O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









domingo, 31 de julho de 2011

MInha bisavó, Eulina

Domingão é dia de almoçar na casa de mamãe. Logo depois de comer (porque com fome não sou de muita conversa), enquanto tomamos o tradicional cafezinho, sempre peço à minha mãe que relembre as estórias da família.

Hoje, nós lembramos da minha bisavó materna, Eulina. Tive o privilégio de conviver com a minha bisavó até os 22 anos de idade, e através das suas memórias entrar em contato com o Brasil do fim do século XIX e dos primórdios do século XX, com valores e linguajar da época.

Mais do que isso, tive a oportunidade de conhecer uma pessoa tão peculiar que forçosamente se tornou inesquecível.

Apesar de jurar possuir uma origem nobre e fidalga (nunca comprovada), a Condessa Eulina não teve uma vida fácil. Logo na infância, enfrentou o suicídio do seu pai, que perdeu todas as terras da família no jogo, e provavelmente por isso hoje tenho que trabalhar, ao invés de ser dondoca por vocação hereditária.

A Condessa tinha hábitos muito, muito, singulares. Por exemplo, e a despeito da etiqueta que se poderia esperar de uma fidalga, aboliu o uso de talheres só comia com as mãos, fazendo pequenos bolinhos com a comida.

Também tinha o hábito de, logo após o almoço, pingar uma gota de limão em cada olho como se fosse colírio, para evitar catataras. Eu presenciei várias aplicações dessas, e confesso, uma vez quase cheguei a experimentar, mas acabei me convencendo de que aquilo só poderia ser maluquice.

Lembro também, e isso eu gostaria de esquecer, que quando fazia calor minha bisavó costumava tirar a camisa e ficava com os seios à mostra. E não pensem que isso era decorrência da senectude que um dia atingirá todos nós. Não. Ela curtia fazer isso e fazia, para desespero de todos nós que possuímos a mentalidade do vestuário.

Além disso, minha bisavó era uma viajante como eu. Não gostava de ficar em um só lugar e sempre estava se mudando. Acho que essa dinâmica de fazer malas e bagagens era uma metáfora da sua própria e atribulada vida, e com certeza é mais compatível com a sua genealogia (essa sim mais provável) de cigana.

Lembramos da bisavó com saudades e também com muitas risadas, e esse domingo foi especial porque, in memorian, a Condessa Eulina estava conosco.

sábado, 30 de julho de 2011

Mais retorno de bens culturais

Em novembro de 2010 saiu a notícia de que o Metropolitan Museum of Art de Nova York ia devolver 19 peças da tumba de Tut ao Egito (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com/2010/11/met-de-nova-york-devolve-19-objetos-da.html)

Como promessa é dívida...

"Cairo, 30 jul (EFE).- O Metropolitan Museum of Art de Nova York devolveu ao Egito 19 peças arqueológicas pertencentes à tumba do faraó Tutancâmon (1336-1327 a. C.), informou neste sábado o Conselho Supremo de Antiguidades egípcias (CSA).

Entre as peças, se destacam por seu valor um cachorro de bronze, de apenas dois centímetros de altura, um bracelete de lápis-lazúli, em forma de esfinge, e um colar de contas.

O anúncio foi feito pelo secretário-geral do CSA, Mohammed Abdel Maqsud, em comunicado no qual precisou que o subdiretor do Departamento de Arqueologia Egípcia, Atef Abul Dahab, chegará ao Cairo desde os Estados Unidos com as antiguidades na terça-feira.

O museu de Nova York decidiu entregar esses objetos ao Egito após uma série de negociações entre responsáveis egípcios e americanos.

Os 19 objetos, todos de pequeno tamanho, foram encontrados na tumba de Tutancâmon, descoberta pelo arqueólogo britânico Howard Carter em 1922 na ribeira oeste do rio Nilo, na localidade monumental de Luxor, localizada 700 quilômetros ao sul da capital.

Nessa época, o Governo egípcio permitia que os arqueólogos que trabalhavam com recursos próprios ficassem com uma parte substancial de suas descobertas.

Abdel Maqsud destacou o gesto do museu nova-iorquino, especialmente depois de a instituição ter se transformado em uma grande aliada do CSA para recuperar peças arqueológicas levadas ilegalmente do Egito.

Nesse sentido, o responsável egípcio lembrou que no passado o Metropolitan proporcionou ao Egito informações que ajudaram a recuperar um pedaço de rocha que fazia parte do templo faraônico de Karnak, situado em Luxor.

O CSA adiantou que as 19 peças serão exibidas junto ao restante das antiguidades pertencentes a Tutancâmon no Museu Egípcio do Cairo". Fonte: http://br.omg.yahoo.com/noticias/eua-devolvem-ao-egito-19-peças-arqueológicas-tumba-092905657.html;_ylt=AoHkHdrjCff0z4g2_xhbOUbAFsF_;_ylu=X3oDMTNnczg4dGZ1BHBrZwMxN2I3Zjk3OS04YjAwLTM1NDctOGJkMy01MGIyNzFkYmNiNDEEcG9zAzEEc2VjA01lZGlhUHJvdmlkZXJPdXRsaW5rBHZlcgM1ZTNjY2M0MC1iYThlLTExZTAtOTc3Mi1mOGI5Y2EyYTk4MTQ-;_ylg=X3oDMTJybzIyaWlhBGludGwDYnIEbGFuZwNwdC1icgRwc3RhaWQDYjM4Zjc0MDYtNzdiMS0zYmQ5LThlNTYtODBmYzQ2YThjYWQ4BHBzdGNhdANub3RpY2lhcwRwdANzdG9yeXBhZ2U-;_ylv=3


Aqui no blog nós acompanhamos as iniciativas de retorno e restituição de bens culturais aos seus lugares de origem, como prova da efetividade do direito à memória coletiva e realização do princípio da conservação in situ.

Sobre esse assunto, já escrevemos posts mostrando a tendência de retorno e restituição (e a diferença entre ambos)de bens culturais:

a) devolução de peças incas ao Peru : http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/04/pecas-incas-sao-devolvidas-ao-peru-apos.html

b) retorno de bens culturais, com um belíssimo vídeo de Costa Gavras sobre o Partenon (cfhttp://direitoamemoria.blogspot.com/2011/03/retorno-de-bens-culturais.html). É uma campanha para que devolvam os frisos do monumento à Grécia. Assistam ao vídeo!

O Brasil também está despossuído de importantes artefatos para a nossa memória coletiva, podendo ser citadas peças sagradas de povos indígenas, fósseis, obras de arte, espalhados por museus e coleções privadas por todo o mundo, que também deveriam ser restituídos ou retornados.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Memória brasileira: o futebol, patrimônio cultural brasileiro

O futebol é patrimônio cultural no Brasil.

É uma manifestação que vai além daquelas pessoas baratinadas correndo atrás de uma bola, e possui um significado profundo para a coesão nacional brasileira.

Se para os nativos da América Central o jogo de bola era uma metáfora para a criação do universo, com abordagem mitológica, no Brasil o futebol representa o continuum, a permanência. Há poucas certezas para quem vive no Brasil, e uma delas, é que haverá jogo de futebol no domingo, em qualquer de suas formas, desde a simples "pelada" até jogos entre clubes.

Os clubes de futebol, inclusive, estão entre as mais vetustas instituições brasileiras, sendo muitas delas mais que centenárias. Não é à toa que trazem os seus problemas e vícios tão enraizados, coisa que só o passar incessante do tempo consegue fazer.

O palco onde ocorrem os jogos é um lugar de memória. Os estádios brasileiros, alguns dos quais são exemplares da arquitetura modernista, são monumentos à paixão nacional.

Para assistir aos jogos os brasileiros vestem-se de maneira diferente, comportam-se de maneira diferente, entoam canções e loas especiais. Há uma gastronomia típica dos estádios, sendo uma de suas principais características as cólicas que provoca.

Há também uma mentalidade tradicional, que é na verdade uma desrazão, no cultivo de uma rivalidade que por vezes gera violências.

Essa manifestação cultural chamada "futebol" no Brasil é muito complexa, e contém os elementos de todo grande romance: paixão, vida, morte, cores, cheiros, sexo...É um momento humano com todas as suas contradições, tendo ao fundo pessoas baratinadas correndo atrás de uma bola.

Não há dúvidas de que o futebol no Brasil é um "lugar de memória" porque é um topos partilhado, aceito e transmitido pelo grupo social (SMOLKA, 2000, p. 188). É um indicador empírico do que é comum aos brasileiros, tão apropriado, tão nosso, que todos os dias há alguém vivendo e discutindo sobre futebol.

Embora aqui exista uma convenção de que "gosto não se discute", assim como não se deve discutir sobre política, religião e futebol, esse último assunto parece ser o mais presente. Basta que alguém comece que, imediatamente, tal como moscas no mel, juntam-se brasileiros para dar a sua opinião.

E não importa se o time é de primeira divisão, série a, b,c, z, ou se o campeonato é nacional, internacional, ou do time da rua de baixo contra o da rua de cima. As pessoas assistem, teorizam, explanam, e assim criam cultura.

No trabalho, em casa, nos bares a piada primeira é sempre sobre o time que alguém torce. Às vezes, o pedigree da pessoa é aferido pela sua afiliação futebolística: é comum ouvir "ou rubro-negro", "sou tricolor", "sou alvi-negro", além da identificação zoomórfica (sou peixe, porco, galo) que, sem dúvida, faz de nós uma das tribos mais estranhas do mundo.


REFERÊNCIAS

POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol 2, nº 3, p. 3-15, 1989.

SMOLKA, Ana Luíza Bustamante. A memória em questão: uma perspectiva histórico-cultural. Educação e Sociedade, nº 71, vol. 21, p. 166-193, jul. 2000.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O drakkar

Apesar de toda a tristeza, tentei lembrar o que eu sabia de bom sobre a Noruega. Eu gosto, particularmente, dos barcos-dragão (drakkar).



Olha aí um drakkar que Robinson (big brother) fez:







Nessa semana descobri que sei pouco sobre a Noruega. Tentei lembrar mas parece que a minha memória parou no tempo dos vikings, só penso em barcos-dragão e fiordes. Não sei nada sobre a gastronomia ou literatura norueguesas, por exemplo, o que é uma pena.


Para mim é importante tentar equilibrar as memórias ("positivas" e "negativas") porque se não, toda vez que lembrar da Noruega vou fazer a associação com tragédia que aconteceu, o que é apenas parcial e insuficiente. Os noruegueses não merecem e não devem ser definidos ou se auto-definirem pelo que aconteceu.




A memória (1)

Há um provérbio que diz: "o verdadeiro sábio não esquece o começo do caminho". Então, resolvi recomeçar a estudar a memória do zero, de novo (é cíclico).

Para recomeçar, vamos aos dicionários:

a) Dicionário Etimológico:

memória, s.f. Latim memoria, memoris, "que se lembra" (CUNHA, 2001, p. 512).

b) Dicionário Aurélio

Memoria [do lat. memoria]. "faculdade de reter as idéias, impressões e conhecimentos adquiridos anterioremente. 2. Lembrança, reminiscência, recordação".

c) Há um sentido material para o termo "memória", que seria uma espécie de anel. Nessa acepção, Padre Manuel Bernardes define memória como o “anel evocador de qualquer fato memorável para a vida de um indivíduo”, assim exemplificando “as anecadas e chuveiros, os anéis e memórias, as jóias”... (MIRANDA, 1962, p. 147).

REFERÊNCIAS

CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. O dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

MIRANDA, Nicanor. Vocabulário do Padre Manuel Bernardes. Revista do Arquivo Municipal, São Paulo, CLXVIII, jul/set, 1962

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Memorabilia

"Memorabilia" é um conjunto ou coleção de objetos materiais (coisas) às quais se atribui o poder de lembrar fatos ou pessoas.

Tal qual os talismãs, que portam poderes mágicos, há objetos que podem estimular a evocação de lembranças. Às vezes, o significado e o poder atribuído aos objetos é tamanho que se tornam, eles mesmos, objetos de veneração.

Um exemplo literário é o Santo Graal, o cálice usado por Jesus Cristo na Santa Ceia. Esse objeto é geralmente identificado com um cálice (um copo refinado), mas há quem diga, desde o Código da Vinci, que na verdade se trata de uma metáfora para o útero de uma mulher.

Veja bem: para encontrar o objeto é preciso antes de mais nada saber qual objeto estamos procurando. Depois, é preciso que ele esteja perdido, por exigência lógica: acontece que, se forem precisos os relatos, o cálice não está perdido, mas bem guardado em Valência, na Espanha.

Enfim, para os cristãos esse é um objeto dotado de grande significado, que vale a incessante veneração e proteção ao longo dos tempos, além de remeter ao explícito ato memorial da missa católica, sobre o qual conversamos no post: http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/06/fazei-isso-em-memoria-de-mim.html

Por que esse cálice, e não todos os outros que Jesus Cristo usou, é considerado sagrado? Por que apenas sua mortalha, e não as vestimentas que o cobriram em vida, é considerada sagrada? Porque um dos aspectos de memorabilia é fazer referência a um momento que merece ser lembrado: a última ceia, a morte.

Existem outros exemplos menos sagrados de memorabilia. Objetos cotidianos, e até "abastardados" e ordinários, que se tornaram relíquias dignas de preservação porque lhes foi atribuído algum valor (OPPERMANN, 2006, p. 46-51). Basta que um bem pertença a alguém famoso para torná-lo valioso? Para muitos fãs de celebridades sim, que chegam a oferecer milhares de reais por bens que normalmente são baratos, como peças íntimas, instrumentos de higiene, e que não serão reutilizados para as finalidades a que destinam, mas tão somente guardados como relíquias.

Por que alguém guardaria o pênis de Napoleão ou de Rasputin? Ou o sabonete utilizado por um monarca, que guarda um suposto pelo da suposta real genitália, e por isso seria digno de estar em exposição?

Fixar a memória em objetos parece ser uma necessidade,ainda que por vezes manifestada de formas bizarras.


REFERÊNCIAS

OPPERMANN, Álvaro. Quer pagar quanto?. Aventuras na História, nº 38, p. 46-51, out. 2006.

IV Congresso Luso-Brasileiro de Cartografia Histórica

O evento tem como tema "Territórios: documentos, imagens e representações". A maneira de representar o território tem tudo a ver com a memória coletiva.

Dá uma olhada: http://eventos.letras.up.pt/ivslbch/default.aspx.

Falando em representar o território e memória coletiva, não posso deixar de lembrar dos dos aborígenes australianos e suas “trilhas dos sonhos”, verdadeiros mapas mentais construídos com base no nome cantado dos marcos geográficos (songlines), que servem não somente como forma de orientação no espaço mas também no tempo, uma vez que esses cantos são repassados através das gerações e permitem aos indivíduos reconhecer a origem do seu clã e o território ocupado. Esses caminhos também são chamados de “rastros de cantos”, “pegadas dos antepassados” ou “caminhos da Lei” (CHATWIN, 1996, p.9) e constituem-se em um excelente exemplo de prática memorial associada à paisagem.

Sobre esse assunto li um livro interessante: CHATWIN, Bruce. O rastro dos cantos. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Memória Poética - Rubén Darío

Há vinte e cinco anos aprendi esse poema para recitar na escola Fray Luis de Granada. Ele é perfeito para momentos desencanto geral:


"Letanías de Nuestro Señor Don Quijote

Rey de los hidalgos, señor de los tristes,
que de fuerza alientas y de ensueños vistes,
coronado de áureo yelmo de ilusión;
que nadie ha podido vencer todavía,
por la adarga al brazo, toda fantasía,
y la lanza en ristre, toda corazón.

Noble peregrino de los peregrinos,
que santificaste todos los caminos
con el paso augusto de tu heroicidad,
contra las certezas, contra las conciencias
y contra las leyes y contra las ciencias,
contra la mentira, contra la verdad...

¡Caballero errante de los caballeros,
varón de varones, príncipe de fieros,
par entre los pares, maestro, salud!
¡Salud, porque juzgo que hoy muy poca tienes,
entre los aplausos o entre los desdenes,
y entre las coronas y los parabienes
y las tonterías de la multitud!

¡Tú, para quien pocas fueron las victorias
antiguas y para quien clásicas glorias
serían apenas de ley y razón,
soportas elogios, memorias, discursos,
resistes certámenes, tarjetas, concursos,
y, teniendo a Orfeo, tienes a orfeón!

Escucha, divino Rolando del sueño,
a un enamorado de tu Clavileño,
y cuyo Pegaso relincha hacia ti;
escucha los versos de estas letanías,
hechas con las cosas de todos los días
y con otras que en lo misterioso vi.

¡Ruega por nosotros, hambrientos de vida,
con el alma a tientas, con la fe perdida,
llenos de congojas y faltos de sol,
por advenedizas almas de manga ancha,
que ridiculizan el ser de la Mancha,
el ser generoso y el ser español!

¡Ruega por nosotros, que necesitamos
las mágicas rosas, los sublimes ramos
de laurel Pro nobis ora, gran señor.
¡Tiembla la floresta de laurel del mundo,
y antes que tu hermano vago, Segismundo,
el pálido Hamlet te ofrece una flor!

Ruega generoso, piadoso, orgulloso;
ruega casto, puro, celeste, animoso;
por nos intercede, suplica por nos,
pues casi ya estamos sin savia, sin brote,
sin alma, sin vida, sin luz, sin Quijote,
sin piel y sin alas, sin Sancho y sin Dios.

De tantas tristezas, de dolores tantos
de los superhombres de Nietzsche, de cantos
áfonos, recetas que firma un doctor,
de las epidemias, de horribles blasfemias
de las Academias,
¡líbranos, Señor!

De rudos malsines,
falsos paladines,
y espíritus finos y blandos y ruines,
del hampa que sacia
su canallocracia
con burlar la gloria, la vida, el honor,
del puñal con gracia,
¡líbranos, Señor!

Noble peregrino de los peregrinos,
que santificaste todos los caminos,
con el paso augusto de tu heroicidad,
contra las certezas, contra las conciencias
y contra las leyes y contra las ciencias,
contra la mentira, contra la verdad...

¡Ora por nosotros, señor de los tristes
que de fuerza alientas y de ensueños vistes,
coronado de áureo yelmo de ilusión!
¡que nadie ha podido vencer todavía,
por la adarga al brazo, toda fantasía,
y la lanza en ristre, toda corazón!"

_________________

Não lembrava das palavras, mas sim do sentimento de esperança. Parece que o mundo precisa de mais heróis, mesmo que sonhadores mas sempre inocentes como Quijote.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Noruega: crimes em nome da memória coletiva e da identidade cultural européia

Em momentos de crise, tal como a última crise econômica que se abateu sobre o mundo, não é raro que as pessoas busquem no passado a esperança dos tempos dourados. Um tempo em que as coisas eram "certas", "puras" e "originais", depurando e esquecendo os problemas e questões que esse passado também trazia.

Buscar os tempos dourados significa restaurar a pureza e a grandeza que se presumiam existir. Na verdade, quem adota esse tipo de olhar identifica a "decadência dos valores da sociedade"como causa dos problemas que enfrenta, recusando qualquer mérito às mudanças culturais.

Daí ao discurso de "resgatar a identidade ancestral", "recompor a pureza" é o seguinte passo lógico.

Mas esse raciocínio contém uma premissa bem conhecida e perigosa: é preciso criar fronteiras simbólicas para separar o "nós" (herdeiros da grandeza ancestral, a quem todo bem é devido por herança) e o "eles" (criaturas desumanizadas) que vieram trazer os seus valores decadentes para conspurcar a nossa grandeza, roubando as oportunidades que são nossas por direito.

Para recompor a pureza e a grandeza ancestrais é preciso eliminá-los, arrancando o mal pela raiz. E assim, judeus, imigrantes (de várias épocas e etnias), ou mesmo nacionais de outras correntes políticas e filosóficas tornam-se alvo de uma eliminação sistemática e progressiva, primeiro de direitos, e depois de indivíduos.

Sim, você já ouviu esse discurso antes. Apelar ao passado glorioso, à pureza de sangue e à recomposição das origens foi um dos dogmas do nazismo.

Na Noruega, pelas notícias divulgadas, a idéia do homicida era resgatar a grandeza e a pureza da sua cultura eliminando os "traidores multiculturalistas". Ou seja, aquelas pessoas que admitem valores diferentes (não necessariamente opostos) aos seus, em razão do maior contato cultural entre os povos em tempos globalizados.

Eu me pergunto: qual é a herança, qual a memória coletiva e individual, qua a identidade cultural que esse indivíduo estava protegendo?

domingo, 24 de julho de 2011

Ad perpetuam rei memoriae

A frase "ad perpetuam rei memoriae" (singular memoriam) era uma fórmula utilizada no início das bulas papais, especialmente aqueles com caráter doutrinário, para indicar a importância e a necessidade de recordar os mandamentos nela contidos.

Em Direito Processual há a previsão de diligências ou vistorias "ad perpetuam rei memoriae" que visam a garantir a permanência de uma informação sobre o estado de coisas. Essas vistorias ou diligências são realizadas quando se teme que, por variadas razões, seja perdida a informação e comprometido o exercício de certos direitos.

Como ocorrem essas diligências perpetuar a memoria? Tomando depoimentos, realizando vistorias técnicas, perícias, por exemplo. Juridicamente, significa a perpetuação de evidências, provas, para que possam ser utilizadas posterioremente, sem correr o risco de que elas desapareçam.

Linda providência. Se pudesse, requisitaria vistorias ad perpetuam rei memoriae toda hora, porque a expressão é linda (perpetuar a memória é um arraso), e também porque acho que som dessas palavras é o máximo do latim técnico.

Ad perpetuam rei memoriae.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Comemoração das bodas de Fabiana

Hoje completou uma semana das nossas bodas, e o meu distinto cônjuge esqueceu (pecado infame!) de comemorar esse marco.

Sei que, dentro dos costumes ocidentais, as pessoas começam a comemorar "bodas" a partir do primeiro ano do matrimônio, começando pelas "bodas de papel", "algodão" e outros 23 tipos, até chegar nas Bodas de Prata (25 anos), e mais vinte quatro tipos até as Bodas de Ouro (50 anos de casamento).

Há uma extensa lista de bodas, que ultrapassa o limite da vida e razoabilidade humanas, chegando até o 99º ano de matrimônio (Bodas de Salgueiro) e 100 (Boda de Jequitibá).

De toda maneira, são marcos memoriais arbitrários. E se são arbitrários, por que esperar um ano (ou cem) para comemorar bodas? Então instituí as Bodas de catota para uma semana de casamento, que serão hoje devidamente comemoradas à base de pizza.

Hermes e a memória

"Com asas nos pés, voas pelo espaço, cantando toda a Música, em todas as línguas... Nós te honramos, Hermes, ajuda-nos em nosso trabalho! Dá-nos um falar eloquente, e um vigor jovial. Supre nossas necessidades, concede-nos clara memória. Dá-nos a boa sorte, e encerra nossas vidas em paz" (Canto Órfico a Hermes).

Hermes é um daqueles deuses antigos, mais antigos do que o registro que temos dele, que personifica os poderes da memória coletiva. Por que?

1- A construção da personalidade de Hermes é a metáfora perfeita da História: o acúmulo de atributos que mostra um culto antigo e a sua permeabilidade em três grandes culturas antigas - Grega, Romana e Egípcia.

Uma simples consulta à internet desvenda os seus inúmeros epítetos, que demonstram uma evolução da crença e do culto: "Akakêsios, aquele que não pode ser ferido, ou que não fere; Agêtôr, líder, condutor ou guia; Agoraios, presidente das assembléias e mercados; Argeiphontês, matador de Argos; Kataibatês, condutor das almas para o submundo; Ktêsios, protetor das propriedades; Eriounios, Dôtor Eaôn, doador da boa sorte; Noumios, Epimêlios, protetor dos pastores e pastagens; Promakhos, campeão ou vencedor; Propylaios, protetor das entradas, e Pronaos, das entradas dos templos; Trikephalos, tricéfalo, guardião das encruzilhadas; Enagônios, regente dos jogos ginásticos; Hermêneutês, o intérprete e tradutor; Diaktoros, guia, ministro, mensageiro; Aggelos, mensageiro divino; Phêlêtês, ladrão, e Arkhos Phêlêteôn, rei dos ladrões; Klepsiphrôn, Mêkhaniôtês, enganador, maquinador; Polytropos, móvel, veloz, em muitos lugares; Poneomenos, ocupado; Dais Hetairos, companheiro de festejos; Kharidôtês, doador da alegria; Akakêta, gracioso; Kydimos, glorioso; Aglaos, resplandecente, esplêndido; Kratus, Krateros, forte, poderoso; Mastêrios, mestre das buscas; Pompaios, guia; Eriounios, muito útil" (Wikipedia).

Todas essas funções foram sendo construídas ao longo dos milênios do seu culto. E, por outro lado, permitiu a sua tradução, e às vezes até o sincretismo, com deuses romanos (Mercúrio) e egípcio (Toth.

2 - Hermes (Mercúrio, Toth) é vinculado à arte da escrita e da interpretação (hermenêutica) que são fundamentais à memória coletiva;

3 - Hermes é vinculado à criação de marcos simbólicos, especialmente sob a forma da iniciação, vinculados ao poder de transformação que lhe é atribuído. Não é à toa que Hermes (já sicretizado como Trimegistros) é estudado e invocado nos estudos de alquimia.

Ainda hoje inúmeras são referências a esse Deus, quer sob a forma de referências iconográficas ou mesmo da criação de personagens, marcas e produtos, mas também porque o culto aos deuses "pagãos", inclusive Hermes, está renascendo na Grécia.

Taí uma coisa boa para se pedir em uma oração: dai-nos boa sorte, boa memória e encerra nossas vidas em paz.

Para finalizar, um esclarecimento: o caduceu de Hermes (com duas serpentes) não é o símbolo da Medicina, mas sim o bastão de Asclépio (com uma serpente). Sobre isso confira: http://medicinaufs.blogspot.com/2010/09/qual-o-verdadeiro-simbolo-da-medicina.html.

Finalmente, tenho um primo que se chama Hermes.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Post Sesquicentenário

Uma das técnicas mais tradicionais de memorização é a criação de marcos, que podem ser físicos ou simbólicos.


Os marcos temporais são muito utilizados: vez por outra tem alguém comemorando o centenário de um time de futebol, casais comemorando "Bodas" (de prata, ouro, etc), que na verdade indicam a resistência do objeto comemorado ao tempo.


Como eu adoro a palavra "sesquicentenário" resolvi comemorar o meu centésimo quinquagésimo post. E por que eu gosto dessa palavra? Porque é engraçada, substitui com vantagem duas outras (centésimo e quinquagésimo, essa última nem devia existir), e principalmente é uma palavra que já nasceu com gosto de antiguidade.


Acho que, no geral, ser sesquicentenário já induz o respeito, provocado pela legitimação que o passar do tempo traz. Não é pouca coisa ser sesquicentenário.

Entre esses 150 posts alguns se destacam na preferência dos leitores. Eis aqui o Top 5:

1) Em primeiro lugar: http://direitoamemoria.blogspot.com/2010/06/o-direito-veracidade-e-integridade-do.html. Esse é um marco pessoal pois foi a primeira vez que publiquei um texto no blog. Como eu não sabia o que era um blog (e até hoje discuto com Dra. Denise sobre isso), o meu primeiro post foi uma "Introdução", porque acho que um blog limpinho e honesto tem que começar com uma, não é? Então esse é o segundo post.

Esse talvez seja o meu post mais emocional, pois não consigo esquecer a situação das avós e netos argentinos, famílias interrompidas pela ditadura militar.

2) Em segundo lugar: http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/02/egito-11-de-fevereiro-de-2011-revolucao.html. Nós acompanhamos nesse post o desenrolar da agora chamada "Primavera Árabe", e esses períodos de transição entre regimes ditatoriais e a democracia incipiente são especialmente interessantes para mim, do ponto de vista humanitário porque acredito que a democracia seja um valor humano, mas também do ponto de vista acadêmico porque permite uma análise em tempo quase real dos processos de construção política de regimes democráticos.

3) Em terceiro lugar, a receita para esquecer um grande amor: http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/01/receita-para-esquecer-um-grande-amor.html. Impressionante como todo dia alguém acessa o nosso blog procurando uma receita para esquecer um grande amor. Mundo vasto, mundo... Cheio de gente apaixonada e sofrendo, que peninha...

Não se preocupem, demora mas passa. Jorge Luís Borges, o eminente escritor argentino, em algum texto ou poema que eu não fichei, mas lembro bem, disse que o prazo para essa dor passar são trezentos dias.

Esse senhor era um sábio: trezentos dias é o prazo que funcionou para mim.

4) Em quarto lugar, uma reflexão sobre tatuagem e memória, especialmente enquanto marcos identitários: http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/01/tatuagem-e-memoria.html.



Esse post teve um desdobramento no "Tatuagem e Memória 2" porque fiquei muito impressionada com as tatuagens erradas. Caramba! Existe algo de muito humano em tornar um erro indelével, não acham?



5) Em quinto lugar entre os mais lidos, está o post sobre a Deusa Memória (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/01/deusa-memoria.html). Esse post iniciou como uma reflexão sobre o caráter divino da memória, representado pela deusa grega Mnemosyne, e continuou com a busca por entidades que a presidem em outras culturas, como Nanã (nos cultos afro-brasileiros), Hermes, Tezcatlipoca, entre outros.



Vou dizer que Mnemosyne é a madroeira da memória, porque não entendo como uma entidade feminina pode ser padroeira.



Então, comemoremos o marco de 150 posts!




Mundo dos Gifs - Um mundo com mais vida!!!">

terça-feira, 19 de julho de 2011

Direito à memória: declarada a causa mortis do Presidente Salvador Allende

Notícia importante para a memória coletiva dos chilenos e para a memória dos familiares: cf. http://br.noticias.yahoo.com/per%C3%ADcia-confirma-suic%C3%ADdio-presidente-allende-1973-163217069.html.

"Perícia confirma suicídio do presidente Allende em 1973

O Serviço Médico Legal confirmou nesta terça-feira que o ex-presidente chileno Salvador Allende se suicidou durante o golpe de estado de Augusto Pinochet em 1973, informou a família depois de receber o relatório da perícia.

A conclusão é a mesma que a família Allende tinha: o presidente Allende, no dia 11 de setembro de 1973, diante das circunstâncias extremas pelas quais passou, tomou a decisão de tirar sua vida antes de ser humilhado ou passar por qualquer outra situação", disse a filha do falecido mandatário, Isabel Allende.

Conforme explicou o diretor do Serviço Médico Legal, Patricio Bustos, o relatório "verificou a identidade do presidente por meio de odontologia forense e exames de DNA", e determinou a causa da morte "por ferimento de projétil" e "a forma corresponde a suicídio".

Isabel Allende garantiu que a família recebe a notícia "com grande tranquilidade", porque "este relatório confirma algo de que já tínhamos convicção, mas a novidade são os testes de todos os níveis, principalmente de balística", que confirmam a causa da morte do pai.

A investigação, que vai complementar outras diligências solicitadas pelo juiz, busca esclarecer se o ex-presidente cometeu suicídio - como afirma a versão oficial, aceita pela família Allende - ou se ele foi executado por militares durante o golpe liderado por Pinochet.

Os restos de Allende, ícone da esquerda latino-americana, tinham sido exumados em maio como parte de um processo aberto no dia 27 de janeiro para saber definitivamente se foi assassinado ou se cometeu suicídio - tese apoiada pelos parentes do presidente, que tinha jurado morrer com uma arma na mão.

Políticos e jornalistas estrangeiros consideram que Allende pode ter sido assassinado por um golpista. Outros mencionam um possível "suicídio assistido": o presidente teria fracassado em sua tentativa e um guarda teria dado o "tiro de misericórdia".

Salvador Allende, primeiro marxista eleito para a Presidência do Chile em 1970, morreu no palácio presidencial de Santiago, bombardeado pelo Exército, durante o golpe de Estado do general Augusto Pinochet. O presidente tinha 65 anos.

A arma e a bala que causaram sua morte nunca foram encontradas e a viúva de Allende e suas filhas não puderam ver seu corpo.

Segundo uma autópsia realizada após a sua morte, ele se suicidou com um tiro no queixo.

A justiça chilena abriu em janeiro uma investigação para determinar as causas da morte do presidente socialista, ocorrida durante o bombardeio aéreo e terrestre contra o palácio presidencial La Moneda no dia do golpe militar que instaurou a ditadura de Pinochet".

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Por que exumar um cadáver 38 anos depois? Para que saber a verdadeira causa mortis do Presidente Allende?

Simplesmente porque existe o direito à memória coletiva dos chilenos, a exigir a veracidade e a integridade do seu passado. Simplesmente porque a família tem o direito a saber e ter certeza do que aconteceu. Simplesmente porque a biografia do Presidente Salvador Allende não seria correta e verdadeiramente escrita sem que todas as dúvidas sobre a sua morte fossem sanadas.

Memória poética - Fernando Pessoa

Fernando Pessoa, porque cada dia a gente descobre outro poema lindo dele (inesgotável), meio confuso sobre lembrar e não lembrar:

Contra lembrar:

"Antes o vôo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.
A recordação é uma traição à natureza,
Porque a natureza de ontem não é natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!"

A favor de lembrar:

"Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia".
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De um lado ou outro do argumento, sempre belos poemas. Não é uma contradição e nem problema de identidade: o poeta, na minha modesta opinião, não precisa ser esse ou aquele, já que pode ser o que quiser com esse talento que tem.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Memória e aprendizado: a questão da educação normativa

No post http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/06/questao-da-efetividade-no-direito.html discutimos alguns dos fatores que levam as normas jurídicas a "pegar" ou "não pegar" no Brasil, discussão que acabou virando uma das campanhas deste blog engajado, lutando pela precisão no cumprimento das normas jurídicas: http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/07/campanha-pela-acuracia-no-cumprimento.html

Em síntese, considero que um dos principais fatores da efetividade irregular das normas jurídicas no Brasil é deficiência na transmissão dos seus conteúdos. Ou seja, quando as pessoas sabem que a norma existe (e frequentemente não sabemos, devido à inflação legislativa e à inexistência de uma política pública de educação normativa ampla), não sabem muito bem o que ela diz.

É um caso clássico de ouvir o galo cantar sem saber onde, um certo ruído ou silêncio na transmissão (ensinamento) das normas, culminando na interpretação individual desenfreada que transforma um simples semáforo em um universo paralelo:












Para ver a interpretação desse gráfico, confira o post sobre a efetividade no Direito Brasileiro.




Existem outros fatores que afetam a eficácia da legislação brasileira, também vinculados à questão da memória coletiva, além da falha de transmissão pela insuficiência educação normativa.




Podem ser citados os diversos processos de mudança cultural, tais como a aculturação (modificação de tipos culturais iniciais) e deculturação (extinção pela impossibilidade de reestruturação cultural), que podem ser causados pelo contato e pelo intercâmbio de informações, atualmente intensos, mas também por fatores como o aumento excessivo do contingente populacional não acompanhado dos indispensáveis mecanismos conservativos dos valores sociais. Nessa última situação, alerta Ribeiro (1995, p.206), nas grandes cidades ocorre um grave problema de deculturação e anomia, acarretando uma crise generalizada das instituições tradicionais, que perderam o seu poder de controle e padronização.




Portanto, devemos considerar que a anomia resultante do grande contingente populacional em cidades pode ser uma das causas do complexo fenômeno da violência. Ou seja, as pessoas se comportam como animais mal educados porque não aprenderam como devem conviver em sociedade: mas olhando por outro lado, pode ser que o sistema de transmissão de valores (que nessa margem do rio consideramos "ilícitos") seja melhor realizado, e o resultado será o enraizamento na memória coletiva desses padrões de comportamento que contrariam a norma vigente, causando a sua inefetividade.




REFERÊNCIAS


RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

domingo, 17 de julho de 2011

Lembrar Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho

Em 17 de julho nasceu Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, brigadeiro "Sérgio Macaco".

Para lembrar dele é preciso recontar a estória, que passa de boca em boca com sabor de lenda, do dia em que esse militar recusou-se a cumprir ordens ilegais de seus superiores hierárquicos, evitando um atentado terrorista tramado pelo governo ditatorial brasileiro.

Por recusar-se a participar do atentado contra a população, o então capitão Sérgio Macaco foi perseguido, preso, torturado, perdeu sua farda e seu emprego, mas fez o que achava certo. Só depois de muitas décadas, e de uma ação judicial, o governo reconheceu a injustiça cometida, e o promoveu a brigadeiro poucos dias após o seu falecimento.

Com a reabilitação post mortem, lamentavelmente tardia pela insensibilidade burocrática, o Brigadeiro não teve em vida o reconhecimento que merecia, mas pelo menos pode ser lembrado como um servidor público que não compactuou com um governo ilegítimo na prática de crimes contra a Humanidade.

Lembrar do cidadão Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho é lembrar que a integridade, no fim das contas, vale a pena.

sábado, 16 de julho de 2011

Esquecedouros - asilos

Os asilos deveriam ser lugares de memória e não esquecedouros, já que lá residem verdadeiros patrimônios vivos, repositórios de experiência individual e coletiva que nos permitiriam construir um mosaico mais colorido da nossa coexistência.

Os idosos são os guardiões do passado, e sua função social é servir de ponte entre o que passou e o presente. A memória familiar é um importante capital intersubjetivo, e a família é a primeira instituição transmissora de conhecimentos e formadora da identidade intergeracional (KAUFMAN, 2006, p. 48).

Nesse foco, os avós têm um importante papel pois substituem creches, transmitem valores e representam a maneira de viver, sentir, ser e pensar de outrora, constituindo-se em verdadeiro liame entre as gerações não sucessivas (HALBWACHS, 1990, p. 66). É o próprio indivíduo sendo considerado como patrimônio cultural vivo.

Então, se do ponto vista memorial (sem contar humanitário) os idosos são tão importantes para a sociedade, porque no Brasil não são devidamente valorizados?

Talvez porque na nossa visão estranha (e tradicional escravista) o valor de uma pessoa esteja vinculado à força de trabalho. Os idosos, gastos pela máquina de moer gente que virou a economia mundial, hoje não são mais úteis, e ao contrário, dão despesas por causa das aposentadorias e benefícios.

Nessa lógica, os idosos deixam de ser um ativo social e passam a ser um fardo. A conseqüência disso, para Marilena Chauí (1994, p. 18), são as variadas formas de opressão, desde a excessiva burocracia na hora da concessão de benefícios sociais até a utilização de mecanismos psicológicos para desmerecê-los, tais como as diversas incapacidades e a incompetência social.

Parece-me que em sua idéia original, o asilo é destinado àquelas pessoas desvalidas, que não têm família ou ninguém por elas. Mas hoje, são um lugar utilizados como depósitos de gente idosa, para que lhes sejam dispensados "cuidados adequados", mas cuja estrutura profissional, inclusive quanto às regras dos estabelecimentos, não permite vislumbrá-los como locais acolhedores.

Sobre o assunto, recomendo a leitura desse artigo de Souza: http://www.nead.unama.br/site/bibdigital/pdf/artigos_revistas/34.pdf

E olhe que eu estou pensando em bons asilos, onde há apenas segregação do seio familiar e social e um jeito chato de viver pela estrutura formal de tratamento, inclusive com cerceamento da liberdade de ir e vir. Mas há aqueles em que simplesmente não se pratica o esporte do respeito à dignidade humana.

Chama também a atenção a ausência dos familiares: por falta de tempo, os dias e semanas se passam sem que os internos recebam visitas. É de partir o coração vê-los esperando (os que ainda esperam) e não receber sequer um telefonema. Ficam lá esquecidos.

Sei que o futuro de alguns de nós será um asilo. No meu caso, espero que seja um dos bons, que tratem os velhinhos com dignidade, e que lembrem que nós não somos iogurte para perder a validade. Enquanto estiver no exercício das minhas faculdades mentais, vou continuar exercendo os meus direitos fundamentais da melhor maneira (inclusive o ir e vir muito!).

Não vou aceitar ser segregada. Não vou aceitar que me dêem ordens descabidas, isso enquanto estiver no uso de minhas faculdades mentais.

E quando eu as perder, bem, aí o problema deles estará só começando.

REFERÊNCIAS

CHÁUÍ, Marilena. Os trabalhos da memória. In: BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade. São Paulo: Companhia das Letras, p. 17-32, 1994.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Revista dos Tribunais: Vértice, 1990.

KAUFMAN, Susana. Lo legado y lo próprio: lazos familiares y transmisión de memorias. In: JELIN, Elizabeth; KAUFMAN, Susana G (comps). Subjetividad y figuras de la memoria. Buenos Aires: Siglo XXI; Editora Iberoamericana, p.47-71, 2006.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Querido diário,

Casamos.

Sobre livros emprestados: lembrete.



Tenho certeza de que eu deixei aqui.

Ah, memória traidora...

Quantas vezes a gente tem certeza de que deixou um objeto aqui e acolá e, de repente, some. É bom quando se tem alguém em quem colocar a culpa.

Mas chega o dia em que estão só você e sua memória traidora: e agora?

Sua certeza vai por água abaixo e você é o feliz ganhador de um objeto perdido. Acho que eu passei mais da metade da minha vida procurando por objetos perdidos (principalmente livros e documentos), até que me cansei e decidi fixar o exato local em que eu guardei as coisas.

Para memorizar o local em que deixamos objetos, há técnicas simples: não esqueçam que a memória é construída com atenção e intenção. Portanto:

1º Passo: fixar locais específicos para colocar as coisas. Tudo deve ter a sua casinha. Assim a gente reduz a área de busca quando se perde alguma coisa. No meu caso, livros e documentos estão na biblioteca.

Sei que quem olha de fora pode pensar que não existe uma ordem no meu caos, mas há. Já estou 200% melhor do que era há dez anos. Evidentemente que isso não me impede de, eventualmente, não encontrar um livro que me foi solicitado, como aconteceu na semana passada.

Mas como diriam os budistas, o que importa é a busca, é o caminho.

2º Passo: para objetos que serão usados em breve, uma boa técnica é verbalizar onde você o está deixando. Por exemplo: "estou deixando o processo para amanhã em cima da mesa da sala". Aí você olha para o processo em cima da mesa e em volta, para contextualizar.

Depois você ameaça todo mundo que está à sua volta para que não o tirem do lugar.

Organização e sistematização são a chave para não perder as coisas. Mas, como vocês sabem e eu comprovo, não são comportamentos naturais do ser humano, a menos que você seja como a minha irmã. É preciso construir o comportamento sistemático e praticá-lo diariamente, como estou tentando fazer há alguns anos.

Se mesmo assim você é proprietário de objetos perdidos, aqui vai uma dica de Mário Quintana sobre o seu possível paradeiro:

"Os guarda-chuvas perdidos... onde vão parar os guarda-chuvas perdidos ? E os botões que se desprenderam ? E as pastas de papéis, os estojos de pince-nez, as maletas esquecidas nas gares, as dentaduras postiças, os pacotes de compras, os lenços com pequenas economias, onde vão parar todos esses objetos heteróclitos e tristes ? Não sabes ? Vão parar nos anéis de Saturno, são eles que formam, eternamente girando, os estranhos anéis desse planeta misterioso e amigo".

Portanto, vá procurá-los em Saturno.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Lembrar para que?

Para não dizerem que não falo de celebridades, olha aí a notícia publicada no sítio http://br.omg.yahoo.com/noticias/declara%C3%A7%C3%A3o-de-shia-labeouf-teria-estremecido-casamento-de-megan-fox.html

" Declaração de Shia LaBeouf teria estremecido casamento de Megan Fox

Shia LaBeouf, 25 anos, protagonista de "Transformers", disse recentemente que teve um affair com Megan Fox, 25, durante as gravações dos primeiros filmes da franquia. Parece que a falta de discrição do rapaz custou caro ao casamento de Megan e seu marido, Brian Austin Green.

A declaração teria caído como uma bomba para o relacionamento, mesmo com Megan alegando que ela e Brian estavam dando um tempo na época em que teria ficado com Shia.

"Shia deixou Megan e Brian bem chateados. Eles passavam por um momento bem difícil no relacionamento, na época em que ela e Shia filmavam 'Transformers'. O Shia ter aberto a boca e se gabar de ter dormido com Megan foi horrível para eles", disse uma fonte próxima ao casal.

Shia LaBeouf contou sobre o affair com Megan à revista "Details", no fim de junho. "Você está no set por seis meses, com alguém que se sente atraída por você, e você também está atraído por ela. Eu nunca entendi a separação entre trabalho e vida pessoal nessa situação. Porém, o tempo que eu passei com Megan foi nossa coisa particular. Você pode ver a química na tela", disse."

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hehehehehehehe.
Bushia de piaba.
Cala lebouf.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Paleontologia Imaginária (2)

No post Paleontologia imaginária (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/06/palentologia-imaginaria.html) postei uma foto de um "fóssil" de dragão que o meu irmão esculpiu para mim.

Por coincidência nesta semana li uma reportagem muito legal na revista "Aventuras na História", edição 96, julho de 2011, intitulada "Ossadas de Deuses", de Álvaro Opperman.

A reportagem mostra como os gregos e romanos buscavam (e encontravam!) fósseis de criaturas e heróis mitológicos: grifos, tritões, os restos mortais de Teseu e Ajax. O primeiro registro clássico da Paleontologia é de Aristeas (7 A.C), que registrou esqueletos de grifos e centauros em uma expedição que fez à região do Cáucaso (OPPERMAN, 2011, p. 40).

Também há o registro da localização de um sítio arqueológico por Pausânias (I d.C), que identificou o local onde ocorreu a Titanomaquia, guerra entre os Titãs e os deuses olímpicos.

Aqui abro parênteses para dizer que Mnemosine (a Deusa Memória, cf. http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/01/deusa-memoria.html) é titanide, irmã de Cronos contra o qual lutaram os deuses olímpicos, mas ela não participou da Titanomaquia.

Segundo conta a reportagem, os paleontólogos do período interpretavam esses vestígios, que na verdade eram de animais como o mastodonte e o mamute, como das criaturas lendárias que habitavam a memória coletiva, além de, evidentemente, existirem falsificações.

De todo jeito, é um encanto pensar na possibilidade de encontrar o fóssil de um grifo ou de um centauro, e a reportagem ainda traz uma indicação bibliográfica sobre o assunto: MAYOR, Adrienne. The first fossil hunters - Palontology in Greek and Roman Times. Princeton University Press, 2000.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

CAMPANHA PELA ACURÁCIA NO CUMPRIMENTO DAS NORMAS JURÍDICAS

No post http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/06/questao-da-efetividade-no-direito.html tentamos demonstrar que umas variáveis da não efetividade do Direito Brasileiro é a falta de precisão no cumprimento das normas jurídicas.

Falta de precisão causada por uma educação normativa deficiente, que leva os cidadãos a não praticarem corretamente o uso das normas de convivência, somada à falta de reforço na memorização dessas normas.

Esta é uma campanha pela precisão do cumprimento das normas: acurácia.

Sinal vermelho=pare.

Sem mais.

Tatuagem e Memória (2): péssimas lembranças

No post Tatuagem e Memória (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/01/tatuagem-e-memoria.html)começamos uma reflexão sobre o caráter memorial das tatuagens, e sua grande importância enquanto registro de eventos importantes na vida do indivíduo.

As tatuagens tradicionais podem indicar o processo de aquisição de um determinado status social, e em seu conjunto, podem informar sobre a origem e a posição do indivíduo no grupo, constituindo um sinal de identidade cultural.

Agora vem o que me preocupa: e se a tatuagem for feita do jeito errado? Escritas errado, mal executadas, no lugar errado...

Olha essas aí: http://raphaelkoizo.wordpress.com/2010/02/18/tatuadores-analfabetos/

Ou esse sítio: http://tattoofailure.com/

Péssimas lembranças.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Citações sobre a memória - Leonardo da Vinci

Quem discute alegando autoridade não usa a inteligência, mas a memória.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Memória e aprendizado: estudando Kant no ônibus

A memória é fundamental para o processo de aprendizado, não naquele sentido ultrapassado de "decorar" as informações, mas porque o acúmulo e o processamento (seleção e permanência) dessas informações nos permite aprender e construir novos conhecimentos.

Os meus alunos, sabendo do meu interesse geral pela memória, gostam sempre pedir dicas para memorizar os assuntos estudados. Eu sempre digo, e repito, que aprender é ser um pouco atleta: é preciso cuidar da alimentação (alimentos de difícil digestão podem prejudicar a memorização), não beber (principalmente logo após estudar), dormir bem, manter hábitos saudáveis.

Ser disciplinado, organizado e metódico na hora de estudar. Procurar lugares adequados (iluminados, se possível silenciosos), respeitar o cronograma de estudo, fazer revisões dos assuntos, pois muitas das "dificuldades de aprendizado" dos meus alunos podem ser percebidas como desorganização combinada ao tempo insuficiente de estudo. Para esses, sempre indico livros sobre metodologia do estudo, que ajudam a organizar as idéias.

E aí, pensando em metodologia do estudo, sempre lembro daquelas pessoas que aproveitam o horário do transporte para estudar: lá no sacolejo do ônibus sempre tem alguém desesperado tentando estudar de última hora.

Um dia, indo para o trabalho e praticando o meu hobby de monitorar a vida privada (= observar a vida alheia), sentei em um ônibus à frente de um rapaz que estava tentando ler Kant. Cenho franzido, tão concentrado que quase fedia, lia o rapaz:

(...)
uma proposição [dá licença, moço] que tem que ser pensada com caráter de necessidade, tal proposição é um juízo “a prio­ri".Se, além disso, não [PIPOCA! PIPOCA SALGADINHA É UM REAL]é derivada e só se concebe como valendo por si mesma como necessária, será então absolutamente “a priori”.
ÔPA, desculpa, tô passando segundo: a experiência não fornece nunca juízos com uma universalidade [SENHORES PASSAGEIROS, UM MINUTO DA SUA ATENÇÃO, VIM PEDIR UM AUXÍLIO]
verdadeira e rigo­rosa, mas apenas com uma generalidade suposta e relativa (por indução), o que. propriamente quer dizer que não se observou até agora uma exceção a determinadas leis. Um juízo, pois, pensado com rigorosa universalidade, quer dizer, que não ad­mite exceção alguma, não se deriva da experiên­cia e sem valor absoluto “a priori”.
que. propriamente quer dizer que não se observou até agora uma exceção a determinadas leis [não, essa parte eu já li].Portanto, a universalidade empírica nada mais é do que uma extensão arbitrária de validade,[♪♪♫|♫ ♫ BANDA CAAALYPSO! não posso mais viver sem ter você...♪♫♪] pois se passa de uma validade que corresponde à maior parte dos casos, ao que corresponde a todos eles, como p. ex. nesta proposição: “Todos os corpos são pesados.” [Especialmente esse que pisou no meu pé].

Muito bem, como fica a memória de uma leitura assim? Dá licença, moço (essa sou eu, metendo o bedelho onde não sou chamada), o senhor acha que estudar assim é eficiente? A sua concentração é tão boa assim?

- Boa, não é tanto, mas essa é a única hora que eu tenho para estudar.
- Sei... Vai fazer prova?
- Daqui a pouco. Na verdade já estou atrasado.
- Sei... Boa sorte, viu.

O problema é que o aprendizado não é uma mera questão de sorte. Esse aí se lascou na prova ou teve a recordação mais original de uma leitura de Kant, com trilha sonora e tudo.

sábado, 2 de julho de 2011

O primeiro frevo a gente nunca esquece...

Não sabe o que é um frevo? Então me deixe explicar: frevo designa um ritmo brasileiro que é bailado através de passos, predominantemente acrobáticos (frevo de rua). Existem outras modalidades que não são acrobáticas, mas igualmente lindas (frevo-canção e frevo de bloco).

Nesse link é possível ouvir a música e ver os passos acrobáticos, lindamente dançados:http://www.youtube.com/watch?v=lELaEDd2q_g.

Vixe, eu canso de assistir. É muito, muito difícil mesmo dançar desse jeito. Muito acelerado. Ferve? Frevo!

Este outro vídeo é emocionante. Que jeito especial de dançar! É um frevo diferente e eu fiquei absolutamente encantada:http://www.youtube.com/watch?v=Ydr848aAqz4&feature=related, especialmente porque os passistas no início do século dançavam com guarda-chuva, e não com sombrinhas coloridas como hoje em dia.

Este post não é sobre a primeira vez que ouvi ou dancei um frevo. Eu já dancei frevo há uns 20 quilos atrás.

Este post é sobre o frevo que eu ganhei de presente do compositor Givaldo Silva, chamado "A Mestra do Passo" (essa sou eu). Tenho certeza que não foi por mérito meu, já que nunca dancei tão bem ao ponto de ser considerada mestra, mas pela enorme gentileza do compositor que me deu esse presente-homenagem.

Não acreditam? Dêem uma olhada na música nº 15, por favor.



A música é linda e foi executada brilhantemente pela banda da Polícia Militar, a quem também agradeço:



O primeiro frevo presenteado a gente nunca esquece.