Salve!
Em 26/11/2014 a Roda de Capoeira foi declarada Patrimônio Imaterial da Humanidade: http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=18713&sigla=Noticia&retorno=detalheNoticia.
Não custa lembrar que a capoeiragem já foi considerada crime no Brasil, pelo artigo o artigo 402, do Decreto 847 de 11 de outubro de 1890 (Código Penal da República dos Estados Unidos do Brasil), que no Capítulo XIII trata dos "vadios e capoeiras":
"Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e destreza corporal conhecida pela denominação Capoeiragem: andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão corporal, provocando tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal;
Pena -- de prisão celular por dois a seis meses".
E que mesmo após deixar de ser crime, em 1940, continuou sendo estigmatizada. Quando eu resolvi jogar capoeira, ouvi dizer que "era coisa de malandro" e "não era para meninas". Tive que começar a jogar escondido,e só depois de algum tempo, e de muitas explicações, meus pais entenderam que era uma coisa boa para a saúde e para a cabeça.
Mas a capoeira é para homem, menino e mulher, e agora para o mundo todo. Esse caminho desde a criminalidade até o reconhecimento como patrimônio mundial ajuda a compreender como a capoeira é fascinante e malandra.
O brasileiro não tem memória.
Neste blog desmascaramos esta mentira.
Neste blog desmascaramos esta mentira.
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
Dia Nacional de Ação de Graças (Brasil)
A comemoração do "Dia Nacional de Ação de Graças" foi instituída pela Lei Federal nº 781/49, alterada pela Lei nº 5110/1966:
Modifica a redação do artigo único da Lei nº 781, de 17 de agôsto de 1949, que institui o Dia Nacional de Ação de Graças.
|
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA faço saber que CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte lei:
Art 1º - O artigo único da Lei nº 781, de 17 de agôsto de 1949, passa a vigorar com a seguinte redação:
"Artigo único. É instituído o Dia Nacional de Ação de Graças, que será a quarta quinta-feira do mês de novembro".
Art 2º - Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 22 de setembro de 1966; 145º da Independência e 78º da República.
H. CASTELLO BRANCO
Carlos Medeiros Silva
Carlos Medeiros Silva
A supratranscrita lei foi regulamentada pelo Decreto nº 57298/65. Confesso que nessa data nunca vi nada parecido ao descrito na norma acontecer, embora o Ministério da Justiça afirme que anualmente as comemorações ocorrem: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJAD82FBF6ITEMIDFA39B22278B6448FB367A4DD31A0322EPTBRNN.htm
Essa comemoração nasceu nos Estados Unidos, e faz sentido entre os norte-americanos. Além da gratidão e da tradição de ver a família e compartilhar refeições, o ritual engloba também uma exótica modalidade de perdão executivo interessante, onde o Presidente "perdoa" dois perus, salvando-os da morte.
Os festejos de ação de graça também compreendem a famosa Black Friday, que foi incorporada pelos brasileiros com mais efetividade do que a comemoração religiosa. Talvez essa seja a forma da sociedade de consumo demonstrar a sua gratidão.
Apesar de não vislumbrar ressonância social na comemoração, desejo a todos um Feliz Dia Nacional de Ação de Graças e boas compras.
sábado, 22 de novembro de 2014
Conhece-te a ti mesmo, Brasil (9): a questão da imediatidade
No Brasil há uma expressão interessante, utilizada para indicar uma situação financeira difícil, que diz que "fulano está vendendo o almoço para pagar o jantar". Para mim, além da evidente alusão à falta de recursos, essa frase também serve para mostrar que o planejamento por aqui só vai até a próxima refeição.
Quando as pessoas estão lutando pela sobrevivência, na roda viva que a vida se tornou, tendem a pensar mais no presente. Na satisfação da necessidades de agora, em resolver problemas do hoje.
Quer ver algumas manifestações dessa mentalidade do imediato?
Os brasileiros raramente fazem testamentos.
Os brasileiros engajam-se alegremente em relacionamentos afetivos efêmeros. Assim como os esquimós possuem dezenas de palavras para nomear a neve, e cada uma das pequenas diferenças merece um nome novo, assim fazem os brasileiros com a sua miríade de formas de relacionamento: ficar, ter um rolo, namorar, noivar, namoridos, amizade colorida, entre outras categorias dinâmicas e permutáveis. É a única fila no Brasil que anda rápido.
O planejamento efetivo ainda parece ser um comportamento estranho entre nós. Geralmente, nós fazemos gestões de crise (planejar para resolver o problema imediato), mas os planos de longa duração ainda são raridade.
O próprio conceito de longa duração para nós é estranho. Curto prazo: hoje. Médio prazo: um ano. Longo prazo: de cinco a oito anos.
E ainda tem gente perguntando por que aconteceu a crise hídrica em São Paulo.
Acredito que esse senso de urgência, essa imediatidade, é uma das grandes responsáveis pela mentira deslavada de que o "brasileiro não tem memória". É claro que vivendo apenas no presente e mirando as suas urgências, não sobra muito espaço para refletir sobre o passado e ou para planejar o futuro.
Há quem considere que na pós-modernidade, época fragmentada, dinâmica e imprevisível, quase líquida no sentir de alguns, a adaptabilidade pode ser considerada uma virtude. Entretanto, essa adaptabilidade só será virtuosa se exercida dentro de um quadro maior de referência, contexto em que essas ações ganham coerência.
Sem essa moldura, projetos, políticas e ações tornam-se descontextualizados e fica difícil aferir a sua eficiência, restando essa sensação estranha de indefinição quanto a objetivos. "Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde quer ir", frase tão sábia que é atribuída ora a Sêneca, ora a Montaigne.
Quando as pessoas estão lutando pela sobrevivência, na roda viva que a vida se tornou, tendem a pensar mais no presente. Na satisfação da necessidades de agora, em resolver problemas do hoje.
Quer ver algumas manifestações dessa mentalidade do imediato?
Os brasileiros raramente fazem testamentos.
Os brasileiros engajam-se alegremente em relacionamentos afetivos efêmeros. Assim como os esquimós possuem dezenas de palavras para nomear a neve, e cada uma das pequenas diferenças merece um nome novo, assim fazem os brasileiros com a sua miríade de formas de relacionamento: ficar, ter um rolo, namorar, noivar, namoridos, amizade colorida, entre outras categorias dinâmicas e permutáveis. É a única fila no Brasil que anda rápido.
O planejamento efetivo ainda parece ser um comportamento estranho entre nós. Geralmente, nós fazemos gestões de crise (planejar para resolver o problema imediato), mas os planos de longa duração ainda são raridade.
O próprio conceito de longa duração para nós é estranho. Curto prazo: hoje. Médio prazo: um ano. Longo prazo: de cinco a oito anos.
E ainda tem gente perguntando por que aconteceu a crise hídrica em São Paulo.
Acredito que esse senso de urgência, essa imediatidade, é uma das grandes responsáveis pela mentira deslavada de que o "brasileiro não tem memória". É claro que vivendo apenas no presente e mirando as suas urgências, não sobra muito espaço para refletir sobre o passado e ou para planejar o futuro.
Há quem considere que na pós-modernidade, época fragmentada, dinâmica e imprevisível, quase líquida no sentir de alguns, a adaptabilidade pode ser considerada uma virtude. Entretanto, essa adaptabilidade só será virtuosa se exercida dentro de um quadro maior de referência, contexto em que essas ações ganham coerência.
Sem essa moldura, projetos, políticas e ações tornam-se descontextualizados e fica difícil aferir a sua eficiência, restando essa sensação estranha de indefinição quanto a objetivos. "Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde quer ir", frase tão sábia que é atribuída ora a Sêneca, ora a Montaigne.
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Direito à memória coletiva,
Patrimônio imaterial
terça-feira, 18 de novembro de 2014
sábado, 15 de novembro de 2014
Reabilitação póstuma de Alan Turing
Embora a notícia não seja nova, é muito importante:http://www.dailymail.co.uk/news/article-2528697/Queen-pardons-wartime-codebreaking-hero-Alan-Turing.html.
Hoje estava lembrando de Alan Turing, um herói nacional que foi vítima do seu tempo. Neste ano, comemorou-se 50 anos de sua morte (suicídio, acidente, assassinato?), e nesta ocasião foi concedido o perdão real, por ter sido condenado por homossexualismo.
O herói da Segunda Guerra, que ajudou a Grã-Bretanha a decifrar os inimigos, não conseguiu fazer os mesmo com seus próprios conterrâneos. Apesar de sua importante participação, foi condenado por sua sexualidade e, para evitar a prisão, concordou com a castração química.
Não dá para imaginar a humilhação, a exposição a que foi submetido, e que acabaram por deslustrar o seu verdadeiro valor como indivíduo, cidadão e cientista.
A reabilitação póstuma - uma das formas de manifestação do direito à memória dos mortos - permite que ele seja lembrado como o brilhante cientista e herói de guerra que ele sempre foi, mesmo enquanto era vilipendiado, o que permite não só reabilitá-lo como também aos britânicos.
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
Lembrar Xangô
Aprendi recentemente, e fiquei muito surpresa, para não dizer estarrecida e maravilhada, que o mítico Xangô foi um personagem histórico.
Ele foi um Rei (Alafin) de Oyó, cidade do denominado Império Yoruba, localizada no que hoje é o oeste da Nigéria. À semelhança de outros governantes, Xangô foi divinizado e é cultuado nas religiões de matriz africana, e no nosso caso, nas afro-brasileiras.
Xangô é um orixá poderoso, o que se pode ver pelas suas manifestações como trovão, raio e fogo. Ao ler informações sobre a sua biografia, nota-se que ele depôs o irmão, que não conseguiu manter a coesão do Império. Sua função unificadora foi conseguida através da força, ele tomou as rédeas políticas para controlar o poder disperso, inclusive com a função de aplicar a justiça, e talvez por isso tenha recebido os atributos de orixá violento e vingativo.
O fato é que Xangô é poderoso e faz tremer o chão. Além disso, pela tradição ele fundou o culto aos eguns (antepassados falecidos) o que, do ponto de vista memorial e político, é também uma forma de obter a coesão social. Sabe-se que a idéia de "nação" tem profunda relação simbólica com nascimento, essa é a origem da palavra, e com as idéias de paternidade, maternidade e ancestralidade: não são à toa as associações com língua "materna" e "pátria", por exemplo.
O culto aos eguns, acredito, contribui para a coesão social porque manifesta a ancestralidade comum daquele povo. Xangô é o responsável pelo culto, e há informação (passível de verificação) de que suas vestimentas representam esses ancestrais sob a forma de cores em sua saia.
No Brasil, especificamente no local onde moro, "xangô" também é sinônimo de terreiro e da própria religião afro-brasileira. Nesse sentido, usa-se a expressão "ir ao xangô", e aos praticantes denomina-se "xangozeiros", no meu sentir de maneira pejorativa.
Apenas para acrescentar uma reflexão, feita por alguém que não é da religião e ignora a maior parte dos rituais e significados, fiquei muito impressionada quando participei de uma cerimônia de Candomblé. Eu tinha sido convidada para ser uma espécie de madrinha (foi assim que eu entendi), e como condição para participar precisei fazer uma consulta com o sacerdote, que jogou búzios para mim.
Dessa consulta, algumas coisas ficaram na minha memória. A primeira é que no lugar onde os búzios eram jogados havia moedas. E isso me fez lembrar que em algumas culturas as conchas (ou búzios) também eram usados como moeda. Fiquei pensando se as moedas de real não seriam uma forma mais moderna de representação dos antigos padrões monetários africanos, e sei que têm grande importância nos denominados "trabalhos".
Aprendi certa vez que quanto mais antiga a moeda, mais forte é a mandinga.
A segunda coisa que eu aprendi é como sou ignorante, e como não recebi desde a infância o acesso a essa fonte de cultura nacional, como preconiza o artigo 215 da Constituição Federal. Acredito que nem foi por preconceito, foi apenas ignorância, distância e falta de oportunidade. Atualmente, os currículos escolares prevêem o ensino da cultura afro-brasileira e, oxalá, contemplassem também outros patrimônios culturais de indígenas, imigrantes, cosmopolitas, potiguares, soteropolitanos, gaúchos, pantaneiros e etceteras.
Enfim, acho que se tivesse recebido mais educação antes de participar da cerimônia teria aproveitado e aprendido mais com a experiência. Por exemplo, teria aproveitado mais a oportunidade do jogo dos búzios, e não teria cometido a sucessão de gafes que pratiquei e que algum dia irei contar aqui no blog.
E finalmente, devo dizer que sou apaixonada pelas comidas de santo. A gastronomia religiosa dos cultos afro-brasileiros é maravilhosa, e as comidas são sempre tão complexas (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/06/desafio-para-memoria-receita-de-vatapa.html) que dá para ver que são para ocasiões especiais. A comida de Xangô é uma das minhas preferidas: rabada com quiabo!
Ele foi um Rei (Alafin) de Oyó, cidade do denominado Império Yoruba, localizada no que hoje é o oeste da Nigéria. À semelhança de outros governantes, Xangô foi divinizado e é cultuado nas religiões de matriz africana, e no nosso caso, nas afro-brasileiras.
Xangô é um orixá poderoso, o que se pode ver pelas suas manifestações como trovão, raio e fogo. Ao ler informações sobre a sua biografia, nota-se que ele depôs o irmão, que não conseguiu manter a coesão do Império. Sua função unificadora foi conseguida através da força, ele tomou as rédeas políticas para controlar o poder disperso, inclusive com a função de aplicar a justiça, e talvez por isso tenha recebido os atributos de orixá violento e vingativo.
O fato é que Xangô é poderoso e faz tremer o chão. Além disso, pela tradição ele fundou o culto aos eguns (antepassados falecidos) o que, do ponto de vista memorial e político, é também uma forma de obter a coesão social. Sabe-se que a idéia de "nação" tem profunda relação simbólica com nascimento, essa é a origem da palavra, e com as idéias de paternidade, maternidade e ancestralidade: não são à toa as associações com língua "materna" e "pátria", por exemplo.
O culto aos eguns, acredito, contribui para a coesão social porque manifesta a ancestralidade comum daquele povo. Xangô é o responsável pelo culto, e há informação (passível de verificação) de que suas vestimentas representam esses ancestrais sob a forma de cores em sua saia.
No Brasil, especificamente no local onde moro, "xangô" também é sinônimo de terreiro e da própria religião afro-brasileira. Nesse sentido, usa-se a expressão "ir ao xangô", e aos praticantes denomina-se "xangozeiros", no meu sentir de maneira pejorativa.
Apenas para acrescentar uma reflexão, feita por alguém que não é da religião e ignora a maior parte dos rituais e significados, fiquei muito impressionada quando participei de uma cerimônia de Candomblé. Eu tinha sido convidada para ser uma espécie de madrinha (foi assim que eu entendi), e como condição para participar precisei fazer uma consulta com o sacerdote, que jogou búzios para mim.
Dessa consulta, algumas coisas ficaram na minha memória. A primeira é que no lugar onde os búzios eram jogados havia moedas. E isso me fez lembrar que em algumas culturas as conchas (ou búzios) também eram usados como moeda. Fiquei pensando se as moedas de real não seriam uma forma mais moderna de representação dos antigos padrões monetários africanos, e sei que têm grande importância nos denominados "trabalhos".
Aprendi certa vez que quanto mais antiga a moeda, mais forte é a mandinga.
A segunda coisa que eu aprendi é como sou ignorante, e como não recebi desde a infância o acesso a essa fonte de cultura nacional, como preconiza o artigo 215 da Constituição Federal. Acredito que nem foi por preconceito, foi apenas ignorância, distância e falta de oportunidade. Atualmente, os currículos escolares prevêem o ensino da cultura afro-brasileira e, oxalá, contemplassem também outros patrimônios culturais de indígenas, imigrantes, cosmopolitas, potiguares, soteropolitanos, gaúchos, pantaneiros e etceteras.
Enfim, acho que se tivesse recebido mais educação antes de participar da cerimônia teria aproveitado e aprendido mais com a experiência. Por exemplo, teria aproveitado mais a oportunidade do jogo dos búzios, e não teria cometido a sucessão de gafes que pratiquei e que algum dia irei contar aqui no blog.
E finalmente, devo dizer que sou apaixonada pelas comidas de santo. A gastronomia religiosa dos cultos afro-brasileiros é maravilhosa, e as comidas são sempre tão complexas (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/06/desafio-para-memoria-receita-de-vatapa.html) que dá para ver que são para ocasiões especiais. A comida de Xangô é uma das minhas preferidas: rabada com quiabo!
terça-feira, 11 de novembro de 2014
Direito à memória dos mortos: bonecas Kokeshi
As bonecas kokeshi nasceram no norte do Japão durante o período Edo, em meados do século XVII ou XIX (há divergência), como souvenires para quem visitava as estações de águas termais. Embora a sua origem não esteja clara, talvez porque ainda não acessei referências suficientes, por causa do seu formato (uma cabeça redonda, sem braços e sem pernas) era associada com instrumentos de massagem.
Outra versão afirma que nasceram como brinquedos. A sua associação com crianças parece ser tanto lúdica como trágica. Vi algumas fontes que afirmam ser a boneca kokeshi uma espécie de amuleto para proteger as crianças da casa, ou a representação de crianças que faleceram, cujas almas são guardadas pelas bonecas.
Neste sítio (http://www.japaoemfoco.com/kokeshi-dolls-as-bonecas-tradicionais-japonesas), há a referência de que o infanticídio era uma prática cultural frequente no Japão, havendo relação entre as bonecas kokeshi com essa prática.
Assisti a um vídeo com diversos artesãos fazendo diversos tipos dessas bonecas tradicionais, e vale a pena apreciar o seu modo de fazer tão interessante (https://www.youtube.com/watch?v=NfPapG4EnPg).
Outra versão afirma que nasceram como brinquedos. A sua associação com crianças parece ser tanto lúdica como trágica. Vi algumas fontes que afirmam ser a boneca kokeshi uma espécie de amuleto para proteger as crianças da casa, ou a representação de crianças que faleceram, cujas almas são guardadas pelas bonecas.
Neste sítio (http://www.japaoemfoco.com/kokeshi-dolls-as-bonecas-tradicionais-japonesas), há a referência de que o infanticídio era uma prática cultural frequente no Japão, havendo relação entre as bonecas kokeshi com essa prática.
Assisti a um vídeo com diversos artesãos fazendo diversos tipos dessas bonecas tradicionais, e vale a pena apreciar o seu modo de fazer tão interessante (https://www.youtube.com/watch?v=NfPapG4EnPg).
sábado, 8 de novembro de 2014
Direito à memória dos mortos: Bustuárias
"Bustu" em Latim significa túmulo, sepultura ou monumento funerário. Por sua vez a palavra "cemitério" provêm do grego, e significa "dormitório".
A idéia de que o cemitério é um lugar de descanso (eterno) parece ser fortemente arraigada desde a Antiguidade. Não se deve deslocar os mortos, mas deixá-los jazer serena e tranquilamente, por isso sou contra a crescente tendência de deslocamento de cemitérios, principalmente por razões imobiliárias, mas isso é tema para outro post.
Hoje estou pensando nos bustuários e bustuárias.
Os bustuários eram gladiadores que combatiam ao redor das piras em que eram cremados os mortos. A explicação que encontrei para esse costume reside na idéia de apaziguar o espírito dos guerreiros mortos em combate com o sangue dos inimigos, que eram sacrificados sobre os seus túmulos (cf. http://www.mediterranees.net/civilisation/Rich/Articles/Loisirs/Gladiateurs/Bustuarius.html). Essa prática evoluiu para o ritual de combate próximo aos túmulos.
O feminino - Bustuária - designa as prostitutas que atuavam nos cemitérios, entre os túmulos. Ainda não consegui localizar a explicação do por que existir prostitutas em cemitérios, apenas a referência de que eles (os cemitérios) costumavam ficar fora dos limites da cidade e por isso era uma prostituição, como poderia dizer, marginal no sentido geográfico.
Achei o tema tão interessante, e minha curiosidade patológica certamente vai me fazer continuar pesquisando sobre as bustuárias, provavelmente de forma não sistemática. Por favor, quem souber alguma coisa sobre o assunto basta dar a referência nos comentários, e serei imensamente agradecida.
Finalmente, gostaria de lembrar que os cemitérios nem sempre são lugares tranquilos, silenciosos e solenes (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/08/cemiterio-lugar-de-memoria.html). Os cemitérios, como outros produtos da Cultura, são um espelho e alguns são bem exóticos (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/06/direito-memoria-dos-mortos-lapides.html). Aqui no Brasil, encontrei a informação de que no início do século XX as pessoas frequentavam cemitérios para fazer piqueniques, paquerar e passear, uma postura bem diferente do que vemos hoje.
Referências
MOTTA, Antonio. À flor da pedra - formas tumulares e processos sociais nos cemitérios brasileiros.Recife: Fundação Joaquim Nabuco: Massangana, 2009.
A idéia de que o cemitério é um lugar de descanso (eterno) parece ser fortemente arraigada desde a Antiguidade. Não se deve deslocar os mortos, mas deixá-los jazer serena e tranquilamente, por isso sou contra a crescente tendência de deslocamento de cemitérios, principalmente por razões imobiliárias, mas isso é tema para outro post.
Hoje estou pensando nos bustuários e bustuárias.
Os bustuários eram gladiadores que combatiam ao redor das piras em que eram cremados os mortos. A explicação que encontrei para esse costume reside na idéia de apaziguar o espírito dos guerreiros mortos em combate com o sangue dos inimigos, que eram sacrificados sobre os seus túmulos (cf. http://www.mediterranees.net/civilisation/Rich/Articles/Loisirs/Gladiateurs/Bustuarius.html). Essa prática evoluiu para o ritual de combate próximo aos túmulos.
O feminino - Bustuária - designa as prostitutas que atuavam nos cemitérios, entre os túmulos. Ainda não consegui localizar a explicação do por que existir prostitutas em cemitérios, apenas a referência de que eles (os cemitérios) costumavam ficar fora dos limites da cidade e por isso era uma prostituição, como poderia dizer, marginal no sentido geográfico.
Achei o tema tão interessante, e minha curiosidade patológica certamente vai me fazer continuar pesquisando sobre as bustuárias, provavelmente de forma não sistemática. Por favor, quem souber alguma coisa sobre o assunto basta dar a referência nos comentários, e serei imensamente agradecida.
Finalmente, gostaria de lembrar que os cemitérios nem sempre são lugares tranquilos, silenciosos e solenes (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/08/cemiterio-lugar-de-memoria.html). Os cemitérios, como outros produtos da Cultura, são um espelho e alguns são bem exóticos (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/06/direito-memoria-dos-mortos-lapides.html). Aqui no Brasil, encontrei a informação de que no início do século XX as pessoas frequentavam cemitérios para fazer piqueniques, paquerar e passear, uma postura bem diferente do que vemos hoje.
Referências
MOTTA, Antonio. À flor da pedra - formas tumulares e processos sociais nos cemitérios brasileiros.Recife: Fundação Joaquim Nabuco: Massangana, 2009.
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Direito à memória dos mortos
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
Relógios (2): Relógio de Sol de F. Brennand
Esse relógio de sol foi conquistado na Oficina de Francisco Brennand, e é muito interessante:
Adoro relógios de sol, de água e ampulhetas.
Adoro relógios de sol, de água e ampulhetas.
domingo, 2 de novembro de 2014
Lembrando personagens - Vlad III
O mandatário romeno Vlad III nasceu em novembro 1431, e este é o motivo deste post. Quanto à sua morte, bem, não há certeza quanto às datas (dezembro de 1476, ou janeiro de 1477), nem mesmo se efetivamente faleceu ou se ainda caminha entre nós.
A biografia do personagem é uma das mais interessantes. Nasceu em um território conturbado e em uma época extremamente conturbada, filho de Vlad II, vovoida da região da Wallachia, localizada no atual Estado da Romênia (Romania). O pai fazia parte da ordem do Dragão, daí utilizar o nome Dracul e, como filho de Dragão, dragãozinho é, Vlad III passou a ser conhecido como "Draculea", filho do Dragão.
Ainda criança, foi refém político do sultão otomano Murad II, junto com o seu irmão Radu (o Belo). Diferentemente do irmão, que se adaptou perfeitamente à cultura e ao modo de vida dos otomanos, ao ponto de tornar-se comandante dos Janissarios, e provavelmente participar da queda de Constantinopla junto com o sultão Mehmet II, Vlad III resolveu restaurar o poder familiar retornando à terra natal.
Lá, por razões políticas, tornou-se inimigo dos otomanos, com os quais guerreou ferozmente para evitar a expansão do império à Europa. Guerreou tão ferozmente que ganhou a alcunha de Tepes - Empalador, porque praticava com os inimigos a morte pelo empalamento. Imagino que para o guerreiro essa propaganda de ferocidade deve ter sido realmente útil e deve ter evitado várias batalhas.
Vlad Tepes viveu a época do surgimento da imprensa, e acredito que ele foi um dos primeiros personagens da imprensa marrom. Muito de sua fama deve-se a panfletos que circularam entre 1460 e 1470, contando suas aventuras. Em 1490 circulou um livro chamado "A lenda de Drácula", ou algo assim, como uma coletânea dessas lendas e panfletos que o apresentaram como um personagem violento.
Para os padrões atuais, inclusive os meus agora, Vlad III morreu jovem, aos quarenta e cinco anos. Foi assassinado em uma emboscada, mas o local de sepultamento é incerto: alguns afirmam estar enterrado em um Igreja em Snagov, e outros em um Mosteiro em Comana, aparentemente mais próximo do local onde acredita-se haver morrido (ou não).
A dicotomia Cristãos- Mulçumanos fez com que Vlad III fosse considerado um bastião europeu contra o avanço do império otomano.Acredito que pode ser considerado uma espécie de herói romeno, e há inclusive monumentos em sua homenagem, porém a ficção transformou o filho do Dragão em filho do demônio, pervertendo e amaldiçoando a sua biografia.
Nesse período de Halloween a figura do vampiro "Drácula" é uma das fantasias preferidas, e a sua proximidade com o dia de finados me fez lembrar dele. É um personagem que sempre chamou a minha atenção mas, agora, estou realmente curiosa em saber como os romenos se sentem ao vê-lo sendo retratado como vampiro porque lá assuntos como a bruxaria (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/01/bruxaria-e-considerada-profissao-legal.html) e o vampirismo são levados a sério, e com razão, pois não devemos brincar com essas coisas.
Será que retratá-lo como um vampiro é considerado ofensivo aos romenos? Será uma violação à memória coletiva e à memória dos mortos?
A biografia do personagem é uma das mais interessantes. Nasceu em um território conturbado e em uma época extremamente conturbada, filho de Vlad II, vovoida da região da Wallachia, localizada no atual Estado da Romênia (Romania). O pai fazia parte da ordem do Dragão, daí utilizar o nome Dracul e, como filho de Dragão, dragãozinho é, Vlad III passou a ser conhecido como "Draculea", filho do Dragão.
Ainda criança, foi refém político do sultão otomano Murad II, junto com o seu irmão Radu (o Belo). Diferentemente do irmão, que se adaptou perfeitamente à cultura e ao modo de vida dos otomanos, ao ponto de tornar-se comandante dos Janissarios, e provavelmente participar da queda de Constantinopla junto com o sultão Mehmet II, Vlad III resolveu restaurar o poder familiar retornando à terra natal.
Lá, por razões políticas, tornou-se inimigo dos otomanos, com os quais guerreou ferozmente para evitar a expansão do império à Europa. Guerreou tão ferozmente que ganhou a alcunha de Tepes - Empalador, porque praticava com os inimigos a morte pelo empalamento. Imagino que para o guerreiro essa propaganda de ferocidade deve ter sido realmente útil e deve ter evitado várias batalhas.
Vlad Tepes viveu a época do surgimento da imprensa, e acredito que ele foi um dos primeiros personagens da imprensa marrom. Muito de sua fama deve-se a panfletos que circularam entre 1460 e 1470, contando suas aventuras. Em 1490 circulou um livro chamado "A lenda de Drácula", ou algo assim, como uma coletânea dessas lendas e panfletos que o apresentaram como um personagem violento.
Para os padrões atuais, inclusive os meus agora, Vlad III morreu jovem, aos quarenta e cinco anos. Foi assassinado em uma emboscada, mas o local de sepultamento é incerto: alguns afirmam estar enterrado em um Igreja em Snagov, e outros em um Mosteiro em Comana, aparentemente mais próximo do local onde acredita-se haver morrido (ou não).
A dicotomia Cristãos- Mulçumanos fez com que Vlad III fosse considerado um bastião europeu contra o avanço do império otomano.Acredito que pode ser considerado uma espécie de herói romeno, e há inclusive monumentos em sua homenagem, porém a ficção transformou o filho do Dragão em filho do demônio, pervertendo e amaldiçoando a sua biografia.
Nesse período de Halloween a figura do vampiro "Drácula" é uma das fantasias preferidas, e a sua proximidade com o dia de finados me fez lembrar dele. É um personagem que sempre chamou a minha atenção mas, agora, estou realmente curiosa em saber como os romenos se sentem ao vê-lo sendo retratado como vampiro porque lá assuntos como a bruxaria (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/01/bruxaria-e-considerada-profissao-legal.html) e o vampirismo são levados a sério, e com razão, pois não devemos brincar com essas coisas.
Será que retratá-lo como um vampiro é considerado ofensivo aos romenos? Será uma violação à memória coletiva e à memória dos mortos?
sábado, 1 de novembro de 2014
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