Famílias não são apenas afetos e desafetos entre pessoas. São estruturas que permitem a criação, manutenção e transmissão de modos de viver, fazeres e saberes.
As famílias, como qualquer outro grupo, também têm a sua identidade e o seu patrimônio cultural. A herança de uma família vai além dos meros bens econômicos: há todo um acervo de valores imateriais e culturais transmitidos através das gerações.
Na minha família, acredito que a maior herança cultural é a valorização da arte como forma de expressão, em qualquer suporte. Na linhagem paterna a música sempre predominou, pois meu avô foi maestro e professor de música, e as crianças da família são estimuladas a aprender um instrumento, qualquer um de sua preferência. É bom para a disciplina e para a falta de disciplina.
Eu, em outra vida, toquei piano (
http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/11/aula-de-piano.html), minha irmã toca bem, meus irmãos tocam percussão (qualquer coisa e qualquer lugar) e violão (respectivamente), meus sobrinhos também. Em toda reunião familiar da linhagem paterna a música vai acontecer, quem pode canta, toca, mas dançar é bem problemático.
Na linhagem materna também havia música, mas religiosamente orientada. Meus avós cantavam na sua igreja. Já a minha mãe (
http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2015/05/mamae.html) é artista plástica, faz esculturas e pinturas, e o estilo dela é contemporâneo-amalucado, com materiais muito exóticos. Meu irmão também faz esculturas, e algumas delas aparecem em posts aqui no blog (
http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/10/lugar-inesquecivel-o-quintal-do-meu.html,
http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/06/palentologia-imaginaria.html)
e outras artes (
http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/11/citacoes-sobre-memoria-robinson-dantas.html)
Para mim, a principal lição aprendida com os membros da minha família é o valor da liberdade de expressão através da arte, independentemente de mercados, não necessariamente para expor as obras, sem pretensão à profissionalização, simplesmente porque é parte da construção da nossa humanidade. Mas há também outras coisas legais como artes culinárias, para quem se interessa em aprender (que não é o meu caso), línguas estrangeiras, ofícios tradicionais (o meu avô era ourives), modos de fazer bordado, tapeçaria.
Eu acho interessante a forma como a vida das pessoas é narrada no seio familiar, e como as lembranças individuais ajudam a formar um mosaico coletivo. E, sim, a fofoca também pode ser uma forma de patrimônio imaterial.
Já parou para pensar no que a sua família legou a você?