O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Cajuína (2)

A cajuína é patrimônio imaterial do Brasil: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/07/cajuina-patrimonio-imaterial-do-brasil.html.

Qual não foi a minha surpresa quando, no almoço do domingo com mamãe (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2015/05/mamae.html), ela nos recebeu com uma garrafa de cajuína geladinha, presente de um amigo do Piauí.


Cajuína 

Essa cajuína é mágica mesmo, consegue até fazer com que a hospitalidade seja contagiosa!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Cartões natalinos

O Natal é um evento que merece ser comemorado aqui no blog!  Já refletimos sobre alguns elementos que compõem o mosaico dessa comemoração, tais como o presépio (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/11/presepio.htmlhttp://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/11/presepio-2.html), a ceia natalina (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/12/ceia-de-natal.html), a trilha sonora bimbalhante (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/12/musicas-natalinas.html), o costume de dar presentes (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/12/dadivas-natalinas.html) e algumas dúvidas que ainda tenho (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/12/feliz-natal-e-algumas-questoes.html).

Gostaria de refletir agora sobre os cartões de Natal.  Não sei se em todos os lugares há esse costume, mas aqui no Brasil é uma tradição enviar cartões com os votos de boas festas e que, quando recebidos, são colocados próximos à árvore de natal, e às vezes até compõem a sua decoração.

Nesses tempos virtuais, houve uma mudança na forma de envio dos cartões natalinos. A tradição apenas mudou de forma pois, se antes eram enviados fisicamente pelos Correios, agora há uma preferência pelo envio através de correio eletrônico.  Se bem, que nesse ano de 2015, houve no Brasil a reabilitação da carta como meio de comunicação (http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/12/leia-integra-da-carta-enviada-pelo-vice-michel-temer-dilma.html) e talvez isso tenha algum reflexo na comemoração desse ano.

Enfim, tudo isso para dizer que pedi ajuda à minha irmã (que tem uma bela letra)  para elaborar um cartão natalino para vocês:

Cartão Natalino do Blog Direito à Memória - Caligrafia Flávia Braga

sábado, 19 de dezembro de 2015

Micos inesquecíveis (4)

A verdadeira superação se dá quando conseguimos lembrar sem sofrer.  E para isso, não adianta esconder, escamotear ou criar eufemismos:  é preciso enfrentar os fatos de maneira mais honesta, íntegra e completa para dar-lhes a dimensão e o significado que realmente devem ter.

Foi com essa intenção de superação que criei a série "Micos inesquecíveis", onde exponho e analiso, explico mas não justifico, atos meus que parecem incompreensíveis (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/06/micos-inesqueciveis-1.htmlhttp://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/09/micos-inesqueciveis-2.htmlhttp://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/09/micos-inesqueciveis-3.html).  Faz parte da minha personalidade ser um pouco distraída e desajeitada, e esses traços só vão se aprofundar com o passar dos anos então, em um esforço de memória, tento aprender alguma lição dessas situações constrangedoras, à moda dos pitagóricos.

No post "Lembrar Xangô" (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/11/lembrar-xango.html), e enquanto eu escrevia, lembrei que participei de uma cerimônia religiosa, sobre a qual sou profundamente ignorante, e em relação à qual não tive a benção da boa informação.  Para sintetizar, eu deveria cumprir uma função que ainda permanece um mistério para mim, e essa profunda ignorância me fez cometer atos indesculpáveis.

Além disso, a cerimônia era muito colorida, esfuziante, cheia de música e pessoas dançando, o que foi suficiente para me distrair totalmente.  De vez em quando me cutucavam para fazer alguma coisa, mas na verdade eu estava mais interessada na apreciação estética da performance maravilhosa, o que provavelmente fez de mim a pior participante da História.

No final, eu sabia que haveria distribuição de comidas afro-brasileiras, que são deliciosas e complexas, o que sempre é um bom motivo para continuar participando de qualquer evento.  Mas, o tiro de misericórdia na minha honra aconteceu quando eu vi as pessoas "estragando" pipocas, que caíam no chão e eram varridas para fora do salão.

Eu adoro pipoca,e o cheiro estava uma delícia, e o que fiz?  Acho que o que qualquer um faria:  tentei aparar o máximo de pipocas com a minha saia, e tentei convencer a pessoa que estava desperdiçando a parar com aquilo.  E fazia isso enquanto tentava pegar as pipocas no ar com a boca e com a saia.

Isso demorou uns bons minutos, até que uma boa alma me ensinou que devemos nos desapegar das pipocas porque, naquela religião, o banho de pipoca é uma forma de limpeza espiritual, e se eu ficasse retendo as pipocas e tentando comê-las antes de cair no chão, eu não teria o benefício de liberar as energias negativas.

"Tem certeza disso?", eu perguntei retoricamente, e a moça respondeu que sim, depois de dar um suspiro profundo.  É claro que depois dessa explicação, e com muita dor no coração, eu me desfiz da pipoca que havia acumulado na saia, nas mãos, um pouco na minha cadeira, com a certeza que estava fazendo isso por um bem maior.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Considerações sobre os nomes das Operações da Polícia Federal

Nos últimos tempos,a Polícia Federal saiu do papel de instrumento coadjuvante para se transformar em personagem (quase) principal do drama e tragicomédia que se tornou a vida pública brasileira.

Hoje, ao acordar, me deparei com a notícia de que a Polícia Federal está realizando buscas e apreensões na residência oficial do Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, no âmbito da operação Catilinárias.

Sempre achei interessante essa tradição de nomear operações policiais, como forma de identificação de um conjunto de ações e/ou objetivos, mas a Polícia Federal do Brasil levou essa prática a uma nova forma de arte e, interessante, com forte apelo histórico e cultural. Esses nomes grudam na nossa memória coletiva como se fossem chicletes.

Arca de Noé, Cavalo de Tróia I e II, Setembro Negro, Medusa, Pandora, Midas, Faraó, Perseu, Caronte, Tarantela, Esfinge, Zelotes.  Sem dúvida, podemos apontar como critérios a pertinência do nome ao objeto ou objetivo da investigação, e, se eu não fosse uma pessoa muito ocupada, poderia fazer uma classificação da evolução desses critérios e categorias.

Percebo que há fases na nomeação da operação, o que pode indicar que o responsável ou método de escolhas mudou.  Segundo alguns sítios que consultei, essa prática de nomear operações se consolidou em 2002 com a Operação Arca de Noé (Cf. http://super.abril.com.br/comportamento/quem-inventa-os-nomes-das-operacoes-da-policia-federal), e talvez por causa disso em um primeiro momento houve tantas operações relativas à fauna (Águia, Sucuri, Lince, Garça).

Depois percebe-se uma diversificação de categorias: eventos históricos, mitologia grega, folclore brasileiro (Curupira, Matinta Pereira, ou Mati-Taperê ou Matita Perê), palavras e conceitos estrangeiros e filosóficos, como Satiagraha, e a categoria "outros" para incluir tudo aquilo que a gente ainda não entendeu.

Enfim, esse post tem por finalidade registrar os nomes das operações da Polícia Federal e, se possível, também o seu resultado.  O que farei com a informação?  Absolutamente nada, é só curiosidade mesmo, e um medo profundo de que falte nomenclatura para tanta coisa errada.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Verba volant, scripta manent

Nesta semana, assistimos ao resgate de uma (agora) antiga forma de comunicação:  a carta.  O Sr. Vice-Presidente da República Federativa do Brasil enviou uma missiva à Sra. Presidente (para ler: http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/12/leia-integra-da-carta-enviada-pelo-vice-michel-temer-dilma.html).
Não vou refletir sobre o fato agora, pois estou observando e meditando para escrever um post específico sobre a barafunda institucional em que o Brasil se meteu em 2015.
Gostaria mesmo de falar sobre a epígrafe da carta, que trouxe a expressão em Latim "Verba volant, scripta manent" (as palavras voam, os escritos permanecem).  Em primeiro lugar, gostaria de destacar o grande prazer de ver o Latim (ainda que seja dessa forma) aparecendo na mídia, já que há tanto tempo é confinado ao uso das peças jurídicas,  e, em segundo lugar, destacar a criatividade dos brasileiros nas  redes sociais, que logo criaram inúmeras obras de arte derivadas dessa carta.
Infelizmente (apesar das boas risadas) as pessoas associaram o Latim no início da carta aos feitiços de Harry Potter, e depois disso nada pode ser encarado com a mesma seriedade.
Enfim, esse post é para discutir os modos de fixação da memória. Lembremos que a arte da memória sempre foi vinculada à oratória e aos grandes oradores (como já destacamos nos posts http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/01/deusa-memoria.htmlhttp://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/07/lembrar-simonides-de-ceos.htmlhttp://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/07/lembrar-hipias-de-elis.html), mas a  escrita permitiu o registro mais perene das informações pois, afinal, verba volant.
Escrever permitiu desenvolver o registro da memória  duas vertentes: a) a comemoração, que significa a celebração de eventos memoráveis através de monumentos celebrativos, com o predomínio das inscrições (epigrafia). Esses monumentos eram arquivos de pedra cuja finalidade era dar publicidade, ostentatória e durável, a uma informação memorável; b) a segunda vertente foi o documento, tomado em sua acepção restrita como o texto escrito que armazena informações, permitindo a comunicação entre gerações, bem como o reexame, a retificação e reordenamento dos registros (LE GOFF, 2000, p. 18; DANTAS, 2010).
A difusão da escrita através da invenção da imprensa  trouxe o predomínio da escrita sobre a oralidade. Até então havia equilíbrio ou predomínio da oralidade, pois os textos eram escritos para serem decorados, e dessa época até o século XVI valia o adágio “tantum scimus, quanto memoria tenemus (só sabemos tanto quanto temos na memória) (WEINRICH, 2001, p. 69). Os efeitos da Imprensa foram sentidos plenamente a partir do século XVIII, não só porque grande quantidade de informações passou a circular, mas também porque puderam ser traduzidas e compartilhadas com outros povos: surgem então os arquivos e museus nacionais. Além disso, a função memorial dos monumentos entrou em decadência, com a gradual substituição dos “livros de pedra” por tecnologias mais modernas (CHOAY, 2001, p. 21; DANTAS, 2010).
Depois da escrita e da imprensa, a terceira revolução da memória foi o surgimento de técnicas de registro e reprodução de áudio e vídeo tais como o disco, a fotografia, o cinema e o computador. A apreensão e o resgate das informações agora são feitos quase ao vivo: há imagem e som vindos do passado. Entretanto, tais avanços são relativos pois a acelerada obsolescência e a rápida substituição de tecnologias são capazes de determinar a amnésia na sociedade.
Pelos últimos acontecimentos que vimos, parece que são o áudio e o vídeo, mais que a escrita, o grande problema para quem quer ocultar fatos. Mas não se enganem: palavras, escritas, vídeos, áudios são apenas formas e se a informação que veiculam não é autêntica, ética e verdadeira, pouco importa a sua permanência.



REFERÊNCIAS

CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade: Editora UNESP, 2001.

DANTAS, Fabiana Santos.  O direito fundamental à memória.  Curitiba: Juruá, 2010.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Lisboa: Edições 70, 2000.

WEINRICH, Harald. Lete – Arte e crítica do esquecimento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
  

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Livro de Aço (2) - Visita ao Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves

Brasília, 26 de novembro de 2015.

O sol do meio dia queimava os meus olhos, e o calor ardente envolvia o meu corpo enquanto tentava, em vão, atravessar o deserto em direção à memória dos heróis brasileiros.  A sede, a fome e a exaustão não me impediram de encontrar o meu destino e, então, pude compreender o verdadeiro significado do sacrifício pela Pátria.

Ou, sendo menos dramática:  fui a uma reunião de trabalho em Brasília, e troquei o meu horário de almoço por uma visita ao Panteão dos Heróis e Heroínas do Brasil (Panteão Trancredo Neves) porque estava curiosíssima para ver o Livro de Aço (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/04/o-livro-de-aco-livro-dos-herois-da.html).  A dispensa para o almoço ocorreu mais ou menos ao meio dia, e eu tive que atravessar a Praça dos Três Poderes sob o inclemente sol do Cerrado.  Não é um percurso desprezível para quem está com muita sede, um pé inchado (souvenir de Belo Horizonte), vestida com um terno preto e sempre com fome.  Tudo isso para cumprir uma promessa que fiz no post anterior sobre o assunto porque, como diz Nietzsche, "devemos ter uma boa memória para sermos capazes de cumprir as promessas que fazemos".

Mas valeu a pena, cumpri a promessa feita a mim mesma, satisfiz a minha curiosidade e folheei o Livro de Aço. Ele fica depositado em um monumento após a Praça dos Três Poderes, do lado oposto ao Congresso Nacional (fato geográfico, sem nenhuma intenção irônica), ao lado da Pira da Pátria e da Bandeira Nacional.  O monumento foi projetado por Oscar Niemeyer, é denominado "Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves" (cf. http://www.brasil.gov.br/governo/2009/09/panteao-da-patria):

Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves - Brasília, DF.  Foto de Fabiana Dantas

Na entrada do prédio há um busto de Tiradentes - Herói Nacional - cujo nome é o primeiro inscrito (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/03/herois-brasileiros-tiradentes.html), recebendo os visitantes:
Foto:  Fabiana Dantas


 Entrando no edifício, há sala com uma exposição permanente sobre Tancredo Neves, e uma frase escrita na parede:


Foto:  Fabiana Dantas

Subindo as escadas, há uma sala muito escura, lúgubre e dramática, onde está o Livro de Aço em um pedestal, com luzes sobre ele.  A sensação ao chegar lá é estranha porque vinha de um ambiente com muita, muita luz e de repente tudo fica escuro.  Confesso que fiquei com medo porque, há muitos anos, fui visitar o Memorial Juscelino Kubitschek, mausoléu do ex-presidente, bem no final do expediente, acabei me distraindo e fiquei presa lá dentro.  Demorou uns bons minutos para que alguém percebesse que a turista desorientada tinha ficado para trás, e a essa altura eu já estava, digamos, meio apavorada mas ainda tentando manter a compostura.

Enfim, superada essa memória traumática, pude apreciar a ambiência do Livro.  Atrás há um belo mural e um busto, mas o foco está nele.  Há inscrição do nome do herói ou da heroína, com datas celebrativas e um pequeno resumo do motivo que levou à inscrição.



Livro de Aço.  Foto: Fabiana Dantas

Perguntei rapidamente aos cuidadores do monumento se havia solenidades periódicas para honrar a memória dos heróis e heroínas, e foi dito que não.  A solenidade acontece no ato da inscrição, mas posteriormente não é prevista nenhuma comemoração sistemática.  Se acontecem, imagino, devem ter um caráter acidental.

No edifício funciona um órgão público, hoje gerido pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal.

Achei interessante a vinculação do nome de Tancredo Neves ao monumento, já que ele não é herói, mas aparentemente deve-se ao fato de que a comoção pela sua inesperada morte oportunizou a criação desse monumento em sua memória (também), ocorrida em 21 de abril de 1985 (observem a coincidência com a data da execução de Tiradentes).  O monumento foi inaugurado no ano seguinte ao seu falecimento, em 07 de setembro de 1986.

Em memória do segundo ano do falecimento de Tancredo Neves,  em 21 de abril de 1987, foi inaugurada a Pira da Pátria, que fica em frente ao Panteão, onde está perenemente acesa a chama simbólica da Nação.

Não há dúvida de que é um lugar de memória, mas a impressão que tive é que ela está meio adormecida, já que não há muita promoção da biografia e do significado dos heróis e heroínas junto aos cidadãos brasileiros.




segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

San José - Galeão encontrado

Arqueologia fascinante... Encontrado o Galeão San José: http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/bbc/2015/12/05/colombia-diz-ter-localizado-navio-san-jose-tesouro-submerso-mais-procurado-do-mundo.htm.


Evidentemente, se o galeão estiver no mar territorial colombiano, pertence à Colombia, a despeito da origem espanhola.  A localização do bem não foi divulgada (evidentemente por razões de segurança), mas a informação de que se encontra "perto de Cartagena" leva à conclusão de que está em território colombiano.