O "Ano Novo" é a prova cabal de que as convenções sociais são realidades e criam realidades. Há uma energia diferente no ar, aquela sensação excitante de desafio, de planejamento, de vontade de se entregar ao bom combate.
Como já é tradição neste blog (desde 2010, uma tradição novinha em folha!), vamos realizar uma rápida retrospectiva:
- Na política, parece que o eixo da Terra mudou. As Revoluções do continente africano são um exemplo didático de processo revolucionário (observem o Egito: queda de um ditador há quarenta anos, governo "provisório" por uma junta militar (trocaram seis por meia dúzia?), realização de eleições para a realização de eleições (deveriam simplificar esse pleito). Na Líbia, exorcizaram Kadhafi do poder, e parece que as pessoas até se esqueceram dele.
Realmente, a sensação é de indefinição: quem viver, verá. Já no Oriente Médio, a Síria continua a asfixiar os seus cidadãos, a despeito da pressão internacional. De todo jeito, acho que a mensagem ficou clara para quem pretende se perpetuar no poder: em tempos de Facebook, a união faz a força virtual.
- Há os que faleceram: Kim Jong-Il, Osama bin Laden, o citado Gaddafi, Amy Winehouse, Cesária Évora, duas de minhas cantoras favoritas. Tantos outros famosos e anônimos enfrentaram o destino comum a todos, o que nos faz concluir que é a vida que levamos que nos diferencia.
- Para mim, 2011 foi um ano muito interessante: graças ao bom Deus trabalhei muito, estudei menos do que devia, comecei a malhar (e tenho fé que em 2012 os resultados começarão a aparecer em forma de rigidez), me tornei vegetariana, dexei de ser vegetariana e estou pensando em ser vegetariana em 2012.
Casei, e continuo casada. E tenho muitos projetos para 2012, que serão afixados em lugar de honra na porta da geladeira.
O ano de 2012 será especialíssimo: nele convergem várias profecias do fim do mundo. Sei que para alguns é pura bobagem, e para outros é pura verdade. Como a minha curiosidade é quase patológica, sem acreditar ou desacreditar, vou viver mais intensamente nesse ano e ficar de olhos bem abertos, bem atenta para tudo que acontecer até 21 de dezembro.
Fico só preocupada com a histeria e o pânico coletivos, pois nesse ano presenciei e senti na pele os efeitos do ensaio do fim do mundo: http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/05/trauma-e-memoria-coletiva-viva-o-caso.html. Se na pequena escala municipal o pânico coletivo causou o caos, imagine se for generalizado...
Desejo a todos vocês um Ano Novo maravilhoso, repleto de novas e felizes memórias!
O brasileiro não tem memória.
Neste blog desmascaramos esta mentira.
Neste blog desmascaramos esta mentira.
sábado, 31 de dezembro de 2011
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Memórias falsas: vazamento no banheiro
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
Memória, direito à memória e saudade
O vocábulo saudade decorre de “soedade”, um lugar ermo e isolado, ou distante, que pelo seu isolamento causa sentimentos como a ausência, abandono, falta, carência, que geralmente levam à tristeza, mas que para outras pessoas é desejável e bom ( NASCIMENTO; MENANDRO, 2007).
Já “nostalgia” foi um termo criado em 1688 pelo médico suíço Johannes Hoffer para designar uma doença que atingia os soldados suíços em serviço no exército francês, caracterizada por febre, vômito e falta de apetite, formada pelas palavras gregas “nostos” (retorno) e “algos” (dor), ou seja, dor pela impossibilidade do retorno. Depois passa a ser considerada uma doença da alma, causada pelo excesso de identificação com as coisas do passado e/ou pela insatisfação com o presente (ROSSI, 2007).
Essa doença é também conhecida no Brasil como “banzo”, nostalgia que acometia os escravos africanos, capaz de causar-lhes a morte. Na minha região não faltam relatos de escravos que se abandonavam ao banzo junto aos baobás, tão deprimidos que acabavam falecendo.
Exercer o direito à memória não se trata de cultivar o sentimento nostálgico,
essa sensação de perda pela impossibilidade de retornar capaz de adoecer o corpo e alma , porque a memória assim exercitada acaba por se tornar um esquema repetitivo e engessado, uma mera reprodução das coisas passadas.
Não se trata também de fazer um culto à saudade , em que a recordação é afetiva e idealizada, permeada pelo sentimento de ausência.Tanto a saudade como a nostalgia consideram o passado como algo fixo, quando na verdade, deve ser continuamente revisto e adaptado para que não perca o seu significado, por isso o direito à memória deve ser o impulso permanente à pesquisa, à busca pelo conhecimento, a revisão e a projeção do passado, enfim, deve manifestar-se como um ato construtivo de recordar.
Mas a memória individual tem, sim, estreita relação com a saudade. Depois do Natal fiquei especialmente saudosa dos meus afetos que, por quaisquer motivos, já não estão mais junto a mim: meus avós e tios falecidos, minha professora de piano; amigos queridos, amigos que estão distantes.
A saudade é uma boa maneira de lembrar, "é a presença dos ausentes", como diria o poeta. Então, vamos lembrar, ainda que seja com saudades.
Referências
NASCIMENTO, Adriano Roberto Afonso do; MENANDRO, Paulo Rogério Meira. Memória social e saudade: especificidades e possibilidades de articulação na análise psicossocial de recordações. Memorandum, nº 8, p. 5-19. Disnponível em:
ROSSI, Filippo. Quando la nostalgia è postmoderna. Disponível em:< http://www.ideazione. com/settimanale/5.cultura/89_06-06-2003/89rossi.htm>.
Já “nostalgia” foi um termo criado em 1688 pelo médico suíço Johannes Hoffer para designar uma doença que atingia os soldados suíços em serviço no exército francês, caracterizada por febre, vômito e falta de apetite, formada pelas palavras gregas “nostos” (retorno) e “algos” (dor), ou seja, dor pela impossibilidade do retorno. Depois passa a ser considerada uma doença da alma, causada pelo excesso de identificação com as coisas do passado e/ou pela insatisfação com o presente (ROSSI, 2007).
Essa doença é também conhecida no Brasil como “banzo”, nostalgia que acometia os escravos africanos, capaz de causar-lhes a morte. Na minha região não faltam relatos de escravos que se abandonavam ao banzo junto aos baobás, tão deprimidos que acabavam falecendo.
Exercer o direito à memória não se trata de cultivar o sentimento nostálgico,
essa sensação de perda pela impossibilidade de retornar capaz de adoecer o corpo e alma , porque a memória assim exercitada acaba por se tornar um esquema repetitivo e engessado, uma mera reprodução das coisas passadas.
Não se trata também de fazer um culto à saudade , em que a recordação é afetiva e idealizada, permeada pelo sentimento de ausência.Tanto a saudade como a nostalgia consideram o passado como algo fixo, quando na verdade, deve ser continuamente revisto e adaptado para que não perca o seu significado, por isso o direito à memória deve ser o impulso permanente à pesquisa, à busca pelo conhecimento, a revisão e a projeção do passado, enfim, deve manifestar-se como um ato construtivo de recordar.
Mas a memória individual tem, sim, estreita relação com a saudade. Depois do Natal fiquei especialmente saudosa dos meus afetos que, por quaisquer motivos, já não estão mais junto a mim: meus avós e tios falecidos, minha professora de piano; amigos queridos, amigos que estão distantes.
A saudade é uma boa maneira de lembrar, "é a presença dos ausentes", como diria o poeta. Então, vamos lembrar, ainda que seja com saudades.
Referências
NASCIMENTO, Adriano Roberto Afonso do; MENANDRO, Paulo Rogério Meira. Memória social e saudade: especificidades e possibilidades de articulação na análise psicossocial de recordações. Memorandum, nº 8, p. 5-19. Disnponível em:
ROSSI, Filippo. Quando la nostalgia è postmoderna. Disponível em:< http://www.ideazione. com/settimanale/5.cultura/89_06-06-2003/89rossi.htm>.
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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
RESGATANDO INSTITUIÇÕES ANTIGAS (3): Cavaleiros Templários
Na série "resgatando instituições antigas", pretendemos realizar a reciclagem de antigas práticas que, se corretamente adaptadas à contemporaneidade, podem continuar servindo à Humanidade.
Já promovemos o resgate de duas instituições que poderão ser utilizadas nas próximas eleições: o ostracismo para políticos indesejáveis (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/11/resgatando-instituicoes-antigas.html), e o auto-sacrifício maia (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/11/resgatando-instituicoes-antigasauto.html), como forma de espantar candidatos temerários (olhem que incrível: ganhar a eleição pode ser um mau negócio!).
Agora, considerando que as estradas brasileiras estão cada dia mais perigosas, com constantes ataques aos viajantes por bandoleiros e facínoras, propomos o resgate da nobre arte cavalheiresca templária.
Os municípios poderiam recriar a ordem dos Cavaleiros Templários para garantir a segurança dos caminhos, assegurando a concretização do direito fundamental de ir e vir.
A instituição da ordem dos cavaleiros templários poderia ser reciclada se:
a) A função de cavaleiro municipal não fosse criada nos moldes de cargos públicos;
b) Por ser o Brasil um Estado formalmente laico, os novos cavaleiros deveriam ser desvinculados de qualquer tipo de religião;
c) Os uniformes e armas devem ser modernizados, optando-se por tecidos de microfibra, ao invés as pesadíssimas cotas de malha que utilizam, e substituindo espadas e escudos por armas não letais.
Já promovemos o resgate de duas instituições que poderão ser utilizadas nas próximas eleições: o ostracismo para políticos indesejáveis (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/11/resgatando-instituicoes-antigas.html), e o auto-sacrifício maia (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/11/resgatando-instituicoes-antigasauto.html), como forma de espantar candidatos temerários (olhem que incrível: ganhar a eleição pode ser um mau negócio!).
Agora, considerando que as estradas brasileiras estão cada dia mais perigosas, com constantes ataques aos viajantes por bandoleiros e facínoras, propomos o resgate da nobre arte cavalheiresca templária.
Os municípios poderiam recriar a ordem dos Cavaleiros Templários para garantir a segurança dos caminhos, assegurando a concretização do direito fundamental de ir e vir.
A instituição da ordem dos cavaleiros templários poderia ser reciclada se:
a) A função de cavaleiro municipal não fosse criada nos moldes de cargos públicos;
b) Por ser o Brasil um Estado formalmente laico, os novos cavaleiros deveriam ser desvinculados de qualquer tipo de religião;
c) Os uniformes e armas devem ser modernizados, optando-se por tecidos de microfibra, ao invés as pesadíssimas cotas de malha que utilizam, e substituindo espadas e escudos por armas não letais.
domingo, 25 de dezembro de 2011
sábado, 24 de dezembro de 2011
Feliz Natal! e algumas questões...
Feliz Natal!
Tempo de compatilhar, perdoar (não esquecer), e preparar os espíritos para passar a régua no passado ruim, a partir do ano novo.
Celebração tradicional do nosso comemograma cristão, o Natal sempre me deixou mais questionamentos que certezas:
1) O que exatamente nós celebramos? O nascimento de Cristo.
2) É por isso que minha mãe concebe o Natal como uma festa de aniversário. Sim, nos cantamos parabéns para Jesus Cristo, com direito a bolo e UMA vela de aniversário simbólica (já pensou colocar aproximadamente 2015 velas?!).
3) Se é uma festa de aniversário, por que nós comemoramos na véspera? Se o suposto dia de aniversário é 25 de dezembro, por que todo mundo comemora no dia 24?
4) Sabe-se que Jesus não nasceu em dezembro, e que essa data foi sobreposta à data tradicional pagã em comemoração ao Sol (se não me falha a memória). E a despeito disso, continuamos celebrando como se fosse o aniversário de Jesus.
5) Por que trocamos presentes? É uma questão de dádiva, como concebe Marcel Mauss? Os presentes são dádivas, no sentido de compartilhamento de riquezas e promessas de boa vontade? Por que não se faz uma oferenda ao aniversariante, que rigorosamente era quem merecia ganhar presentes?
6) Quanto à gastronomia, sempre fiquei intrigada com a Ceia de Natal. Tenho a sorte de que meus pais são tradicionalistas (lá do jeito deles...), então sempre houve um cuidado em manter as coisas como os pais deles faziam. Resultado: a ceia de natal que eu conheço (repetida através das gerações) incorpora elementos muito exóticos, e nada compatíveis com a minha região.
Por exemplo: nozes, amêndoas, frutas secas de outros lugares (damasco, ameixa, figo). Por que seriam incorporados elementos tão singulares? Acredito que era uma questão de status. Devia ser muito difícil e caro conseguir esses alimentos, e eles eram colocados na ceia para simbolizar a fartura.
Pensando bem, até hoje são caros por aqui. As nozes, por exemplo, custam em média R$ 20,00 (vinte reais, meio quilo), ou seja, aproximadamente 11 dólares americanos.
Não existe um procedimento específico, nem ritual estabelecido. Há a celebração de sentimentos de compartilhamento, boa vontade, e o desejo de confraternizar com os amigos, familiares, colegas de trabalho.
Por sinal, essa parece ser uma particularidade dos brasileiros: desde o início de dezembro eu estou confraternizando. Praticamente duas vezes por semana, o que nas minhas contas já deu umas oito confraternizações, uns cinco amigos-secretos (troca de dádivas surpresa), uns dois inimigos-secretos (trocas de dádivas ruins supresa).
Enfim, o mês de dezembro de cada ano é ótimo, porque consigo rever pessoas queridas, presentear algumas, abraçar todas e comemorar, lembrar junto com elas.
Feliz Natal para você também, e se tiver a resposta para alguns dos questionamentos acima, por favor, me diga. Vou considerar como um verdadeiro presente de Natal!
Tempo de compatilhar, perdoar (não esquecer), e preparar os espíritos para passar a régua no passado ruim, a partir do ano novo.
Celebração tradicional do nosso comemograma cristão, o Natal sempre me deixou mais questionamentos que certezas:
1) O que exatamente nós celebramos? O nascimento de Cristo.
2) É por isso que minha mãe concebe o Natal como uma festa de aniversário. Sim, nos cantamos parabéns para Jesus Cristo, com direito a bolo e UMA vela de aniversário simbólica (já pensou colocar aproximadamente 2015 velas?!).
3) Se é uma festa de aniversário, por que nós comemoramos na véspera? Se o suposto dia de aniversário é 25 de dezembro, por que todo mundo comemora no dia 24?
4) Sabe-se que Jesus não nasceu em dezembro, e que essa data foi sobreposta à data tradicional pagã em comemoração ao Sol (se não me falha a memória). E a despeito disso, continuamos celebrando como se fosse o aniversário de Jesus.
5) Por que trocamos presentes? É uma questão de dádiva, como concebe Marcel Mauss? Os presentes são dádivas, no sentido de compartilhamento de riquezas e promessas de boa vontade? Por que não se faz uma oferenda ao aniversariante, que rigorosamente era quem merecia ganhar presentes?
6) Quanto à gastronomia, sempre fiquei intrigada com a Ceia de Natal. Tenho a sorte de que meus pais são tradicionalistas (lá do jeito deles...), então sempre houve um cuidado em manter as coisas como os pais deles faziam. Resultado: a ceia de natal que eu conheço (repetida através das gerações) incorpora elementos muito exóticos, e nada compatíveis com a minha região.
Por exemplo: nozes, amêndoas, frutas secas de outros lugares (damasco, ameixa, figo). Por que seriam incorporados elementos tão singulares? Acredito que era uma questão de status. Devia ser muito difícil e caro conseguir esses alimentos, e eles eram colocados na ceia para simbolizar a fartura.
Pensando bem, até hoje são caros por aqui. As nozes, por exemplo, custam em média R$ 20,00 (vinte reais, meio quilo), ou seja, aproximadamente 11 dólares americanos.
Não existe um procedimento específico, nem ritual estabelecido. Há a celebração de sentimentos de compartilhamento, boa vontade, e o desejo de confraternizar com os amigos, familiares, colegas de trabalho.
Por sinal, essa parece ser uma particularidade dos brasileiros: desde o início de dezembro eu estou confraternizando. Praticamente duas vezes por semana, o que nas minhas contas já deu umas oito confraternizações, uns cinco amigos-secretos (troca de dádivas surpresa), uns dois inimigos-secretos (trocas de dádivas ruins supresa).
Enfim, o mês de dezembro de cada ano é ótimo, porque consigo rever pessoas queridas, presentear algumas, abraçar todas e comemorar, lembrar junto com elas.
Feliz Natal para você também, e se tiver a resposta para alguns dos questionamentos acima, por favor, me diga. Vou considerar como um verdadeiro presente de Natal!
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Palentologia Imaginária (4): Provolonessauro
Em certa fase da minha vida, quando era jovem e tola, achei que perder casa, comida pronta e roupa lavada de graça era sinônimo de independência.
Resolvi então morar sozinha, "para aprender as coisas da vida". E foi aí que eu me deparei com as tarefas cotidianas para as quais a minha mãe, monarca absolutista e centralizadora, nunca havia me preparado.
Trocar o gás, lavar roupas, comprar água mineral, no começo era tudo uma grande aventura. Depois ficou uma droga, mesmo. Mas com tudo a gente se acostuma, não é? E lá se vão quase quinze anos de exílio do lar parental, período em que evoluí enquanto pessoa, mas evidentemente não ao cúmulo de se dizer que sou boa dona de casa.
Enfim, tudo isso para dizer que, após oito anos de uma feliz convivência apenas comigo mesma, o meu irmão mais velho me disse uma coisa assombrosa: "Fabiana, você tem que descongelar essa geladeira de vez em quando. É por isso que a porta do congelador não está fechando, ela não está quebrada".
Bom, eu passei uns três anos achando que a porta do congelador estava quebrada,porque não abria nem fechava. Na verdade era o acúmulo de gelo que emperrava a porta. Bastava descongelar e tudo se resolveria sem precisar chamar assistência técnica.
Não é que resolveu? Depois que descongelou, a porta miraculosamente voltou a funcionar. E o melhor de tudo isso, no meio de todo aquele descongelamento, o meu irmão encontrou um pedaço de queijo primordial, fruto das minhas primeiras compras em loja de conveniência. Nele, estampada a data da minha vergonha: 1999.
Nem foi necessário datar por Carbono 14, bastou fazer uma continha rápida: 2004-199. Ele estava perdido há cinco anos...
Por se tratar de matéria orgânica, praticamente fossilizada, aquele pedaço de queijo ganhou o apelo carinhoso de "provolonessauro", o que o habilita definitivamente a integrar o panteão da paleontologia imaginária, junto com fósseis-escultura de pterodáctilos (3) e dragões (1), e ossos de centauro e tritões (2).
Resolvi então morar sozinha, "para aprender as coisas da vida". E foi aí que eu me deparei com as tarefas cotidianas para as quais a minha mãe, monarca absolutista e centralizadora, nunca havia me preparado.
Trocar o gás, lavar roupas, comprar água mineral, no começo era tudo uma grande aventura. Depois ficou uma droga, mesmo. Mas com tudo a gente se acostuma, não é? E lá se vão quase quinze anos de exílio do lar parental, período em que evoluí enquanto pessoa, mas evidentemente não ao cúmulo de se dizer que sou boa dona de casa.
Enfim, tudo isso para dizer que, após oito anos de uma feliz convivência apenas comigo mesma, o meu irmão mais velho me disse uma coisa assombrosa: "Fabiana, você tem que descongelar essa geladeira de vez em quando. É por isso que a porta do congelador não está fechando, ela não está quebrada".
Bom, eu passei uns três anos achando que a porta do congelador estava quebrada,porque não abria nem fechava. Na verdade era o acúmulo de gelo que emperrava a porta. Bastava descongelar e tudo se resolveria sem precisar chamar assistência técnica.
Não é que resolveu? Depois que descongelou, a porta miraculosamente voltou a funcionar. E o melhor de tudo isso, no meio de todo aquele descongelamento, o meu irmão encontrou um pedaço de queijo primordial, fruto das minhas primeiras compras em loja de conveniência. Nele, estampada a data da minha vergonha: 1999.
Nem foi necessário datar por Carbono 14, bastou fazer uma continha rápida: 2004-199. Ele estava perdido há cinco anos...
Por se tratar de matéria orgânica, praticamente fossilizada, aquele pedaço de queijo ganhou o apelo carinhoso de "provolonessauro", o que o habilita definitivamente a integrar o panteão da paleontologia imaginária, junto com fósseis-escultura de pterodáctilos (3) e dragões (1), e ossos de centauro e tritões (2).
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Memória Poética - Fernando Pessoa de novo
"Quanto faças, supremamente faze.
Mais vale, se a memória é quanto temos,
Lembrar muito do que pouco.
E se o muito no pouco te é possível,
Mais ampla liberdade de lembrança
Te tornará teu dono".
_______________
"Mais ampla liberdade de lembrança te tornará teu dono". Não existe maneira mais bonita, ou precisa, de destacar o papel da memória na construção da subjetividade.
Mais vale, se a memória é quanto temos,
Lembrar muito do que pouco.
E se o muito no pouco te é possível,
Mais ampla liberdade de lembrança
Te tornará teu dono".
_______________
"Mais ampla liberdade de lembrança te tornará teu dono". Não existe maneira mais bonita, ou precisa, de destacar o papel da memória na construção da subjetividade.
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
domingo, 18 de dezembro de 2011
Revanchismo, Memória e Comissão da Verdade
Na Mitologia Grega as deusas da vingança, chamadas de Erínias ou Fúrias, eram conhecidas pela sua longa memória (OST, 2005, p. 38).
Chamavam-se Tisífone (Castigo), Megaira (Rancor), Alecto (Interminável) e o seu aspecto físico era terrível (asas de morcego, cabelos trançados com serpentes e seus olhos escorrem sangue), com o claro intento de por o temor, preventivo de crimes e proativo do cumprimento de normas, no coração dos homens.
Vingança e longa memória têm uma associação imediata, porque a primeira depende da segunda.
É por isso, que quando surgem reivindicações sobre o direito fundamental à memória, são acionados os mecanismos do esquecimento: a produção da memória oficial sem os fatos inadequados, a concessão de anistias, a fabricação do consenso (discurso da superação das ideologias), o silêncio sobre fatos conflituosos, a busca da reconciliação nacional e as comemorações da datas cívicas (DANTAS, 2010).
Evidentemente que, quando começam os questionamentos sobre as torturas, crimes contra a dignidade humana, os ainda desaparecidos políticos, e os assassinados pelo terrorismo de Estado, em nome da reconciliação nacional ou por medo das Erínias, surgem tentativas de vilipendiar sua importância, reduzindo-os à categoria de "revanchismo".
Como bem destacam Lechner e Güell (2006), anda mal quem considera a busca pela verdade como uma revanche promovida por indivíduos cheios de rancor, com um insaciável apetite de vingança e cuja única finalidade é desestabilizar a Nação e a ordem. A abordagem do problema partindo dessa premissa revela, mais uma vez, uma visão privada da memória, como se respeitasse a indivíduos, quando na verdade é uma luta de toda a sociedade para estabelecer a verdade dos fatos do seu passado (DANTAS, 2010).
Um exercício interessante é questionar quem joga a carta do revanchismo, quem utiliza desse discurso? E por que?
Não há mais contexto (nem espaço, nem tempo) político, social ou internacional,para considerar esses atos sanáveis através do "deixa disso". Especialmente porque as estruturas autoritárias criadas e herdadas daquela época ainda existem e produzem os seus efeitos: o medo, a violência, o exercício incompleto de direitos, e esse temor velado ou não, de ser cidadão.
A título de conclusão, Ortega Y Gasset: "Vivemos num tempo de chantagem universal,
Que toma duas formas complementares de escárnio:
Há a chantagem da violência e a chantagem do entretenimento.
Uma e outra servem sempre para a mesma coisa:
Manter o homem simples longe do centro dos acontecimentos".
REFERÊNCIAS
DANTAS, Fabiana. Direito fundamental à memória. Curitiba: Juruá, 2010.
LECHNER, Norbert; GÜELL, Pedro. Construcción social de las memórias em la transicion chilena. In: JELIN, Elizabeth; KAUFMAN, Susana G (comps). Subjetividad y figuras de la memoria. Buenos Aires: Siglo XXI; Editora Iberoamericana,p. 17-46, 2006.
OST, François. O tempo do Direito. Bauru: EDUSC, 2005.
Chamavam-se Tisífone (Castigo), Megaira (Rancor), Alecto (Interminável) e o seu aspecto físico era terrível (asas de morcego, cabelos trançados com serpentes e seus olhos escorrem sangue), com o claro intento de por o temor, preventivo de crimes e proativo do cumprimento de normas, no coração dos homens.
Vingança e longa memória têm uma associação imediata, porque a primeira depende da segunda.
É por isso, que quando surgem reivindicações sobre o direito fundamental à memória, são acionados os mecanismos do esquecimento: a produção da memória oficial sem os fatos inadequados, a concessão de anistias, a fabricação do consenso (discurso da superação das ideologias), o silêncio sobre fatos conflituosos, a busca da reconciliação nacional e as comemorações da datas cívicas (DANTAS, 2010).
Evidentemente que, quando começam os questionamentos sobre as torturas, crimes contra a dignidade humana, os ainda desaparecidos políticos, e os assassinados pelo terrorismo de Estado, em nome da reconciliação nacional ou por medo das Erínias, surgem tentativas de vilipendiar sua importância, reduzindo-os à categoria de "revanchismo".
Como bem destacam Lechner e Güell (2006), anda mal quem considera a busca pela verdade como uma revanche promovida por indivíduos cheios de rancor, com um insaciável apetite de vingança e cuja única finalidade é desestabilizar a Nação e a ordem. A abordagem do problema partindo dessa premissa revela, mais uma vez, uma visão privada da memória, como se respeitasse a indivíduos, quando na verdade é uma luta de toda a sociedade para estabelecer a verdade dos fatos do seu passado (DANTAS, 2010).
Um exercício interessante é questionar quem joga a carta do revanchismo, quem utiliza desse discurso? E por que?
Não há mais contexto (nem espaço, nem tempo) político, social ou internacional,para considerar esses atos sanáveis através do "deixa disso". Especialmente porque as estruturas autoritárias criadas e herdadas daquela época ainda existem e produzem os seus efeitos: o medo, a violência, o exercício incompleto de direitos, e esse temor velado ou não, de ser cidadão.
A título de conclusão, Ortega Y Gasset: "Vivemos num tempo de chantagem universal,
Que toma duas formas complementares de escárnio:
Há a chantagem da violência e a chantagem do entretenimento.
Uma e outra servem sempre para a mesma coisa:
Manter o homem simples longe do centro dos acontecimentos".
REFERÊNCIAS
DANTAS, Fabiana. Direito fundamental à memória. Curitiba: Juruá, 2010.
LECHNER, Norbert; GÜELL, Pedro. Construcción social de las memórias em la transicion chilena. In: JELIN, Elizabeth; KAUFMAN, Susana G (comps). Subjetividad y figuras de la memoria. Buenos Aires: Siglo XXI; Editora Iberoamericana,p. 17-46, 2006.
OST, François. O tempo do Direito. Bauru: EDUSC, 2005.
sábado, 17 de dezembro de 2011
Lembrar Concepción Arenal
Concepción Arenal é uma escritora espanhola, nasceu em 31 de janeiro de 1820, e faleceu em fevereiro de 1893.
Foi uma jurista engajada pela concretização de muitos direitos humanos (concretos): liberdade de expressão (fundou um jornal chamado Iberia), pela dignidade das mulheres encarceradas (ajudou a fundar uma associação chamada Magdalenas para apoiá-las), lutou pelo direito à moradia (fundou a Construtora Benéfica para construir casas a baixo custo para os operários, que ainda existe) e colaborou com a Cruz Vermelha Espanhola.
Ela foi uma mulher e tanto, mas para poder estudar Direito teve que se vestir de homem! Na sua época, mulheres não frequentavam a Universidade, então foi obrigada a usar desse artifício para conseguir estudar. E pela sua biografia, dá para perceber que ela entendeu bem as aulas da Faculdade.
Concepción Arenal é, para mim, o espelho da minha vergonha. Toda vez que tenho preguiça de estudar, ou simplesmente estou tentando fazer corpo mole, lembro que para a minha geração de mulheres tudo foi (é) relativamente mais fácil.
É também o espelho da minha vergonha pois eu já estudei (e até escrevi) sobre direitos humanos, mas nunca promovi nenhuma ação concreta para efetivá-los.
Lembrar de Concepción Arenal é também lembrar que a gente pode ser uma pessoa um pouco melhor.
Foi uma jurista engajada pela concretização de muitos direitos humanos (concretos): liberdade de expressão (fundou um jornal chamado Iberia), pela dignidade das mulheres encarceradas (ajudou a fundar uma associação chamada Magdalenas para apoiá-las), lutou pelo direito à moradia (fundou a Construtora Benéfica para construir casas a baixo custo para os operários, que ainda existe) e colaborou com a Cruz Vermelha Espanhola.
Ela foi uma mulher e tanto, mas para poder estudar Direito teve que se vestir de homem! Na sua época, mulheres não frequentavam a Universidade, então foi obrigada a usar desse artifício para conseguir estudar. E pela sua biografia, dá para perceber que ela entendeu bem as aulas da Faculdade.
Concepción Arenal é, para mim, o espelho da minha vergonha. Toda vez que tenho preguiça de estudar, ou simplesmente estou tentando fazer corpo mole, lembro que para a minha geração de mulheres tudo foi (é) relativamente mais fácil.
É também o espelho da minha vergonha pois eu já estudei (e até escrevi) sobre direitos humanos, mas nunca promovi nenhuma ação concreta para efetivá-los.
Lembrar de Concepción Arenal é também lembrar que a gente pode ser uma pessoa um pouco melhor.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
Agendolatria e as repercussões para a memória individual
Fim de ano, e consequentemente, fim de agenda. As últimas folhas serão utilizadas para traçar planos para 2012.
Hora de comprar uma nova agenda, com um reluzente 2012 escrito na frente. Nesse ano, por ser prospectivamente histórico, já que nele ocorrerá o fim de antigas profecias, vou comprar duas agendas, deixando uma de reserva caso o mundo não acabe.
As agendas são muito úteis e servem para auxiliar a memória cotidiana. Tudo se consigna na agenda para não esquecer: desde datas de aniversário, compromissos importantes, período menstrual, e vários etceteras. Serve também para organizar a nossa vida, evitando o choque de horários, pessoas e interesses.
Entretanto, há pessoas que desenvolvem uma relação de dependência psicológica, e às vezes física, com as suas agendas. A "agendolatria" é um vício ou adicção em agendas que pode prejudicar consideravelmente a memória, porque simplesmente as pessoas param de exercitá-la, e sequer tentam lembrar de compromissos.
Eu, por exemplo, consigno tudo na minha agenda, mas acabo esquecendo dela em qualquer lugar, o que me força não só a lembrar sozinha dos compromissos, mas a realizar uma peregrinação por todos os lugares por quais passei ultimamente, perguntando por ela.
É uma boa chance de rever pessoas e lugares, mas infelizmente é também um pouco humilhante. Já cansei de ouvir frases como: "só não perde a cabeça porque está grudada no pescoço", "de novo, Fabiana?", "Por que não amarra a agenda numa cordinha do pescoço?" (afinal de contas, que relação é essa entre esquecimento e pescoço?). Há também aqueles que preferem cometer falta, entrando de carrinho nos meus pobres joelhos: "E é porque escreveu uma tese sobre a memória..."
Enfim.
Há também as pessoas que são viciadas nas agendas alheias, às vezes por ossos do ofício, como as secretarias. Às vezes por simples intromissão.
Em síntese, as agendas são boas e importantes, mas devem manter o seu lugar de auxiliares da memória, e não de substitutas.
Hora de comprar uma nova agenda, com um reluzente 2012 escrito na frente. Nesse ano, por ser prospectivamente histórico, já que nele ocorrerá o fim de antigas profecias, vou comprar duas agendas, deixando uma de reserva caso o mundo não acabe.
As agendas são muito úteis e servem para auxiliar a memória cotidiana. Tudo se consigna na agenda para não esquecer: desde datas de aniversário, compromissos importantes, período menstrual, e vários etceteras. Serve também para organizar a nossa vida, evitando o choque de horários, pessoas e interesses.
Entretanto, há pessoas que desenvolvem uma relação de dependência psicológica, e às vezes física, com as suas agendas. A "agendolatria" é um vício ou adicção em agendas que pode prejudicar consideravelmente a memória, porque simplesmente as pessoas param de exercitá-la, e sequer tentam lembrar de compromissos.
Eu, por exemplo, consigno tudo na minha agenda, mas acabo esquecendo dela em qualquer lugar, o que me força não só a lembrar sozinha dos compromissos, mas a realizar uma peregrinação por todos os lugares por quais passei ultimamente, perguntando por ela.
É uma boa chance de rever pessoas e lugares, mas infelizmente é também um pouco humilhante. Já cansei de ouvir frases como: "só não perde a cabeça porque está grudada no pescoço", "de novo, Fabiana?", "Por que não amarra a agenda numa cordinha do pescoço?" (afinal de contas, que relação é essa entre esquecimento e pescoço?). Há também aqueles que preferem cometer falta, entrando de carrinho nos meus pobres joelhos: "E é porque escreveu uma tese sobre a memória..."
Enfim.
Há também as pessoas que são viciadas nas agendas alheias, às vezes por ossos do ofício, como as secretarias. Às vezes por simples intromissão.
Em síntese, as agendas são boas e importantes, mas devem manter o seu lugar de auxiliares da memória, e não de substitutas.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Resgatando xingamentos antigos (9): Estúrdio
Estúrdio: "adjetivo. 1. Extravagante, estróina, leviano e doidivanas.
2. (Bras.) Esquisito, excêntrico e extravagante.
3. Bras MG SP . Diz-se de coisa fora do comum.
4. Bras RS. Trajado de maneira extravagante ou fora de moda".
Referência: Dicionário Aurélio, ensinando a gente a xingar desde 1782.
Acredito que esse xingamento é muito versátil, pois varia de acordo com o Estado da Federação em que seja usado.
No primeiro sentido, de "estróina", "extravagante", efetivamente há um componente econômico, de prodigalidade. É uma pessoa que deita fora os seus haveres. Nesse contexto de crise econômica globalizada, o parâmetro de pródigo-estróina-estúrdio mudou bastante: pode ser xingado até o indivíduo que gasta suas economias com cachaça e caldinho de feijão.
Se o pródigo-estróina-estúrdio for rico, aí ele pode ser excêntrico. Para ser excêntrico tem que ser rico, ao contrário será apenas taxado de maluco mesmo.
Se estivermos em São Paulo ou Minas Gerais (sentido 3), estúrdio pode não ser um xingamento propriamente dito, podendo apenas designar algo incomum. Difícil vai ser convencer as pessoas disso, depois que você falar em alto, bom som, e sotaque: esturrrdio. Hã?
Preocupante mesmo é se você estiver no Rio Grande do Sul, porque lá "estúrdio" se refere aos trajes. Uma bombacha faz de você um estúrdio? Claro que não. E as prendas, o que faz elas se tornarem estúrdias?
Modo de usar: por tudo isso, e pela necessidade absoluta de contextualização, acho que esse xingamento antigo é de difícil manejo, e só deve ser utilizado por aqueles que sabem esgrimir com a língua.
2. (Bras.) Esquisito, excêntrico e extravagante.
3. Bras MG SP . Diz-se de coisa fora do comum.
4. Bras RS. Trajado de maneira extravagante ou fora de moda".
Referência: Dicionário Aurélio, ensinando a gente a xingar desde 1782.
Acredito que esse xingamento é muito versátil, pois varia de acordo com o Estado da Federação em que seja usado.
No primeiro sentido, de "estróina", "extravagante", efetivamente há um componente econômico, de prodigalidade. É uma pessoa que deita fora os seus haveres. Nesse contexto de crise econômica globalizada, o parâmetro de pródigo-estróina-estúrdio mudou bastante: pode ser xingado até o indivíduo que gasta suas economias com cachaça e caldinho de feijão.
Se o pródigo-estróina-estúrdio for rico, aí ele pode ser excêntrico. Para ser excêntrico tem que ser rico, ao contrário será apenas taxado de maluco mesmo.
Se estivermos em São Paulo ou Minas Gerais (sentido 3), estúrdio pode não ser um xingamento propriamente dito, podendo apenas designar algo incomum. Difícil vai ser convencer as pessoas disso, depois que você falar em alto, bom som, e sotaque: esturrrdio. Hã?
Preocupante mesmo é se você estiver no Rio Grande do Sul, porque lá "estúrdio" se refere aos trajes. Uma bombacha faz de você um estúrdio? Claro que não. E as prendas, o que faz elas se tornarem estúrdias?
Modo de usar: por tudo isso, e pela necessidade absoluta de contextualização, acho que esse xingamento antigo é de difícil manejo, e só deve ser utilizado por aqueles que sabem esgrimir com a língua.
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Direito à memória coletiva
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Direito à veracidade e integridade do passado: o caso dos filhos sequestrados dos presos políticos brasileiros
Um dos aspectos do direito individual à memória que mais me preocupa é a efetivação da sua integridade e veracidade.
Acredito que seja profundamente arrasador para o indivíduo não conhecer suas próprias origens, não possuir informações verdadeiras da sua biografia, o que efetivamente causará danos à sua identidade.
Nenhum exemplo me parece melhor para ilustrar essa situação de violação à memória individual do que o caso dos netos argentinos, sequestrados pelos militares e criados por eles como se filhos fossem. Sobre essa dramática situação, escrevi o primeiro (que na verdade é o segundo) post deste blog: http://direitoamemoria.blogspot.com/2010/06/o-direito-veracidade-e-integridade-do.html. Situação parecida aconteceu durante o regime de Franco, na Espanha.
Eu sempre me perguntei se aconteceu o mesmo no Brasil. Ouvi relatos de presas brasileiras grávidas, mas nada se diz sobre os seus filhos nascidos em cativeiro.
Nesta semana li uma reportagem que parece confirmar essas preocupações: Maria Amélia de Almeida Teles, que integra a Comissão de Familiares, informou que pelo menos sete crianças foram sequestradas e entregues a militares brasileiros para adoção. (cf. http://correiodobrasil.com.br/sentenca-da-oea-sobre-araguaia-leva-parentes-ao-ministerio-publico-2/340909/).
Se isso é verdade, essas pessoas são a prova viva do envolvimento dos "falsos pais" não só com o regime ditatorial, mas com o que havia de pior nele.
Na Argentina, foram localizadas aproximadamente 105 pessoas sequestradas nessa mesma situação. Mas isso decorreu de uma efetiva campanha realizada pela Associação das Mães da Plaza de Mayo, que contaram a história dos filhos mortos e desaparecidos através de atos públicos, documentários, conclamando as pessoas com certo perfil (idade, por exemplo), a duvidarem de sua identidade.
Talvez fosse útil divulgar as fotos dos pais desaparecidos para ver se esses 7 (ou mais) brasileiros se reconhecem. Talvez fosse útil deixar que os familiares, avós, tios, falem e expliquem em rede nacional o que aconteceu.
Acredito que seja profundamente arrasador para o indivíduo não conhecer suas próprias origens, não possuir informações verdadeiras da sua biografia, o que efetivamente causará danos à sua identidade.
Nenhum exemplo me parece melhor para ilustrar essa situação de violação à memória individual do que o caso dos netos argentinos, sequestrados pelos militares e criados por eles como se filhos fossem. Sobre essa dramática situação, escrevi o primeiro (que na verdade é o segundo) post deste blog: http://direitoamemoria.blogspot.com/2010/06/o-direito-veracidade-e-integridade-do.html. Situação parecida aconteceu durante o regime de Franco, na Espanha.
Eu sempre me perguntei se aconteceu o mesmo no Brasil. Ouvi relatos de presas brasileiras grávidas, mas nada se diz sobre os seus filhos nascidos em cativeiro.
Nesta semana li uma reportagem que parece confirmar essas preocupações: Maria Amélia de Almeida Teles, que integra a Comissão de Familiares, informou que pelo menos sete crianças foram sequestradas e entregues a militares brasileiros para adoção. (cf. http://correiodobrasil.com.br/sentenca-da-oea-sobre-araguaia-leva-parentes-ao-ministerio-publico-2/340909/).
Se isso é verdade, essas pessoas são a prova viva do envolvimento dos "falsos pais" não só com o regime ditatorial, mas com o que havia de pior nele.
Na Argentina, foram localizadas aproximadamente 105 pessoas sequestradas nessa mesma situação. Mas isso decorreu de uma efetiva campanha realizada pela Associação das Mães da Plaza de Mayo, que contaram a história dos filhos mortos e desaparecidos através de atos públicos, documentários, conclamando as pessoas com certo perfil (idade, por exemplo), a duvidarem de sua identidade.
Talvez fosse útil divulgar as fotos dos pais desaparecidos para ver se esses 7 (ou mais) brasileiros se reconhecem. Talvez fosse útil deixar que os familiares, avós, tios, falem e expliquem em rede nacional o que aconteceu.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
domingo, 11 de dezembro de 2011
Pregões da minha infância
O pregão é uma espécie de anúncio, um chamamento. Alguns profissionais, como leiteiros, vendedores em geral e amoladores de facas, avisam cantando a sua chegada à clientela.
Os pregões são músicas de trabalho tradicional, que contribuíram com a trilha sonora da minha infância. Lembro que eu acordava ao som dos sinos da Igreja (que hoje não tocam mais... foram substituídos por um aparelho de som!?), e logo depois, pouco a pouco, começavam os pregões mais variados:
O apito do amolador de facas: http://www.youtube.com/watch?v=JNJpFzAne_0.
Herança portuguesa, com certeza!: http://www.youtube.com/watch?v=C0JznE2UwEQ
O vendedor de macaxeira (aipim), que gritava: XÊEEEEERA, Ô XÊRA!
Existe uma expressão antiga aqui na minha cidade que parece remeter aos pregoeiros: quando alguém é tagarela, diz-se que "fala mais que o preto do leite". Provavelmente ele era um pregoeiro dos bons!
Comparando memórias com o meu marido, ele disse que na cidade natal havia um senhor que também comercializava laticínios, conhecido como o "Alemão da Nata", que também apregoava seus produtos. O pregão de laticínios deve ser alguma particularidade dessa categoria profissional, não é?
Essa trilha sonora da cidade foi desaparecendo aos poucos. É difícil competir com o barulho ensurdecedor das nossas cidades.
Os pregões são músicas de trabalho tradicional, que contribuíram com a trilha sonora da minha infância. Lembro que eu acordava ao som dos sinos da Igreja (que hoje não tocam mais... foram substituídos por um aparelho de som!?), e logo depois, pouco a pouco, começavam os pregões mais variados:
O apito do amolador de facas: http://www.youtube.com/watch?v=JNJpFzAne_0.
Herança portuguesa, com certeza!: http://www.youtube.com/watch?v=C0JznE2UwEQ
O vendedor de macaxeira (aipim), que gritava: XÊEEEEERA, Ô XÊRA!
Existe uma expressão antiga aqui na minha cidade que parece remeter aos pregoeiros: quando alguém é tagarela, diz-se que "fala mais que o preto do leite". Provavelmente ele era um pregoeiro dos bons!
Comparando memórias com o meu marido, ele disse que na cidade natal havia um senhor que também comercializava laticínios, conhecido como o "Alemão da Nata", que também apregoava seus produtos. O pregão de laticínios deve ser alguma particularidade dessa categoria profissional, não é?
Essa trilha sonora da cidade foi desaparecendo aos poucos. É difícil competir com o barulho ensurdecedor das nossas cidades.
sábado, 10 de dezembro de 2011
Alecrim e memória
O alecrim é uma erva muito associada à boa memória. A palavra "alecrim" tem origem árabe, como geralmente acontece com as palavras portuguesas que começam com "al"(alface, alfaiate, alcachofra, almofada, alcatifa, álcool, aldraba, aldebarã,alguidar, algarismo, álgebra, alvará, entre outros).
Na língua portuguesa também é conhecida como anecril ou rosmaninho, sendo essa última palavra derivada do Latim Rosmarinus (Rosa do Mar, segundo MALLON, 2009, sendo associada com Vênus, e portanto com propriedades afrodisíacas) ou "orvalho do Mar".
Pode ser definida como :"Planta aromática da fam. das leguminosas, Rosmarinus officinalis ou Halocalyx graziovii, usada como remédio e condimento"(FRANCA, 1994, p. 49).
O alecrim simboliza a lembrança,por isso era utilizada para fortalecer a memória pelos estudantes na Antiga Grécia, que carregavam um ramo de alecrim no dia de provas e exames. Era também utilizada em funerais e colocadas no caixão, como sinal de que o falecido não seria esquecido (MALLON, 2009, p. 199).
Referências
MALLON, Brenda. Os símbolos místicos - um guia compelto para símbolos e sinais mágicos e sagrados. São Paulo: Larousse do Brasil, 2009.
FRANCA, Rubem. Arabismos - Uma mini-enciclopédia do mundo árabe. Recife: Fundação de Cultura da Cidade do Recife: Editora Universitária da UFPE, 1994.
Na língua portuguesa também é conhecida como anecril ou rosmaninho, sendo essa última palavra derivada do Latim Rosmarinus (Rosa do Mar, segundo MALLON, 2009, sendo associada com Vênus, e portanto com propriedades afrodisíacas) ou "orvalho do Mar".
Pode ser definida como :"Planta aromática da fam. das leguminosas, Rosmarinus officinalis ou Halocalyx graziovii, usada como remédio e condimento"(FRANCA, 1994, p. 49).
O alecrim simboliza a lembrança,por isso era utilizada para fortalecer a memória pelos estudantes na Antiga Grécia, que carregavam um ramo de alecrim no dia de provas e exames. Era também utilizada em funerais e colocadas no caixão, como sinal de que o falecido não seria esquecido (MALLON, 2009, p. 199).
Referências
MALLON, Brenda. Os símbolos místicos - um guia compelto para símbolos e sinais mágicos e sagrados. São Paulo: Larousse do Brasil, 2009.
FRANCA, Rubem. Arabismos - Uma mini-enciclopédia do mundo árabe. Recife: Fundação de Cultura da Cidade do Recife: Editora Universitária da UFPE, 1994.
domingo, 4 de dezembro de 2011
Recesso do Blog: 04/12 a 10/12
O blog "direitoamemoria.blogspot.com" estará de recesso entre hoje (04/12 e 10/12).
"Recesso" significa que eu não sei ainda programar a publicação das postagens futuras, mas ouvi dizer que pode ser feito.
Até a volta!
"Recesso" significa que eu não sei ainda programar a publicação das postagens futuras, mas ouvi dizer que pode ser feito.
Até a volta!
sábado, 3 de dezembro de 2011
Memória Poética - Quase paródia
"Memória, vasta memória
Se fosse sinônimo de História
seria uma rima,
não uma solução".
_______________________
Quase-paródia dos famosos versos de Carlos Drummond de Andrade, excerto do "Poema de sete faces":
"Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração."
Se fosse sinônimo de História
seria uma rima,
não uma solução".
_______________________
Quase-paródia dos famosos versos de Carlos Drummond de Andrade, excerto do "Poema de sete faces":
"Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração."
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Direito ao esquecimento: Vanusa
Vanusa é uma famosa cantora brasileira que, por motivos que só lhe dizem respeito, errou ao cantar o hino nacional brasileiro: http://www.youtube.com/watch?v=4VGDhOxmZZI.
Cantar errado a música ou a letra do hino nacional brasileiro não é crime, nem pecado. Mas parece que afetou bastante a auto-imagem da cantora que, nesta semana, esqueceu novamente outra canção e agora fala em aposentadoria: http://www.pbagora.com.br/conteudo.php?id=20111130131036&cat=brasil&keys=vanusa-esquece-letra-novo-fala-aposentadoria
Como se pode ver na notícia, Vanusa não quer ser lembrada como "a cantora que errou o hino nacional". Esse é um claro exemplo de reivindicação do direito ao esquecimento, que poderia ser efetivado, pois não houve nenhum limite moral transgredido, nenhuma violação a quaisquer direitos.
Na verdade, ninguém mais falava de Vanusa ter errado o Hino (que por sinal, não é nada fácil), e nem cantar o Hino evocava a imagem de Vanusa. Atire a primeira pedra quem nunca cantou o Hino Brasileiro errado, nem confundiu a primeira parte com a segunda...
Entretanto, há o risco de se fazer a associação definitiva da cantora com cantar errado. Toda vez que alguém esquecer qualquer letra de música, vai estar cometendo uma "vanusada", por exemplo. Isso acontece porque, involuntariamente, a cantora reforçou a memória de um erro, com um segundo e agora, terceiro.
Cantar errado a música ou a letra do hino nacional brasileiro não é crime, nem pecado. Mas parece que afetou bastante a auto-imagem da cantora que, nesta semana, esqueceu novamente outra canção e agora fala em aposentadoria: http://www.pbagora.com.br/conteudo.php?id=20111130131036&cat=brasil&keys=vanusa-esquece-letra-novo-fala-aposentadoria
Como se pode ver na notícia, Vanusa não quer ser lembrada como "a cantora que errou o hino nacional". Esse é um claro exemplo de reivindicação do direito ao esquecimento, que poderia ser efetivado, pois não houve nenhum limite moral transgredido, nenhuma violação a quaisquer direitos.
Na verdade, ninguém mais falava de Vanusa ter errado o Hino (que por sinal, não é nada fácil), e nem cantar o Hino evocava a imagem de Vanusa. Atire a primeira pedra quem nunca cantou o Hino Brasileiro errado, nem confundiu a primeira parte com a segunda...
Entretanto, há o risco de se fazer a associação definitiva da cantora com cantar errado. Toda vez que alguém esquecer qualquer letra de música, vai estar cometendo uma "vanusada", por exemplo. Isso acontece porque, involuntariamente, a cantora reforçou a memória de um erro, com um segundo e agora, terceiro.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Inacreditável (2)
Diariamente, eu consulto o seguinte sítio:http://kibeloco.com.br/platb/kibeloco/
Esse sítio traz importantes reflexões memoriais, e tem duas séries fundamentais, no nosso ponto de vista: "Separados", uma análise comparativa entre pessoas/coisas que mutuamente se evocam; e "Pracas do Braziu", porque essa é dura a realidade de pessoas que vagamente lembram como as coisas devem ser escritas.
Hoje, foi veiculada a seguinte notícia chocante: http://kibeloco.com.br/platb/kibeloco/2011/11/30/que-historia-e-essa/
Fiquei "absolutamente" estarrecida.
Esse sítio traz importantes reflexões memoriais, e tem duas séries fundamentais, no nosso ponto de vista: "Separados", uma análise comparativa entre pessoas/coisas que mutuamente se evocam; e "Pracas do Braziu", porque essa é dura a realidade de pessoas que vagamente lembram como as coisas devem ser escritas.
Hoje, foi veiculada a seguinte notícia chocante: http://kibeloco.com.br/platb/kibeloco/2011/11/30/que-historia-e-essa/
Fiquei "absolutamente" estarrecida.
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Direito à memória dos mortos
Memória Poética: Edith Piaf
Non, Je Ne Regrette Rien
Édith Piaf
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Ni le bien qu'on ma fait,
Ni le mal - tout ça m'est bien égal!
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
C'est payé, balayé, oublié,
Je me fous du passé!
Avec mes souvenirs
J'ai allumé le feu,
Mes chagrins, mes plaisirs,
Je n'ai plus besoin d'eux!
Balayé les amours
Avec leurs trémolos
Balayés pour toujours
Je repars à zéro...
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Ni le bien qu'on ma fait,
Ni le mal - tout ça m'est bien égal!
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Car ma vie, car mes joies,
Aujourd'hui, ça commence avec toi!
______________________
Boa tentativa, mas não dá para recomeçar do zero absoluto.
Édith Piaf
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Ni le bien qu'on ma fait,
Ni le mal - tout ça m'est bien égal!
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
C'est payé, balayé, oublié,
Je me fous du passé!
Avec mes souvenirs
J'ai allumé le feu,
Mes chagrins, mes plaisirs,
Je n'ai plus besoin d'eux!
Balayé les amours
Avec leurs trémolos
Balayés pour toujours
Je repars à zéro...
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Ni le bien qu'on ma fait,
Ni le mal - tout ça m'est bien égal!
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Car ma vie, car mes joies,
Aujourd'hui, ça commence avec toi!
______________________
Boa tentativa, mas não dá para recomeçar do zero absoluto.
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