O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









quarta-feira, 30 de junho de 2021

Vovô Albino

O meu avô Albino Ferreira Dantas faleceu cinco anos antes do meu nascimento, e infelizmente não tive a oportunidade de conviver e aprender com ele mas certamente aproveitei o seu legado de muitas formas: os princípios e a educação que recebemos, os seus livros preciosos que pude ler, as memórias que vêm sempre cobertas de açúcar porque todos lembram dele com amor e alegria.

Ele era um pai e marido amoroso e justo, um leitor voraz, militar e um advogado reconhecido.  E também era maestro, e por isso a nossa família do lado paterno tem a tradição de educar musicalmente as crianças porque isso é bom para a expressão, para a disciplina e para a falta de disciplina.

Era também um grande fã de Beatles, de rock (segundo dizem e eu acredito) e de música brasileira.

Recentemente descobrimos que uma de suas composições pode ser ouvida nesse sítio: https://discografiabrasileira.com.br/artista/92490/albino-ferreira-dantas.  

É o hino de um time de futebol, e eu imagino que ele também devia ser um torcedor apaixonado.

Não temos o registro da sua produção artística e eu cheguei a procurar suas partituras, mas não encontrei. Tudo o que eu tenho para lembrar são fotografias, uma ou outra peça musical, e a lembrança boa de quem conviveu com ele e o viu reger.

Para vovô Albino, in memoriam.

sábado, 26 de junho de 2021

Impressões da pandemia (vol 11): a chamada de aula

Eu sou professora e para mim a chamada é uma obrigação de verificar quantos e quais alunos estão comparecendo às aulas, com o objetivo de controlar as presenças e eventualmente reprovar por faltas, o que é uma forma de garantir o bom emprego de recursos públicos da Educação mas também uma forma de conhecer os meus alunos.

Por questões pessoais, e porque me dedico ao estudo da memória e sei da sua importância para a individualidade, eu sei o nome de todos os meus alunos e as características que deixam transparecer no pouco tempo que estamos juntos (cf. https://direitoamemoria.blogspot.com/2013/07/lembrar-simonides-de-ceos.html).  Ultimamente não tenho tido a oportunidade de agregar as fisionomias nas minhas lembranças em razão das aulas remotas.

Nesses tempos de pandemia o que para mim era um momento normal e administrativo das aulas tornou-se fonte de preocupação e tristeza.  Quando percebo que uma pessoa não está comparecendo, isso tem um significado completamente diferente: se antes ocorria por razões e escolhas pessoais, hoje temo que tenha a ver com com a Covid-19.

Alunos meus desapareceram porque faleceram, estão doentes ou estão enfrentando a perda de um ente querido.  Então quando eu percebo que alguém não está comparecendo imediatamente meu coração fica apertado e eu procuro saber o que está acontecendo.

Essa é uma sensação terrível que se renova a cada aula, e com certeza vai se enraizar em minha memória e no meu comportamento mesmo depois que a pandemia passar e for esquecida.  Eu sempre agradeço a presença de todos e, acreditem, realmente fico feliz quando vejo que as pessoas estão do outro lado.

A  presença e a chamada que a verifica têm agora um significado totalmente diferente para mim.


terça-feira, 22 de junho de 2021

Máscara


Eu em 2020/2021




Fabiana com máscara


sábado, 12 de junho de 2021

Tabela periódica

Eu passei por dois desafios à memória individual na idade escolar: o primeiro foi decorar a tabuada e o segundo, a tabela periódica. Embora existam outras formas de aprender a tabuada que não seja decorando, e a tabela periódica realmente não tenha uma presença no meu cotidiano de advogada, ainda assim estou melhor do que o meu pai que foi obrigado a aprender todos os afluentes do Rio Amazonas sob a ameaça de palmatória (http://direitoamemoria.blogspot.com/2013/05/palmatoria.html?m=0).

Para o meu pai aprender os afluentes do Rio Amazonas talvez até fizesse sentido, uma vez que nasceu no Estado do Amazonas e era comum andar de barco por lá.  Talvez a Geografia ajudasse a salvar a sua vida caso precisasse se localizar, e a palmatória parece ter sido uma motivação eficiente já que até hoje ele lembra de todos os afluentes da margem direita e esquerda, e em determinada ordem.

Bem, a tabuada de 1 a 10 incorporou-se na minha vida de tal forma que quando eu penso em multiplicação ela vem automaticamente à minha cabeça.  Já a tabela periódica não memorizei no coração (decorar) tão bem:  ela é um grande quadro borrado, com cores e informações incompreensíveis.

Na verdade, eu não tenho nenhuma afinidade com a maioria dos elementos que estão ali, não me identifico.  Gosto mesmo é do ouro (Au) porque acho que absolutamente tudo fica melhor dourado (o que talvez seja uma herança da minha suposta ascendência cigana); tolero a prata (Ag) embora reconheça o seu valor; acho o símbolo do cobre engraçado, porque é uma piada interna dos lusófonos; preciso muito de oxigênio, hidrogênio, potássio, magnésio, zinco e cálcio; e presto reverência ao carbono porque me faz lembrar os poemas de Augusto dos Anjos, que se dizia filho do carbono e do amoníaco.

Então hoje resolvi dar uma olhada na tabela periódica, já que é sábado e estou com preguiça de fazer faxina no momento, e fiquei chocada em perceber como ela mudou desde os meus tempos de escola. Existem muitos elementos incorporados nas últimas décadas, com nomes interessantes e enigmáticos, e processos de descoberta que parecem verdadeiras aventuras.

Alguns deles são homenagens a cientistas, como o rutherfórdio, o einstênio e o mendelévio, o que prova que os cientistas e as tabelas períódicas exercem a lembrança celebrativa nomeando em homenagem (http://direitoamemoria.blogspot.com/2017/04/formas-de-lembrar-5-nomear-em-homenagem.html).

Se eu fosse estudar a tabela periódica hoje certamente o faria de um jeito diferente, lúdico e cheio de história, mas hoje é sábado e agora eu tenho que fazer faxina.

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Dois anos

Em 08/06/2021 completou dois anos do falecimento de Andre Matos.
Foi um dia de lembrar e ouvir suas obras, especialmente a música  "Here I am", do Shaman, porque in memoriam ele está:

Called back in time by the ancient winds
Can't you recall all the memories?
Walking the lost way of those who lived in loneliness
Think of the joy and the endless days
One step aside and the skies were grey
why Is this a life or just a game to lose or win?
'Cause a day will turn into night
And the spirits will rise
There will come then a time to understand...
Deep inside
Blessed by the rain falling from above
Could you imagine where life would take you
Now that you're praying for everyone you hurt so bad?
Still, don't you go, got to make a choice
Crying in silence, crying with no voice
Dare you to stay now and keep your strength up till the end?...
'Cause a day will turn into night
And the spirits will rise
Hold your breath, keep your eyes wide open
Now you see: the night is so clear
And you feel: the spirits are here
Running free, running free without fear
You'll find a way to the brightest light...
And now
Here I am, open arms
Thought your life was over when
There you saw in the sky
A ray of light,
So here I am
Will the stars keep shining bright
Till one day they may ignite?
When you gaze at the sky above,
I'll ever come down
To ease your solitude...
And now
Here I am, open arms
Thought your life was over when
There you saw in the sky
A ray of light,
So here I am
There you saw in the sky
A ray of light
Always by your side
There will come a time to understand!

Para ver Andre Matos cantando essa música é só colocar no Youtube Shaman, Here I am, Ritualive.  Eu adoro a versão ao vivo dessa música, e o meu presente de aniversário foi o box comemorativo desse show.


quinta-feira, 3 de junho de 2021

Curriculum Vitae

O curriculum vitae é o documento que mostra o curso da vida de alguém, o caminho que ela percorreu em alguma área da vida e que mostra a sua experiência.

Como todo registro, um currículo é um ato de memória. Mas, que tipo de evocação essas informações trazem?

Eu já tive a oportunidade de analisar muitos currículos, especialmente em bancas de concurso para professor do Magistério Superior, e sempre me perguntei o que não estava ali.  Quais informações importantes sobre a pessoa eu não estava vendo?

Quando analisamos os currículos  procuramos a comprovação de determinadas capacidades e habilidades que estamos buscando. Mas currículos são recortes da experiência de alguém, e obviamente não nos permitem conhecer a pessoa além daquelas informações que ela mesma fornece e comprova, e para fins muito específicos.  Olha só o meu currículo Lattes, que é o padrão que nós usamos para finalidades acadêmicas no Brasil: http://lattes.cnpq.br/3533867850666381

Quem lê o meu currículo percebe o meu interesse investigativo em alguns temas óbvios: Direito, direito à memória, patrimônio cultural e políticas públicas de preservação.

Mas, o que você não consegue perceber quando lê o meu currículo?

a) Que eu não estudo apenas esses temas. Eu faço estudos em áreas diferentes, específicas, e também estudo temas que parecem ser absolutamente inúteis. 

Sou motivo de piada para os meus irmãos porque às vezes estou me aprofundando em algum assunto bizarro e seguindo os procedimentos de metodologia da pesquisa rigorosamente.  Eu faço fichamentos de documentos exóticos, discuto e problematizo temas que algumas pessoas poderiam considerar irrelevantes ou indignos de um segundo olhar, e isso tudo se intensificou na pandemia.

Essa é uma parte da minha vida que provavelmente nunca constará do meu currículo.

b) A paixão que eu tenho pelos temas que eu estudo.  Eu penso em memória, direito à memória e patrimônio cultural na maior parte dos meus dias, e até sonho com isso (http://direitoamemoria.blogspot.com/2013/06/salvem-o-torrone.html).  

c) Um curriculum vitae não é o que a pessoa fez, é a própria vida da pessoa.  Os finais de semana estudando e escrevendo livros e artigos; as vezes que deixamos de ficar com as pessoas amadas para trabalhar; noites insones; a aventura buscando os materiais de pesquisa e a frustração por aquele livro ou artigo que a gente não conseguiu encontrar, e a alegria de ver um trabalho aceito e publicado. Escrever com dor de cabeça, estudar com dor de barriga, estudar quando perdemos um ente querido,  escrever e estudar entre lágrimas.

Nenhum currículo deixa transparecer a humanidade do trajeto, nem o particular significado de cada um daqueles trabalhos que estão ali registrados.

d) Que eu pratico artes marciais desde pequena. Que eu danço. Que eu canto, muito mal, mas nem por isso deixo de fazê-lo.  Que eu tocava piano, mas agora evito. Que eu atento poemas.

Que eu sou extremamente curiosa, e por isso acho que tudo merece ser estudado, inclusive a vida alheia. Que às vezes basta ter a informação, e que nem tudo deve ser publicado.

e) Que o percurso não é individual.  O currículo de alguém é o que ela fez com a ajuda de muitas pessoas: professores, orientadores, colaboradores, críticos, autores consultados.











terça-feira, 1 de junho de 2021

Impressões da pandemia (volume 10): a vacina

 Meus pais foram vacinados. Conseguiram as duas doses recomendadas e a nossa sensação é de alívio.

E de expectativa, porque não há previsão de que todos consigam tomar também.

Essa espera pela vacina, a incerteza quanto à gravidade da doença em cada um, e as perspectivas assustadoras de novas cepas e novas ondas são a minha principal lembrança dessa segunda fase da pandemia.

A primeira fase - ano de 2020 - sem dúvida vai ser lembrado pela dor e o sofrimento das famílias que perderam seus entes queridos.  

A segunda fase - ano de 2021 - continuamos vendo um grande número de pessoas sendo afetadas, morrendo, mas parece que a mortandade diária já não impressiona.  

Eu fiquei doente em 2021 e muito preocupada pelos desdobramentos imprevisíveis da doença.  Tive sintomas que ninguém nunca falou ou explicou, e um cansaço que não passava com nada.

Consegui agendar a primeira dose da minha vacina para o dia 08/06/2021, em um momento em que falam sobre a terceira onda, mais grave e mais perigosa.