenas a referência de que eles (os cemitérios) costumavam ficar fora dos limites da cidade e por isso era uma prostituição, como poderia dizer, marginal no sentido geográfico.
Achei o tema tão interessante, e minha curiosidade patológica certamente vai me fazer continuar pesquisando sobre as bustuárias, provavelmente de forma não sistemática. Por favor, quem souber alguma coisa sobre o assunto basta dar a referência nos comentários, e serei imensamente agradecida.
Finalmente, gostaria de lembrar que os cemitérios nem sempre são lugares tranquilos, silenciosos e solenes (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/08/cemiterio-lugar-de-memoria.html). Os cemitérios, como outros produtos da Cultura, são um espelho e alguns são bem exóticos (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/06/direito-memoria-dos-mortos-lapides.html). Aqui no Brasil, encontrei a informação de que no início do século XX as pessoas frequentavam cemitérios para fazer piqueniques, paquerar e passear, uma postura bem diferente do que vemos hoje.
Referências
MOTTA, Antonio. À flor da pedra - formas tumulares e processos sociais nos cemitérios brasileiros.Recife: Fundação Joaquim Nabuco: Massangana, 2009.
A idéia de que o cemitério é um lugar de descanso (eterno) parece ser fortemente arraigada desde a Antiguidade. Não se deve deslocar os mortos, mas deixá-los jazer serena e tranquilamente, por isso sou contra a crescente tendência de deslocamento de cemitérios, principalmente por razões imobiliárias, mas isso é tema para outro post.
Hoje estou pensando nos bustuários e bustuárias.
Os bustuários eram gladiadores que combatiam ao redor das piras em que eram cremados os mortos. A explicação que encontrei para esse costume reside na idéia de apaziguar o espírito dos guerreiros mortos em combate com o sangue dos inimigos, que eram sacrificados sobre os seus túmulos (cf. http://www.mediterranees.net/civilisation/Rich/Articles/Loisirs/Gladiateurs/Bustuarius.html). Essa prática evoluiu para o ritual de combate próximo aos túmulos.
O feminino - Bustuária - designa as prostitutas que atuavam nos cemitérios, entre os túmulos. Ainda não consegui localizar a explicação do por que existir prostitutas em cemitérios, apenas a referência de que eles (os cemitérios) costumavam ficar fora dos limites da cidade e por isso era uma prostituição, como poderia dizer, marginal no sentido geográfico.
Achei o tema tão interessante, e minha curiosidade patológica certamente vai me fazer continuar pesquisando sobre as bustuárias, provavelmente de forma não sistemática. Por favor, quem souber alguma coisa sobre o assunto basta dar a referência nos comentários, e serei imensamente agradecida.
Finalmente, gostaria de lembrar que os cemitérios nem sempre são lugares tranquilos, silenciosos e solenes (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/08/cemiterio-lugar-de-memoria.html). Os cemitérios, como outros produtos da Cultura, são um espelho e alguns são bem exóticos (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/06/direito-memoria-dos-mortos-lapides.html). Aqui no Brasil, encontrei a informação de que no início do século XX as pessoas frequentavam cemitérios para fazer piqueniques, paquerar e passear, uma postura bem diferente do que vemos hoje.
Referências
MOTTA, Antonio. À flor da pedra - formas tumulares e processos sociais nos cemitérios brasileiros.Recife: Fundação Joaquim Nabuco: Massangana, 2009.
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quarta-feira, 5 de novembro de 2014
Relógios (2): Relógio de Sol de F. Brennand
Esse relógio de sol foi conquistado na Oficina de Francisco Brennand, e é muito interessante:
Adoro relógios de sol, de água e ampulhetas.
Adoro relógios de sol, de água e ampulhetas.
domingo, 2 de novembro de 2014
Lembrando personagens - Vlad III
O mandatário romeno Vlad III nasceu em novembro 1431, e este é o motivo deste post. Quanto à sua morte, bem, não há certeza quanto às datas (dezembro de 1476, ou janeiro de 1477), nem mesmo se efetivamente faleceu ou se ainda caminha entre nós.
A biografia do personagem é uma das mais interessantes. Nasceu em um território conturbado e em uma época extremamente conturbada, filho de Vlad II, vovoida da região da Wallachia, localizada no atual Estado da Romênia (Romania). O pai fazia parte da ordem do Dragão, daí utilizar o nome Dracul e, como filho de Dragão, dragãozinho é, Vlad III passou a ser conhecido como "Draculea", filho do Dragão.
Ainda criança, foi refém político do sultão otomano Murad II, junto com o seu irmão Radu (o Belo). Diferentemente do irmão, que se adaptou perfeitamente à cultura e ao modo de vida dos otomanos, ao ponto de tornar-se comandante dos Janissarios, e provavelmente participar da queda de Constantinopla junto com o sultão Mehmet II, Vlad III resolveu restaurar o poder familiar retornando à terra natal.
Lá, por razões políticas, tornou-se inimigo dos otomanos, com os quais guerreou ferozmente para evitar a expansão do império à Europa. Guerreou tão ferozmente que ganhou a alcunha de Tepes - Empalador, porque praticava com os inimigos a morte pelo empalamento. Imagino que para o guerreiro essa propaganda de ferocidade deve ter sido realmente útil e deve ter evitado várias batalhas.
Vlad Tepes viveu a época do surgimento da imprensa, e acredito que ele foi um dos primeiros personagens da imprensa marrom. Muito de sua fama deve-se a panfletos que circularam entre 1460 e 1470, contando suas aventuras. Em 1490 circulou um livro chamado "A lenda de Drácula", ou algo assim, como uma coletânea dessas lendas e panfletos que o apresentaram como um personagem violento.
Para os padrões atuais, inclusive os meus agora, Vlad III morreu jovem, aos quarenta e cinco anos. Foi assassinado em uma emboscada, mas o local de sepultamento é incerto: alguns afirmam estar enterrado em um Igreja em Snagov, e outros em um Mosteiro em Comana, aparentemente mais próximo do local onde acredita-se haver morrido (ou não).
A dicotomia Cristãos- Mulçumanos fez com que Vlad III fosse considerado um bastião europeu contra o avanço do império otomano.Acredito que pode ser considerado uma espécie de herói romeno, e há inclusive monumentos em sua homenagem, porém a ficção transformou o filho do Dragão em filho do demônio, pervertendo e amaldiçoando a sua biografia.
Nesse período de Halloween a figura do vampiro "Drácula" é uma das fantasias preferidas, e a sua proximidade com o dia de finados me fez lembrar dele. É um personagem que sempre chamou a minha atenção mas, agora, estou realmente curiosa em saber como os romenos se sentem ao vê-lo sendo retratado como vampiro porque lá assuntos como a bruxaria (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/01/bruxaria-e-considerada-profissao-legal.html) e o vampirismo são levados a sério, e com razão, pois não devemos brincar com essas coisas.
Será que retratá-lo como um vampiro é considerado ofensivo aos romenos? Será uma violação à memória coletiva e à memória dos mortos?
A biografia do personagem é uma das mais interessantes. Nasceu em um território conturbado e em uma época extremamente conturbada, filho de Vlad II, vovoida da região da Wallachia, localizada no atual Estado da Romênia (Romania). O pai fazia parte da ordem do Dragão, daí utilizar o nome Dracul e, como filho de Dragão, dragãozinho é, Vlad III passou a ser conhecido como "Draculea", filho do Dragão.
Ainda criança, foi refém político do sultão otomano Murad II, junto com o seu irmão Radu (o Belo). Diferentemente do irmão, que se adaptou perfeitamente à cultura e ao modo de vida dos otomanos, ao ponto de tornar-se comandante dos Janissarios, e provavelmente participar da queda de Constantinopla junto com o sultão Mehmet II, Vlad III resolveu restaurar o poder familiar retornando à terra natal.
Lá, por razões políticas, tornou-se inimigo dos otomanos, com os quais guerreou ferozmente para evitar a expansão do império à Europa. Guerreou tão ferozmente que ganhou a alcunha de Tepes - Empalador, porque praticava com os inimigos a morte pelo empalamento. Imagino que para o guerreiro essa propaganda de ferocidade deve ter sido realmente útil e deve ter evitado várias batalhas.
Vlad Tepes viveu a época do surgimento da imprensa, e acredito que ele foi um dos primeiros personagens da imprensa marrom. Muito de sua fama deve-se a panfletos que circularam entre 1460 e 1470, contando suas aventuras. Em 1490 circulou um livro chamado "A lenda de Drácula", ou algo assim, como uma coletânea dessas lendas e panfletos que o apresentaram como um personagem violento.
Para os padrões atuais, inclusive os meus agora, Vlad III morreu jovem, aos quarenta e cinco anos. Foi assassinado em uma emboscada, mas o local de sepultamento é incerto: alguns afirmam estar enterrado em um Igreja em Snagov, e outros em um Mosteiro em Comana, aparentemente mais próximo do local onde acredita-se haver morrido (ou não).
A dicotomia Cristãos- Mulçumanos fez com que Vlad III fosse considerado um bastião europeu contra o avanço do império otomano.Acredito que pode ser considerado uma espécie de herói romeno, e há inclusive monumentos em sua homenagem, porém a ficção transformou o filho do Dragão em filho do demônio, pervertendo e amaldiçoando a sua biografia.
Nesse período de Halloween a figura do vampiro "Drácula" é uma das fantasias preferidas, e a sua proximidade com o dia de finados me fez lembrar dele. É um personagem que sempre chamou a minha atenção mas, agora, estou realmente curiosa em saber como os romenos se sentem ao vê-lo sendo retratado como vampiro porque lá assuntos como a bruxaria (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/01/bruxaria-e-considerada-profissao-legal.html) e o vampirismo são levados a sério, e com razão, pois não devemos brincar com essas coisas.
Será que retratá-lo como um vampiro é considerado ofensivo aos romenos? Será uma violação à memória coletiva e à memória dos mortos?
sábado, 1 de novembro de 2014
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
Reconhecimento do Estado Palestino - 2014
A Suécia reconheceu a existência do Estado Palestino: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/10/141030_suecia_palestina_rp.
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Direito à memória coletiva
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
Memória Poética - Carlos Pena Filho (2)
Outra memória em forma de poesia, porque adoro o poeta Carlos Pena Filho:
"Fazenda Nova - Um campo.
É como se fossem ruínas,
mas não de muros ou casas.
São ruínas de terra antiga,
que o tempo estraga.
Vistas de longe, essas pedras
de irregulares tamanhos
são lembranças renascidas
de abandonados rebanhos.
Mas, quando vistas de perto,
a idéia que a gente faz
é a de que aquilo é somente
lavoura de Satanás.
Apenas sol se move
nessa paisagem sem bois,
sem cabras e sem ovelhas,
sem antes e sem depois.
Ainda mais duas coisas
pode esse campo lembrar:
Um cemitério sem corpos
ou um leito de mar, sem mar."
_______________________
Só para contribuir com a leitura do poema, uma foto do lugar chamado Brejo da Madre de Deus, próximo à Fazenda Nova, e suas pedras tão características:
Pode até ser que o poeta não estivesse pensando nesse lugar agreste, mas para mim fez todo o sentido.
"Fazenda Nova - Um campo.
É como se fossem ruínas,
mas não de muros ou casas.
São ruínas de terra antiga,
que o tempo estraga.
Vistas de longe, essas pedras
de irregulares tamanhos
são lembranças renascidas
de abandonados rebanhos.
Mas, quando vistas de perto,
a idéia que a gente faz
é a de que aquilo é somente
lavoura de Satanás.
Apenas sol se move
nessa paisagem sem bois,
sem cabras e sem ovelhas,
sem antes e sem depois.
Ainda mais duas coisas
pode esse campo lembrar:
Um cemitério sem corpos
ou um leito de mar, sem mar."
_______________________
Só para contribuir com a leitura do poema, uma foto do lugar chamado Brejo da Madre de Deus, próximo à Fazenda Nova, e suas pedras tão características:
Pode até ser que o poeta não estivesse pensando nesse lugar agreste, mas para mim fez todo o sentido.
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Direitos culturais - divulgação de sítio
Achei esse sítio bem interessante: http://www.direitosculturais.com.br.
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
Citações sobre a memória - Nelson Mandela
"Culpar o passado não melhora as coisas."
_________________
Exato. Abordar traumas do passado pelo viés exclusivo da "culpa" não resolve nada. É preciso compreender, ressignificar, reconstruir o passado, de modo a torná-lo relevante e útil para o presente.
_________________
Exato. Abordar traumas do passado pelo viés exclusivo da "culpa" não resolve nada. É preciso compreender, ressignificar, reconstruir o passado, de modo a torná-lo relevante e útil para o presente.
terça-feira, 7 de outubro de 2014
GPS cerebral - Prêmio Nobel de Medicina de 2014
Confiram a notícia: http://www.theguardian.com/science/live/2014/oct/06/nobel-prize-physiology-medicine-announcement-stockholm-2014-live
Será a explicação para a técnica mnemônica dos loci (lugares da memória)?
Será a explicação para a técnica mnemônica dos loci (lugares da memória)?
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
Souvenir (14): Foz do Iguaçu
Em setembro de 2014 passei mini-férias na cidade do Foz do Iguaçu, que curiosamente faz fronteira com a Argentina e o Paraguai.
De lá retornei com mais um azulejo de viagem como souvenir:
Apesar da beleza cênica quase indescritível das Cataratas, não posso dizer que Foz do Iguaçu é o meu destino favorito.
De lá retornei com mais um azulejo de viagem como souvenir:
Apesar da beleza cênica quase indescritível das Cataratas, não posso dizer que Foz do Iguaçu é o meu destino favorito.
domingo, 5 de outubro de 2014
Citações sobre a memória - Marguerite Yourcenar
"Quando se gosta da vida, gosta-se do passado, porque ele é o presente tal como sobreviveu na memória humana".
domingo, 21 de setembro de 2014
La Difunta Correa - direito à memória dos mortos
Passando pela provincia de Misiones, na Argentina, percebi que ao longo da estrada havia muitos pequenos marcos memoriais. Aqui no Brasil também existem, geralmente cruzes ou pequenas capelas que assinalam o local onde pessoas faleceram vitimadas por acidentes de trânsito. Muitas vezes esse marcos estão decorados com flores e velas, em memória dos mortos.
Como havia muitos marcos ao longo da estrada, pensei imediatamente que deveria ser muito perigosa. Tal pensamento me incomodou e causou estranheza porque as estradas de lá são bem conservadas, e os locais onde estavam os marcos não pareciam arriscados, e isso me levou a perguntar ao nosso motorista:
- Essa estrada é muito perigosa?
- Não, é tranquila.
- Então porque há tantos marcos e capelinhas ao longo dela?
- É por causa da defunta.
- Que defunta?
- La difunta Correa. A população aqui constrói essas capelinhas para ela, e também coloca muitas garrafas de água, porque ela morreu de sede.
- Que estória é essa? Morreu de sede como (?), se estamos perto do Paranazão, esse rio imenso e lindo. Então ela é uma espécie de santa popular?
- É sim, muito milagrosa.
- Certo ... (essa sou eu já pensando na Difunta e sua estória)...Mas olha lá, aquela ali não tem garrafas de água.
- É porque aquela capelinha não é para a Difunta, é para o Gauchito Gil. Também é um santo, que roubava dos ricos para dar aos pobres. É como Lampião.
- Não, não. Lampião não virou santo. No máximo, é considerado herói por alguns. Mas vamos voltar ao caso da Difunta.
E passamos o resto da viagem conversando sobre a Difunta Correa e outros santos.Que interessante a crença popular e a maneira de homenageá-la!
Depois, fui pesquisar um pouco sobre a sua biografia, e vi que o personagem não tem corroboração documental, embora sua existência seja indiscutível no imaginário. Trata-se de Maria Antonia Deolinda Correa, que aparentemente faleceu de sede enquanto acompanhava o marido, que era militar, na Provincia de San Juan, em Vallecito, proximo a Caucete (longe de onde estávamos), onde existe um santuário que é bastante visitado. O motivo pelo qual virou santa popular é que, mesmo após a morte, deu de mamar ao seu filho recém-nascido, salvando-o.
Muito interessantes os santos populares argentinos...Além da Difunta Correa e do Gauchito Gil, lembro que também uma cantora chamada "Gilda" (https://www.youtube.com/watch?v=RhTnCE6TYk0) possui fãs que viraram devotos, e também recebe homenagens e demonstrações de fé.
Como havia muitos marcos ao longo da estrada, pensei imediatamente que deveria ser muito perigosa. Tal pensamento me incomodou e causou estranheza porque as estradas de lá são bem conservadas, e os locais onde estavam os marcos não pareciam arriscados, e isso me levou a perguntar ao nosso motorista:
- Essa estrada é muito perigosa?
- Não, é tranquila.
- Então porque há tantos marcos e capelinhas ao longo dela?
- É por causa da defunta.
- Que defunta?
- La difunta Correa. A população aqui constrói essas capelinhas para ela, e também coloca muitas garrafas de água, porque ela morreu de sede.
- Que estória é essa? Morreu de sede como (?), se estamos perto do Paranazão, esse rio imenso e lindo. Então ela é uma espécie de santa popular?
- É sim, muito milagrosa.
- Certo ... (essa sou eu já pensando na Difunta e sua estória)...Mas olha lá, aquela ali não tem garrafas de água.
- É porque aquela capelinha não é para a Difunta, é para o Gauchito Gil. Também é um santo, que roubava dos ricos para dar aos pobres. É como Lampião.
- Não, não. Lampião não virou santo. No máximo, é considerado herói por alguns. Mas vamos voltar ao caso da Difunta.
E passamos o resto da viagem conversando sobre a Difunta Correa e outros santos.Que interessante a crença popular e a maneira de homenageá-la!
Depois, fui pesquisar um pouco sobre a sua biografia, e vi que o personagem não tem corroboração documental, embora sua existência seja indiscutível no imaginário. Trata-se de Maria Antonia Deolinda Correa, que aparentemente faleceu de sede enquanto acompanhava o marido, que era militar, na Provincia de San Juan, em Vallecito, proximo a Caucete (longe de onde estávamos), onde existe um santuário que é bastante visitado. O motivo pelo qual virou santa popular é que, mesmo após a morte, deu de mamar ao seu filho recém-nascido, salvando-o.
Muito interessantes os santos populares argentinos...Além da Difunta Correa e do Gauchito Gil, lembro que também uma cantora chamada "Gilda" (https://www.youtube.com/watch?v=RhTnCE6TYk0) possui fãs que viraram devotos, e também recebe homenagens e demonstrações de fé.
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
Relógios (1): relógio de sol da Missão de San Ignácio
No post http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/07/resgatando-conhecimentos-tradicionais-2.html, refletimos sobre a necessidade de resgatar formas tradicionais de medir o tempo, através de relógios de sol, clepsidras e ampulhetas, por exemplo.
Naquela oportunidade decidi que ia construir uma clepsidra e iria estudar sobre ampulhetas. Ainda não fiz nada disso mas, como disse Nietzsche "devemos ter uma boa memória para sermos capazes de cumprir as promessas que fazemos". Prometi e vou fazer.
Mas enquanto não construo a minha clepsidra e estudo sobre ampulhetas, comecei a colecionar fotografias de relógios antigos (de sol, de água, por gravidade) que encontro em minhas andanças.
Nesta semana, vi esse aqui na Missão de Santo Ignácio, sítio arqueológico histórico maravilhoso que fica na Província de Misiones, na Argentina:
Naquela oportunidade decidi que ia construir uma clepsidra e iria estudar sobre ampulhetas. Ainda não fiz nada disso mas, como disse Nietzsche "devemos ter uma boa memória para sermos capazes de cumprir as promessas que fazemos". Prometi e vou fazer.
Mas enquanto não construo a minha clepsidra e estudo sobre ampulhetas, comecei a colecionar fotografias de relógios antigos (de sol, de água, por gravidade) que encontro em minhas andanças.
Nesta semana, vi esse aqui na Missão de Santo Ignácio, sítio arqueológico histórico maravilhoso que fica na Província de Misiones, na Argentina:
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quinta-feira, 18 de setembro de 2014
Holocausto Brasileiro - Daniela Arbex
Estou em férias e aproveitei para ler um livro que estava no meu radar há tempos: Holocausto brasileiro, de Daniela Arbex. Trata-se de uma reportagem sobre o Hospital Colônia de Barbacena (Minas Gerais), tornada um símbolo da incompreensão da doença mental, do tratamento desumano conferido aos pacientes, familiares e trabalhadores de lá, que na verdade é um retrato brutal do sistema manicomial brasileiro.
No post http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/09/esquecedouros-manicomios.html, já refletimos sobre como os manicômios são lugares de esquecimento, assim como prisões, asilos, cemitérios, orfanatos, entre outros. São lugares onde pessoas e objetos são depositados, longe dos olhos da sociedade para que, invisíveis, tornem-se também irrelevantes.
O problema com esquecedouros é que lá também são esquecidos os direitos fundamentais. E essa era exatamente a situação do Hospital Colônia de Barbacena.
Em síntese, essas foram as práticas denunciadas pelas diversas reportagens que trataram do assunto:
- Internamentos sem diagnóstico;
- Permanência sem nenhum tipo de tratamento;
- Medicação genérica, aplicada por pessoas não capacitadas e sem prescrição;
- Fome e sede;
- Alojamento inadequado;
- Abusos físicos e psicológicos cotidianos. Os doentes dormiam no chão, ficavam no pátio ao sol o dia inteiro, e à noite enfrentavam o frio nus.
- Utilização de eletrochoques e ducha escocesa como forma de punição pelo "mau comportamento" dos internos;
- Classificação genérica de "mau comportamento". Até uma reivindicação justa por comida, água ou melhores condições de vida ensejariam punições.
- Escravidão: trabalho não remunerado, inclusive em funções públicas como varrição e capinação das ruas do município. Trabalho escravo na construção civil, p. 132.
- Mortes diárias devidas aos maus-tratos (no pior momento, chegaram a 16 mortes por dia);
- Venda de cadáveres (entre 1969-1980 foram 1853 cadáveres vendidos), p. 78.
- Adoção irregular dos bebês nascidos no hospital.
Os internos, que não passavam por qualquer tipo de diagnóstico, eram doentes, prostitutas, homossexuais, esposas de homens infiéis que queriam ficar solteiros, inimigos políticos, mães solteiras (p. 61), trazidos de vários lugares do Brasil. Eles chegavam no hospital através de um trem, que foi apelidado carinhosamente de "trem de doido", expressão que se incorporou ao linguajar mineiro.
Seguindo essa receita, o resultado não poderia ser outro: 60 mil mortos.
As imagens do livro são fortes, basicamente as fotografias de Luiz Alfredo, tiradas para uma reportagem histórica da revista Cruzeiro, de 1961.Para ver as fotos: https://www.google.com.br/search?q=luiz+alfredo+col%C3%B4nia+barbacena&safe=off&biw=1600&bih=775&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=JhMbVLjsFNWkyATX-ILwAg&ved=0CAYQ_AUoAQ.
Como é da nossa tradição brasileira, apesar das denúncias contundentes desde 1960, a realidade dos pacientes e trabalhadores demorou bastante a mudar. Mais um exemplo da resistência à mudança (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/05/13-de-maio-abolicao-da-escravidao.html) e da procrastinação (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/04/conhece-te-ti-mesmo-brasil-procrastinar.html), que parecem permear o nosso modo de viver, nossa memória.
Também não houve nenhum tipo de reparação às vítimas, e nem de responsabilização àqueles que mantinham esse sistema.
Não concordo com a comparação de tragédias, que são únicas e irrepetíveis. Acredito que o nome "holocausto brasileiro" é uma tentativa de dimensionar o horror do que acontecia no Hospital Colônia de Barbacena, comparando-o ao processo de extermínio denominado "Holocausto", ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial, que evidentemente foi muito diferente nos seus aspectos externos, internos e causas.
Hoje a realidade Hospital mudou, assim como mudaram alguns aspectos dos chamados manicômios, que foram praticamente abolidos no Brasil, lá funcionando um interessante "Museu da Loucura" para lembrar esse trágico período da nossa história.
Concluindo, após passar pela experiência de ler a história dos sobreviventes, e de conhecer um pouco do que acontecia, só posso reafirmar a minha convicção de que existe uma mentalidade arraigada que cria esse tipo de absurdo. Parece ser sempre o mesmo: pensar em hospital, e produzir o Hospital Colônia de Barbacena. Pensar em prisão, e concretizar o Presídio de Pedrinhas.
Parece que a dignidade humana - princípio constitucional positivado - ainda não conseguiu comover ou inspirar melhores práticas.
No post http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/09/esquecedouros-manicomios.html, já refletimos sobre como os manicômios são lugares de esquecimento, assim como prisões, asilos, cemitérios, orfanatos, entre outros. São lugares onde pessoas e objetos são depositados, longe dos olhos da sociedade para que, invisíveis, tornem-se também irrelevantes.
O problema com esquecedouros é que lá também são esquecidos os direitos fundamentais. E essa era exatamente a situação do Hospital Colônia de Barbacena.
Em síntese, essas foram as práticas denunciadas pelas diversas reportagens que trataram do assunto:
- Internamentos sem diagnóstico;
- Permanência sem nenhum tipo de tratamento;
- Medicação genérica, aplicada por pessoas não capacitadas e sem prescrição;
- Fome e sede;
- Alojamento inadequado;
- Abusos físicos e psicológicos cotidianos. Os doentes dormiam no chão, ficavam no pátio ao sol o dia inteiro, e à noite enfrentavam o frio nus.
- Utilização de eletrochoques e ducha escocesa como forma de punição pelo "mau comportamento" dos internos;
- Classificação genérica de "mau comportamento". Até uma reivindicação justa por comida, água ou melhores condições de vida ensejariam punições.
- Escravidão: trabalho não remunerado, inclusive em funções públicas como varrição e capinação das ruas do município. Trabalho escravo na construção civil, p. 132.
- Mortes diárias devidas aos maus-tratos (no pior momento, chegaram a 16 mortes por dia);
- Venda de cadáveres (entre 1969-1980 foram 1853 cadáveres vendidos), p. 78.
- Adoção irregular dos bebês nascidos no hospital.
Os internos, que não passavam por qualquer tipo de diagnóstico, eram doentes, prostitutas, homossexuais, esposas de homens infiéis que queriam ficar solteiros, inimigos políticos, mães solteiras (p. 61), trazidos de vários lugares do Brasil. Eles chegavam no hospital através de um trem, que foi apelidado carinhosamente de "trem de doido", expressão que se incorporou ao linguajar mineiro.
Seguindo essa receita, o resultado não poderia ser outro: 60 mil mortos.
As imagens do livro são fortes, basicamente as fotografias de Luiz Alfredo, tiradas para uma reportagem histórica da revista Cruzeiro, de 1961.Para ver as fotos: https://www.google.com.br/search?q=luiz+alfredo+col%C3%B4nia+barbacena&safe=off&biw=1600&bih=775&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=JhMbVLjsFNWkyATX-ILwAg&ved=0CAYQ_AUoAQ.
Como é da nossa tradição brasileira, apesar das denúncias contundentes desde 1960, a realidade dos pacientes e trabalhadores demorou bastante a mudar. Mais um exemplo da resistência à mudança (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/05/13-de-maio-abolicao-da-escravidao.html) e da procrastinação (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/04/conhece-te-ti-mesmo-brasil-procrastinar.html), que parecem permear o nosso modo de viver, nossa memória.
Também não houve nenhum tipo de reparação às vítimas, e nem de responsabilização àqueles que mantinham esse sistema.
Não concordo com a comparação de tragédias, que são únicas e irrepetíveis. Acredito que o nome "holocausto brasileiro" é uma tentativa de dimensionar o horror do que acontecia no Hospital Colônia de Barbacena, comparando-o ao processo de extermínio denominado "Holocausto", ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial, que evidentemente foi muito diferente nos seus aspectos externos, internos e causas.
Hoje a realidade Hospital mudou, assim como mudaram alguns aspectos dos chamados manicômios, que foram praticamente abolidos no Brasil, lá funcionando um interessante "Museu da Loucura" para lembrar esse trágico período da nossa história.
Concluindo, após passar pela experiência de ler a história dos sobreviventes, e de conhecer um pouco do que acontecia, só posso reafirmar a minha convicção de que existe uma mentalidade arraigada que cria esse tipo de absurdo. Parece ser sempre o mesmo: pensar em hospital, e produzir o Hospital Colônia de Barbacena. Pensar em prisão, e concretizar o Presídio de Pedrinhas.
Parece que a dignidade humana - princípio constitucional positivado - ainda não conseguiu comover ou inspirar melhores práticas.
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sexta-feira, 5 de setembro de 2014
França cogita vender a Monalisa para pagar dívidas
Notícia para refletir: http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2014/09/quadro-da-monalisa-de-leonardo-da-vinci-podera-ser-vendido.html
Segundo a reportagem, estima-se que o valor de mercado do quadro é de aproximadamente 1 bilhão de dólares.
Existe um motivo pelos quais bens culturais (públicos) podem ser considerados inalienáveis por lei, que é exatamente sobrepor o seu valor simbólico e de representação ao valor econômico, afastando a tentação de vendê-los por necessidades conjunturais.
Se acho que a França venderá a Monalisa? Não nessa geração.
Segundo a reportagem, estima-se que o valor de mercado do quadro é de aproximadamente 1 bilhão de dólares.
Existe um motivo pelos quais bens culturais (públicos) podem ser considerados inalienáveis por lei, que é exatamente sobrepor o seu valor simbólico e de representação ao valor econômico, afastando a tentação de vendê-los por necessidades conjunturais.
Se acho que a França venderá a Monalisa? Não nessa geração.
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terça-feira, 2 de setembro de 2014
Maxixe, uma dança proibida
Nessa semana me entreguei ao desatino do maxixe.
Apesar de não estar na lista das minhas obrigações de leitura de 2014, perdi a cabeça e parei tudo que estava estudando para ler o livro "Maxixe, a dança excomungada" de Jota Efegê (João Ferreira Gomes), edição 1974, que já andava no meu radar de interesse há muito tempo.
O maxixe é uma manifestação muito, muito interessante, especialmente por conta da sua origem espúria, clandestina, associada às baixas classes sociais urbanas do Rio de Janeiro. Diz-se que o maxixe era uma forma erotizada de dançar as músicas da época (polca, habanera, tango), o que fazia dela uma dança escandalosa e rebolativa demais para os padrões morais vigentes.
Era associado com tudo que não prestava: "maxixe" era o clube clandestino onde os baixos instintos afloravam, da maneira mais indecente e crocante possível. Em seguida, como adjetivo, passou a denotar tudo o que achincalhava a moral e os bons costumes.
Apesar de indecente e vulgar (ou talvez por isso mesmo), o maxixe virou moda e acabou se difundindo até chegar a, escandalosamente, ser tocado em uma festa da Presidência pela primeira-dama do Brasil Nair de Teffé (http://www.revistadehistoria.com.br/secao/retrato/corta-jaca-o-escandalo-do-palacio), o que motivou a revolta dos defensores dos bons costumes, entre eles, Ruy Barbosa.
O motivo da polêmica foi o "tango" amaxixado "Corta-jaca" (Gaúcho), de Chiquinha Gonzaga, executado no violão (imagine!) pela primeira-dama. Essa quebra de protocolo foi considerada um escândalo, e, olhem, que aparentemente a dança sem-vergonha nem foi executada.
O maxixe tem aspectos tão peculiares... Observe: uma música/dança espúria teve como intérpretes mais constantes as bandas militares que, acredito, contribuíram para a sua difusão e preservação, já que os militares se deslocam muito no território brasileiro.
Para conhecer um pouco da música e da dança, essa reportagem é interessante: https://www.youtube.com/watch?v=NN0Cw-e2GOc. Ela é contemporânea ao livro que acabei de ler, e nela o autor aparece falando sobre o maxixe.
Não acredito que a dança fosse por si só tão vulgar. Acho que o ambiente em que ocorria contribuiu muito para a sua má-fama, porque havia outros vícios envolvidos, especialmente o álcool e a libertinagem geral que ele proporciona. É claro que o fato dos parceiros dançarem muito juntos, praticamente enfiados um no outro, se esfregando e requebrando juntos com insinuações eróticas (ou o que os olhos da época assim viam), também ajudou.
O fato é que a dança virou moda e chegou à França, onde recebeu o nome de "la Mattchiche". Procurando algum vídeo com a forma tradicional da dança (e não o amaxixamento do forró, como parece ser comum hoje em dia), encontrei essa versão francesa (https://www.youtube.com/watch?v=keFiENu-NQU). Talvez essa tenha sido a forma "purificada e elegante" que chegou por lá pelos pés do maxixeiro Duque, mas dá a idéia de alguns passos tradicionais.
Acredito que o maxixe iniciou uma tradição de "danças brasileiras proibidas", das quais também são exemplos a lambada e o funk de alguns bailes, danças extremamente erotizadas. Isso diz muito sobre nós, porque penso que esse impulso de dançar é uma característica identitária do brasileiro (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/03/conhece-te-ti-mesmo-brasil-3-questao-da.html), e que eventualmente será manifestada através de requebros radicalmente erotizados, daí o surgimento periódico de danças proibidas.
Além disso, depois de tudo que venho estudando, passei a acreditar que o maxixe era o elemento-chave que faltava e a partir do qual tudo começou a fazer sentido para mim. Quer entender como o Brasil funciona? É só incluir o fator "maxixe" na equação.
Apesar de não estar na lista das minhas obrigações de leitura de 2014, perdi a cabeça e parei tudo que estava estudando para ler o livro "Maxixe, a dança excomungada" de Jota Efegê (João Ferreira Gomes), edição 1974, que já andava no meu radar de interesse há muito tempo.
O maxixe é uma manifestação muito, muito interessante, especialmente por conta da sua origem espúria, clandestina, associada às baixas classes sociais urbanas do Rio de Janeiro. Diz-se que o maxixe era uma forma erotizada de dançar as músicas da época (polca, habanera, tango), o que fazia dela uma dança escandalosa e rebolativa demais para os padrões morais vigentes.
Era associado com tudo que não prestava: "maxixe" era o clube clandestino onde os baixos instintos afloravam, da maneira mais indecente e crocante possível. Em seguida, como adjetivo, passou a denotar tudo o que achincalhava a moral e os bons costumes.
Apesar de indecente e vulgar (ou talvez por isso mesmo), o maxixe virou moda e acabou se difundindo até chegar a, escandalosamente, ser tocado em uma festa da Presidência pela primeira-dama do Brasil Nair de Teffé (http://www.revistadehistoria.com.br/secao/retrato/corta-jaca-o-escandalo-do-palacio), o que motivou a revolta dos defensores dos bons costumes, entre eles, Ruy Barbosa.
O motivo da polêmica foi o "tango" amaxixado "Corta-jaca" (Gaúcho), de Chiquinha Gonzaga, executado no violão (imagine!) pela primeira-dama. Essa quebra de protocolo foi considerada um escândalo, e, olhem, que aparentemente a dança sem-vergonha nem foi executada.
O maxixe tem aspectos tão peculiares... Observe: uma música/dança espúria teve como intérpretes mais constantes as bandas militares que, acredito, contribuíram para a sua difusão e preservação, já que os militares se deslocam muito no território brasileiro.
Para conhecer um pouco da música e da dança, essa reportagem é interessante: https://www.youtube.com/watch?v=NN0Cw-e2GOc. Ela é contemporânea ao livro que acabei de ler, e nela o autor aparece falando sobre o maxixe.
Não acredito que a dança fosse por si só tão vulgar. Acho que o ambiente em que ocorria contribuiu muito para a sua má-fama, porque havia outros vícios envolvidos, especialmente o álcool e a libertinagem geral que ele proporciona. É claro que o fato dos parceiros dançarem muito juntos, praticamente enfiados um no outro, se esfregando e requebrando juntos com insinuações eróticas (ou o que os olhos da época assim viam), também ajudou.
O fato é que a dança virou moda e chegou à França, onde recebeu o nome de "la Mattchiche". Procurando algum vídeo com a forma tradicional da dança (e não o amaxixamento do forró, como parece ser comum hoje em dia), encontrei essa versão francesa (https://www.youtube.com/watch?v=keFiENu-NQU). Talvez essa tenha sido a forma "purificada e elegante" que chegou por lá pelos pés do maxixeiro Duque, mas dá a idéia de alguns passos tradicionais.
Acredito que o maxixe iniciou uma tradição de "danças brasileiras proibidas", das quais também são exemplos a lambada e o funk de alguns bailes, danças extremamente erotizadas. Isso diz muito sobre nós, porque penso que esse impulso de dançar é uma característica identitária do brasileiro (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/03/conhece-te-ti-mesmo-brasil-3-questao-da.html), e que eventualmente será manifestada através de requebros radicalmente erotizados, daí o surgimento periódico de danças proibidas.
Além disso, depois de tudo que venho estudando, passei a acreditar que o maxixe era o elemento-chave que faltava e a partir do qual tudo começou a fazer sentido para mim. Quer entender como o Brasil funciona? É só incluir o fator "maxixe" na equação.
domingo, 31 de agosto de 2014
Dieta paleolítica?!
Parece que emagrecer tem sido a grande preocupação e conquista da civilização ocidental deste último século. Toda revista feminina, toda semana, traz matérias sobre como emagrecer, os avanços da cirurgia plástica e métodos para escravizar o parceiro/a.
Nesta semana uma das dietas da moda chamou a minha atenção, porque pretende retomar hábitos alimentares há muito esquecidos: a dieta paleolítica. Em síntese, pretende-se excluir do cardápio diário aqueles alimentos aos quais o corpo humano ainda não se acostumou, como açúcares refinados e produtos industrializados, retomando o consumo de alimentos mais naturais.
A chamada "dieta das cavernas" promete uma alimentação mais saudável, como se pode ver nesse link: http://corpoacorpo.uol.com.br/dieta/dieta-de-emergencia/dieta-das-cavernas-aposte-no-cardapio-e-emagreca-12-kg-em-30-dias/4216.
Certo, a idéia de excluir produtos industrializados e com conservantes é ótima. Só acho um pouco demais dizer que isso é uma dieta paleolítica porque, certamente, os homens daquela época não tinham tanta variedade de alimentos que o cardápio do exemplo acima exigia, e dificilmente fariam seis refeições. Como dependiam do ambiente e da sorte para se alimentarem, eventualmente podiam ficar algum dia sem comer, situação não contemplada nos cardápios que eu vi.
Enfim, mesmo não sendo paleolítica (como poderia, se os próprios alimentos mudaram ao longo do tempo?), a idéia de reduzir o consumo de alguns tipos de alimentos, especialmente aqueles com conservantes, pode até fazer bem.
Nesta semana uma das dietas da moda chamou a minha atenção, porque pretende retomar hábitos alimentares há muito esquecidos: a dieta paleolítica. Em síntese, pretende-se excluir do cardápio diário aqueles alimentos aos quais o corpo humano ainda não se acostumou, como açúcares refinados e produtos industrializados, retomando o consumo de alimentos mais naturais.
A chamada "dieta das cavernas" promete uma alimentação mais saudável, como se pode ver nesse link: http://corpoacorpo.uol.com.br/dieta/dieta-de-emergencia/dieta-das-cavernas-aposte-no-cardapio-e-emagreca-12-kg-em-30-dias/4216.
Certo, a idéia de excluir produtos industrializados e com conservantes é ótima. Só acho um pouco demais dizer que isso é uma dieta paleolítica porque, certamente, os homens daquela época não tinham tanta variedade de alimentos que o cardápio do exemplo acima exigia, e dificilmente fariam seis refeições. Como dependiam do ambiente e da sorte para se alimentarem, eventualmente podiam ficar algum dia sem comer, situação não contemplada nos cardápios que eu vi.
Enfim, mesmo não sendo paleolítica (como poderia, se os próprios alimentos mudaram ao longo do tempo?), a idéia de reduzir o consumo de alguns tipos de alimentos, especialmente aqueles com conservantes, pode até fazer bem.
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Direito à memória coletiva
sábado, 30 de agosto de 2014
Resgatando xingamentos antigos (20): Lheguelhé
Lheguelhé é um xingamento muito interessante porque:
a) Nós temos poucas palavras na Língua Portuguesa que começam com "lh". Por exemplo, lhama, lhano e seus derivados e os pronomes lho e lhe.
b) Se esse caráter raro já não bastasse para conferir-lhe importância, a palavra lheguelhé também tem uma grafia engraçada e um som esquisito que, por si só, já é capaz de demonstrar desprezo. Ela parece uma palavra que deu errado, e alguém decidiu deixar assim mesmo porque o sujeito que ia ser xingado não valia o trabalho de consertá-la.
c) Lheguelhé é um substantivo masculino que significa "zé -ninguém", um mequetrefe (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/09/resgatando-xingamentos-antigos.html).
No dicionário, vi que a referência era a um "joão-ninguém", que é uma expressão que eu não uso. Aqui no meu rincão nós chamamos o lheguelhé de "zé ninguém". Fiquei na dúvida entre qual dos dois é mais sem importância, já que ambos foram homenageados com canções: Noel Rosa cantou o "joão ninguém" (https://www.youtube.com/watch?v=YoqB8pjR0uk) e o grupo Biquini Cavadão homenageou o outro (https://www.youtube.com/watch?v=rc5Wofp_FC0).
Acho que o zé-ninguém está numa situação pior.
Modo de usar: Sai da frente, lheguelhé! Sua existência atrapalha o funcionamento do mundo.
a) Nós temos poucas palavras na Língua Portuguesa que começam com "lh". Por exemplo, lhama, lhano e seus derivados e os pronomes lho e lhe.
b) Se esse caráter raro já não bastasse para conferir-lhe importância, a palavra lheguelhé também tem uma grafia engraçada e um som esquisito que, por si só, já é capaz de demonstrar desprezo. Ela parece uma palavra que deu errado, e alguém decidiu deixar assim mesmo porque o sujeito que ia ser xingado não valia o trabalho de consertá-la.
c) Lheguelhé é um substantivo masculino que significa "zé -ninguém", um mequetrefe (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/09/resgatando-xingamentos-antigos.html).
No dicionário, vi que a referência era a um "joão-ninguém", que é uma expressão que eu não uso. Aqui no meu rincão nós chamamos o lheguelhé de "zé ninguém". Fiquei na dúvida entre qual dos dois é mais sem importância, já que ambos foram homenageados com canções: Noel Rosa cantou o "joão ninguém" (https://www.youtube.com/watch?v=YoqB8pjR0uk) e o grupo Biquini Cavadão homenageou o outro (https://www.youtube.com/watch?v=rc5Wofp_FC0).
Acho que o zé-ninguém está numa situação pior.
Modo de usar: Sai da frente, lheguelhé! Sua existência atrapalha o funcionamento do mundo.
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Patrimônio imaterial
sábado, 23 de agosto de 2014
Versões, aversões e monumentos
Saber como os povos constroem e transmitem as suas memórias sempre foi fascinante para mim. Saber como o constructo social denominado "patrimônio cultural" é formatado, utilizado e transmitido vem sendo o tema das minhas pesquisas e curiosidades nos últimos anos.
Hoje parei para pensar em alguns exemplos interessantes de transmissão e substituição das significações históricas e o seu reflexo em monumentos.
Há muitas maneiras de se transmitir uma versão histórica, e uma das mais interessantes que eu já vi foi construção de um parque temático. Confiram: http://www.grutoparkas.lt/?lang=gb. Nesse parque temático os lituanos podem passar pela "experiência soviética" e ver como a sovietização feriu a alma da nação lituana.
A construção deste parque foi uma interessante forma de preservar os vestígios materiais da presença soviética, que era traduzida em monumentos, por exemplo, estátuas, que foram desmontadas e poderiam acabar virando sucata. A solução foi recolher todos esses monumentos 'ideológicos' desmontados e ressignificá-los (http://www.grutoparkas.lt/apie.php).
Alguns povos optaram simplesmente por destruir vestígios materiais e seu simbolismo. Vamos lembrar de alguns monumentos que foram destruídos para lavar a alma das nações:
1- Estátua de Saddan Hussein: http://noticias.br.msn.com/fotos/ies135-invasao-do-iraque-completa-10-anos?page=8
2 - Diversas estátuas de Stalin foram derrubadas e substituídas. Vejamos alguns exemplos:
a)Derrubada em sua cidade natal - Gori, na Geórgia - para ser substituída por um memorial às vítimas da guerra com a Rússia (http://internacional.estadao.com.br/noticias/europa,estatua-de-stalin-e-derrubada-na-cidade-natal-do-ditador-na-georgia,571908)
b) Derrubada em Budapest, 1956: http://elpais.com/diario/2006/10/22/domingo/1161489157_740215.html
simbolizavam um passado
3 - Estátuas de Lenin, Hitler, Kadhafi, entre outros. Olha só que interessantes algumas das fotos mostradas neste post http://enriquegdelag.blogspot.com.br/2012/09/tear-it-down-and-move-on.html
É claro que a damnatio memoriae não se restringe a vestígios materiais tão personalistas de ditadores, como seus bustos e esculturas. Pode também atingir símbolos e cores do regime, e até mesmo outras formas de lembrança celebrativa, como o nome de ruas.
A questão é saber porque alguns personagens são mais merecedores da danação do que outros?
4 - Situação diferente parece ter sido a do "Soldado de Bronze de Tallinn", que servia de marco à sepultura de soldados soviéticos, e foi transladado por decisão das autoridades estonianas a um cemitério militar. A decisão evidencia um conflito de significados adversários: para os russos, a estátua representava a libertação, e para os estonianos, a anexação forçada à União soviética. O fato de retirar a estátua causou revoltas, ciberataques e até uma morte.
No fim das contas, a estátua foi mesmo transladada ao cemitério, onde pode receber as homenagens de quem sentir a necessidade de prestá-las: http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=136722&tm=&layout=121&visual=49.
5- Até Cristóvão Colombo recentemente foi banido de Caracas, como forma de afirmação ideológica: http://noticias.terra.com.br/ciencia/estatua-de-cristovao-colombo-e-retirada-de-caracas,9c2a803f3f40b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html.
6- Sobre a administração de conflitos simbólicos, esse pequeno texto de Burke é interessante: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1006200715.htm. Concordo especialmente com a alternativa de agregar informações, valores e significados ao monumento, e não simplesmente destruir ou substituir. Ressignificar pode ser mais educativo pode permite o confronto de versões.
O ato político de criar, destruir e substituir monumentos pode dizer muito sobre os mecanismos de formação e transmissão da memória coletiva. Nesse momento em que no Brasil inicia-se a discussão sobre a manutenção e substituição de lembranças celebrativas de personagens em logradouros públicos, basicamente com o intuito de danar a memória dos ditadores da última ditadura (1961-1988), pergunto:
Que estranhos caminhos são esses que levaram Getúlio Vargas a ser tantas avenidas, praças, viadutos nesse meu Brasil, e a ser considerado herói nacional em 2010 (pela Lei 12326/2010 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12326.htm), e ter o nome inscrito no Panteão da Liberdade e da Democracia?
E mais importante, por que ninguém questiona?
Hoje parei para pensar em alguns exemplos interessantes de transmissão e substituição das significações históricas e o seu reflexo em monumentos.
Há muitas maneiras de se transmitir uma versão histórica, e uma das mais interessantes que eu já vi foi construção de um parque temático. Confiram: http://www.grutoparkas.lt/?lang=gb. Nesse parque temático os lituanos podem passar pela "experiência soviética" e ver como a sovietização feriu a alma da nação lituana.
A construção deste parque foi uma interessante forma de preservar os vestígios materiais da presença soviética, que era traduzida em monumentos, por exemplo, estátuas, que foram desmontadas e poderiam acabar virando sucata. A solução foi recolher todos esses monumentos 'ideológicos' desmontados e ressignificá-los (http://www.grutoparkas.lt/apie.php).
Alguns povos optaram simplesmente por destruir vestígios materiais e seu simbolismo. Vamos lembrar de alguns monumentos que foram destruídos para lavar a alma das nações:
1- Estátua de Saddan Hussein: http://noticias.br.msn.com/fotos/ies135-invasao-do-iraque-completa-10-anos?page=8
2 - Diversas estátuas de Stalin foram derrubadas e substituídas. Vejamos alguns exemplos:
a)Derrubada em sua cidade natal - Gori, na Geórgia - para ser substituída por um memorial às vítimas da guerra com a Rússia (http://internacional.estadao.com.br/noticias/europa,estatua-de-stalin-e-derrubada-na-cidade-natal-do-ditador-na-georgia,571908)
b) Derrubada em Budapest, 1956: http://elpais.com/diario/2006/10/22/domingo/1161489157_740215.html
simbolizavam um passado
3 - Estátuas de Lenin, Hitler, Kadhafi, entre outros. Olha só que interessantes algumas das fotos mostradas neste post http://enriquegdelag.blogspot.com.br/2012/09/tear-it-down-and-move-on.html
É claro que a damnatio memoriae não se restringe a vestígios materiais tão personalistas de ditadores, como seus bustos e esculturas. Pode também atingir símbolos e cores do regime, e até mesmo outras formas de lembrança celebrativa, como o nome de ruas.
A questão é saber porque alguns personagens são mais merecedores da danação do que outros?
4 - Situação diferente parece ter sido a do "Soldado de Bronze de Tallinn", que servia de marco à sepultura de soldados soviéticos, e foi transladado por decisão das autoridades estonianas a um cemitério militar. A decisão evidencia um conflito de significados adversários: para os russos, a estátua representava a libertação, e para os estonianos, a anexação forçada à União soviética. O fato de retirar a estátua causou revoltas, ciberataques e até uma morte.
No fim das contas, a estátua foi mesmo transladada ao cemitério, onde pode receber as homenagens de quem sentir a necessidade de prestá-las: http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=136722&tm=&layout=121&visual=49.
5- Até Cristóvão Colombo recentemente foi banido de Caracas, como forma de afirmação ideológica: http://noticias.terra.com.br/ciencia/estatua-de-cristovao-colombo-e-retirada-de-caracas,9c2a803f3f40b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html.
6- Sobre a administração de conflitos simbólicos, esse pequeno texto de Burke é interessante: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1006200715.htm. Concordo especialmente com a alternativa de agregar informações, valores e significados ao monumento, e não simplesmente destruir ou substituir. Ressignificar pode ser mais educativo pode permite o confronto de versões.
O ato político de criar, destruir e substituir monumentos pode dizer muito sobre os mecanismos de formação e transmissão da memória coletiva. Nesse momento em que no Brasil inicia-se a discussão sobre a manutenção e substituição de lembranças celebrativas de personagens em logradouros públicos, basicamente com o intuito de danar a memória dos ditadores da última ditadura (1961-1988), pergunto:
Que estranhos caminhos são esses que levaram Getúlio Vargas a ser tantas avenidas, praças, viadutos nesse meu Brasil, e a ser considerado herói nacional em 2010 (pela Lei 12326/2010 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12326.htm), e ter o nome inscrito no Panteão da Liberdade e da Democracia?
E mais importante, por que ninguém questiona?
terça-feira, 12 de agosto de 2014
Souvenir (13): Serra das Paridas, Chapada Diamantina
Esse souvenir é a reprodução de pinturas rupestres no sítio arqueológico de Serra das Paridas, que tem esse nome porque se interpreta que algumas figuras parecem com mulheres parindo.
Além do patrimônio arqueológico fenomenal, lá também havia umas mangabas do tamanho de maçãs, cousa nunca dantes vista, deliciosas e com pouco visgo. Aquilo é o máximo que uma mangaba pode sonhar em ser.
segunda-feira, 11 de agosto de 2014
Comissão Nacional da Verdade: sugestões ao relatório final
A partir de 11 de agosto podemos/devemos encaminhar sugestões à Comissão Nacional da Verdade: http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2014/08/comissao-da-verdade-vai-incluir-sugestoes-da-sociedade-em-relatorio-final-6153.html
Olhei o sítio da Comissão mas não achei um link específico para as sugestões ao relatório, então, presumo que devem ser encaminhadas através da Ouvidoria: https://www.ouvidoria.cnv.gov.br/index.php?a=add.
Olhei o sítio da Comissão mas não achei um link específico para as sugestões ao relatório, então, presumo que devem ser encaminhadas através da Ouvidoria: https://www.ouvidoria.cnv.gov.br/index.php?a=add.
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Direito à memória coletiva
domingo, 10 de agosto de 2014
Tatuagem e Memória (3)
Refletimos sobre o caráter memorial das tatuagens no post http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/01/tatuagem-e-memoria.html, e também como às vezes tudo pode dar muito errado http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/07/tatuagem-e-memoria-2-pessimas.html.
Mas a tatuagem também pode ser uma forma de registrar e promover bens culturais. Olha o exemplo das tatuagens do meu irmão:
Essas são as famosas "Estatuas de San Augustín", en Colombia. Algumas foram roubadas e estão em processo de restituição, cf. http://www.lanacion.com.co/index.php/actualidad-lanacion/item/237275-estatuas-robadas-de-san-agustin-que-regresaran-al-pais. Para contribuir com a restituição, há até uma petição dirigida ao governo colombiano: https://www.change.org/es/peticiones/que-nos-devuelvan-las-estatuas-de-san-agust%C3%ADn.
O meu irmão é escultor, já postei algumas de suas obras aqui no blog, e desenvolveu uma relação afetiva tão forte com esses bens culturais que resolveu tatuá-los, não é interessante? Isso, sim, é apropriar-se dos bens culturais.
Não conheço mais ninguém que tenha tatuado monumentos, mas já comecei a procurar.
Mas a tatuagem também pode ser uma forma de registrar e promover bens culturais. Olha o exemplo das tatuagens do meu irmão:
Essas são as famosas "Estatuas de San Augustín", en Colombia. Algumas foram roubadas e estão em processo de restituição, cf. http://www.lanacion.com.co/index.php/actualidad-lanacion/item/237275-estatuas-robadas-de-san-agustin-que-regresaran-al-pais. Para contribuir com a restituição, há até uma petição dirigida ao governo colombiano: https://www.change.org/es/peticiones/que-nos-devuelvan-las-estatuas-de-san-agust%C3%ADn.
O meu irmão é escultor, já postei algumas de suas obras aqui no blog, e desenvolveu uma relação afetiva tão forte com esses bens culturais que resolveu tatuá-los, não é interessante? Isso, sim, é apropriar-se dos bens culturais.
Não conheço mais ninguém que tenha tatuado monumentos, mas já comecei a procurar.
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