Eu adoro ver quadros e fotografias antigas para ver como as pessoas se vestiam no passado. Antigos vestidos, sapatos, bolsas, jóias, coletes, pelerines. Os homens pareciam tão distintos antigamente, com seus trajes completos.
Eu presto atenção em tudo isso e não é porque sou mulherzinha, não. Se tem uma coisa que ilustra os modos de viver são as roupas que as pessoas usam, e nós podemos aprender muito sobre a dinâmica cultural de uma sociedade observando as mudanças nos padrões de vestuário.
Além de ilustrar bem a passagem do tempo e a alteração dos padrões de representação, a moda ainda promove periodicamente resgates. Sempre há um retrô e um vintage, como se a moda tivesse uma necessidade autofágica de retroalimentação, talvez porque a indústria exija alterações sazonais dos produtos de consumo.
Quem tentar acompanhar rigorosamente os passos da moda acabará se perdendo em um labirinto sem volta. Em uma estação, você
deve ter cabelos longos e usar saias curtas. Na estação seguinte, cabelos curtos e saias longas. A cada três meses, uma nova cor se torna imprescindível, e pulamos de estação em estação, através das ditaduras do amarelo, do vermelho, fúcsia, mimetizando referências culturais e transformando-os em "estilos": oriental, étnico. Fingindo utilizar peles de animais, que antigamente eram símbolos de conquistas, ritos de passagem e uma necessidade de sobrevivência. Tudo transformado em animal print, só aparência sem sentido, com materiais que imitam.
Hoje é dia da aula de corte e costura, que comecei a ter com a minha mãe com a dupla finalidade: manter um saber tradicional e honrar Hípias de Elis (cf.
http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/07/lembrar-hipias-de-elis.html). E como uma coisa leva à outra, fiquei tentando lembrar o que me impressionava nos padrões do vestuário feminino do passado e nada, nada, supera a cintura de vespa.
Eu acho impressionante como aquelas moças do passado tinham uma cintura tão fina. Sim, havia ajuda mecânica, os espartilhos que apertavam tudo até estabelecer a ordem mundial. E essa moda perdura até hoje, a diferença que as moças prescindem de ajuda externa e querem alcançar a cintura de vespa simplesmente parando de comer, ou fazendo essas dietas malucas que também entraram na moda (
http://thefashionobserver.wordpress.com/tag/nossas-tetravos-e-a-cintura-de-vespa/).
Eu nunca tive uma cintura tão fina, nem quando era bebê. Ou talvez a minha cintura seja de uma daquelas vespas sedentárias. Sim, porque devem existir vespas de todo tamanho, e consequentemente todo tipo de cinturas, não é?
Enfim, embora os espartilhos tenham sido abolidos do vestuário, e agora só utilizados por quem quer ser exótico, na verdade a reminiscência do padrão cintura de vespa ainda existe entre nós. De onde veio esse culto ocidental à magreza feminina, que persiste através dos séculos? Essa visão estética está tão enraizada que parece certa ou verdadeira, mas de fato, já houve um tempo em que a rechonchudez (?) feminina era bela. Interessante mesmo é saber porque esses padrões mudam e porque persistem, e não segui-los tolamente.